sábado, 31 de maio de 2008

SEMPRE DE PÉ

Ei, a casa não caiu.
Muito pelo contrário,
a casa tá lá.
Firme.

Não existe luto na casa,
ninguém morreu.
O lavrado tá lindo.
indo...



sexta-feira, 30 de maio de 2008

?@#$%¨&*()?+=-~´><


Eu tenho tanta coisa na cabeça,
que às vezes parece que vou vomitar meus neurônios!






PARANÓIA CONTAGIANTE - PARTE I

Minhas noites continuam as mesmas há vários meses. Chego em casa, tomo banho, preparo três sanduíches de pão com queijo e presunto, na frigideira, deixo tostar até quase ficar queimado. Entro no quarto refrigerado, com mais dois ventiladores ligados. Chego até a sentir frio, mas não desligo nenhum aparelho. E não é desculpa por morar no norte do país. Já é um hábito que trago do sudeste. Gosto de testar limites.
Eu me jogo na cama confortavelmente, com os pés dobrados pra não deixar a bandeja cair com meu lanche e prontamente começo a devorá-lo como um parasita há dias sem comer. Junto à comida eu trago um copo gigantesco de uma água gaseificada qualquer, não importa o gosto ou a marca, a sensação do gás nas paredes da bochecha é que me atraem mais. E gelo. Muito gelo. Brinco com as pedras no bico da boca até não agüentar mais a queimação. Gosto de testar limites. Corpo estirado na cama. Barriga inchada impedindo a visão completa da TV. É nessas horas que os olhos começam a pesar demais e eu resisto, eles chegam a completar um fechar dos olhos, mas eu resisto e insisto em mantê-los abertos. Esse processo todo dura apenas alguns minutos. A luta é em vão. Mas gosto de testar limites.
Morei durante muitos anos na cidade grande e sempre em edifícios. Hoje eu moro em uma casa, em uma cidade pequena. A violência nas grandes metrópoles chegou a tal ponto que a sociedade me parece que desistiu de resistir e protestar. A banalização dos fatos já faz parte do cotidiano. Em poucos segundos as notícias aterrorizantes dão espaço para uma outra tão aterrorizante quanto, que não temos nem tempo de refletirmos sobre a gravidade do problema anterior. E mesmo assim achamos que nunca irá acontecer conosco. A verdade é que em cidade grande ou pequena, ninguém está seguro porra nenhuma.
Trago um hábito da região sudeste que não consigo me desvencilhar: a paranóia. Isso mesmo, todas as noites antes de deitar eu faço a ronda tradicional, igual a um cachorro que percorre ávido os muros de seu território e azar de quem ou o que cruzar o seu caminho. Minhas madrugadas tem sido assim. Vou até o escritório e olho a janela. Passo pela sala, ainda vazia, sem móvel nenhum, o que dá um toque de solidão constante e arrisco um olhar pelas janelas. Parece que não moro ali. Vou até a ante-sala e vigio a janela por uns instantes. Está tudo calmo. Entro na cozinha e com a luz apagada percorro todo o comungol, que vai de uma ponta a outra da parede e me dá toda a visão do fundo do terreno. Ali avisto duas mangueiras com frutos deliciosos. Os dois depósitos, que de dia meus cachorros se refugiam para descansar, também estão à vista. E ainda três terrenos vizinhos, que não dá pra ver muita coisa. A princípio parece tudo normal. Fico muito impressionado com as histórias que ouço de pessoas que tiveram suas casas invadidas pelo forro e com isso vou olhar também a passagem que dá para o telhado. E tudo normal.
Apesar de tudo estar bem, no fundo mesmo tenho sempre a sensação de querer ser surpreendido com alguma tragédia, talvez para colocar a minha existência no patamar da minha realidade. Às vezes a vida apronta dessas para que eu valorize o que sou e o que tenho.

CONTINUA...

PARANÓIA CONTAGIANTE - PARTE II

Essa idéia não me saía da cabeça desde a noite retrasada. Fui pra cama como de costume, após a minha tradicional ronda e me desliguei com os olhos bem abertos na frente da TV. Depois de um tempo comecei a ouvir barulhos, mas tudo me confunde. O vento, as folhas no chão, os cachorros andando por cima das folhas. A madrugada não tem nada de silenciosa e só quem passa por ela é que tem consciência disso. A madrugada é uma caixa de som amplificada. Muitas vezes assustadora. Ela pode te enlouquecer.Resolvi fazer uma outra ronda e te digo que tem noites que passo mais tempo nas rondas do que na cama. E minha casa é pequena. Fui ao escritório e tudo estava calmo, apenas um forte vento na janela, que apesar de fresco trazia de vez em quando um forte cheiro de bosta de cão. As folhas do jambeiro não paravam de balançar. Juntas ao vento davam a impressão de estarem sendo orquestradas de verdade. Por quem? Suas folhas vermelhas caídas ao chão se perdiam em um redemoinho silencioso, que também dava a impressão de estar sendo orquestrado. Por quem? Fui até a sala. Encostei o rosto cansado na grade da janela que dá para ver um pedaço da rua e esperei. Não sei, acho que queria ver alguém passando pela rua, talvez essa imagem pudesse preencher o vazio que sentia. Escutei um barulho e me dirigi até a ante-sala e olhei para o corredor escuro do lado de fora, local onde guardamos nosso carro e por ali estava tudo calmo. Só me restava a cozinha. Entrei e comecei a percorrer todo o comungol. Parecia que tudo estava como deixei antes, até que ao fundo, no outro terreno eu avistei dois vultos. Não dava para identificar o que ou quem. Por um tempo não tirei os olhos daquela imagem, pois queria perceber algum movimento. De nada adiantou. Confesso que às três da madruga, e com um intervalo do sono muito avançado, aquilo me parecia bem excitante, mas mesmo assim resolvi me deitar. Para minha surpresa e arrependimento por ter me levantado, quando me virei e dei alguns passos em direção ao quarto, eu ouvi um grito. Longe, seco. Um grito de mulher. Corri de volta ao meu esconderijo e a cena que encontrei era completamente diferente da outra. Já conseguia identificar as imagens e claramente vi um homem de boné agarrando uma mulher pelos seus cabelos longos. Imaginei ser uma briga de amantes, sei lá, na hora imaginei tantas coisas, mas nunca alguma coisa grave. Engraçado, depois de percorrer toda a casa, duas rondas noturnas e com aquela sensação de querer encontrar algo diferente, que me tirasse da rotina e quando estou de frente para uma situação real, em nenhum momento eu imaginei algo grave. Talvez seja defesa.

CONTINUA...



PARANÓIA CONTAGIANTE - PARTE III

Percebi que o casal discutia e pelo excesso de gestos não devia ser por besteira. O homem estava com as mãos nos cabelos longos da mulher e seus gestos eram os mais agressivos possíveis. A mulher tentava se esquivar, mas ele era mais forte. Embora eu tenha ouvido o grito seco dela, não dava para entender o que eles estavam discutindo. Fiquei ali, em pé, ainda por mais alguns minutos, até que desisti e no exato momento que resolvi ir embora, dei uma última olhada e vi que a briga ficou mais agressiva. A mulher, que quase conseguiu escapar, foi agarrada com mais força pelos cabelos. Rapidamente o homem levantou um braço e sem mesmo eu perceber o que ele tinha em mãos, começou a golpear o pescoço da mulher. De cima para baixo. Pelo menos umas seis vezes, até ser interrompido pelo meu grito, que não sei bem explicar, mas me pareceu involuntário. O homem imediatamente olhou para frente. Não largou a mulher. Não parou de golpeá-la. Ela, que a princípio se debatia toda, a cada golpe reagia menos. Fiquei mudo. Minha mulher assustada com meu grito e com os latidos dos cachorros se levantou. Veio na direção da cozinha e acendeu a luz:
- O que foi isso? – disse ela, assustada. Nesse momento o agressor olhou para direção de minha casa.
- Apague essa merda! - gritei com minha esposa, que logo apagou a luz.
- O que está acontecendo? – ela disse.
- Cala essa boca! – eu disse desesperado. Voltei para o comungol. Ela também veio olhar e não parava de me questionar. A cena havia desaparecido na madrugada. Voltamos para o quarto.
- Eu acabei de ver uma mulher ser esfaqueada – eu disse, sentando-me na cama.
- Você tá de sacanagem... – ela não acreditou – você precisa parar de comer tanto à noite.
- Mas é verdade... – eu insisti.
- Barriga cheia dá pesadelo – ela disse – por que você não pára com essas suas rondas noturnas? Isso tá te deixando cada vez mais paranóico.
Resolvi dormir. Sabia que a casa estava toda trancada e que ali estávamos protegidos. Estava com muita raiva. Medo. E de tanto ela falar, dúvida. Sei lá, não é à tôa que a madrugada tem o poder de alimentar as mais famosas histórias de suspense e terror que permeiam a nossa vida.
No outro dia, sem tocarmos no assunto, saímos para trabalhar. Como de costume, sempre colocamos água e comida para os cachorros. Eu sempre coloco a água, pois comigo eles não ficam pulando. Peguei a vasilha, a enchi e fui com os cachorros até o fundo do quintal. Deixei a vasilha no chão, fiquei observando os pequenos matando a sede e desviei meu olhar para a parede, sabia que o outro lado havia sido o cenário daquela tragédia. Eu não tava louco. Eu sabia muito bem o que tinha visto. Me aproximei do muro. Bem próximo da parte de cima havia uma mancha vermelha escorrida e seca, bem à vista. Pronto, eu não estava maluco e nem paranóico. Era a prova que eu precisava para mostrar a minha mulher que tudo que eu havia lhe contado era verdade. E que, inclusive, poderíamos estar correndo risco. Voltei para buscá-la e chegando próximo da porta aquele mesmo grito de ontem. Seco. Agora vinha de dentro de minha casa. Corri desesperadamente, os cachorros se assustaram e fugiram para dentro do depósito. No caminho, pensei nas piores imagens e quando entrei na cozinha, vi minha mulher agachada no canto da parede, com uma cara transformada. Completamente congelada e olhando na direção do armário que guardamos a comida dos cachorros.
- O que foi, amor?! – perguntei completamente confuso. Ela somente conseguia apontar para o armário. Sem coragem, mas sabendo que precisava ir até lá, me aproximei. De perto dava para perceber uns fios de cabelos pretos do lado de fora e um filete de sangue grudado no chão. Abro mais um pouco a porta e então...
Mais uma noite, começo a minha ronda às onze horas. A próxima será às onze e meia. Estamos agora dividindo a noite em turnos de meia em meia hora. Às vezes ficamos os dois acordados, cada um de um lado da casa e do jeito que está ventando hoje, parece que a madrugada vai ser longa...


segunda-feira, 26 de maio de 2008

UMA AVENTURA QUALQUER

Desci o barranco. Apesar de curto, derrapei nas minhas pernas bêbadas. Caí de cara no chão. De bunda pra cima. Igual ao Napoleão. Avistei um pouco mais à frente, um grupo de punks de periferia. Tava o maior tumulto na situação. Me aproximei devagar. Talvez devagar demais. Um careca gordão me observou como suspeito. Bateu pra rapaziada, que em pouco tempo já tava me cercando. – Tô afim de uns lances, disse, assustado. – Qual é de lance, meu irmão? Com essa cara de patrulha? Aí, geral nesse otário! Ordenou pro grupo todo. Logo me vi como se estivesse dentro de um liquidificador. Jogado pra tudo quanto é lado e sem o menor carinho. – Quem te mandou aqui, brother?, falou completamente irritado o magrelo que parecia ser o tal da quebrada. Eu nem conseguia reagir. Nem esboçar uma palavra de maior compreensão. – Chega! Um grito rouco, ao longe, interrompeu o massacre. Um silêncio cheio de expectativas e interrogações tomou conta da bocada. Por uns instantes percebi uma oportunidade de fugir dali. Todos olhavam em direção da voz rouca. Olhei para os lados. – Se não for agora, tô fudidinho da Silva, pensei, olhando mais à frente, em uma vácuo de chance que surgiu. – Se continuar, vou separar teus membros por toda a periferia, gritou a voz rouca. Imediatamente parei. Fiquei um tempo de costas. Sem coragem nem pra ver o esboço da face do cara. – Que porra é essa? É só eu sair que essa merda vira palco de espancamento? Gritou a voz. E ela não parava. Olhei pra trás. O cara da voz rouca me encarou. Não era amigável. – E aí, meu irmão!, falei sem graça e confesso que apesar de sentir muita vontade de falar, não tinha a menor idéia do quê. E me parece que a minha escolha não foi a das melhores. – Alguém me diz o que foi isso? Hein? Será que alguém pode me explicar que porra foi essa? Que merdinha é esse? Vamos! Falem!, falou com raiva. O cara é que era o tal. Ninguém se aventurou. Ninguém respirava. E o cara da voz se aproximou. Encarou um de cada vez. Um babaca metido a esperto ensaiou uma palavra. Levou um socão de mão fechada. Cuspiu dentes pra tudo quanto é lado. – Então, já que ninguém te apresenta, qual é a tua?, terminou a frase, enfiou a mão no bolso de trás da calça e puxou uma faca. Com a outra mão pegou um lenço e aguardou minha resposta com uma bela faxina na arma. Eu não sabia o que dizer. Não parava de pensar naquela dose de mel. Já tava de cara com aquela situação toda. O cara tava lá, à espera de minha resposta. – Quer mais incentivo?, falou com a voz baixa, intimidadora. - Só tava na área e...fiquei sabendo que aqui tinha umas paradas... – Meu irmão, tu tem cara de patrulha!, disse e em seguida todo mundo começou a berrar em coro, - É isso mesmo! Mata esse filho da puta! Vamo cumer o cú dele! É... e depois vamos esquartejar o cara..., deram muitas risadas. O chefão da quebrada interrompeu a alegria. – Alguém aqui perguntou o que ele queria?, gritou. Não obteve resposta. Então como é que vocês acham que ele é de lá - apontou ao longe -, se vocês nem ofereceram as parada?, falou. Todo mundo refletiu. – Isso mesmo, ninguém me perguntou o que eu queria, falei meio gaguejando de medo. – Preto ou branco, meu irmão?, o chefão me perguntou na lata. - Eu quero dos dois. O preto é pra mim. O branco pra minha mulher, argumentei com ele. – Tão vendo aí? O cara é cliente, não é patrulha porra nenhuma. Cabeça! Trás uma barra de chocolate branco e uma outra de preto, gritou para um sujeito com um enorme cabeção e continuou. – O chocolate tá em falta. A patrulha tá rondando porque eles sabem que nós roubamos algumas caixas lá no campão de futebol. É nosso sustento, sabe como é... – Sei –continuei a lhe falar – eu e minha mulher somos fissurados em chocolates. Todos os dias nós comemos, pelo menos um batom. É dose diária, sacou?, disse à ele. – Toma aí. Agora que já pegou seu barato, vaza! Disse e foi dando as costas. Já partiu pra articular com o grupão. Aproximou-se um caminhão na via. O grupão se espalhou como ratos dentro da toca. Por todos os cantos apareciam armas. Um gata de cabeça verde foi pra pista e deitou no chão. Um casal canastra ficou à beira da estrada e pediu ajuda. O caminhão estacionou ao lado. Sem nem o cara perceber um tremendo ataque soviético detonou toda a mercadoria dentro dele. Várias caixas foram empilhadas na quebrada. Os viciados se aproximaram. O chefão não perdeu tempo. Abriu a primeira e tirou de dentro um monte de caixas de prestígio. Pensei até em voltar. Me amarro em prestígio. Mas não quis arriscar o que eu tinha comprado. E além do mais, até chegar em casa, ainda iria passar por maus pedaços pra me despistar da patrulha. A patrulha dos chocolates.



quinta-feira, 22 de maio de 2008

80

Década de 80. Eu e mais dois parceiros, irmãos mesmo, fomos pra uma boite da moda. Alto da Boa Vista. Como sempre, antes de entrarmos dentro do fusca do Marcos calibramos bastante no SóKana. Barzinho que vendia altas batidas. Era o melhor point de batidas do Rio de Janeiro. Antes de emplacarem nas noitadas, o povo todo passava por ali. Paramos e compramos um litro de limão. Era o de sempre. Depois de estarmos mais alterados é que começávamos a pedir outros sabores. E assim foi o início da noite. Até meia noite. Já havíamos derrubado uns três litros. Era o suficiente pra quem iria subir o Alto da Boa Vista dentro de um fusquete enfumaçado. Sempre ao som de Soutains of Swing. Esse era o hit da época. Principalmente a versão ao vivo. Resolvemos dar um break dentro da Floresta da Tijuca. Acendemos outro charrão. Ficamos divagando sobre a natureza e os seres minúsculos que nela existiam. Pura doidera. Completamente chapados resolvemos invadir a boite. Marcos acelerou a fusquete e fomos contudo até o final da descida do Alto. Paramos na porta e logo avistamos o movimento da turma do bairro de Bonsucesso. Ladrões de toca-fitas. Fizeram a limpa. Sabíamos que tudo aquilo iria se transformar em pó. Rapaziada maneira. Vizinhos. Mas estavam em outra velocidade. Nós éramos bem devagar perto deles. Curtíamos mesmo fumar baseado e encher a cara. Entramos e enchemos a cara mais ainda. Gastamos o que tínhamos e o que conseguíamos arrancar dos playboys. Os riquinhos da Zona Sul. Lá pelas três da madruga saímos. Como sempre, marcamos um tempo do lado de fora. Loucos. Não dava pra sair assim de carro. Se aproximou de nós um gringo. Puxou papo. Tava todo interessado. Nos fez várias perguntas sobre a boite, sobre o Rio e em seguida nos apresentou uma bola gigantesca de cocaína. Eu nunca tinha visto aquilo de perto. Só na TV. Era incrivelmente enorme. Sei que o bastante pra cheirar e nunca acabar. E deixar a gente durante muito tempo na cadeia. Nos disse que era chegado de uma boite de stripe lá de Copacabana. Nos convidou. Depois de tantas carreiras, fomos ao inferno. O gringo era mesmo considerado. A mulherada colou no pescoço dele. E como estávamos juntos, sobrou uma rebarba pra nós também. Isso foi até, sei lá, umas quatro da matina. Marcos e Hélio resolveram pular fora. Eu, que tava enturmado com uma coroa resolvi ficar. Eles se foram. O gringo nos convidou pra irmos à um hotel. Chegamos lá e ele foi logo pra mesinha de centro do quarto e despejou uma quantidade doente de cocaína.
– Agora a festa é de vocês, disse e saiu com duas putas. Começamos a cheirar. Ficamos mais loucos ainda. Quando vi, a puta tava em cima de mim. Me agarrava de tudo quanto é jeito. Caiu de boca no meu pau. Mas pra minha infelicidade, nada. Ela me mamou por uns quinze minutos. E nada. A pica não levantava de jeito nenhum. Fomos pra banheira pra ver se com a mudança do ambiente a coisa rolava. E nada. Ela foi à sala e trouxe mais diabo ralado. Cheiramos. O sol já arrebentava a cortina. Vi logo que não iria conseguir uma ereção. E ela até que era gostosinha. Coroa com tudo em cima. Me toquei que já era a hora de ir pra casa.
– Vai, fica mais um pouco, deixa eu te mamar mais, disse a puta. Caralho! A vadia adorava assoprar bola murcha. Me dirigi pra sala. Peguei uma quantidade legal de pó e me mandei. Depois de quase uma hora e meia cheguei no bairro. Sono nem passava perto. Entrei em casa. Todo mundo já havia saído pra trabalhar. Capotei na cama. Dei uns cochilos de umas três horas com o fone no ouvido. Tomei um banho. Matei o resto do pó e fui direto pro futebol de sábado. Chegando lá o povo todo já sabia da história. Vieram me cumprimentar. Me senti um herói. E cara, não comi ninguém, tava completamente chapadão, ainda, e o que eu fiz de melhor foi abrir uma garrafa de cerveja e comemorar a vitória do time adversário. Não dei muita trela pra rapaziada. Acendi um baseado e fiquei vendo os carros passarem na estrada. Não me saía da cabeça a sensação de, por uns instantes, ser o manda-chuva da boite. A noite chegou e começou tudo de novo. Invadimos um morro da cidade e ficamos plantados lá até umas duas da manhã. Cerveja e pó. E muita mulher fazendo de tudo pra conseguir mais uma dose. Essa noite eu me dei bem. Uma gata de uns 18 anos, desesperada, e não foi nem trabalhoso de convencê-la, aliás, ela que avançou em mim. Eu só precisei dar uma pouco do meu bagulho e a noite foi suave. Tranquila. Curtimos juntos por mais duas semanas. Às vezes até conseguimos encontrar alguém legal nessas noites de piração. É isso.




quarta-feira, 21 de maio de 2008

POLLY

Saí de casa nesta segunda com muita fome. Embora não tenha o hábito tradicional de tomar café da manhã, percebi que precisava me alimentar. Comprei um maço de cigarros. Não sobrou dinheiro para o café. Não me desesperei, pois não era a única refeição do meu dia. Tão logo chegaria o almoço e eu poderia me esbaldar. Fui convidado na noite anterior pra um churrasco.
Nessas ocasiões é melhor fazer um jejum. Adoro carne. Não tenho essa de pena de animal, sabem, consciência de um mundo melhor, essas babaquices. Que se foda o mundo! Eu quero é comer. E bem. Se tiver carne ótimo. Se não tiver, como macarrão com alho e óleo. Aliás, não é só o café da manhã que eu costumo dispensar. Às vezes como um pãocomqualquercoisa no almoço. E daí? Também não acho que vou morrer porque não almocei arroz com feijão um dia. Se bem que tem vezes que eu fico mais de um dia assim... o fato é que não sou desses que se dizem politicamente corretos. Jogo papel no chão, bituca de cigarros, cuspo, meu lixo não é separado, se eu tiver de porre e me der vontade de mijar e não tiver nenhum lugar, mijo na rua mesmo. É isso, não costumo enganar as pessoas. Nem as trouxas. Pra que falo tudo isso? O fato é que cheguei no tal do churrasco, faminto, e fui logo atrás da carne. Fiz logo amizade com o churrasqueiro. Enchi a pança legal. Fiz por merecer o jejum. Depois, tive que aturar um monte babacas contando vantagens, sabem, esses que se dizem politicamente corretos. Que cagam cheiroso. Que vomitam perfume de rosas. Que não ficam bebaças e sim saem um pouco dos limites. Que arrotam literatura estrangeira, se dizem profundos conhecedores, mas no fundo mesmo são os reis das sinopses decoradas. Meu, dá pra perceber quando o cara, ou a carinha, não entende da porra do assunto. O papo fica na superfície. Não rola mergulho, entende? Não rola conexão com outras paradas. Aí é mole, meu irmão, leio a sinopse, sei um pouco da história do autor e aí vomito as minhas idiotices. O caso é que preferi apenas ouvir. Quando rola essas maluquices, eu prefiro ouvir. Aliás, ultimamente tô preferindo ouvir mesmo. Até porque o que eu falo por aí, o povo interpreta tudo errado. Errado porra nenhuma. Neguinho é burro mesmo! E esperto também! Mas vou levando, sei que lá pela sexta latinha de cerveja resolvi mudar o rumo da prosa. - E aí, quando vocês fodem vocês falam muitas bobagens? Silêncio total. As pessoas se olharam. Parecia Hiroshima pós-bomba! As caras se caguetaram. De repente, parece que todo mundo resolveu me censurar. - porra, cara, qual é a tua? - nossa, o que é isso? - Marcelo, tu pirou? - Meu Deus do céu! - Que história é essa?
Cara, eu abri outra latinha e continuei o meu assunto.
- Sério, vocês curtem falar e ouvir bobagens quando trepam? Não, porque com a quantidade de merda que vocês já falaram, fico imaginando que a foda de vocês deve ser o maior sucesso!
Levantou uma pra ir ao banheiro. O outro foi acender um cigarro com uma pessoa mais adiante. A outra disse que ia pegar outra latinha pra ela e assim foi indo e eu fiquei sozinho. E pior, sem a minha resposta. Derrubei a lata e abri logo a oitava. Apenas observei. Por um momento me deu uma leve sensação de estar num ambiente muito fake. Até mesmo os sorrisos eram falsos. Montados. Por mais que fosse um churrasco de comemoração, saquei que por trás daquilo tudo havia uma atmosfera de interesse e que com certeza eu não fazia parte daquela festa. De longe avistei a empregada. Já havia reparado nela durante a roda de conversa. Tava sempre em volta. Me olhou de um jeito esquisito. Eu já tava zonzo. Fui ao banheiro e esqueci de fechar a porta. De repente sinto uma mão tapar os meus olhos. Balancei o pau. Tentei tirar a mão. Me virei e dei de cara com a empregada. Gostosa. Segurou na minha pica e disse - Seu safado asqueroso! eu apenas dei uma gargalhada curta e então disse à ela - sua putinha sem vergonha, você quer é sacanagem não é? Ela deu um sorriso safado e concordou com a cabeça. Em seguida se agachou e começou a mamar a minha pica. Parava por uns momentos pra me xingar. Tinha ouvido minha pergunta pros cabeças. Era da minha tribo. Adorava putaria de verdade. Ficamos lá, durante um tempo, nos xingando, até que deitamos no chão do banheiro e de ladinho, começamos a nos chupar. Gozamos. Eu primeiro, lógico. Fazer o quê? Mas ela chegou lá. E satisfeita, me deu uma tapa na cara. Sorriu e saiu do banheiro ajeitando o seu vestido. - Deixa eu ver o que os mascarados estão precisando. Saiu. Levantei a tampa da privada. Sentei e dei uma bela cagada. Acendi um cigarro. Observei a fumaça. Tenho mania disso. Folheei uma época qualquer e fui embora pra casa. Sem me despedir. Arrastei mais uma latinha e saí com meu carro caidinho ao som de Polly, Nirvana. Precisava esquecer as risadas forçadas. Lembrei da Polyana, atriz maluca que estudou comigo. Se estivesse nessa festa, teríamos nos divertido muito com todo esse povo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

CONVERSA DE BAR

Dois amigos bebem uma cerveja num boteco qualquer da cidade.
- Ei, cara, você vai à casa da Stela?
- Não.
- Mas vai tá todo mundo lá!
- Sei...
- O pessoal é maneiro...
- Hã,hã...
- São sinceros...
- Hã, hã...
- Verdadeiros...
- Hã, hã...
- Então, qual o motivo pra você ficar em casa?
- Vergonha na cara.








sexta-feira, 16 de maio de 2008

JÁ FOI

Sentei-me à beira do rio e esperei. Não sabia ao certo o que esperava. Mas sabia que precisava ficar ali. Enrolei um cigarro de palha. Paquerei os saltos de alguns peixes, que de tão belos, dava a impressão de serem propositais. Talvez soubessem da minha presença à margem. Triste. Pensei nos amigos. Lembrei de poucas pessoas. - É isso, amigos tenho poucos, pensei. Mas consegui imaginar uma lista gigantesca de pessoas que não me querem bem. - Cara, isso é completamente louco!, disse em voz alta. Por que as pessoas são assim? Se preocupam demais com as outras, o pior, com o sucesso dos outros. Deve ser foda mesmo ver o outro se dando bem. Quantas vidas vazias. Quantos merdas existem nessa cidade...abri o isopor e derrubei uma lata gelada. Observei vários galhos sendo levados pelo rio. Dei uma gargalhada. - Pode crer, essas também vão passar, pensei tranquilo e me deitei pra curtir as nuvens do céu. Que assim como os galhos e as pessoas indesejáveis, passam também.



quinta-feira, 15 de maio de 2008

INTERVALO

Ei, baby
vamos escapar esta noite
vamos esperar o sol se pôr
vamos nos drogar de amor

É PEGAR OU LARGAR

Acordei decidido a conseguir um trabalho. No dia anterior pesquisei em vários jornais. Fiz algumas escolhas. Todas sub-emprego. Nada que me oferecesse motivação pra galgar um espaço melhor na sociedade. Cheguei cedo no local marcado. Coloquei a melhor roupa, quer dizer, meu tradicional jeans e minha camisa preta surrada. Parei na porta da loja. Merecia terminar meu cigarro. Até mesmo porque eu estava me sentindo à caminho da crucificação. Nunca quis ser vendedor, embora tenha tradição na família. Acredito que minha passagem familiar teria sido menos conflituosa se eu fingisse gostar dessa tal profissão. Foda-se. Cansei de largar trabalhos pela metade. De abandonar jornais pela rua. De arremessar tabelas de preços pela Pedra do Arpoador. E te garanto que não tem sensação melhor. Um mergulho no mar após uma arremessada de tabela. Enfim, mais uma vez tive que recorrer a esse trampo. Pelo menos, por um tempo, eu iria sustentar meus vícios. Na entrada do escritório dei de cara com uma gostosa, que nem desviou a atenção de suas unhas. Cocei a pica, coloquei pra fora e a mulher nem percebeu. Completamente desligada e fútil. Algo que provavelmente eu iria me transformar, se continuasse naquela empreitada. Em seguida apareceu um homem alto, com bigodes grandes, cópia fiel do Leôncio do Pica-pau. - Você deve ser o Marcelo, disse e foi logo me abraçando. Cara, abraço demoníaco, pensei. Lógico, eu era mais um parafuso daquela engrenagem que acabara de chegar na empresa pra obter muito lucro pra eles. É isso. Por mais que eu estivesse cheio de boas intenções, eles nunca deixariam eu vencer. A vida é assim. Quem tá lá em cima, continua saboreando a vista dos fudidos que imploram migalhas lá embaixo. E nesse caso, embora eu não estivesse implorando migalhas, sem dúvida alguma eu era mais um fudido. Ele me disse como funcionava a empresa. Eu disse que voltaria no outro dia e me mostrei todo motivado. Sempre fui bom na arte de representar. E falo sem pensar no fato de eu ser ator, não, representar, mentir descaradamente e principalmente aprendi com excelência a ser vaselina. Culpa de meu pai, que foi vaselina comigo a vida toda. Recebi a tabela de preço. Incrivelmente consegui um vale. Acreditem, no primeiro dia eles me deram um vale para as passagens. Saí, sem me despedir da vadia fútil da recepção e peguei o primeiro ônibus em direção ao Arpoador. Sentei na pedra e babei a molecada pegando onda. Encontrei uns malucos e dei uns tapas. Deitei. Mas estava arisco, pois se pegasse no sono poderia rolar pedra abaixo. Veio o pôr do sol. Que benção! Me lembrei de todo o diálogo daquele gerente de loja. Senti náuseas. Sentou ao meu lado uma maluca completamente chapada. E o pior, cismou de me alugar. - Ei, sabia que eu faço previsões, ela disse. Eu apenas olhei. Tentei encontrar algo de tesão nela, mas era baranga mesmo, sei lá, de repente...poderia ser a salvação do fim do dia. - Cara, tu merece muito mais do que tu imagina, sabia? Ela disse. Pôrra, meu, como é que ela sabia disso? Parecia que tava lendo minha mente. Me disse algumas coisas bem legais e aos poucos eu fui me entrosando e me deixei seduzir pelas suas idéias. Do nada ela resolveu dar um mergulho. Cara, ela mergulhou numa quebrada que era super tranquila, mas desapareceu. Eu avaliei tudo que ela me disse. Olhei para o visual convidativo do Arpoador. Encarei com raiva aquela tabela de preço e em seguida não pensei duas vezes. Arremessei a tabela e fiquei só observando a desgraçada boiar naquele mar maravilhoso do Rio de Janeiro. Arranquei a camiseta e me joguei na água. No outro dia eu tava na primeira página do principal jornal de circulação. Isso mesmo, depois de voltar da água e de dar mais alguns tapas pela praia, acabei parando em frente à um gigantesco boto que acabara de ser resgatado em plena praia. Morto. E cheio de repórteres registrando o seu triste fim. Eu me sentia assim. Resgatado. Em plena praia. Tão morto quanto o boto, pois sabia que no outro dia eu iria pegar novamente o jornal e novamente iria buscar uma merda de um trabalho qualquer. E novamente iria parar naquela praia. E os dias não me dariam trégua pra pensar. Os dias não nos dão trégua nem pra tentar. A vida é de uma única chance. É pegar ou largar. Tenho largado muito mais...



QUANTA INGENUIDADE

TEU HOMEM FAZ CARA FEIA QUANDO VOCÊ PEDE PRA ELE TE CHUPAR?
CARA, TU TÁ FUDIDA.
E SE VOCÊ NÃO PEDE, CARA TU TÁ MAIS FUDIDA, PORQUE ELE TÁ CHUPANDO OUTRA.






QUANTA INGENUIDADE

SUA MULHER GEME QUANDO TREPA CONTIGO?
CARA, SE ISSO NÃO ACONTECE, TU TÁ FUDIDO.






quarta-feira, 14 de maio de 2008

SÓ SE FOR AGORA

Estacionou o carro na esquina. A festa estava bombando a poucos metros dali. Acendeu um cigarro. Observou a passarela de modelitos falsos. O ambulante se aproximou e lhe vendeu uma cerva gelada. Não estava na hora de entrar. Até porque não tinha convite. Precisava perceber o ambiente e só então avançar como um soldado determinado nas trincheiras do Afeganistão. As Patrícias não paravam de chegar. Os Maurícios, como sempre, falavam alto e chamavam a atenção. Pediu mais uma cerva ao ambulante. Queria entrar ligado. Sabia que em festa de riquinho a bebida era controlada. É verdade. Festa de pobre é que dá pra encher a cara. Percebeu uma gata diferente do outro lado da rua. Sozinha. Estava com botas pretas, vestido preto e maquiagem preta. Cara completamente sinistra. Mas não tirava os olhos dele. Deu uma última tragada no cigarro e resolveu se aproximar. A gata não parava de olhar. Atravessou a rua e ela não tirava os olhos dele. Se aproximou e ela não tirou os olhos dele. - E aí? Disse na lata. - Vamos? Ela respondeu. Ele rapidamente pegou no braço dela e foi em direção da entrada da festa. - Pera aí. Se tá indo aonde? ela perguntou. - Pra festa. Ele respondeu. - Cara, não tô afim de entrar nessa bosta não. Eu pensei que você fosse me levar pra outro lugar. - Outro lugar? Ele disse. - Sei lá, pro outro lado da rua, atrás daquele carro, não sei. Meu, tô afim de fuder, sacou? ela disse. -Sei...então...vamos lá. Ele disse. Então os dois foram pra trás do tal carro. Ela prontamente levantou o vestido. Ele ficou nervoso com toda a praticidade da menina. Ela segurou no pau dele, mole, e deu uma risada. Foi o suficiente pra que a noite terminasse em zero-a-zero. Os homens não estão acostumados com toda esta modernidade. Ela ensaiou uma punheta e nada. Ele a olhou com cara de mais uma chance. Ela acendeu um cigarro. Deu uma tragada demorada e disse, - aí, fui. Ele ficou lá, com o pau na mão e com a imagem daquela gostosa que nunca mais aparecerá novamente em sua vida.

QUEM NÃO TEM CÃO, SE ARRUMA COM O CELULAR...

Assisti hoje a dois curtas cuja a temática era a diversidade sexual. Os dois eram ótimos, mas Vibra Call, achei o máximo. Puta idéia original. Engraçado que, a princípio, achei até fantástico demais o curta. Não sei, talvez, se alguém me contasse, assim, sem imagens... entende? Mas o cinema me dá uma outra dimensão do objeto contado. A história é a seguinte, duas amigas estão na sala de aula. Uma sala de aula qualquer, de um colégio qualquer, de uma cidade real qualquer. Cada uma tem um celular. Uma delas coloca o celular na buceta e a outra fica ligando pro celular da amiga. Não coloca lá dentro, calma! Pelo que eu entendi, ele fica próximo e por cima da roupa. A garota faz cada cara... meu, ela goza dentro da sala. Depois é a vez da outra. O legal é que o curta não especifica se as gurias são lésbicas ou não. E confesso que isso não tem a menor importância. O fato delas terem essa intimidade com seus corpos e dividirem esse momento de prazer é que eu acho bacana. Algumas mulheres tem uma péssima mania de se aproveitarem do discurso da sociedade, que diz que elas quase não se masturbam, e que elas não se experimentam...blábláblá, blábláblá, meu tudo conversa pra boi dormir. A maioria das mulheres se masturba sim. E muito. E as que não se masturbam é que ainda não se deram a oportunidade de se descobrirem e te garanto, azar dos seus parceiros que tem que dividir a cama com uma mulher completamente bloqueada. Então, mulherada, o que acham do celular? Mais uma vez o cinema quebra os paradigmas...








domingo, 11 de maio de 2008

NADA PRA FAZER

Ah! Eu poderia passar a tarde gozando
Me masturbando como um garoto
Que acabou de se descobrir
Na escada do prédio
E entrou correndo pra dentro do banheiro
Pra se experimentar
Que se foda a patologia!
Se eu quiser ficar o dia inteiro
Batendo bronha
Folheando revistas
Revisitando rostos passados
E se isso
No momento
Me der muito prazer
Então como este garoto
seco
ansioso
Eu me jogo pelos cantos da minha casa
Metralho as paredes com o meu caldo
viscoso
grudento
Como um escravo
de quatro
Refaço toda a trajetória com uma toalha na mão
Desfaço toda a obra criada ao acaso
Pra não deixar pistas
Desmaio
Fico sem forças até pra me lavar
No fundo eu gosto da sensação de acordar grudado na cama







sexta-feira, 9 de maio de 2008

BOM DIA, POR QUÊ?

Outro dia, recebi uma ligação de um amigo do Rio de Janeiro. À princípio, fiquei muito contente por se tratar de um conterrâneo, estou longe e a saudade é enorme, mas conforme o figura foi se manifestando, percebi que havia algo de errado com ele. Sem dúvida alguma estava em uma fase ruim de sua vida, pois já me atendeu o telefone questionando o por que das pessoas ficarem desejando bom dia! para as outras. Não entendi o questionamento. Fazer o quê?
Em Boa Vista, é muito difícil você sair na rua e não cumprimentar alguém. Sem dúvida alguma, meu amigo carioca, aqui, ficaria maluco. Já até escrevi uma crônica sobre isso, mas nunca calculei a quantidade de Bom dia! , que eu recebo em um dia.
Ontem mesmo, só na parte da manhã, na minha ida à padaria eu cumprimentei 13 pessoas. Às vezes chego a concordar com meu amigo carioca, que provavelmente morando aqui trataria esta questão desse jeito:
- Bom Dia!
- Bom dia, por quê?!
Sério... a coisa aqui é muito séria!
Saí de casa ontem para ir à padaria e logo ao fechar minha porta avistei dois vizinhos:
- Bom dia!
- Bom dia!

Do portão da minha casa, pra rua, cumprimentei meu senhorio:
- Bom dia!
Senhorio não têm como não cumprimentar. Mais adiante, ao atravessar a rua, cumprimentei a atendente da sorveteria ao lado. Política de boa vizinhança...
- Bom dia!
Atravessei. Entrei na padaria e lá se foram mais dois cumprimentos, afinal de contas o casal de donos da padaria são pessoas simpáticas.
- Bom dia!
- Bom dia!
Aliás, essa padaria é bacana, têm ar condicionado, mesas e cadeiras para você desfrutar o seu café ali mesmo, jornais e revistas atuais, isso mesmo, tudo para manter o cliente atualizado e o melhor, bem no Centro de Boa Vista e do lado da minha casa. E em um ambiente assim, não poderia faltar pessoas conhecidas, dispostas a aproveitar esta mordomia. Com isso, mais três cumprimentos:
- Bom dia!
- Bom dia!
- Bom dia!
Um colega de trabalho, um camelô que vende capas de celular bem ao lado da padaria e um cantor famoso da terra. Já disse em crônica anterior, que por aqui nós nos esbarramos em pessoas famosas a todo momento. Desde políticos e artistas, até foragidos da Cadeia Pública ou Penitenciária Agrícola, que foram manchete um dia antes no noticiário “Mete Bronca”, programa sensacionalista daqui, quer dizer, o programa todo não, mas os repórteres sim. Eles não sabem o que significa o conceito de imparcialidade.
Imagino que já devem ter perdido a conta, mas vou dar uma ajuda. Até agora, já se foram nove Bom dia! Isso só na minha ida à padaria.
Já cansado de tanto distribuir cumprimentos, saí desesperado da padaria e na saída, quem vem chegando? Renatão!
- Bom dia!
Meu Deus, já são dez... dez cumprimentos.
Do lado de fora da padaria, dá até para avistar a entrada da minha casa. Resolvo sair correndo, uma carreira só, talvez assim eu consiga chegar a salvo, pois o meu estoque de Bom dia! já está chegando ao fim. Não quero passar por mal educado, metido, arrogante ou coisa parecida, por não devolver o cumprimento alheio.
Logo ao atravessar a rua, um carro que estava vindo em minha direção, mas não colocava minha vida em risco e por isso eu a atravessei, passou logo em seguida e um grito veio com ele:
- Fala, Marcelão! Bom dia!
Pessoal, inacreditável. Um casal de amigos, gritando em plena manhã, o pior de tudo, em uníssono. Eu não merecia aquilo.
- Não!
Saí gritando pela rua. As pessoas que passavam ali, não entenderam nada. Eu realmente estava me sentindo mal. Eram apenas nove horas da manhã e eu já havia cumprimentado 12 pessoas, isso deveria ir para o Guiness Book.
Fui na direção de casa. Já estava bem próximo ao portão. Olhei para os lados, como um maratonista na reta final da São Silvestre. Ninguém me ameaçava. Me aproximei do portão. Peguei as chaves com pressa e acabei deixando cair o chaveiro no chão. Estava angustiado com tudo isso. Acertei a chave. Respirei fundo, pois estava próximo de entrar em casa. Logo em seguida, começo a ouvir uns passos, uns passos se arrastando. Evito olhar. Já estou até com a mandíbula tremendo na forma da expressão Bom dia! Resisto, resisto, mas a curiosidade fala mais alto e um impulso involuntário, projeta meu corpo pra trás. Dou de cara com um velhinho, um velhinho desconhecido.
- Ufa!
Sinto um enorme alívio, o coração volta a pulsar normalmente, enxugo o suor da testa, enfim, poderei entrar em casa em paz. Mais uma vez olho para o velhinho, que com um sorriso simpático me diz:
- Bom dia!
- ???????
E eu que já havia me esquecido, que em cidade pequena, quando duas pessoas se olham por mais de cinco segundos, sempre acabam se cumprimentando, mesmo sem se conhecer.
Que cidade simpatiquinha!






quinta-feira, 8 de maio de 2008

GERUNDIANDO OU TEM OUTRA IDÉIA?

Resolvi tocar gaita hoje. Não toco gaita, mas sei as notas. Arranho alguns sons. É como a vida, vou tentando... gerundiando...e arranhando um som qualquer. Assisto uma entrevista do Nando Reis e babo. Pego o pendrive e gravo. Não o Nando, mas as minhas malucas idéias. Minhas angústias. Gosto de fazer isso de vez em quando. Depois de alguns dias ouço. Só maluquice. Vou peneirando, gerundiando e vendo que não tô tão mal assim. Lembro da peça que tô escrevendo, gerundiando, e me embriago nas dúvidas da criação. Sou um criador de diálogos ou um criador de situações? Nem me atrevo a responder. Vou gerundiando, pensando, e ouvindo um blues. Me agarro na gaita e tento, gerundiando, acompanhar o ritmo. Vou levando, imitando, gerundiando e me fudendo... quer saber? Tô vivendo... e ponto final, ou melhor, pontendo finalento, sempre gerundiando, mas sempre vivendo. É isso, o final é sempre uma merda mesmo. Sempre morrendo.



CRENÇA

Olhos vidrados no telefone sem tempo até pra respirar ela poderia me ligar agora ele toca e eu olho ele insiste e eu olho apesar de esperar demais por este momento não sei bem o que fazer completo o copo com mais cerveja acendo mais um cigarro e o telefone perturba deseja minha atenção e eu sei que faltam poucos segundos pra que ele desista ela desista será que eu desisti dou uma golada no copo uma tragada profunda no cigarro duas tossidas e uma ânsia me toma o corpo todo corro até o aparelho e arranco ele do gancho – alô? Pipipipipipipipipipipipi vomito até não agüentar mais...preciso acreditar mais no destino...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

QUE VERGONHA

Assisti MTV hoje. Cara, como mudou. Quando morava no Rio eu assistia lá e já era muito diferente de antigamente, mas agora, pôrra, mudou pra caralho! Os caras falam demais. E tem clip de menos. Me diz aí, pra que que eu quero saber o comportamento dos jovens que tão afim de trepar com 15 anos? Que se foda o jovem que quer dar ou fuder com 15 anos. Entende? Meu, isso é problema deles. E acredito que se fosse pra aprofundar essa merda de assunto, com certeza não deveria ser na MTV. Minha idéia de MTV é música toda hora. Clip. Tem um babaca chamado Marcos Mion (acho que é isso...) que fica sacaneando clips. Caralho, que coisa mais babaca! Meu, pede pro povo na rua cantar alguma coisa, sei lá, faz um karaokê ao vivo que vai ser melhor do que essa merda.
Assisti a uma entrevista com o CPM 22. Beleza, curto muito os caras. Meu, os apresentadores são uns merdas de previsíveis. Que perguntas são aquelas? - Depois de tanto tempo de banda vocês perceberam algum desenvolvimento? Caralho, é claro! E foi a resposta dos caras, lógico, com palavrões apenas no sub-texto. Que vergonha. Realmente o tempo passou muito rápido. Acreditam que teve uma época em que eu queria ser VJ da MTV? Sério. Mas todo maluco naquela época queria ser um. Mas era outra época. Outra MTV. Era vídeo clip puro. Na veia. Sempre critiquei aqueles braços de hélice de helicóptero dos apresentadores... fazer o quê? Pelo visto não mudaram muito. Enfim, a gostosa da Penélope ainda tá lá. Salvou alguma coisa. Sem falar da entrevista que assisti com o pai dela, Marcelo Nova, vocalista da lendária Camisa de Vênus. Isso valeu a pena. É como a vida, sempre tem alguma coisa que preste.








QUE PENA...NÃO TEM FOFOCA...

AVISO AOS FOFOQUEIROS

ME PERDOEM, SEI QUE NÃO TÔ ESCREVENDO MAIS NADA POLÊMICO. SABE, ESSAS COISAS DE TEATRO, GRUPO, ENFIM, MAS CONTINUEM VISITANDO ESTE BLOG. AH, E O QUE ACHAM DE DEIXAREM ALGUM COMENTÁRIO? É MELHOR DO QUE DISTORCEREM O QUE DIGO AQUI.

ABRAÇOS CALOROSOS

PAZ

MERDA PRA TODOS

(HI, VÃO PENSAR QUE MANDEI TODO MUNDO À MERDA...)






AME SEU VIZINHO, MAS CONSTRUA A SUA CERCA

Ei, comecei a escrever crônicas em Boa Vista em 2004. Tinha um blog específico pra elas. Toda hora dava problemas. Desisti. Agora vou aproveitar esse espaço pra divulgá-las, mesmo sabendo que as crônicas são datadas. Mas vale a pena postá-las aqui. Só pra registro. Então vamos lá.


Ultimamente este ditado popular tem se colocado muito presente em meus pensamentos. Venho de uma grande metrópole, onde existem muitos edifícios, a comunicação dentro deles é a mínima possível e quando ocorre, ela é feita através de interfones.
- Talvez esta visão seja um reflexo da minha criação, penso.
Não estou acostumado a esses comportamentos televisivos e interioranos, de vizinho pedir açucar emprestado ou de oferecer uma sobremesa que acabou de fazer. É tudo muito lin-di-nho.
Como diz a minha esposa, sou um sujeito desconfiado, ligeiramenteparanóico, que não abro a porta nem mesmo se pelo olho mágico avistar o meu vizinho. Tá legal, quem me garante que ele não está sendo rendido por assaltantes? Sério... e se o meu vizinho não for muito com a minha cara e resolver dizer para os bandidos que o meu " AP " é a boa?
- Ligeiramenteparanóico?
As relações com a vizinhança e a segurança, porém, não mudam só porque eu mudei de Estado. Aqui, por exemplo, eu não tenho um olho mágico, apenas um fresta da janela, isso mesmo, uma fresta mágica. Com ela, eu posso evitar abrir a porta quando desejar, apenas com um simples " deixa bater ". Vocês sabem, bateram na porta, eu olho pela fresta, avisto o meu vizinho e então eu viro para a minha esposa e digo:
- Ah! Deixa bater...
Com isso não somos perturbados com solicitações que muitas vezes irão deixar um furo na nossa dispensa doméstica. E o que é melhor, não precisaremos mentir quanto ao gosto daquela sobremesa horrível, que o vizinho jura ser o “ manjar dos Deuses “.
Lembro de uma passagem em que a filha da minha vizinha nos pediu um pouco de farinha de trigo. Tudo bem, um pouco de farinha de trigo... ela deve fazer um bolo, sei lá. Eu, que estava um pouco distraído, mas não estava morto, ouvi a criancinha dizer que era pra ela fazer massinha pra brincar.
- Massinha?!!!!
Pessoal, minha esposa já estava dando o saco da farinha na mão da criancinha, veja bem, o saco. Pera aí, ralamos o mês todo pra nossa vizinha fazer massinha com a nossa farinha da trigo?
- E minha esposa ainda me chama de pão duro!
Os problemas com a segurança no nosso País não se limitam as grandes metrópoles. Em Cidades pequenas, como Boa Vista, a violência também existe, é lógico que proporcionalmente, mas como bom carioca...
- eunãovoudarmole!
Faz tempo que eu estou me sentindo como se fosse o porteiro aqui do local onde moro. Existe uma porta que dá acesso às nossas casas e eu não sei o que passa na cabeça dos meus vizinhos de entrarem e saírem sem fecharem a “ bendita porta “.
- Pessoal, aqui também tem L-A-D-R-Ã-O!!!
Já morei em uma outra vila onde me roubaram várias roupas do varal.
- Não perdoaram nem as cuecas...
Não podemos bobear. Nossa porta fica a maior parte do tempo aberta, pelo menos de dia, devido ao calor infernal. Volta e meia entra alguém pra pedir informação e como a nossa casa é a primeira, as pessoas nem batem palmas, vão chegando como se fossem conhecidas. Será que o sujeito vai perder muito tempo da sua vida fechando uma simples porta?
Ser a pessoa que nada sempre contra a maré, às vezes, é muito cansativo. Ser taxado como ligeiramenteparanóico, às vezes, é muito compreensível. Ver os vizinhos te olhando com um certo medo, às vezes, é um pouco divertido.
E quer saber? Existe um outro ditado muito apropriado para este momento. “ Se não pode com eles, junte-se a eles “ ( acho que é isso mesmo ). E é o que eu vou fazer. Vou escancarar o portão da minha vila. Vou prender uma tabuleta lá fora, com uma seta gigantesca com os seguintes dizeres:
ENTREM TODOS.
Isso mesmo, eu posso até ganhar algum com esta história toda. Vou colocar uma barraquinha de churrasquinho numa posição estratégica, bem a favor do vento, vou vender bebidas, pois depois das 18h, vocês sabem... e não pode faltar um som. E pra esta ocasião, nada melhor do que a porcaria do calcinha preta.
- Isso me lembra alguma coisa...
Ah! Deixa pra lá.








É HOJE!

Noite de sexta. Não estava afim de ficar sozinho. Não queria sexo. - Tenho isso em casa, pensei. Mas estava longe de casa. Mesmo assim não me atraía a idéia de ter que azarar uma outra mulher. Isso requer trabalho. Requer mentiras. Não estava afim de mandar nenhum caô. Nem estava afim de pagar uma prostituta. Não que eu seja contra a esse serviço. Acho até muito normal. Quero sexo. Pago. Não preciso ficar inventando histórias. Uma das razões para ter me casado, além de estar apaixonado, claro, é a possibilidade de não ficar mais naquele jogo ridículo. Ela quer. Eu quero. Apesar de que o dia-a-dia nos proporciona, as vezes, uma tarefa Hercúlea para levá-la pra cama. -Tô cansada, ela diz. - Mas meu amor, tô cheio de tesão, eu digo. Ela diz, - e daí? Coloco um blues e vou vou ler umas tiras da Rê Bordosa. Depois me embriago de um conto qualquer de Bukowsky. Velho filho da puta! Me instiga a insistir. E o pior é que dessa vez dou sorte. Isso é o casamento. Ainda bem que ela também adora Bukowsky. E lê o velho safado também. Para minha sorte. Casamento é insistência. Pode crêr.

Conheço alguns caras que desistiram completamente da idéia de viverem com outra pessoa. Não os culpo. Péssimas experiências. Alguns até amaram de verdade. O lance é o seguinte: se você ficar com a pessoa por interesse, qualquer interesse que não seja sexual, não vai dar certo. Pode acreditar. Quando você começa a conduzir a relação de forma que o sexo fique em segundo plano, fudeu. Cara, o sexo é que amarra tudo. Tem gente que não larga o seu par por causa da religião. Pôrra, esses ou essas são os mais infelizes. Tem os maiores chifres da face da terra. Outra coisa. Qual mulher que não reclama da sua vida sexual? Por mais que você compareça, pra elas é sempre insuficiente. As mulheres são como canibais. Precisam de carne o tempo todo. Por mais que se satisfaçam, nunca é o suficiente. Necessitam disso para sua sobrevivência. Olha, não me venha com aquele papo de que você é fodão, não, isso não cola. Elas tem sempre razão. Elas comentam com as amigas. Elas te denigrem. Enfim, não querem que as amigas se aproximem de você. Então, por mais que você as satisfaça, será sempre insuficiente. Entende? Elas são mais poderosas. Dificilmente alguém duvida do que elas dizem. Não é verdade? Mas por que tô dizendo tudo isso? Ah, tá na hora de mandar o meu caô. Torçam por mim, pois tô louco de tesão. E com a história que reservei pra hoje sou capaz até de comer você. Duvida? Então me ligue, 8114 - 0349.



2 DA MATINA




Quero rasgar a noite


Embriagado em palavras


Sacudir minha alma inquieta


Violentar minha máquina até de manhã

E é só.




terça-feira, 6 de maio de 2008

SEM NOVIDADES. SEM VERDADES

Coloquei as botas. Vesti o casaco surrado. Cheguei à porta, olhei pra família hipnotizada em frente à TV e fui até o bar da esquina. A chuva insistia em cair. E insistia desde anteontem. Sem tréguas. Como um embrulho no estômago em dias de ressaca maldita. Entrei no bar. Só havia uma única mesa vazia. A desgraçada de sempre. Ao lado dos banheiros. As vezes penso que aquela mesa tem vida. Me conhece. Expulsa qualquer cú bêbado que se aproxime.Sabe que vou chegar. Ela sempre está lá. E eu não a renego. Pedi uma dose de conhaque e uma cerveja gelada. Gosto da mistura. Preciso dela, principalmente naquela mesa. A segunda dose me faz esquecer completamente o cheiro de mijo ao meu lado. Acendo um cigarro. De longe avisto um ator medíocre entrando no bar. Sabe, desses que camuflam a sua personalidade. Ele pensa que isso não reflete no seu trabalho... - Stanislawsky que se foda! Penso. Não no dramaturgo e todo o seu método, mas sim para aqueles que acham que descobriram a pólvora, mas não sabem fazê-la incendiar. Observo mais um pouco e vejo um casal discutindo. Talvez a relação. Conheço a mulher. Tá com ele por interesse. - Quem não tá? Pensei. Todo mundo se relaciona com todo mundo por algum interesse. Todo mundo se prostitui. Tem os que pensam que não, mas são os primeiros a venderem suas almas perdidas pra um comentário qualquer. Pedi mais uma dose de conhaque. Resolvi sair fora. Não tava num dia bom pra encher a cara. Confesso que as vezes quando vejo algumas caras acabo até poupando de encher a minha. Lembrei da imagem da minha família hipnotizada na sala em frente à TV. Pensei em comprar uma lata de tinta e mudar aquele quadro. Mas tá plastificado. Não pega tinta. Resolvi então levar um enorme espelho. Parei em outra birosca e tomei mais uma dose de conhaque. Entrei na loja. Comprei o espelho. Acompanhei o caminhão da entrega. Resolveram puxar pela janela. Dei gorjeta pros caras. Foram legais pra caralho. Olhei pra família. Posicionei o espelho. Eles nem piscaram. Então virei pra eles. Um forte estrondo de vidro quebrado tomou conta de todo o ambiente sinistro. Olho o espelho intacto. Observo seu reflexo e vejo os cacos de minha família espalhados por toda a sala. E a Tv continua a sua programação normal. Nenhuma novidade. Nenhuma verdade. Nenhum santo remédio. Como a vida.





domingo, 4 de maio de 2008

MADRUGADAS NO ALTO

Subi até o ambiente do instrumental. Apenas velas iluminavam o local. O negão do sax, o mesmo da Carioca, tava mandando por lá. A cara do Melodia. Cabelo rasta, jeans surrado e uma camiseta branca. Simples. O contraste tava todo no sax. Dourado ambição. Só que ali ele recebia cachê. Não dependia dos trocados jogados no case na porta da estação do Metrô. Ao som de Kiko Zambianchi, vários corpos jogados em almofadas coloridas se experimentavam sem nenhum pudor. Apesar de implícito, o odor de sexo se misturava ao cheiro doce de incenso. E mesmo que estivessem se comendo, a cortina de fumaça dos cigarros escondia todas as possibilidades de nitidez. E ninguém queria mesmo ver nada. Um lugar pra dar um tempo e não mais que um. E com sorte, no meio de tantas bocas, mãos, pernas e sexos, - não volto pra casa no zero-a-zero, pensei. Mas eu tava muito louco. Bebi desde às dez da manhã. Churrasco da faculdade. Esses em que todo mundo se libera e bebe e fuma e cheira e até mesmo quem nunca usou nada, aproveita pra se liberar também. Normalmente valem o ingresso da festa. De noite, já tinha subido a Mangueira e no estado em que me encontrava, só voyeur e mesmo assim não por muito tempo. Não conseguia ficar parado no mesmo lugar por mais de 20 minutos. Não queria putaria naquele momento e por uns instantes fiquei de longe, em pé, só observando os vultos sedentos que não paravam de se tocar. Uma baranga fedida a 51 se aproximou de mim:
- Me dá um careta? – ela disse.
Eu não disse nada. Apenas olhei a mocréia de cima à baixo, com aquela cara de nojo. Percebi que aquele tipo de mulher, na verdade, era a realidade de minhas madrugadas. Enfiei a mão no bolso, com pressa, e dei o maço inteiro pra ela. Talvez fosse o pagamento pra me ver livre daquele espírito infeliz. Um depósito de minha alforria.
- Essa noite, não... – Pensei.
Fui em direção ao cara do sax. Sentei-me desequilibrado ao seu lado e arrisquei o refrão - Na madrugada a vitrola rolando um blues... O rasta deu uma leve olhada e piscou pra mim, motivando-me a continuar. Tossi. Fui em busca de um cigarro. Me revirei todo, mas nada.
- O último dei pra baranga – pensei.
Ao final da música, o camarada do sax acendeu um cigarro. Nos olhamos. O cara deu dois tragos e me passou o careta. Tem horas que a gente não precisa dizer nada. A necessidade nos cagueta. Era a hora da troca.
- Aí, vamos trocar umas paradas? Eu disse.
- Tenho só 20, vamos agora. Ele respondeu.
E 20 minutos era o suficiente para dar uma fugida, descer a ladeira, sair da visão da portaria e ficar malocado no canteiro da rua.
- Vai apertando que eu vou batendo. Eu disse.
- Esse aqui é da lata. Ele disse.
- Vi um monte dessas boiando em Saquarema.
- Pegou quantas?
- Nenhuma.
- Cara, como tu deu esse mole?
- Não peguei nenhuma, mas fumei muito delas.
Eu não tinha muito pó. Eram apenas quatro rapas de pirlimpimpim. O resto maldito da noite. O rasta mandou duas de uma vez só. Ficou mudo e mordendo os beiços por uns instantes.
- Pôrra, essa é da boa. Ele disse, engolindo seco.
- Beato Salu. Eu disse.
- Mangueira é foda!
Jogamos conversa fora, enquanto queimávamos um. Os carros passavam bem próximos de nós e apesar de sentirmos a velocidade do vento na cara, não dava para identificar se estávamos dentro do canteiro. Às vezes, o intervalo de um carro para o outro era mais demorado. O som da noite se misturava com as nossas falas aceleradas, cheias de idéias confusas e sem nenhuma ordenação.
- Quer saber, não vou tocar mais pôrra nenhuma! Gritou de repente. Ficamos calados um tempo e logo em seguida começamos a rir. E o cara não parava de repetir:
- Não toco, pôrra...não toco...
Eu entrei na paranóia dele. Fiquei tentando convencê-lo de entrar lá e arrebentar. Parecia até que eu era um grande empresário. Ele se calou. Travado. Viagens. Depois de tanto falar, a onda começou a bater mais forte, a me confundir. Comecei a sentir aquela velha necessidade de sair correndo. Já saí de diversos lugares correndo. Sem dizer nada. Já saí até no meio da fala. Fico imaginando a cara das pessoas que presenciam essa maluquice... Resolvi sair na direção da Boite. Pista de alta velocidade. O canteiro era o limite. Fui firme. Em linha reta. A reta de um alucinado. Olhei pra trás e o cara tava cambaleando no meio da rua. Esse foi o meu parâmetro. Eu não podia estar muito ruim. Corremos risco a todo instante, mas tem vezes que provocamos mais o azar, não acha? Esperei por ele na porta. Tomei uma gelada no camelô. Catei um cigarro molhado no chão. Ainda dava pra matar alguém. O cara chegou. O olho dele parecia pendurado, igual a desenho animado, aqueles com molas. Bufava mais que cachorro pesado após um pique obrigado. Comecei a dar razão à ele e parei de botar pilha pra tocar. De dentro da Boite um grito chama a nossa atenção:
- Ô do sax, já estorou a folga! Era o gerente reclamando seus direitos.
- Vai se fuder! Respondeu rápido e olhou pra mim. Começamos a rir.
Entramos. Formamos uma dupla e resolvemos azarar geral. No meio da pista, uma loira, com um rabo de cavalo deixando à mostra um beija-flor tatuado na nuca, se atracava com uma morena, numa coreografia funk, que mais parecia go-go-girl de boite do Centrão. A morena vestia uma mini-saia branca com uma bota preta até os joelhos e no ritmo da música, ia até o chão, deixando à mostra sua calcinha vermelha. Não era lá nenhum mistério para quem vestia mini-saia branca. Abrimos duas latas de cerveja e não perdemos tempo.
- Dá pra dividir um pouco. Ele disse pra morena, colocando a mão em cheio na sua bunda.
A loira deu um tapa no braço dele, com um reflexo de dar inveja a qualquer carateca.
- Se colocar a mão de novo vai entrar na porrada! Ela disse sem piscar.
- Ôpa, vamos dar uma refrescada, minha loira – Eu disse, pra amenizar.
- Refrescada é o caralho, essa mulher é minha – Disse a morena.
Nada contra, mas se elas eram lésbicas puras, fazer o quê? Tentei tirar o músico dali. Ele não se conformou com a situação e eu já tava vendo a hora dele ficar sem tocar sax por um bom tempo. Além de uma bunda maravilhosa e grande, a morena tinha também tronco e braços gigantes. Não ia prestar.
Fomos para o ambiente de cima. Nos separamos ali. Ele voltou resmungando para o seu ofício. Mesmo reclamando, muitas vezes repetimos tudo aquilo que prometemos nunca mais fazer. Me encostei no balcão do bar e pedi três doses separadas de mel. Comprei três varejos. Entre as doses e os tragos me excitei pensando nas duas sapatas lá de baixo. Uma gargalhada vinda do final do balcão interrompeu minha masturbação mental. Era a baranga que havia me pedido um cigarro.
- Me dá um careta? A mesma frase.
Olhei o relógio na parede do bar. Eram 4:20 da madruga. Derrubei a minha última dose de mel. Fui na direção da mocréia. Peguei o cigarro. Acendi. Olhei para o resto do bar e só vi o balconista me olhando com uma risada sarcástica no canto da boca. Agarrei o braço dela e invadimos o banheiro. Entramos na primeira cabine. Coloquei-a de costas, com a cara apertada contra a parede. Ela nem demonstrou resistência. Esperava por aquilo a noite toda. - Muitas vezes repetimos tudo aquilo que prometemos nunca mais fazer, pensei. E mesmo saindo do zero-a-zero, fiquei com a sensação de não ter sido eu o vitorioso.






UMA VEZ FLAMENGO...


Uma vez Flamengo, sempre Flamengo... que delícia de vitória! Agora são 30 títulos no Rio de Janeiro. Fiquei em casa. Lavei os cachorros, o carro e limpei o quintal. Comemorei os gols. No fim do jogo a Tati me disse que lá no Rio deveria tá bem legal. Me lembrei da Av. 28 de Setembro, em Vila Isabel. Cara, a avenida fica lotada. Os bares entupidos. O povo comemora na maior paz. E eu morava lá, no miolo de tudo. Bem próximo do Maracanã. Não frequentava muito o estádio, tinha perdido o tesão de encarar aquela multidão. Há muito que não curto muita gente. Prefiro lugares mais reservados. Mais em épocas de final, ir ao Maracanã era tentador. Mas por muitas vezes eu me contentava em ficar pelas redondezas do estádio. Às vezes assistia ao jogo em bares ou na casa de amigos, sempre com uma cervejinha gelada. E depois do jogo, com a vitória do Mengão era só relaxar e rodar os bares até o dia amanhecer. Hoje vou ficar em casa. Daqui a pouco vou ver um filme, lanchar, comer um delicioso chocolate e descansar pra mais uma semana vitoriosa. É isso, ainda estou sob efeito da ótima apresentação de ontem. Isso não tem preço.








sábado, 3 de maio de 2008

EU APENAS FAÇO PARTE

A RETRETE OU A LATRINA
PRAÇA GERMANO AUGUSTO SAMPAIO - 26/04/08
FOTO: ORIB ZIEDSON
E São Pedro continua colaborando com a Cia. do Lavrado. Hoje choveu a manhã toda, mas de tarde o tempo melhorou e a noite ficou perfeita pra uma apresentação teatral em praça pública. E não deu outra. Fizemos uma ótima apresentação na Praça das Águas. Percebi os integrantes da Cia. do Lavrado se divertindo pra caramba. Isso é muito bacana. No início parecia que tudo iria babar. A ligação elétrica feita na praça derreteu. Depois de consertarmos, derreteu de novo. Fizemos o espetáculo sem luz. Apenas com as luzes da praça. A energia do elenco e do público foi o suficiente pra que eu não sentisse falta das luzes. Estou muito satisfeito com o resultado do processo que estou vivenciando. O espetáculo tá mais maduro. O elenco tá mais afinado. Acho o maior barato as pessoas que após o trabalho se aproximam do elenco pra fazer comentários. A gente ouve cada coisa interessante. E sincera. Tem pessoas que já assistiram várias apresentações. Lógico, deve ter gente que não curtiu muito, mas e daí? Não podemos agradar todo mundo. Nem é a minha pretensão. Fico feliz com os que estavam por lá hoje. Devia ter umas 300 pessoas. Falei que deveria ter 350, mas me disseram que não. Sei lá, prefiro contar pra mais do que pra menos.
É isso. Tô numa fase muito feliz. Faço o que gosto. Com as pessoas que gosto. E o melhor de tudo, não preciso mais engolir urubu com a asa aberta. A melhor coisa que tem é falar o que se pensa. Sou mais feliz assim. A melhor coisa que tem é não precisar fazer média. Sou mais feliz assim. Cara, tô louco pra me envolver em um próximo projeto. E assim que tiver um, pode deixar que não vou te poupar. Coloco logo aqui pra você ficar ligado. Você que curte teatro e que tá afim de acompanhar a trajetória do grupo que faço parte. Do grupo que faço parte. Faço parte.





sexta-feira, 2 de maio de 2008

ALÉM DA IMAGINAÇÃO


Me despedi dos amigos que ficaram no bar e voltei para casa. Caminhei até o outro lado da calçada e resolvi cortar caminho por um beco deserto. Ao entrar, senti um forte cheiro de sexo. Gemidos. Palavrões. E a rua deserta. Mais à frente, trepando encostados no latão de lixo, um casal. Uma garrafa de cachaça descansava ao lado dos amantes. Ele estocava sem parar aquela puta máquina de gemidos. Puta. Olhei para o casal. Olhei para a garrafa. - Vai? disse o cara, com a voz embaralhada. Caminhei na direção dos dois. O cara parou de meter. Se afastou um pouco. Sorriu. A mulher sorriu. Em uma outra direção. Como se fosse uma cega. Senti o forte cheiro daquela buceta. Tive ânsia de vômito. Agachei. Agarrei a garrafa ao meu lado e dei duas goladas. - Qual foi, cara? Mete logo a pica! Disse o cara irritado com minha cara de nojo. - Não dá, meu irmão. Vou ficar na punheta. Disse e larguei a garrafa. O cara não se entusiasmou com minha resposta. - Vai fazer desfeita? Me mandou assim na lata, e em seguida meteu a mão dentro do latão de lixo e puxou uma pistola. A mulher gargalhou. Pensei, - pôrra, me fudi! O cara resolveu me sacanear e mandou que eu desse uma boa chupada naquela buceta. A vadia gargalhou novamente. Era uma máquina de gemidos e de risos. Ele sabia muito bem aonde não deveria colocar a boca, mas se eu fizesse esse papel, a puta lhe seria eternamente grata. Ela me chamou e deu duas batidinhas na buceta. Olhei para o cara, que me mostrou a pistola e disse, - Cara, se tu demorar demais, quem vai acabar dando aqui é você. A máquina de gemidos gargalhou novamente. Me mostrou o dedo, como sinal de aviso. Peguei a garrafa dei mais duas goladas. Sem largar a cachaça, me aproximei da vadia. O cheiro foi ficando mais forte. O cara iniciou uma masturbação compulsiva ao meu lado. A mulher agarrou minha cabeça em direção à sua buceta fedida e a enfiou entre suas pernas. Ânsia de vômito. Vômito. Mordida na xota. Gritos! Puxões no cabelo. Garrafada na lata. Fuga desesperada. Sirene de polícia no início do beco. Por uns instantes me senti um personagem saído de uma história Além da Imaginação. Cheguei em casa. Capotei na cama. Insônia. Me lembrei dos gemidos da puta. Me excitei. Abri a calça e mandei ver. Dormi completamente sem forças. Sonhei com aquelas cenas. Por mais bizarra que fosse a situação, imaginar sempre foi um combustível real para o meu tesão.








RECANTO DO DEDÉ - BOA VISTA / RR 01/05/08















Consegui curtir o feriado na maior tranquilidade. Deixei de lado as nóias da cidade e relaxei... o lugar é simples, pertinho da cidade, barato e completamente isolado.
Com certeza voltaremos...