quarta-feira, 30 de abril de 2008

CONVERSA DE BAR ou GILBERTO GIL EM BOA VISTA




Dois amigos na quinta latinha de cerveja, depois da audiência pública com o Ministro Gilberto Gil.
- (dá uma tragada profunda no cigarro) E o Gil passou por aqui...
- (tira uma meleca do nariz e faz bolinha) É... e nós ficamos.
- (vira a lata de cerveja e arrota) Um amigo me disse pra trazer meus projetos pro encontro com o Gil.
- (dá uma escarrada no chão) Será que ele pensou que o Gil iria atender individualmente?
- (peida) Aqui? Tudo é possível...

Ao fundo, um grupo de artistas descolados, com suas máquinas fotográficas à tira-colo, atravessam a rua apressados:

- Vamos, pessoal, vamos que eu tô louco pra ver o Gil cantar.
- Viva a culturaaaaaaaa!
Os dois amigos se olham e imediatamente vomitam em cima da mesa.









segunda-feira, 28 de abril de 2008

TROCADOS POR PESADELOS


Acordou agitado com batidas fortes em sua porta. O cão entrou disparado pelo seu quarto e com a cara amedrontada não parava de latir ao pé da cama. Havia algo errado naquela noite chuvosa de quarta. O ventilador estava desligado. O suor escorria pelo seu rosto acordado. Ligou o abajur e nada. Não havia luz. As batidas continuaram sem cessar. Poderia ter dado um grito, mas pensou - e se for... se levantou, ainda tonto de wisky e mandou o cão se calar. Apenas abriu a boca. Sem som. Acompanhado de um gesto. O bicho saiu apavorado. Foi pra debaixo do sofá rasgado. Cambaleando. Se acendesse um fósforo no quarto, a casa inteira iria pelos ares. Havia algo errado naquela noite chuvosa de quarta. As batidas não desistiam. Ele cambaleou até o canto da janela. Avistou uma sombra sinistra. Alguém corpulento. Mesmo sabendo que as sombras são corpulentas, se assustou. A chuva não dava trégua. Por um instante, tudo ficou transparente com o clarão de um relâmpago repentino que fez com que ele avistasse a figura sinistra que se encontrava à frente de sua porta com a cara ensopada trazia nas mãos um objeto pontiagudo que parecia afiado mas não dava para perceber quem era a pessoa ou a figura que imediatamente olhou para a janela ficando cara-a-cara se assustou também com o morador que ao mesmo tempo correram em direções opostas ele chegou à cozinha se esbarrando por todos os objetos da casa se fosse um cego não teria esse problema abriu o armário agarrou-se à garrafa de wisky que escondia de si mesmo sem pensar nas consequências virou de uma só vez. Respirou como você... O cão entrou disparado pelo seu quarto. Não parava de latir ao pé de sua cama. Eram seis da manhã. Como todos os dias, ele precisava conseguir algum pra se alimentar. Abriu a gaveta do criado-mudo. Pegou uma folha e um lápis. Desenhou uma tira esquisita de um homem amedrontado numa noite chuvosa e completamente alcoólica. Quem sabe alguém resolva lhe dar alguns trocados pelos seus pesadelos. Misturou wisky com café. Entornou. Já tava vestido. Calçou as botas. Olhou no espelho. Viu uma figura sinistra. Corpulenta. Acendeu um cigarro. Sorriu. E saiu para sobreviver.





UMA SEGUNDA - FEIRA "CHARLIE CHAPLIN"...


Eu já perdoei erros imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também já decepcionei alguém. Já abracei pra proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, "quebrei a cara" muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só pra escutar uma voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial. Mas vivi! E ainda vivo! Viva! Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe, e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve, e a vida é muito pra ser insignificante.



(Charlie Chaplin)



domingo, 27 de abril de 2008

A DOR DE SER DIFERENTE


Flávia saiu cambaleando pela rua em direção à Kombi estacionada em frente ao bar. Encostou-se no veículo. Abaixou a calcinha e mijou toda a cerveja que tinha bebido aquela noite. Quando bebia tinha a mania de prender a urina. Ia até as últimas conseqüências. Como em sua vida. E acabava fazendo em qualquer lugar.
- Pôrra, por que é que só homem pode mijar na rua, caralho?! – disse e olhou para um cabeludo que estava urinando mais ao lado.
- Isso mesmo, gata! – disse o cabeludo. – direitos iguais...
Flávia deu uma escorregada na hora de levantar a calcinha. Apareceu a bunda. O cabeludo a encarou. Por mais moderninha que fosse aquela cena, homem é homem.
- Quer uma mãozinha? - disse ele segurando no seu membro. Aos tropeços, Flávia levantou-se sozinha.
- Lugar onde se mija é sagrado. – saiu resmungando alto – pode até ser coletivo, mas cada um que olhe pro seu!
Voltou ao bar. A perna ainda trazia vestígios de sua escapada. Sentou-se à mesa. Os amigos bebiam e comemoravam o final de mais um semestre. Mas tudo era chato. Uma repetição. Tudo era normal demais. Duas cartelas de calmantes e uma dose dupla de 12 anos talvez fossem a solução.
Flávia era uma mulher diferente das outras. Vestia-se diferente. Ousava nas cores como um Almodóvar alucinado. Suas roupas eram feitas por ela mesma. Sobreposições de peças garimpadas nos brechós escondidos em Santa Tereza. As mulheres tinham inveja. Ela era destaque em qualquer situação.
O cabeludo, parceiro de urina, estava encostado na porta do bar com uma lata de cerveja na mão. E não tirava os olhos dela. Era universitário também. Vestia-se com uma blusa hippie amarela, calça jeans e tênis branco. Foi ao balcão.
- Me vê mais uma lata, aí... – disse ao balconista.
Foi na direção de Flávia. Ela já estava bastante alta. E enquanto seus amigos repetiam os mesmos assuntos, Flávia tinha o olhar perdido no meio da multidão. Talvez estivesse pensando na combinação comprimido e 12 anos.
- Me acompanha? – disse ele. Ela apenas o olhou.
- Vai, tá geladinha. – insistiu – vai me deixar com a lata na mão?
Ela tornou a olhá-lo. Levantou-se. Foi em direção ao balcão e pediu duas latas de cerveja. Voltou ao cabeludo.
- E aí, se sente melhor agora? – disse, mostrando também ter duas latas de cerveja nas mãos.
O cabeludo deu uma gargalhada. Virou uma de suas latas inteira. Ela repetiu o gesto.
- Me lembro de você. – disse ela – tava me olhando mijar lá na Kombi. Você é um pervertido, sabia?
- Quando você chegou eu já tava mijando.
– disse ele – então...
- Te enxerga, cara! – disse debochando dele – você acha que eu encontrei minha buceta no lixo?
- No lixo não, mas tava quase esfregando ela no chão. – ele ri.
Ela imediatamente agarra o seu saco. Aperta. E ele grita como se estivesse dando à luz.
- Filha da puta! – ele diz – você é louca!
Ele se senta no chão. O bar inteiro entrou em choque. Um choque coletivo. Por uns instantes somente dava para se ouvir um coração pulsando dentro do bar. O dela. Ele caído. Ela pediu uma dose de vodka. Acendeu um cigarro e cambaleando foi jogar dardos.
Um playboy de cabelos lisos, estilo bico de pato, estatura mediana, ficou ao lado da tabela de dardos observando-a jogar.
- Gostei... – disse – mulher pra mim tem que ser desse nível.
Flávia ficou calada. Continuou a jogar.
- Uma vez namorei uma mulher parecida com você. – disse ele.
Ela estava com os dardos nas mãos e quando ele terminou de dizer que existia uma mulher parecida com ela, Flávia não pensou duas vezes e arremessou os três dardos de uma só vez. Um foi no olho esquerdo. Outro acertou o ombro direito. E um outro raspou-lhe a cabeça e foi parar em uma mesa próxima.
- Filha da puta! – ele disse – você é louca!
Algumas pessoas se aproximaram do cara e o acudiram. Ela foi ao balcão.
- Parecida comigo... – resmungou.
Pediu outra dose de vodka e empurrou tudo para dentro. Acendeu um cigarro. Foi para o canto dançar. Wish you were here. Ela balançou os braços completamente livres. Só queria ficar na dela. Até seu jeito de dançar era diferente dos outros. Era como se o vento se encarregasse de levar aquele corpo.
Um negro com cabelos rastafari, Bob Marley estampado na blusa e fumando um cigarro de palha se aproximou.
- Vai um tapa? - disse, oferecendo o cigarro.
- Não rola...
- Mas esse aqui você vai curtir...
Flávia estava muito bêbada, mas não curtia outros tipos de drogas. Na verdade detestava qualquer coisa que não tivesse o cheiro do álcool. Gostava mesmo do cheiro, do gosto, da cor. Mas não curtia outros baratos.
- Tô curtindo seu estilo de dançar. – disse o negão querendo intimidade.
- Não quero companhia. – disse Flávia.
- Deixa disso, gata. Vem cá... – puxou-a pelo braço com força. No caminho, ela sacou uma garrafa de cerveja de uma mesa próxima e deu-lhe uma garrafada. Voou vidro para todos os lados. O negão caiu por cima de uma mesa. Sua cabeça jorrava sangue.
- Filha da puta! – ele disse – você é louca!
Flávia foi em direção à mesa dos amigos da faculdade. Parou ao lado. Apenas observou.
- Vocês viram o vestido da Angelina Jolie no Oscar? – disse uma das amigas.
- O que foi aquilo, hein? – disse outra amiga deslumbrada.
- Gente, nós temos que fazer coisas assim aqui na facul, isso é que dá futuro. – concluiu outra.
Tudo era chato. Uma repetição. Normal demais. Pegou um copo de cerveja de alguém. Virou tudo. E foi para casa cambaleando na dor de ser diferente.
Abriu a porta do apartamento. Arrancou uma garrafa de 12 anos da estante. Entrou no banheiro dos pais. Eles estavam viajando. Vasculhou o armário da mãe. Pegou duas cartelas de um calmante qualquer e saiu. Ligou o som na sala. Wish you were here. Apagou.





sábado, 26 de abril de 2008

LEMBRAM DO ELEFANTINHO?


Um elefante incomoda muita gente. Dois elefantes incomodam, incomodam muito mais. Dois elefantes incomodam muita gente. Três elefantes, incomodam, incomodam, incomodam muito mais. Três elefantes incomodam muita gente. Quatro elefantes incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais. Quatro elefantes incomodam muita gente. Cinco elefantes incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais. Mas não devia ser assim.


Lembrei dessa musiquinha de infância. Tempo bacana. Quanta bobagem. Sem maldades, sem desconfianças, acreditávamos uns nos outros. Mas também, éramos crianças... Saudades...









OBRIGADO POR ESTAR AQUI

Fico feliz por você estar visitando este blog. Aliás, muito me surpreende que tanta gente esteja por aqui lendo as coisas que resolvo escrever. Não que eu não goste disso. Lógico que quem escreve quer ser lido. Sou isso mesmo que está aí. Não se espante. Você sabia que existe um espaço aqui pra comentário? É verdade, o que você acha de comentar o que escrevo de vez em quando? Vamos debater. Pode ser produtivo. Se o seu interesse por aqui for outro, meu, desapareça! Sou da paz. Tento escrever coisas. O pior é que nem me considero escritor!

Tomei um susto quando vi a quantidade de pessoas acessando o site. Estranhei. E agora a ficha caiu. A cidade é pequena, não dá pra camuflar muito. Fico muito triste de textos meus estarem servindo para propósitos tão mesquinhos.

Aliás, você sabe a definição de fofoca? Segundo nosso querido Aurélio, significa mexerico, intriga e bisbilhotice. Bom, este blog é público, certo? Mas por favor, não entre nessa. Digo isso porque... por aí a gente ouve cada maluquice... Que vergonha! Gente grande...

Espírito de porco. Tá aí, consigo reconhecer um de longe, quer dizer, mais de um, mas não sei expressar em palavras a sua definição. Alguém já ouviu falar nessa expressão? O que você acha que significa? Dê a sua opinião aqui. Mas por favor, não vamos citar exemplos. Vamos poupar os coleguinhas...

Terrorismo. Segundo o nosso querido Aurélio significa, modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas, ou de impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror. Tipo...se utilizar das palavras de outros, e o pior de tudo, imprimí-las (que doença...), saca? Cara, que dureza... Fico imaginando como deve ser conviver em um ambiente como esse. Um ambiente no qual as pessoas se utilizam da pseudo-fragilidade das outras para conseguir algum resultado positivo entre os seus. É foda!

Inveja. Segundo o nosso querido Aurélio, significa, 1.Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. 2.Desejo violento de possuir o bem alheio. Cara, mais uma maluquice! Que bem é esse? Possuir o quê? Por que inveja? Essa é pra refletir legal...

Realmente devo repetir a frase de Mário Bortolotto, quem não faz teatro, faz política. E acrescento, faz fofoca, fala mentira, denigre, usa a falsidade descaradamente, morre de inveja, não compartilha, e chupa o sangue até o momento que não precisa mais de sua vítima.

Vou em frente, que atrás vem gente...e pelo que tenho visto, o tempo que as pessoas estão perdendo preocupadas com a vida de outras, tempo precioso, elas estão bem...bem...bem lá atrás.



sexta-feira, 25 de abril de 2008

CONVERSA DE BAR


A menina esfomeada diz:


- Garçon, o pão é natural?


- Claro, senhora, o pão é natural.


Depois de um tempo de espera, o lanche chega meio desengonçado e o amigo diz:


- Mas esse pão não é natural!


Então o outro amigo conclui:


- Cara, se não é natural, então é sobrenatural...



IN-VERSO

Tudo bem, meu amor, eu falo da dor só porque me incomoda. Não disfarço rancor, não me armo, eu não cuspo em ninguém pelas costas. Sou puro instinto, malícia ingênua, sou objeto de uso e abuso. Um réu sob seu julgamento e eu confesso, sempre quis ser feliz. Eu não nego. Sempre quis ser feliz. Quem me diz que estou certo eu desprezo. Como posso estar certo se aceito da vida somente os seus restos? Tudo bem, meu amor, eu falo da dor, mas o que sinto no fundo é o inverso.




quinta-feira, 24 de abril de 2008

CRIANÇAS SOLDADOS

garrafas quebradas na porta de um bar pivetes na esquina roubando da prostituição sempre ouvi dizer que a noite é uma criança criança que pede
se droga se vende criança que pede um carinho da gente criança que sofre
criança bebê criança que nunca pediu pra nascer em guerras o mundo imundo
reafirma a sua extinção a ressurreição hoje em dia já foi esquecida
crianças soldados são partes de pátrias ausentes crianças soldados que explodem e fazem o inferno de Dante ser castigo crescente e pensar que tudo isso começou em berço esplêndido


COTIDIANO

Duas estudantes flertaram com ele. Olhou para trás. Elas estavam olhando. Parou. Fez um gesto de quem estava a fim de papo. Estava confuso e com muito tesão. Elas deram uma risada e seguiram em frente.
- Piranhas, disse, seguindo o destino.
Tinha raiva desse tipo de mulher. A que provoca, excita e depois pula fora. Nessas horas lembrava de suas punhetas. E sem culpa.




NOVAS OPORTUNIDADES...

Recebi uma mensagem no orkut de um cara lá do Pará. Ele se diz ator e diretor e bibliotecário. Tá desempregado. Me parece que surgiu uma oportunidade de trabalho em Boa Vista, na UFRR, como biblotecário. Ele encontrou meu contato com um outro ator, amigo meu, lá de Natal e resolveu pedir abrigo. Me lembrei da época em que cheguei em Boa Vista e pedi abrigo ao Renatão. Confesso que senti vontade de dar esse abrigo, mas infelizmente no momento isso não é possível. Expliquei à ele as razões. Espero que entenda. E espero que venha assim mesmo e dê o seu jeito. Mesmo na casa do Renatão, eu precisei dar o meu jeito. Vendi até cordão de miçangas na praça. Falo isso com orgulho porque é a minha história. Sei o que passei pra ficar por aqui. E imagino que o cara deve tá no maior sufoco e se for guerreiro mesmo, virá e dará seu jeito. E vencerá. Boa Vista é para vencedores.

Outro assunto legal é que a Cia. do Lavrado foi convidada à participar de um Festival de Teatro de Rua em Porto Velho. Muito bacana. Já pensou, A RETRETE OU A LATRINA nas praças de Porto Velho? Os caras vão pagar tudo. Até mesmo as passagens de ida e volta. Se eles não acreditassem no trabalho que desenvolvemos aqui, com certeza esse convite não teria rolado. O Chicão já esteve aqui e gostou muito da Cia. do Lavrado. Já nos cruzamos várias vezes nos Festivais de Manaus e o mesmo viu a nossa postura. Enfim, tomara que o grupo tenha disponibilidade para essa empreitada. E será logo depois do fim de semana que iremos ao interior do nosso estado. É isso. Sempre acreditei que esse espetáculo iria dar samba.

Vida longa!



quarta-feira, 23 de abril de 2008

REBORDOSA


Acendeu o cigarro. E viu a vida passar na espessa fumaça que pairava pelo ar. O relógio na parede marcava oito horas. O sol invadia sua sala pelos buracos de traça espalhados pela cortina velha. A noite já era passado. Levantou-se aos tropeços e foi em direção à geladeira. Não era fome o que sentia, mas precisava de alguma substância com gosto diferente do gosto que permanecia em sua boca por três dias seguidos. Apenas um litro de leite estragado e um resto de queijo vencido. Entornou o leite no copo. Completou-o com o mesmo malte maltado que o acompanhou durante esses dias. Mandou pra dentro. Castaneda que me perdoe, mas isso é melhor que seus parágrafos, pensou, enquanto a bebida queimava todas as células restantes do seu estômago. Caiu no chão. Era como se tivesse levado um soco de dentro pra fora. Se arrastou até a mesinha de centro. A sala o girava e o jogava para todos os lados. Esticou o braço e pegou um cigarro. Acendeu. Viu a vida passar na espessa fumaça que pairava pelo ar. O relógio na parede marcava oito...





terça-feira, 22 de abril de 2008

SEM CONCESSÕES

Sônia – (abre a porta. Dá de cara com Marcão) Marcão!
Entregador – Fudeu! (sai correndo pra dentro de casa, mas o Marcão já o viu).
Felipe – Marcão!
Marcão – Pôrra, eu sabia que ia dar o fragante... Que decepção, hein minha Rainha...
Felipe - Fragan...
Sônia – (para Felipe)Cala a boca, imbecil! Olha Marcão, a gente não tem culpa dessa pôrra...
Marcão – Sei, no mínimo cheiraram tudo com esse merdinha, não foi?
Sônia – Que nada, conhecemos ele hoje...
Felipe – É mesmo...
Marcão – (com a arma na mão) Eu não quero ouvir tua voz, entendeu?
Entregador – Ei, cara, eu já ia te procurar...
Marcão – Ia mesmo? Então porque demorou tanto pra fazer isso? Deita no chão...
Entregado – Que isso cara...
Marcão – (chuta ele) Deita! Quero ver tua cara virada pro chão... e vocês...o que é que eu faço com vocês? Que decepção minha Rainha... Pensei que tu parava na minha, mina.
(Marcão vai até à mesa e mete o nariz na bandeja de pó).
Marcão – Então...
Sônia – Ô Marcão, deixa disso... você sabe que eu não ia esconder um lance desses. O carinha aí, nós o conhecemos hoje. Ele veio deixar uma pizza e pediu um pouco de wisky e sabe como é? Não dá pra negar... ele entrou e foi ficando, até que você chegou com as paradinhas e nos contou essa história. O que você queria que nós fizéssemos? Que caguetássemos o mané?
Marcão – No mínimo isso. Depois de tanto tempo... me admira ter mais consideração por esse bostinha do que comigo. Vocês agora arrumaram um pobremão.
(eles se olham e riem desesperados)
Marcão – (grita) Qual foi a piada? Que pôrra é essa, caralho?
Felipe – Nada, é que...
Marcão – Ei, não entendi, cadáver não fala, sacou?
Sônia – Ô Marcão, é que o Felipe escreveu uma história nova, sabe, e o personagem dele come a cabeça de quem fala errado...
Marcão – E...
Sônia – É que você falou pobremão.
Marcão – E daí? Qual é o pobrema?
Entregador – Tá aí, de novo!
Felipe – Fica quieto!
Marcão – Aí, tu também é cadáver, não fala nada, e pior, já tá em estado de decomposição.
Sônia – (pega a revista) Aqui ó Marcão, esses são os desenhos.
(Ele pega e dá uma olhada. Se impressiona).
Marcão – Até que tu presta pra alguma coisa, seu merdinha. Gostei dos desenhos. Se publicar, vai faturar.
Sônia – Aí é que tá o problema, viu Marcão, problema, as editoras não querem publicar. Acham que ninguém curte mais esses traços, entende? Os carinhas só querem saber de mangá?
Marcão – Mangá é o caralho.
Sônia – Mas é verdade.
Marcão – Sabia que eu também arrisco uns rabisco? Eu não sou um profissa, mas me divirto. Aí, eu conheço um playboy que é filho do dono de uma editora. Talvez a gente consiga ganhar uma grana.
Sônia – A gente? Como assim?
Marcão – É o seguinte, o mané aí do teu amigo me dá a HQ dele pra eu publicar. Eu repasso pra ele 10%. E com isso eu esqueço o que vocês fizeram comigo, que cá pra nós Rainha, que decepção...
Felipe – Meus desenhos eu não vou dá pra ninguém. Eu não faço concessões!
Entregador – Ei, cara, deixa de ser egoísta, caralho. Se tu não fizer isso o Marcão passa a gente.
Marcão – O entregador sacou a parada (gargalha).
Sônia – Mas Marcão, o Felipe tá precisando muito publicar essa HQ. Tá precisando dessa grana. Pôrra, meu, 10%? Isso é uma putaria.
Marcão – O negócio é o seguinte (engatilha a pistola e aponta pra cabeça de Felipe ) é pegar ou largar. Qual vai ser mané?
(pausa)
Marcão – Fala!
Felipe – Pode levar.
Marcão – Beleza. Tomou a decisão certa.
Felipe – Quando é que nós vamos lá na editora? O contrato, temos que assinar o contrato.
Marcão – (arranca uma folha de um caderno, pega uma caneta e escreve um pouco) Que mané contrato. Você não vai a lugar algum. Assina aqui, ó. Pode confiar que eu trago a tua grana. E olha, vou te trazer em mercadoria.
Felipe – Mercadoria?
Marcão - É isso mesmo, vai ter que vender pra mim. Depois te passo uns trocados da tua venda. Sacou?
Sônia – Mas Marcão...
Marcão – Sem mais nem menos. E você se liga, hein? Ou vai acabar na esquina rodando bolsinha.
Entregador – E quanto a mim, Marcão? Tô liberado? Aí, vou pedir pro patrão me demitir e te pago com a grana do fundo de garantia. O que acha?
(Marcão se aproxima. Coça a cabeça com sua pistola. Pega um pedaço de papel e uma caneta).
Marcão – Faz um desenho bacana aí. Quero ver se tu tem talento.
Entregador – Mas Marcão, eu não sei nem escrever direito.
Marcão – Bora, meu irmão, desenha qualquer pôrra nessa caralha!
(o entregador faz um desenho muito ruim).
Marcão – Depois não reclama que não teve a sua chance. (dá um tiro na cabeça do entregador, que cai no meio da sala, próximo aos pés de Sônia).
Marcão – Qual foi? Não gostei dos traços dele. E comigo não tem concessões.
(Marcão pega a garrafa de whisky na mesa e sai. Sônia e Felipe se sentam no sofá. Ela pega um pedaço de pizza. Ele cheira uma carreira. Acendem um cigarro e ficam olhando para o corpo do entregador. Música).





CRISE?

CIA. DO LAVRADO
FOTO: IARA ARAÚJO
Fim de semana com feriado. Rolou de tudo. No sábado fizemos um ótimo espetáculo na Praça Germano Augusto Sampaio, no Pintolândia. À noite, na pizzaria, cheguei a conclusão de que a temporada do espetáculo A RETRETE OU A LATRINA é um sucesso. Já fizemos cinco apresentações e o retorno do público em todas elas foi muito positivo. Então, só me resta dizer que estamos vivenciando um sucesso. Sei que não sou o único que penso isso na Cia. do Lavrado, mas sei também que tem gente que não concorda. Mas quer saber? Não, você não quer saber o que penso. Enfim, São Pedro tá ajudando legal. O povo tá comparecendo legal. E somos sucesso sim. Falo isso com propriedade porque consegui realizar exatamente o que queria, ou melhor, algumas coisas não saíram como queria, mas nem tudo é perfeito. Tem gente na Cia. do Lavrado que sofre com a falta de perfeição...

Ei, é complicado lidar com pessoas que ficam disseminando idéias negativas pelos cantos. É foda você saber que existem pessoas que adoram colocar lenha na fogueira. O pior é que neguinho não percebe essa pôrra. Não tem personalidade suficiente pra peitar e realmente colocar a sua opinião. Cara, já cansei de dizer aqui que eu não faço o que não gosto, com pessoas que não gosto, e não trabalho se não estiver feliz. Faço o espetáculo que gosto, com as pessoas que gosto (apesar da cara emburrada de alguns deles, é verdade, agora é mais de um) e estou feliz com isso. Mas esse sou eu.

Me relacionar socialmente sempre foi muito difícil. Sempre precisei criar esquemas. Esquemas de sobrevivência. Não me acho um cara difícil, mas gosto do isolamento. Tenho personalidade forte. Defendo minhas idéias e meus amigos. E de uma hora pra outra, desisto de tudo. Não gosto quando não me tratam legal. Percebo as pessoas. As que estão próximas. Confesso que fico magoado com algumas atitudes. Talvez por não gostar de sentir isso é que eu evito muito os outros. O medo da decepção. Crise? Não vejo por esse ângulo. Vejo pessoas querendo arrumar chifre em cabeça de cavalo. Relaxa, meu povo!



sexta-feira, 18 de abril de 2008

CACO DE VIDA


Hoje foi um dia legal pra caralho. Sexta-feira! Acordei tarde. Fui à UFRR e mais uma vez não tive aula. Fui comer com a Tati e conversamos bastante. A menina é guerreira, foi a mais uma entrevista de trabalho. É um puta exemplo. Comemoramos no Tortas & Tortas. Vou logo avisando, o salgado de lá é frio e pelo preço que cobram deveriam ter no mínimo um forno microndas pra esquentá-lo. Vão se fuder! Pegamos filmes. Li uma peça, Deve ser du caralho o carnaval em Bonifácio, de Mário Bortolotto. Ainda estou nos textos dele. Em seguida passo para os dois livros do Bukowsky, depois o livro de contos de Tchekhov, Um Homem extraordinário e por último A Carta Roubada, de Edgar Allan Poe. Agora tô curtindo Celso Blues Boy. E foda-se o resto. Daqui a pouco vou continuar meu novo texto. Tô escrevendo pra caralho. Quando tô nessas fases fico completamente tumultuado. Confuso. Muitos personagens, muitas referências autobiográficas, muitas lembranças, nostalgia. Quando o dia amanhece / O brilho da noite se vai / Vejo as pessoas tão caladas / num canto amarguradas/ Isso é Celso Blues Boy, entendem? Me lembro agora do Circo Voador, no Rio de Janeiro. Eu perdi as contas de quantos shows assisti desse cara lá. Ele sempre foi um clássico. Praticamente de dois em dois meses fazia show por lá. Eu tinha até o canhoto dos ingressos colados nas paredes do meu quarto. Eu colecionava. A parede do meu quarto era cheia de papel. Várias referências do que eu era naquela período da minha vida. As vezes olho pras paredes de minha casa e não vejo nada. É lógico, não tem nada. Isso me incomoda. Esse vazio na parede. Essa falta de referência. As paredes da casa são como um mapa do interior do indivíduo que ali habita. Tô sem mapa. Existem apenas umas borboletas que ganhei dos meus pais e confesso que não preciso olhar pra elas pra lembrar deles. Os caras são muito mais do que essas borboletas ridículas. Não tenho quadros. Gosto de quadros. Já quis até pintar alguns. Não sou pintor de quadros, mas também não sou dramaturgo. Não sou estudante. Não sou ator. Não sou diretor. E daí? Por que não posso pintar quadros? Quase aos 40 percebo que a vida realmente nos coloca o tempo inteiro em busca de algo. Somos escravos dessa pôrra de vida. De vida maravilhosa. Sim. Mas escravos. Ela não permite que façamos o que queremos de verdade. Somos fantoches nas mãos de não sei quem. Outro dia conversando com a Dani fiquei sabendo de uma série que passa na TV à cabo, uma tal de 14.000, sei lá se é isso mesmo, mas o fato é que a moçada, sim esses 14.000 desapareceram e de repente retornaram em uma outra época. Caralho, as vezes me sinto assim. Vindo de um outro lugar e até as pessoas mais próximas me parecem estranhas. Tento me afinar com elas e é difícil, pois não sou daqui. Sou estranho. Me parece que sou, porque ando à margem e elas não. Por isso, às vezes algumas pessoas me perguntam se estou bem. Acham que tô diferente. Não é nada gente. É apenas um caco de vida que arranha minha goela de vez em quando.



quarta-feira, 16 de abril de 2008

COMO NOS VELHOS TEMPOS...


Ontem chutei o balde. Fiquei bebaço. E arrastei meu amigo Renatão comigo. Comprei três cervas e um litro de vinho. Depois das três cervas e de uma caneca de vinho resolvi ligar pro Renatão e fazer o tal convite à ele. O cara é mais louco do que eu. Ele topou. Derrubamos o vinho e mais cinco cervejas que eu havia comprado num posto, no caminho da casa dele. Fumamos cigarro. Lógico. Falamos um monte de merdas e foi bom pra caralho. Mas não foi só isso. Resolvemos ir ao posto da Ene Garcez e tomar mais umas cervejas. Tomamos mais quatro e ainda deixei duas pagas, pois o Renatão não aguentava mais. Tava bebaço também. O cara tinha que trabalhar às sete da matina. Respeitei. Peguei as duas pagas, guardeia-as no isopor e deixei o meu amigo em sua casa. A partir daí, foi só maluquice. Eu sei que cheguei em casa de manhã, como nos velhos tempos, e com direito a karaokê e tudo. É verdade, só mesmo bêbado. Cantei na pôrra do karaokê do Pit Stop. O bar já tava vazio. Era fim de madrugada. Só tinha bebaços. Um grupo de homens que me pareciam vendedores de alguma loja e um casal. Aquele pessoal que não quer desistir da noite, saca? A turma que faz amizade com todo mundo e não tão nem aí... Nem sei como consegui trazer o carro pra casa. Liguei o automático e deixei rolar.

O fato é que chutar o balde me fez muito bem. Sei que não posso fazer isso sempre. Questões de saúde. Não parece, mas sou um cara limitado. E caguei pra isso na terça-feira. Tem horas que é necessário cagar mesmo. Cheguei em casa e ainda fui assistir um dvd de comédia. Dormi na poltrona e só acordei onze e meia. Não vi dvd pôrra nenhuma. Com isso, minha quarta foi um desastre. Uma ressaca du caralho. Sensação filha da puta de ruim. Não produzi nada. O tempo todo arrotando cerveja. Um tanto bêbado ainda. Mas e daí? Esse foi o preço. Liguei pro Renatão e ele me disse que nem foi trabalhar. Disse pros caras que tava com caganeira. A voz dele tava péssima. Igual a minha, imagino.

É isso. Chutei o balde com um litro de vinho, 15 cervejas e três maços de cigarro. Foi uma terça muito louca. Uma terça Led Zeppelin. Como nos velhos tempos...



terça-feira, 15 de abril de 2008

ROBIN HOOD

Alto da Boa Vista - Rio de Janeiro - RJ
Boite da moda no Alto do nada
Três ambientes confundem demais
O brilho esticado no espelho quebrado
A boca no vaso e a vida pra trás

Travado e sozinho no canto do bar
Um sax podre embrulha seu estômago
Uma loira bebaça implora uma dose
Tonteira, teto preto e um arroto de vômito

Cabide de Londres em plena floresta
Amantes se ligam sem ter ligação
O sexo rápido, em pé é o que resta
O risco da foda em meio à multidão

O dia amanhece com corpos na estrada
São restos, zumbis em transformação
O sol que derrete a pintura de guerra
Castiga os mais fracos que imploram perdão



segunda-feira, 14 de abril de 2008

APENAS MAIS UM DIA

Hoje entrei na Livraria Nobel e quase comprei livros. Tô em uma fase de compulsão. Por qualquer coisa. Estou com vários livros em casa e ainda não os li. Mesmo assim tava fissurado em comprar mais um.

Fui pra UFRR e não teve aula. Mais uma vez. A novidade é que eu estudei hoje. Verdade. Fui à biblioteca e estudei português. E foi bom, pois consegui acompanhar a aula da noite.

Pintou uma oportunidade pra eu entrar num curso de violão. Queria mesmo gaita, mas violão também é bacana. Quero tirar umas músicas. Quem sabe até, um dia, fazer algumas. Quero melhorar minha qualidade de vida. Toda hora estou ligado nesse pensamento. Por isso compro livros, por isso caminho na Av. Ene Garcez, faço teatro, desejo o curso de violão, escuto música bem alta, enfim, faço coisas que curto de verdade.

Amanhã faremos mais uma reunião sobre o jornal. O Francisco tá motivado com a idéia. Eu fiquei de avisar algumas pessoas, mas não consegui. Vamos ver o que vai rolar. O Renatão ficou de conseguir um exemplar da Revista Etecetera. É de lá que veio a idéia do jornal. Sinto tanta falta de movimentação naquela universidade... Aliás, sinto falta de movimentação em minha vida. Eu sempre fui um agitador. Estou me sentindo podado.

Não tem jeito. Detesto quando alguns alunos da UFRR falam de autores como se fossem íntimos dele. São textos tirados da boca dos professores. São intelectualóides com discurso decorado. É foda de triste!



domingo, 13 de abril de 2008

"EU QUERO VER O OCO"


Renato Barbosa e Cora Rufino

Foto: Ivan Rodrigues



Começou o inverno. E com ele a nossa temporada nas praças fica ameaçada. É verdade, ontem tivemos apresentação na Praça Mané Garrincha e o público mais uma vez nos recebeu muito bem. Essa praça é uma maravilha! Iniciamos o espetáculo às 20:10. A praça não estava tão cheia como na semana passada. O povo fica grilado de sair de casa no inverno. A chuva daqui não é igual ao Rio de Janeiro, por exemplo, que cai aquela garôa...não, por aqui cai é pé d'água mesmo. E não temos lugar pra nos protegermos. Com isso o povo evita sair quando o tempo tá, assim, nublado, como neste último sábado.

Quanto a apresentação, não tenho do que reclamar. Eu me divirto durante o espetáculo. O trabalho tá lá, redondo, poucas falhas, diante das nossas habilidades e do que nos propomos a fazer. Conseguimos êxito. Mas, não é o que algumas pessoas do elenco acham. Não posso acreditar que tem gente que vai fazer o espetáculo infeliz. Pelo menos foi o que ouvi. Sei que este blog é meu e eu escrevo o que eu bem entender, ( até mesmo porque ninguém lê esta merda mesmo ) mas vou poupar nomes. Vou preservar estas pessoas. Vou respeitar o momento de infelicidade delas. É foda, uma atriz dizer que precisa encher a cara pra conseguir fazer o espetáculo. Vai se fuder! O pior é partilhar essa maluquice com outro ator do espetáculo. Sem falar da falta de ética profissional, é uma imensa burrice. (pausa) Sei lá, talvez não seja burrice e sim imaturidade, falta de experiência e falta de prática em fazer escolhas certas em sua própria vida. É isso.

Tô afim de fazer outro monólogo. Desde O Último Dia, texto que escrevi e encenei durante o ano de 2004 todo, sinto vontade de fazer um outro texto. Talvez algo sobre Bukowsky. Com a direção de Renatão. Quero trabalhar mais. Não quero depender de outros pra estar em cena. Quero viajar pra festivais e sozinho ficará mais fácil. Vou terminar de fazer a revisão do último texto que escrevi, e aí começo a escrever este monólogo.

Esses dias tenho sentido vontade de encher a cara. Aliás, ainda nem sei porque ainda não o fiz. Talvez porque eu já saiba que eu vou adorar a sensação e vou querer fazer isso todos os dias e aí...fudeu!

Tenho ouvido muito Raimundos. Deviam fazer isso também.



sábado, 12 de abril de 2008

PRA QUE?


Pra que tenho 1, 74 se na maior parte do tempo eu vivo rastejando?
Pra que pernas se na maior parte do tempo estou na horizontal?
Pra que boca se nem reclamar eu consigo mais?
Pra que olhos se não consigo enxergar um palmo a minha frente?

Pra que vergonha se nem cara eu tenho mais?
Pra que ouvidos se a minha consciência já não consegue mais gritar?
Pra que promessas se nem palavra eu tenho mais?
Pra que sentido se nenhum sentido me faz mudar a direção?

Pra que?
Pra que?
Pra que?
Pra que?

Pra que escrever essa merda se ninguém vai ler?
Pra que gritar socorro se eu nem sei se é isso que eu quero ter?
Pra que fingir que morro se na verdade estou morto desde o dia em que nasci?
Pra que dizer que sinto muito se tenho certeza que ela não vai nem entender?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

CUIDADO COM SEUS VIZINHOS...


Maria do Carmo – Agora não adianta chorar, Kátia. O leite já derramou faz tempo. E bem que você adorou a idéia, infelizmente, demos azar... Quem iria imaginar que o nosso ônibus seria assaltado na volta? Eu ainda acho que foi armação daquele motorista. Sujeito esquisito. Queria saber o conteúdo de todas as caixas. Os passageiros entravam e ele começava o interrogatório. Todo interessado.

Kátia – Grande idéia, viajar em ônibus pirata, quis economizar... Agora estamos nesta merda.

Maria do Carmo – Ontem, quando eu tava de saindo de casa, o Sr. José, o síndico, tava conversando com um morador, que me parecia ser novo aqui. Assim que eu fechei a porta, ele começou a falar de aluguel, contas, que existem moradores que não pagam a mais de três meses o condomínio e que ele iria expulsar os maus pagadores dali. Me senti mal com tudo aquilo, mas também não perdoei. Interrompi a conversa e perguntei pela esposa dele. Eu disse que há muito tempo não batia um papo com ela. O cara ficou vermelho igual a um pimentão, desconversou e levou o novo morador lá pro fim do condomínio. Nem se despediu de mim.(Ri).

Sílvia – Não entendi...

Kátia – (pára de fazer unha) Não acredito que você não contou pra Silvinha...

Sílvia – Contou o quê?

Kátia – Que falta de consideração...(vai buscar cerveja pras três).

Sílvia – Agora vai ter que contar! Estou curiosíssima...

Maria do Carmo – É bobagem dessa aí...

Kátia – (grita lá de dentro) Se mamar o pau do síndico é bobagem...

Sílvia – Como é que é? Você mamou o pau daquele velho? Não acredito!

Maria do Carmo – Calma! E 59 não é tão velho assim não...

Sílvia – Tá de caso com o coroa, é?

Kátia – Que nada, melhor que isso... (serve as amigas).

Maria do Carmo – Vocês querem parar! (bebe a cerveja em um só gole. Kátia completa o copo dela) Você teria feito o mesmo, Sílvia. Mês passado, ele esteve aqui em casa para entregar o condomínio. O terceiro atrasado. Uma de vocês saiu pra trabalhar e deixou a porta aberta, apenas encostada, mas sem fechar. Foi naquela noite em que eu dormi na poltrona, lembra? A gente bebeu até tarde e ficamos falando do nosso passado, aquelas conversas melancólicas... Pois bem, vocês foram pra cama e eu apaguei na poltrona.

Kátia – Foi mesmo... Aquele dia quem mais enlouqueceu foi você, se lembra que você...

Sílvia – Dá um tempo, Kátia! Vai, continua...

Maria do Carmo – Então, o Sr. José veio trazer o condomínio e encontrou a porta aberta. Lógico que o velho foi logo entrando... Imagina só, um apartamento de mulheres... E eu lá, nuazinha, deitada na poltrona, provavelmente com a perna bem escancarada. Eu sempre desconfiei dos olhares dele, sempre que eu passava na portaria e ele estava por lá, me olhava de um jeito que parecia me devorar. E pra falar a verdade, eu adoro ser desejada assim... É um olhar de menino carente, um olhar de quem sabe que jamais irá tocar nesse corpo. O rosto de um desejo impossível.

Kátia – Por isso que você vive se atracando com esses rapazes novinhos... Agora eu te saquei.

Sílvia– Cala essa boca! Continua...

Maria do Carmo – Como eu tava dizendo, os meninos realmente me deixam louca de tesão, mas o velho... Eu percebi aos poucos o interesse dele em mim. Todo sorridente quando tava sozinho, mas quando tava com sua esposa, nem me cumprimentava, o safado. A gente sabe...

Sílvia – Tá legal, vai, pula o que não interessa. Você tava pelada na poltrona e o síndico entrou para entregar o condomínio e...

Maria do Carmo – Eu já havia despertado quando vocês duas saíram, mas sabem aquele sono gostoso, pesado, que não deixa o corpo levantar, parece até que estamos em estado letárgico ou que fumamos aquela tora de bagulho, então, eu comecei a sentir um calor na minha...(alisa a sua própria buceta) Era um calor molhado, e aos poucos eu fui me mexendo... Na verdade, eu tava adorando, quando dei por mim, senti duas mãos fortes prensando as minhas coxas, eu abri os olhos e vi aquela barba grisalha se esfregando na minha buceta, tentei me mexer, mas ele me olhou, com uma cara braba e carente ao mesmo tempo e me disse – Não faz isso, deixa... Puta que o pariu, que chupada maravilhosa! Eu não quis nem saber quem era o cara que estava me chupando, fechei os olhos, pensei no Zulu e... depois me lembrei de você, Sílvia, você e os seus parceiros de sexo casual.

Sílvia – (acende outro cigarro) Tá bom, mas aonde entra a piroca nessa história toda?
Maria do Carmo – Ele viu que eu tava gostando e se levantou. Sempre me encarando. (piedosa) Um olhar bandido... carente... abriu a sua calça e colocou pra fora aquele pau... Sílvia, o velho tem um pau lindo, perfeito, parecia de borracha, delicioso. Eu não podia perder essa, amigas. Sou ré confessa. Caí de boca mesmo!

Sílvia – Quer dizer que o velho já te comeu?

Maria do Carmo – Não!!! Nós só nos chupamos...

Kátia – Só? Puta que o pariu... Vocês estão marcados pra sempre. Jamais vão se olhar do mesmo jeito. Aquele olhar de desejo que ele tinha por você, já era. Agora é o olhar de satisfação. – Essa eu já botei pra mamar! Assim que são os homens.

Sílvia – Você aproveitou a oportunidade pra falar do condomínio?

Kátia – Com a boca cheia?

(Elas riem).

terça-feira, 8 de abril de 2008

TÔ DE SACO CHEIO


Meu dia hoje não foi muito legal.

Tô de saco cheio de algumas coisas, de algumas pessoas, de alguns hábitos, dessa indisciplina toda que me paralisa e me faz ser platéia da minha própria vida.

Tô de saco cheio da Cia. do Lavrado. De ficar esperando aprovação em projetos pra estar no palco. Pôrra, de onde venho eu fazia teatro sem um puto!

Tô de saco cheio de não ter um grupo de amigos para sair e falar bobagens.

Tô de saco cheio das segundas intenções das pessoas, que se infiltram em coletivos pra usufruir uma imagem que não é a sua. De saco cheio de ter poucas amizades. Saudades dos malucos do Rio de Janeiro...das noites em claro nos botequins daquela cidade. Saudades do futebol de sábado na Cidade Universitária, do cervejal que rolava depois, sempre regado com muito fumo. Quanta bobagem nós falávamos...

Tô de saco cheio do pensamento acadêmico, que direciona, que cerceia, que maquia, que arranca o lúdico da rapaziada. De saco cheio de viver na encruzilhada. De andar à pressão. De aceitar opinião. De saco cheio desse povo de teatro, que ao invés de pensar coletivamente estão sempre criando uma forma de fuder com tudo!

Tô de saco cheio de opiniões sem ética nenhuma direcionadas à um forte completamente frágil. Por que não enfrentam a chapa mais quente? Sou mesmo, quente pra caralho, maluco por largar tudo e defender com unhas e dentes minhas idéias e aqueles que estão nessa comigo.

Foda-se!

Tô de saco cheio de fazer média. De ser o cara vaselina. De saco cheio de ficar imaginando que o povo do Lavrado não me curte muito, sei lá, por eu falar o que penso. Quer saber, tô preparado pra romper com tudo. Tô afim de outros rumos, outras caras. Cansei de bater palma pra maluco dançar. Cansei de insistir na relação com os outros. Foda-se! Querem fazer esse jogo, beleza, sei jogar muito bem. Vamos nessa que eu vou acender o pavio da bomba. Vamos ver o que é que vai sobrar. De mim.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

TOMARA...


A idéia de lançar uma edição única de um jornal literário, de longe é uma idéia original. Copiei de um grupo de pessoas lá do Rio de Janeiro, como já disse em um post anterior. Conversei hoje com o George Farias e fiz um convite pra que o mesmo participasse do grupo de escritores desta edição. Ele achou ótima a idéia. E me lembrou que ano passado foi feito um lançamento de um livro nesse formato. A diferença é que eu propus um tema único, como era no Rio, e eles fizeram o livro com tema livre. Particularmente acredito que um tema dá uma unidade maior ao trabalho. Dá uma cara. Folheei o livro e não me prendeu a atenção. Até li coisas bacanas, mas achei solto e também não curti o fato de ter reportagens. Enfim, os caras fizeram. Vamos mais além, fazendo um puta de um sarau performático dentro da UFRR. Vamos somar.


Ainda nessa onda, conversei com um cara que faz direito e já foi meu amigo de uma disciplina, mas cara, não lembro o nome dele, o que acontece é que ele escreve. E ficamos um tempão conversando sobre nossas angústias, nossas criatividades, nossos processos e foi du caralho. Esse papo dificilmente eu consigo trocar com outro escritor. Aliás, eu nem sei direito quem escreve...mais uma razão para a existência do jornal literário. O cara do direito tava bem empolgado com um texto que ele tá escrevendo. Pôrra, adorei ouví-lo. Sinto muita falta disso também. Como aprendi no pouco tempo que conversamos. Lembrei dos meus textos. Que sempre fico com a impressão que não escrevi nada, apenas criei um monte de diálogos malucos. Sei lá, vai ver é só impressão. Tomara...

domingo, 6 de abril de 2008

NO ALVO


tire o seu sorriso

do caminho

que eu quero passar

com a minha dor


Nelson Cavaquinho

e Guilherme de Brito

ME DESCULPEM...


Já tô quase acabando meu novo texto. A merda toda é que eu sempre insisto em pegar os outros textos que já escrevi pra dar uma lida. E aí, mudo a pôrra toda. Semana retrasada peguei o Reféns de Corpos e resolvi mexer em alguma coisa. Revi a cena em que um dos personagens busca relacionamento sexual através da internet. Saca, salas de bate-papo? Então, resolvi entrar em umas salas e conversar com alguns caras. O personagem é gay. Eu costumo observar muito as pessoas, sempre encontro coisas legais pra acrescentar aos meus personagens. Só que dessa vez me senti mal, porque acabei iludindo muita gente. É louco, mas marquei com vários carinhas pra termos relação sexual. O lance era o seguinte, eu dava corda, buscava informação e ia conversando. Meu, até telefone o povo dá pela internet, acreditam? Até golpe o povo deve levar. Fico imaginando que de todos os caras que eu marquei encontro, pelo menos uns cinco devem ter ido ao local marcado. Meu, deve ser uma super decepção, essas pessoas geralmente estão carentes demais e muitos vivem em completo anonimato. E às vezes a vida inteira. Consegui o que queria pela net. Chega de enganar os outros. Mas, fazer o quê? Preciso parar com essa mania de ficar relendo meus textos.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

HOJE EU SEI PORQUE EXISTE UM OUTRO DIA


Então, como disse o Chacal em sua poesia, eu fui procurar meus parceiros, aliados e focar. Já tinha uma idéia de um jornal e consegui colocar pra fora. Falei com o Francisco e o Tarsis comprou a idéia, a Eliz se envolveu e o Isack escutou tudo atentamente. Rolou. O lance é editarmos um jornal de tiragem única com muitas poesias, contos, crônicas, letras de música, texto, enfim, literatura. Reunimos em uma lista 10 pessoas. O maior barato foi que a maioria eu não sabia que escrevia. Esse é um dos propósitos, colocar a moçada pra mostrar a cara. Lógico, discutir literatura, promover dentro da UFRR essa intimidade que não existe, aliás, não existe nada! Culturalmente é zero! Pôrra, eu sou diretor e ator de uma Cia. de teatro, escrevo textos e às vezes coisas que se parecem com poesias, tenho um blog, estudo Letras/Literatura, tô dentro de uma estrutura institucional de formação de intelectuais, de formadores de opinião, caralho, eu preciso fazer a minha parte. Essa foi a minha motivação. Bom, marcamos pra próxima quarta a nossa segunda reunião. Os caras tão animados...

No fim da tarde fui pra Orla com a Tati e falei pra ela que eu achava que existem pessoas mais loucas do que eu. É verdade, por exemplo, eu proponho umas maluquices pras pessoas e elas topam. É o caso do jornal. E as propostas teatrais dentro da Cia. do Lavrado? Meu, esse povo é mais doido do que eu. Com certeza. Como a leitura é importante. Hoje eu não consegui mudar algumas coisas que sei que preciso mudar. Confesso que até tentei. Meu dia foi uma mistura de obsessões e redenções. Agora, tô aqui tranquilo. Certo de que nesse exato momento estou fazendo a coisa certa. Escrever, escrever, escrever...

SIMBORA

só quem sabe dizer sim, consegue dizer não.
só quem sabe se dar, é apto a receber.
só quem sabe o que quer, vê claro o que não quer.
se as coisas não são muito claras, não são totalmente obscuras.
é hora de separar o joio do trigo.
entrar no eixo e voltar a discernir.
chega de não sei mais, de acho que não vai dar.
escolher onde atuar agora.
se as coisas não são como pareciam ser
correr atrás e fazer acontecer.
enfim, escolher parcerias, aliados. e focar.
chega de nebulosidade.
o tempo melhora, a vida convoca.
é partir ou ficar.

allez up !!!!

Chacal


Não falei que eu gosto de poesia? Essa daí bateu com meu dia... Não conheço o cara pessoalmente, na verdade estudei com um carinha que era como um pupilo do Chacal. Tava começando a escrever poesia e o Chacal mostrou pra ele alguns caminhos. Pedro Rocha. Fez escola de teatro comigo no Rio. Gostaria de ter trocado umas idéias com o Chacal, mas na época do CEP 20.000 (evento que reúne poesia, música, performances) eu andava muito louco pelas sarjetas da cidade. É isso. É hora de escolher parcerias, aliados. E focar. A foto também tava ilustrando a poesia no blog dele. Tem o link do lado esquerdo do blog.



OPS!


Começou o semestre e eu continuo no mesmo ritmo...aliás, eu sempre digo que vai ser diferente, mas puta que me pariu, é sempre a mesma coisa. Já tô até vendo, deixar pra estudar no fim do semestre, correr feito um louco pra conseguir nota, estudar várias horas todos os dias na biblioteca pra ter uma chance de não reprovar, perder várias atividades que vão surgir no fim do semestre porque preciso correr atrás do estudo...é isso. Esse sou eu.

Nunca vi universidade pra professor faltar tanto...dou um nó no meu dia pra tá na Federal e quando chego lá não tem aula. O professor viajou, a professora mudou de sala e não deixou a merda de um recado na porta, o outro vai pra aula e enrola legal...e eu deixo que me enrole, no fundo mesmo eu quero é passar. Sei que é um pensamento medíocre. Mas olha só, aprendi na vida que o lance mesmo acontece é na prática. A teoria é importante pra caralho, embasamento, essas merdas todas, mas não pratica não pra você ver?

Tenho asco dos comedores de livros. Melhor, tenho asco dos que disputam a atenção dos professores em sala de aula. Lembro que quando eu trabalhava em uma Casa de Acolhida para menores em situação de risco, na Tijuca, Rio de Janeiro, a minha coordenadora me pedia umas tarefas pra outra semana e só perguntava assim, - Marcelo, sabe fazer isso...? E eu respondia, - Sei sim, Teresa. Mas no fundo eu não sabia pôrra nenhuma. Passava o fim de semana lendo e me preparando psicologicamente pra encarar o desafio e olha, eu fazia direito. Depois a prática me tarimbava. Por isso eu digo, parem de puxar o saco dos professores!

O Reitor da Federal não deve tá nem aí pra falta dos professores, também, tem tanta obra pra ele vistoriar, quer dizer, tanto dinheiro pra ele contar. Ops!

terça-feira, 1 de abril de 2008

ACORDA, PÔRRA! VAMOS PRODUZIR!




Primeiro de Abril. Dia da mentira. Antigamente uma pá de gente tentava enganar outra pá de gente. Pôrra, a vida parece que tá mais urgente, sei lá, ninguém mais tem tempo de mandar uma brincadeira dessas. É verdade, ninguém tentou me enganar. Vai ver é porque eu já tenho essa cara de enganado. Ou desenganado... Não fiz muito hoje. Ainda alimentei minhas obsessões. Tô no processo e sei que demora pra passar. Fazer o quê? Hoje entrei no blog do Chacal, um poeta do Rio de Janeiro, e li várias poesias. Não tenho o hábito de ler poesias. Não compro livros de poesias. Mas gosto de poesias. Não, não é brincadeira de primeiro de Abril. Gosto mesmo. Outro dia falei com um amigo meu que é poeta, o Francisco, e reclamei que nesta cidade as pessoas não tem o hábito de se reunirem pra falar de literatura. Eu toparia ler trechos de meus textos em uma roda de amigos. Eu toparia ler e ouvir poesias de outros amigos. Engraçado, Boa Vista tem um céu tão lindo, um clima noturno maravilhoso e nada disso acontece. Poderíamos até criar o hábito de um vez por mês lermos textos sobre um tema qualquer. Há muitos anos atrás, lá na Cidade Maravilhosa, existia uma revista que funcionava assim. Era bem underground e a turma lia mesmo. Todo mês vários poetas e escritores se reuniam e criavam uma pauta. Tinha uma turma certa, que sempre escrevia, mas eles também abriam para o público. Pôrra, tem muita gente no anonimato que tá afim de mostrar suas idéias. O lance era du caralho. Eu não perdia uma edição. Caralho, como era o nome mesmo? Puta de memória falha... Etcetera, é isso, esse era o nome da revista. A idéia era original. Hoje tem um versão eletrônica, mas não sei se é a mesma revista. Nem sei se são as mesmas cabeças. Vou falar com o Francisco e ver se ele topa fazer uma edição desta revista. Uma coisa super simples, no papel jornal e com distribuição somente na comunidade universitária. Só pra chamar a atenção desse povo que escreve e quem sabe funcionar como um grito de - ACORDA, PÔRRA! VAMOS PRODUZIR! Taí, não é que podia ser um nome bem legal?

POR QUE SÓ EXISTE UM CAMINHO, PÔRRA?


Dia de gripe. Não botei os pés na rua. Minto. Fui ao mercado, à pé, comprar uma caixa de bombons. Fiquei deprimido hoje. Aliás, acordei deprimido. E é foda quando tô assim. Não consigo levantar da cama ou da poltrona nem pra fazer minhas necessidades básicas. É como se eu tivesse naqueles dias de ressaca. Mas ainda foi pior, porque não bebi nada. Andei fazendo umas escolhas esses dias, por impulso, e que eu já sabia que não iriam acabar bem, mas não sei porque mesmo sabendo de como vou ficar depois eu insisto em seguir em frente. Fazer o quê? Agora é aguardar o mar acalmar pra mergulhar novamente. Como diz Mario Bortolotto no texto que a Grazi dirigiu, é tudo sempre igual, acho que é algo assim. Tenho coisas bem legais acontecendo em minha vida e mesmo assim não me dou por satisfeito e dou logo um jeito de ficar down. Sabe, sou viciado em ficar down. Não ofendo as pessoas nas ruas, não costumo demonstrar isso, como um amigo meu, mas pôrra, tô sempre assim. Eu sempre fui assim. Sempre dei um jeito de estragar a festa. Sempre encontrei uma maneira de aparecer negativamente. Sempre chamei a atenção da maneira mais escrota possível. Sou um ser humano escroto por debaixo dessa cara de boa praça. Sou ruim mesmo. Sei do que falo. E não falo das atrocidades que cometi com outros no passado...não, falo do que ainda cometo, não fisicamente, mas moralmente com aqueles que me rodeiam. Às vezes penso que a minha pena não foi totalmente cumprida. A da sociedade sim, estive lá todos os dias, sei a merda que foi, mas sei lá, talvez uma outra pena, moral, algo que não se paga nesta vida e que como um ácido não pára de corroer até que tudo se acabe. Sinto minha alma se dissolvendo. Sinto o peso das escolhas mal feitas. E o pior de tudo, sinto a raiva de ter que escolher um só caminho.