- Mãnhêeee! O Paulinho quebrou o enfeite da mesa.
- Desgraçado! Foi presente da sua avó. Vem cá que eu vou arrancar sua orelha!
O garoto saiu correndo para o quintal, subiu na mangueira e ficou por lá até a hora do seu pai chegar.
UM BLOG DE MARCELO PEREZ
Tatiana Sodré dentro da obra de arte. É verdade, a casa toda é uma obra de arte. Nas paredes, os trabalhos de Isaias Miliano.
Foto: Marcelo Perez
Tatiana Sodré e o grande artista, Isaias Miliano.
Foto: Marcelo Perez
O bar estava super aconchegante.
Foto: Marcelo Perez
E Neuber Uchôa arrebentou por lá.
Foto: Marcelo Perez
Completou com uísque seu último gole de café requentado e já frio. Bebeu de uma só vez. Nem fez cara feia. Até porque não tinha uma outra. Pegou as chaves de casa, a capa de chuva e colocou Helena nos braços. Bateu a porta. Dirigiu-se ao elevador e esperou. Demorou. Acendeu um canceroso. Demorou. Acariciou Helena. Resolveu descer as escadas. Oito andares. Isso não seria um problema se não estivesse acompanhado. Era pesada demais. Quando estavam atracados, parados, a coisa rolava que era uma beleza. Helena gemia barulhos infernais. Deixava qualquer um enlouquecido. Era tudo que precisava na vida. Não podia viver sem ela. Depois de muito sufoco e cuidado para não machucá-la, ganhou a rua. Acenou para um táxi. Nada. E outro. E nada. As horas não brincavam. Eles não podiam perder aquele trabalho. E não perderam. A casa lotada. Gente caindo pelo ladrão. O ambiente tomado pela fumaça dos cigarros. Parecia que todos os fumantes resolveram ir ao mesmo local aquela noite. Ele e Helena dirigiram-se ao palco. A banda já estava por lá. Ele despiu Helena. Apoiou-a em suas pernas, que ficaram aquecidas. E meteu a vara ali mesmo. Ela gemeu sem reclamar e levou a platéia ao êxtase total. Chegou em casa pela manhã. Bebaço. Jogou seu violoncelo, a Helena, na cama. Empurrou alguns comprimidos goela abaixo e caiu pregado no chão. Quase apagou como a linda Monroe.
Levantou a cabeça irritado com toda aquela demora. Observou que os outros ainda mantinham as suas abaixadas. Respeito. E medo, pois ninguém queria ser repreendido e passar o resto do dia com fome. Mas ele já não aguentava. Sempre o mesmo ritual. Abaixar a cabeça e esperar. Não. Estava decidido a tomar uma atitude para mudar aquele fato. Chamou o seu superior como se ele fosse o seu subalterno. Exigiu uma providência. Inflamou todo o refeitório com palavras de incitação. Mas as cabeças continuaram abaixadas. Os pratos foram servidos. Menos o dele. Durante a refeição ninguém teve a coragem de olhar na sua cara. Todos já sabiam do seu triste fim. Levantaram-se e em fila se recolheram aos seus aposentos. Ele ficou lá. Somente com os guardas. Passou a noite no alto de um morro pregado em uma cruz. Virou lenda.
Foi a penúltima apresentação. A Orla tava super vazia devido ao Arraial. Não dá pra disputar com este evento em Boa Vista. Mas tivemos público. E eles curtiram bastante a apresentação. O elenco tava super animado e com o maior gás. É um grupo muito especial. Semana que vem, 21/06, estaremos encerrando a temporada na capital. Praça das Águas, às 20h. Depois vamos para o interior do estado, Rorainópoilis, São João da Baliza e Iracema. Como amadurecemos e nos fortalecemos com esse processo de trabalho. É isso, vamos produzir mais. Cuidar muito bem de nossas vidas. Até lá.
Já não aguentava mais as madrugadas invadidas. Não conseguia parar de teclar sua velha máquina. O som de folhas arrancadas e os ruídos do seu arremesso o torturavam demais. Necessitava encontrar depressa o gancho certo. Não queria voltar ao mesmo ponto novamente. Nunca fazia isso. Sempre em frente. Abriu o garrafão de vinho, completou a caneca e tomou numa golada só. Arrotou. Olhou para a máquina desafiadoramente. Bebeu outra caneca completamente transbordada. Partiu para dentro. E tecla. E tecla. E tecla. E branco. E branco. E branco. E agonia. E solidão. E um grito doloroso em silêncio. Afastou-se sem forças. Sacolejou o garrafão e o entornou goela abaixo. Era vinho por todo o corpo. Caiu no chão de cansaço. Apagou. Só mesmo uma santa para arrancá-lo do fundo de seus pensamentos confusos. Ressuscitou com um best sellers sobre culinária congelada.
Chegou no horário combinado. Olhou por detrás das árvores e não viu ninguém. Foi surpreendida pelas costas com um abraço bem apertado. Reconheceu a pressão do seu amante. Virou-se. Sorriu. Beijaram-se. Momento difícil que não podia ser desperdiçado. Acariciou o membro de seu amante com altas doses de saudade. A aspereza das mãos do parceiro eriçaram até o último fio de pêlo do seu corpo. Estava completamente entregue. Agaixou-se entre as folhagens em busca do manjar dos Deuses. Seu amante vigiou. Concordou alegremente. Ela segurou-o. Abriu a boca com imensa satisfação. A tranquilidade estuprada por ruídos vindos de uma árvore ao lado. Sua irmã, que era uma cobra de uma invejosa, queria participar daquela sacanagem. Foi excluída pelo amante. Berrou ameaças que poderiam fazer com que os dois fossem expulsos para sempre do vilarejo. O amante convenceu sua amada de que eles não tinham outra saída. Ela permitiu. Mas queria ser a primeira. Caiu com a boca sedenta e com os olhos fechados levou uma pedrada no meio da cabeça. Trincou os dentes. O amante gritou. Conseguiu tirar o seu membro danificado. Estendeu a mão. Recebeu um saco de moedas da irmã da defunta. E saiu sem olhar para trás.