quinta-feira, 30 de abril de 2009

CONEXÃO AMAZÔNICA


CENA I
(A cena ocorre em uma mesa de bar. Três amigos conversam sobre uma determinada mulher. O clima é pesado.)
Aércio – Tá legal, agora que vocês já vomitaram tudo, que tal deixarem essa babaquice de lado e apertarem as mãos? (pausa) Porra, meu, a gente trabalha junto faz uns oito anos, não é isso, Guilherme? (pausa) Cara, a gente se conhece desde moleque, não é mesmo PC, então? (Acende um cigarro) Puta que o pariu, vocês são foda! Discutir por causa de mulher? O pior de tudo é que a Silvinha deve tá dando pra outro nesse exato momento. E vocês aqui na confusão. Guilherme, por causa de mulher?
Guilherme – Não é por causa de qualquer mulher, Aércio. É por causa da Silvinha. Esse cara aí sabia que eu tava pegando.
PC – Sabia porra nenhuma! E a Silvinha é mulher de ficar pegando? É mulher de pegar e pronto.
Guilherme – (se levanta irritado) Aí, qual é a tua meu irmão?
Aércio – (aparta os dois) Deixa disso, Guilherme, o cara é brother, meu irmão. (para o garçon) Aí, meu chapa, trás mais três cervas, faz favor. Então, pessoal, vamos beber mais uma e tentar entender o que aconteceu?
PC – Não tem o que entender. A gata tava lá, sozinha. Aércio, tu sabe que eu sou de responsa, não sabe? Cara, eu nunca desrespeitei vocês. A gata tava lá. Eu tava ligado demais. Foi pra comemorar. Irmão, vamos inaugurar mais uma Lan, cara não é o máximo? Os negócios tão indo bem pra caralho! Eu tinha que encher a cara, entende?
Guilherme – E onde entra a porra da Silvinha nessa história?
Aércio – Calma, Guilherme, deixa o cara falar. Aí, tamo só conversando sacou? Fala, PC.
PC – Então é isso.
Guilherme - Isso o que, caralho?
PC – Porra, a gata tava lá! Foi foda, Aércio. (para o Guilherme) Ô brother, não me leve a mal, mas a gata é muito puta.
Guilherme – (derruba os copos da mesa. Parte pra cima dele. Aércio consegue apartar novamente) Safado! Me larga, Aércio! Eu vou meter a porrada nesse viado! Tá vendo? Isso é a maior traíra! Chamou a Sílvia de puta e tudo! Aí, não vai ficar assim, valeu?
(Aércio consegue novamente acalmar os ânimos. Olha para os lados com vergonha do escândalo que estão fazendo no bar).
Aércio – Meu irmão, senta aqui. Em primeiro lugar, a gata é puta mesmo, mas calma, não esquenta, sei que tu tá afim dela e te respeito por isso. Olha, tu não confia no PC? Cara ele é teu amigo, sacou? Meu, tu já bebeu um monte, deve tá confuso...
Guilherme – Confuso nada. O que aconteceu foi o seguinte, a Sílvinha veio atrás de mim. Eu tava apagado, lembra? Eu apaguei naquela noite. Esse mau caráter se aproveitou da situação e comeu a coitada.
PC – Coitada? Porra, Guilherme, menos, né? Que tu tá afim dela, eu entendo, mas chamar a vadia de coitada? E quer saber? Eu tava bebum mesmo, a gata deu mole e comi. E daí? Foi mal. Aí, Aércio, o que eu posso dizer é que só lamento. É isso. (coloca a mão em Guilherme) Cara, eu tenho o maior respeito por ti e se eu soubesse que tu tava amarradaço na gata, é lógico que eu não tinha feito aquilo. Agora vamos, a gente tem coisa mais importante pra resolver.
Aércio – Isso mesmo, PC, é assim que se fala. Então, Guilherme, já aconteceu. Deixa pra lá. Olha, quantos caras já não comeram aquela buceta, já pensou nisso? Quantas picas desconhecidas a Silvinha, com todo respeito, já não mamou? Meu irmão, pelo menos o PC é brother. É conhecido, entende? E mesmo sendo fiel tua, a gata é da casa. Isso é poético demais pra você.
(Guilherme vira o copo. Pede outra cerveja ao garçon. Acende um cigarro).
Guilherme – Olha, PC, tu é meu chapa mesmo. Gosto de você como se fosse irmão. Você também Aércio, e vocês sabem disso, não é verdade? Então, se essa parada rolar de novo, eu juro que a sociedade termina na hora. E o crédito de vocês também. É sério! Mas vamos aos negócios.
Aércio – Assim que se fala. O lance é o seguinte, o carinha da Lan do Centro não agüentou a pressão e vendeu a parada. Vamos transferir o dinheiro essa tarde. Vamos poder estender a conexão pra lá. A loja é mais espaçosa. Tem uma casa no fim do terreno. Vai dar pra fazer o cassino. O que acham?
PC – Eu acho ótimo! Sempre quis o cassino. Esse lance de prostituição é foda, meu. O cassino é mais limpeza.
Guilherme – Péra aí, ninguém me disse que iríamos parar com a prostituição. Vocês tão loucos?
Aércio – É mesmo, PC, ninguém falou isso. E além do mais, como é que vamos largar uma carteira de clientes tão valiosa? E uma coisa puxa a outra.
PC – Eu só acho que tá começando a sujar. Esses PMs são uns tarados. Tão sempre na cola. Pode falar, Guilherme, tô certo ou não tô? Esses alemão tão sempre rondando a loja. Eles querem sexo. E se nós negarmos isso à eles, aí é que fudeu. O jogo não. Com o jogo é diferente. Eles não se metem tanto. São uns duros. Uns animais que estão atrás de prazer imediato. O jogo não dá pra chegar. Não dá pra jogar sem gastar. Aí é só molhar a mão deles e continuar ganhando dinheiro. Agora, sexo, os caras ficam malucos! Circulam por dentro. Já tem menina nova por aqui. De menor, sacou? Isso pode dar a maior merda. É pedofilia! E o pior é que os coroas tão adorando essa maluquice. Sessão de sadomasoquismo e tudo. O sargento Fidélis, aquele filho da puta, já tá desconfiado. Com esse entra e sai de menininhas, vocês acham que eles pensam que isso aqui é o quê? Jardim de infância? É, porque já tem criança de 10 anos na parada. Olha, eu acho que a gente tem que apagar o cara.
Aércio – Tá maluco? Apagar PM? Tu ficou louco! Aí é que tamo na maior merda! Vamos continuar do mesmo jeito. Tá indo tudo bem. Agora é só não vacilar. O combinado foi estender a conexão, não foi?
PC – Mas eu nunca pensei que aquela idéia de bêbado fosse chegar a esse ponto. Eu só queria umas três putinha pra ganhar dinheiro fácil dos amigos e fuder na hora que eu quisesse. Essa era a minha idéia de bancar o cafetão.
Guilherme – É maninho, mas o negócio cresceu. Hoje tu tem mais de 15 putinha. E continua fudendo a hora que tu quer. Não é verdade? Fudendo até quem não devia. Só que o negócio mudou. Tomou outro rumo. E pra melhor. A idéia do cassino é genial. Tem uma pá de autoridade da cidade que é viciada em jogo. Fala aí, Aércio!
Aércio – É verdade, nós conseguimos uma lista com um chegado nosso lá na PM. Custou caro...
Guilherme – Mas valeu a pena.
Aércio – Meu, tem empresário, profissional liberal, militar graúdo e até parlamentar, sacou a parada? Muitos deles já são clientes nossos e alguns adoram as criancinhas, só vendo. Se o cassino ficar no jeito, esses puto vão encher o bolso da gente de grana. Dinheiro do povo, é, tô sabendo. Mas que se foda! (levanta o copo) Não estamos fazendo diferente desse bando de candidatos à vereador. Por que todo mundo decidiu que precisa salvar Boa Vista duma hora pra outra? É do povo para o povo, sim! (eles brindam).
PC – Demorou. Tô com vocês. Mas insisto que a parada tá sujando. Vamos ficar atentos. Não tô afim de passar o resto da minha vida atrás das grades. E eu faço qualquer coisa pra não voltar pra jaula.
Aércio – Assim é que se fala. Vamos providenciar a reforma. Dentro de cinco dias, no máximo, eu quero a casa funcionando.
Guilherme – Eu acho melhor começarmos a fazer contato com os figuraças. Vamos preparando o terreno. Esses filhos da puta vão nos enriquecer.
Aércio – É nós, mano! Nossa maré de sorte chegou. Agora é só olhar pra baixo. (eles brindam. Black-out).
CENA II
(A cena acontece no salão do cassino. Tem uma mesa de cartas ao centro. Aércio coloca mais uísque em seu copo. Está à mesa. Guilherme tá sentado em um banco, diante de uma menina caída no chão. Ela está morta. PC anda de um lado para o outro. Tá desesperado. Visivelmente alcoolizado. A cena toda é punk. Música punk).
Guilherme – (grita) Desliga essa merda!
Aércio – Fala baixo, porra!
Guilherme – Baixo é o cacete! Como é que vocês querem que eu me concentre com esse espôrro?
PC – Fudeu, cara! Fudeu! Se eu desligar vai todo mundo ouvir a nossa respiração. E agora, mano? Eu disse que ia dar merda. Eu falei que ia babar. Mas não, eu tô sempre errado...
Guilherme – Vai se fuder, cara! Isso aqui é culpa tua. Tamo assim por sua culpa!
PC – Tá vendo? Eu sabia que esse babaca ia me botar no fogo. Sedutor de menores. (parte pra cima de Guilherme. É apartado por Aércio) Vou te quebrar, seu escroto! Me larga, Aércio! Me larga que eu vou matar esse puto!
Guilherme – Vem, seu viado. Tu é um tremendo de um cagão. Reclamou tanto que não ia dar certo. É lógico que tinha que acontecer algum merda. A vadia tá morta. E a culpa é tua.
Aércio – Pega leve, Guilherme. O barco é o mesmo pros três. E vocês também são foda! Tem um presunto aqui na sala. Sacaram?
(os três olham para a menina. Pausa. A música pára).
PC – Eu falei do viadinho do Fidélis, foi aquele filho da puta do sargento Fidélis. Ele caguetou nós. Meu, eu disse que com os alemão o tratamento era diferenciado. Quem tá dentro de puteiro quer mais é fuder!
Aércio – Legal, PC, mas agora a gente é que tá bem fudido. Vamos manter a cabeça no lugar. (Dá a garrafa pra ele) Entorna, vai. Segura um pouco a onda. Tua cara tá caguetando legal.
Guilherme – Você viu a cara dela? Apanhou pra caralho. Se eu pego esse filho da puta, eu arranco as bolas dele. Pode crer. Faço ele mastigar as suas próprias bolas. (pausa) Vi isso num filme. O cara tava de cara com o estuprador de sua filha. Pegou um cabo de vassoura e enfiou no rabo dele. Depois deu um bico no cabo, sabe, pra enterrar melhor (gargalha). Judiou mesmo. É isso. Se eu encontro esse cara, eu judio mesmo!
Aércio – Acho que tu também precisa de um gole. Passa pra ele, PC. O cara tá em choque. (PC passa a garrafa. Pausa. Os três não tiram os olhos da menina).
PC – Aí, gostei do teu discurso, mas não me comoveu. Cara, você fala como se fosse diferente do viado que fez isso com a Pink. Se liga irmão, tu colocou a vadia aqui. Foi tu que prometeu um monte de abobrinha pra essa criança. Se ela tá aqui no chão, a culpa é tua. Eu não, eu sempre disse que essa porra ia melar. Mas eu sou o desequilibrado, não é? Sou o cara que cria confusão com todo mundo. Agora, foda-se! Vamos chamar logo a polícia e botar pra dentro. Que se foda! Vamos assumir logo!
Aércio – Tu ficou louco? Ela deve ter uns 16! Vai passar o resto da tua vida na cadeia. E quer saber? Com essa cara e com esse crime, vai dar o cú todos os dias. Vão fazer fila.
Guilherme – Deixa ele, Aércio, faz o seguinte, PC, deixa a gente sair e depois liga pros alemão. Coloca nós fora dessa. Aí, Aércio, vamos rapa a grana do banco. O cofre tá abarrotado também. Esse malandro não vai precisar de dinheiro mesmo. Dá pra gente ficar fora pelo menos uns dez anos, até a poeira abaixar. O que acha? Vamos pro interior. Essas minas daqui, a maioria são de lá. Ao invés delas virem pra cidade grande, vamos montar uma conexão por lá. Ninguém vai nos achar. Depois agente monta outro cassino e dessa vez, sem putinha de menor. Conexão Amazônica diversões e entretenimentos ltda. Legião Urbana, lembra, o que acha?
Aércio – (pensativo) É uma.
PC – É uma é o caralho! Vocês não vão me deixar nessa roubada não! Eu também tô nessa. E essa grana também é minha, se esqueceram?
Aércio – (tira uma pistola debaixo da roupa e a põe na mesa) Então é o seguinte, deixa de viadagem e cala a boca! Agora o que a gente precisa mesmo é resolver essa parada. Bom, fugir eu não acho que seja uma boa. Cara, o cassino tá du caralho. E tamo cheio de puta. O lance é colocar as de menor pra correr e abafar o caso. Isso aqui é uma mina de ouro.
Guilherme – Mas de que jeito? Teve testemunha.
PC – Testemunhas?
Guilherme – Isso mesmo, algumas pessoas viram a menina e além do mais, a gente não devia ter tirado o corpo lá do quarto. O povo viu a gente carregando o cadáver. Cara, se eu vejo uma cena dessas, tu acha que eu vou pensar o quê?
PC – A gente pode dizer que a vadia tava bebaça. Isso é normal por aqui.
Aércio – Tá legal. Mas a Betânia viu que ela tava morta. E ainda saiu comentando pelo salão.
Guilherme – Por isso que o povo começou a vazar.
Aércio – A safada bateu com a língua nos dentes.
PC – Vamos matar a Betânia?!
(pausa)
PC – (grita) Vão se fuder! O que vocês querem? Que um santo baixe aqui na terra e carregue o corpo dessa infeliz? A piranha tá morta! Morta! O negócio é o seguinte, vamos cortar o corpo da vadia, ela é baixinha, são poucos pedaços e depois jogamos tudo dentro do Rio pra alimentar os peixes.
Guilherme – Só porque ela é pequena você acha que são poucos pedaços? Seu escroto, ela tem os mesmos pedaços de uma mulher mais velha, adulta.
PC – Mas olha o tamanho do braço dela (segura o cadáver), você acha que a Junkie, que é o maior poste, o maior vara pau, tem os mesmos pedaços que ela? Vai se fuder! Vamos fazer o seguinte, a gente esquarteja a Junkie e a Pink. Separamos duas malas iguais e aí é só casar a grana. Quero só ver se não vai sobrar pedaços da Junkie pra guardar na mala. Tu é um merda mesmo!
Aércio – Merda são vocês dois! (aponta pra menor morta) Olha o problema aí. E vocês discutindo de que jeito vão colocar os pedaços das vadias dentro de uma mala... Caralho! Apostar? E a Junkie, o que tem a ver com isso? Ela não tava nem aqui.
PC – Foda-se! Acabou de entrar na história. Quero resolver a parada com esse mané. Péra lá, tudo que eu digo ele desdiz?
Guilherme – Isso mesmo, agora a viciada vai morrer. Vou enfiar ela todinha dentro da mala, tu vai ver...
Aércio – Então porque não colocamos a Betânia? Ela é grandona também. E foi ela que deu todo o serviço.
(pausa).
PC – Beleza. Eu topo. A Betânia serve.
Guilherme – É mesmo. Vamos retalhar essa piranha. Ninguém tá comendo ela mesmo. Isso aqui não é negócio pra ficar dando prejuízo. Não tem essa de - não ganhei hoje. A gente sempre ganha.
Aércio – Tá legal. Agora vamos nos livrar desse corpo. Trás a mala PC. Depois a gente dá um fim na Betânia. Guilherme, pega o terçado. Eu vou estender um plástico no chão. Não pode ficar nenhum vestígio dessa vadia por aqui. Nós nunca a vimos. Entenderam? E a partir de hoje não entra mais de menor nessa casa. Certo?
(Cada um vai para um lado. Black-out. Pausa. A campainha toca. Guilherme vai atender. É uma menina linda. Tem uma mochila nas costas).
Estrela – Oi.
Guilherme – (dá uma comida com o olhar) Oi. Quer falar com quem?
Estrela – É que me falaram que aqui... que aqui vocês recebem algumas meninas pra dar um tempo...
Guilherme – Sei.
Estrela – Olha, eu cheguei ontem do interior e...não dormi nadinha ainda...tô precisando de um banho. Qual é o esquema? Deixa eu ficar, vai? É só por uns tempos, só até eu entrar pra faculdade.
Guilherme – Qual tua idade, princesa?
Estrela – 17.
(Guilherme acena com a cabeça. Ela entra. Ele sai, tira um terçado da cintura e dá uma olhada na rua. Apenas uma conferida. Volta pra casa. Black out.).

FIM










PROGRAMA DE RÁDIO

ADOLESCENTE - Olha o chicrete, olha a bala, é um real...olha o chicrete, olha a bala, é um real...ô moço, ajuda aí...
VOZ OFF - Sai da rua, menina! Lugar de criança é na escola!
(Ela encosta, abre uma bala e começa a falar com o público. Está chateada).

ADOLESCENTE - Eu nunca imaginei que isso fosse acontecê comigo...eu não queria tá aqui...mas o cara que mora com minha mãe, só deixa eu entrá em casa se eu levá dez real. Eu faço de tudo pra vendê isso mas quase sempre durmo na rua...(com medo)durmo...se aquilo é durmi...é um olho fechado e o outro aberto, até que o sono me pega e eu desisto de viver e durmo de verdade. Acordá no outro dia é a maió felicidade. Às vezes passa aquele carro grandão, cheio de criança bonita, limpinha, indo pra escola...imagino sempre que um dia ele vai pará e me pegá também...eu sinto a maió inveja. E tem muita gente que não aproveita o que tem e reclama da vida...parei de estudar na primeira série, não consigo lê direito, escrevo muito feio...(orgulhosa)mas sou boa na conta, nisso eu não dou mole! Também...todo dia na rua...Mas eu não perco a esperança de que um dia minha vida vai mudá, eu quero estudá pra ajudá minha família...quero ser cozinheira, lá em casa ninguém vai passá fome não, só vô fazê coisa gostosa...(passa a mão na barriga carinhosamente)ainda mais agora que eu vou ser mãe...o môço do Posto de Saúde disse que eu devia tê prevenido mas na hora o Pai dele, (triste)que morreu na rua, de facada, não quis usar a tal da camisinha e então eu nem liguei. Mas não vai ser fácil encará essa gravidez na situação em que eu tô... com quinze ano e grávida, ninguém qué dá trabalho...mas eu vô dando meu jeito...e se Deus quisé, um dia eu saio da rua. (Levanta e continua vendendo, sai de cena) Olha o chicrete, olha a bala, é um real...olha o chicrete, olha a bala, é um real...

APRESENTADOR - É...nessas horas eu fico pensando... será que todos nós estamos fazendo alguma coisa para modificar essa situação? Será que contribuir com essas crianças na rua é a solução ou deveríamos encontrar um jeito de tirá-las das ruas da nossa cidade? Deveríamos exigir dos nossos governantes educação, saúde, segurança, trabalho para essas famílias que, hoje, até exploram seus filhos para terem alguma coisa para comer. Precisamos nos unir mais com o objetivo de, juntos, encontrarmos uma saída para essa amarga realidade da vida.( Pausa). Agora um pouco de alegria na nossa noite, vamos dar continuidade ao nosso Show de Calouros. E a nossa Segunda candidata é uma pessoa muuuuito especial. Eu estou falando dela, a vencedora do último Show de Calouros e que me disse lá atrás, nos bastidores, que irá vencer novamente. Com vocês Sulamita, a nossa rainha das marmitas de Boa Vista!!!
SULAMITA – Oi, pessoal!! Tudo bem?
APRESENTADOR – Seja bem vinda, Sulamita. É um prazer recebê-la novamente no nosso Show de Calouros. Essa casa já é sua, e fique à vontade para mandar o seu recado.
SULAMITA – Antes de começar a música eu queria lembrar a todos que segundas, quartas e sextas é carne e terças e quintas...
APRESENTADOR – Ô Sulamita, você veio aqui para cantar ou vender seu peixe?
SULAMITA – (Rindo com exagero) Mas é isso que eu estava dizendo, tem peixe, terça e Quinta tem peixe...
APRESENTADOR – Tá bom... tá bom, Sulamita. E você vai cantar o quê?
SULAMITA – Você sabe que eu adoro Axé... eu preparei uma coreografia belíssima para me acompanhar. Vou cantar....(diz o nome da música).
APRESENTADOR - Som na caixa!!!
(Ela começa a cantar e aos poucos vai se enrolando com sua coreografia, a platéia vaia muito. Ela fica irritadíssima e reclama).
SULAMITA – Vocês vão ver o que eu vou colocar na marmita de vocês!!! Vocês me pagam!!! Eu sou a melhor!!! Só vou vender sopa, bem quente, sopa de pão, seus miseráveis!!!
APRESENTADOR – É pessoal, pelo visto vamos ter de aprender a cozinhar. Na próxima semana teremos mais candidatos no nosso Show de Calouros.
(Entra música da novela).
E para você que ficou grudado conosco, aumentando a nossa audiência, enchendo o nosso bolso de dinheiro...nesse momento, só para você, está entrando no ar mais um capítulo da nossa novela “Romeu e Julieta - Uma Tragédia Axé” . Será que Julieta conseguirá se casar com o seu amor, Romeu?
(Entra música).
Devido a triste notícia de seu pai, que ofereceu a sua mão para um outro pretendente, Julieta que acabou ficando muito doente, em um momento de delírio febril imaginou que seria possível se casar com Romeu, se assim, conseguisse a ajuda de seu mais velho confidente, um Padre da Comunidade, homem bastante inteligente. Que grande idéia ele teve para unir o casal, vejam vocês que o Padre ofereceu para Julieta um bebida bem quente que depois de tomada, Julieta cairia morta, completamente gelada mas apenas por algumas horas. Mas como estamos diante de uma tragédia...





quarta-feira, 29 de abril de 2009

CADÊ O VERBO?



as palavras sumiram
o caos tomou conta do meu vocabulário
só onomatopéia maluca
um monte de loucos pontos de exclamação










TÃO FUDIDOS...

O poder fode com tudo. As pessoas se empoderam com quase porra nenhuma. Os sonhos são pequenos. Deixaram de existir na mente de alguns. É uma pena. Nunca quis pensar em mandar em alguma coisa. Esse poder é de quadrinho, saca? Tem gente que se identifica. Eu não. Gosto muito de trabalhar. Ah, como eu gosto. Adoro produzir. Escrever. Inventar coisas sem sentido. Eu gosto. Não me interessa se isso me empodera ou não. Muita gente precisa disso. Precisam ser importantes. O passado delas é igual ao poder, fode com tudo. Fodem com tudo. Tão fudidos...










28 PEQUENAS




Mergulhou pelado na Praia do Leblon. Seis da matina. Só pescadores pacientes. Foi bem fundo. Prendeu a respiração como nunca havia feito antes. Abriu os olhos na água embassada e gelada. Catou uma pedra. Gritou desesperado por ar. Mostrou a pedra para seus amigos. Pelados também. Mergulharam bem fundo. Estava aberta a caça às pedras. A cueca guardava os pontos. O tempo limite era o enrugado no corpo. Íam saindo assim mesmo. O dono das pedras precisou trazer 28 pequenas. Todas amontoadas na encharcada parte de baixo. Espalharam seus tesouros por toda a orla. Vistiram suas cuecas. E foram embora.









ATÉ AMANHÃ DE MANHÃ

venha
venha e beba até a última poça
gota engosmada sem culpa
surto epilético sem causas prováveis
deguste do meu desprazer
sacie a sua putice com a minha alucinação
zombe sem ter provado do caldo
queime as suas bruxas
como você sempre fez
não me aceite de graça
sou confuso pra caralho
prego pro lado torto sempre
mas venha
beba tudo que lhe for suficiente
nem pense em compreenssão
apenas me leve pra sua casa
me livre deste soluço com um beijo de susto
me surpreeenda até amanhã de manhã









SLUG...SLUG...SLUG...



- viu pra que lado ele foi?
- não.
- foi rápido demais!
- é.
- acho que não deu pra nos ver...
- deu nada.
- não pára não, vai, continua...
- slug..slug...slug...










COM TRÊS É MOLE

- fazer malabaris com três bolinhas é moleza!
- porra nenhuma (pega as três bolinhas dentro de sua bolsa e começa a jogar)...
- veio preparado cumpadi?
- você acha que é fácil fazer assim, mas também assim é o básico do básico, quero ver você fazer assim, misturando as mãos e as bolas, nem dá pra saber que fui eu quem mandou, não é, o pior é que depois que tu pega a manhã, fica o maior vício fuderoso, tu num pára de jogar a porra das bolinhas, tá vendo, tem muito mais coisa pra fazer, só que eu tô aprendendo. Fazer com três não é tão simples assim.









E DAÍ?

amo essa porra toda mesmo
arrasto a barra da calça no chão
e daí?
não sou nada anormal
a gente não escolhe a forma como vamos passar nossos tempos.
pra uns, o tempo tá só passando...
pra outros, são outros tempos...
o rock do vinil ainda arranca meus gritos
não faço questão de morrer como o cara do Marlboro
tanto faz
não vai ser nada tão diferente...
amo essa porra toda assim mesmo, desse jeito... Entende?








HOJE EU DEVERIA TER COMIDO UM POEMA



hoje eu queria ter escrito um poema
rimado qualquer bosta com nada
assim, de lapada, sem nem pensar no que sinto
ódio e tesão escancarados logo na introdução
farpas roubadas em contexto explícito
hoje eu deveria ter comido um poema
deveria ter te comido até o último verso!








EU PRECISO...

Acordei muito estranho hoje. Saquei que não tô afim de fazer porra nenhuma. Gripe danada. Confunde meus desejos. Tô muito desanimado com a UFRR. Talvez até tranque o semestre. O fato é que não consigo me animar quando penso em ir à aula. Não tem nada lá que me atraia. Penso o tempo todo em teatro. E quando não penso em teatro, penso em qualquer merda que não seja estudar. Estudar é uma bosta. Agora que tá na reta final a pressão aumentou. Preciso me formar. Preciso? Nem sei mais... Preciso ser feliz. Sempre.








segunda-feira, 27 de abril de 2009

PEGOU FOGO EM ABSURDÓPOLIS!

E o clima em Absurdópolis pegou fogo! A esperada data de estréia do espetáculo se aproxima e com isso o elenco vai à loucura... Processo desgraçado de trabalho, criação coletiva infestada de impulsos solitários de imaginação. Experiência única. Confusa. Inquieta dúvida pertinente a tudo. Vamos descobrindo aos poucos a cara deste espetáculo. Que não é programado. As cenas e texto surgem do jogo de improvisação dos atores. Computador ligado, alerta, se alimenta dos resultados obtidos neste processo. Já temos a abertura desenhada. Temos a introdução quase em processo de decupagem da cena. O roteiro já foi atualizado. Faltam apenas duas cenas. E o início do texto já tá no HD. Não estamos tão perdidos assim. Agora. O tempo é que nos preocupa bastante, afinal, até o fim de julho ainda precisamos reensaiar A Farsa do Advogado Pathelin, pois levaremos os dois espetáculos para o II FESTIVAL DE TEATRO DE RUA AMAZÔNIA ENCENA NA RUA, em Porto Velho / RO. Vamos em frente!








sexta-feira, 24 de abril de 2009

CARTA DE ARCOZELO


Esta carta foi tirada no V ENCONTRO DE ARTICULADORES DA REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA, que aconteceu nos dias 20, 21 e 22/04, na Aldeia Arcozelo, em Paty do Alferes, Rio de Janeiro. Só pra situar, este espaço foi criado por Pachoal Carlos Magno para abrigar os artistas do Brasil. Já rolou muito espetáculo por lá, muitas capacitações e encontros. Dito isto, aí vai então a carta.




CARTA DE ARCOZELO

A Rede Brasileira de Teatro de rua reunida na Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de janeiro, após 509 anos de domínio ideológico, resgatando a importância histórica e, inspirado no sonho do saudoso Paschoal Carlos Magno, vem afirmar por meio deste documento a luta pela possibilidade de uma nova ordem, por um mundo socialmente mais justo.
Nos dias 20, 21 e 22 de abril de 2009, no seu 5
º encontro, a Rede reafirma sua missão: de lutar por políticas públicas culturais com investimento direto do Estado em todas as instâncias: municípios, Estados e União, para garantir o direito à produção e o acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasileiros.
A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos.
O intercâmbio da Rede Brasileira de Teatro de Rua ocorre de forma presencial e virtual, entretanto toda e qualquer deliberação é feita nos encontros presenciais, sendo que seus membros farão, ao menos, dois encontros anuais. Os articuladores de todos os Estados, bem como os coletivos regionais, deverão se organizar para participarem dos Encontros.
Os articuladores da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA dos estados do AC, AL, CE, BA, ES, GO, MA, MG, PA, PR, RJ, RR, RN, RO, RS e SP, com o objetivo de construir políticas públicas culturais mais democráticas e inclusivas, defendem:
· A representação do teatro de rua, nos Colegiados Setoriais e Conselhos das instâncias municipal, estadual e federal;
· A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03, que vincula para a cultura, o mínimo de 2% no orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito Federal e 1% no orçamento dos municípios;
· O direito a indicação de representantes do teatro de rua nas comissões dos editais públicos;
· A extinção da Lei Rouanet e de qualquer mecanismo de financiamento que utilize a renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar através do financiamento direto do Estado, por meio de programas e editais em forma de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade; Para tanto em apoio ao movimento 27 de março sugerimos modificações no PROFIC (anexo);
· A criação de um programa específico que contemple: produção, circulação, formação, registro, documentação, manutenção e pesquisa para o teatro de rua;
· Que os espaços públicos (ruas, praças e parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais em assim contemplados na elaboração de editais de políticas públicas e no Plano Nacional de Cultura;
· A extinção de toda e qualquer cobrança de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de teatro de rua garantindo assim o direito de ir e vir e a livre expressão artística;
· Queremos construir uma política de Estado em contraponto a políticas de eventos que o mercado vem nos impingindo. As iniciativas de governo em criar editais para as artes devem ser transformados em leis para a garantia de sua continuidade.

O Teatro de rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Assim, instituímos o dia 27 de março, dia mundial de teatro e circo, como o dia de mobilização nacional por políticas públicas e conclamamos os artistas-trabalhadores e a população brasileira a lutarem pelo direito á cultura e a vida.

“O país se apresenta pelo teatro que representa”. (Paschoal Carlos Magno)

22 de abril de 2009
Aldeia de Arcozelo, Paty do Alferes, Rio de Janeiro
Rede Brasileira de Teatro de Rua












domingo, 19 de abril de 2009

BANQUETE




tô desse jeito mesmo
sem nem saber direito meu nome
escapei por uma noite
quero carne escorrendo pelos meus dentes sedentos











sábado, 18 de abril de 2009

TRÊS GIROS




o último trago foi terrível
não consigo encontrar noções pra isso
rodopiei por três giros
meu Deus que planeta maluco é esse aqui










ENTEPOLA



O que fazermos então com nossos personagens, drogados, bêbados, loucos e depravados?!!!!!!!!
Estarão eles, então, desempregados?







VAI DAR CERTO!



Hoje e na quarta conseguimos desenhar a abertura do espetáculo. Com direito a entrada e tudo mais. É um puta de um rabisco. Um quadrinho inacabado. Muito jogo. Experimentações. Nem sabemos se vai ser aquilo de fato. O tempo não nos preocupa mais. Apelamos pro tradicional - Vai dar certo! Não estamos nem aí. Quando fundamos a Cia. do Lavrado nos propomos a isso. Estudar possibilidades estéticas sem nos prendermos às receitas e aos métodos. Somos essa imensa interrogação. Mas tá bom pra caraio. E pode ter certeza, vai dar certo!










PROCESSO

Pra quem não leu nada. Faço um registro do processo de trabalho do novo espetáculo da Cia. do Lavrado. Eu simplesmente tô sem saber o que escrever. Surpreso. Piramos durante quatro horas em todos os ensaios. São cinco por semana. Não temos texto ainda. Sei, já falei disso aqui. Mas, cá pra nós, são poucos os malucos que se aventuram por este blog. Improvisamos muito. Existe um ponto de partida longamente discutido. Vamos descobrir mais. Mas é muito esquisito.








SOPRO E CUSPIDA



Sopro
pra
não
ter
que
te
cuspir
na
cara
Ah!
se
você
não
gostasse
de
ser
cuspida...









AMANHÃ

Vou até quase amanhã. Ainda não me preparei pro outro dia. Leio. Escrevo. Fumo. Fumo... E bebo. Como na frase de um texto meu engavetado sem marras. É a melhor hora do dia. Silêncio. Pensamentos sem interferências. Compreenssão imediata do que tenho em mente e quero falar. As doses finais não são menos atraentes. Se estiver de pé, faço tudo de novo. Aí é o amanhã. Melhor deixar pra falar bem depois...









LADAINHA

Passo a vida me esquivando de confusões. A maioria das vezes isso não é eficaz. Porra, na real? Detesto estudar. Gosto muito de ler e me considero um estudioso naquilo que mais me interessa. Procuro de verdade. Experimento. Sei que não falta muito pro incerto. Esse ano faço 40. E dizer que isso não me fez seria uma puta de uma falta de aceitação da minha realidade. Os caras da academia pensam que sabem de tudo. Mas nem sequer compreendem seus alunos além da chamada obrigatória. Discuto sobre educação na sala de aula. E confesso que não me sinto nada atraído com a discussão. Se a mudança tá na cara. E é urgente. Então porque ainda perdemos tanto tempo discutindo?








CARNEIRINHO É PINTO!




- não fala desse jeito que eu te arrebento!
- porra nenhuma, tu é a maior conversa...
- quero ver você ficar sem dinheiro, vai... separa!
- você acha que eu tô com você por grana? Vai se fuder!
Ela perde a sua mão na cara dele. Dispara chutes até a porta de casa. Varre o lixo pra debaixo do tapete. Prepara um sopa bem quente. E dorme.








É ISSO AÍ




Posso até falar bobagens de um jeito bem sério
Vomitar futilidades cheio de segundas intenções
Mesmo sem achar a menor graça eu posso até rir
Só não me pedi pra fingir sobre o meu desinteresse escancarado









DOSE DA JANELA



Descansou sua dose no parapeito da janela. Mas não tirou o olho de seu combustível. Passagem pro nada. Tudo que ele mais queria naquele momento rotineiro. Matar o tempo com seus comentários internos sobre a vida dos que passavam lá embaixo. Não tão diferente do ontem. E sem se preocupar com o amanhã. - Seriam outros seres, não é mesmo? Pensou. Ligou a vitrola esquecida. Acelerou um vinil amarelado. Arriscou uns passos. Verificou o sinal. Sorriu da barbeiragem. Tomou seu gole. Descansou no parapeito. Foi a dose da janela. A última antes das próximas.









O LOBO



Pegou a estrada logo ao anoitecer. Dispensou o cochilo. Seguiu viagem. Na maior tranquilidade alcançou sua garrafa. Bebeu todas. Chaminé acesa por todo o percurso. Desviou dos buracos na imaginação. Deslizou sobre seus tombos. Sempre de pé na velocidade. Sagaz. Fatal. Nem sentiu a presença do lobo. Pará-brisa quebrado. Pedaço entortado. Julgamento. Pedido de perdão. Não viu nem a sombra do que acabara de atravessar. Parou. Desceu. Procurou. O resto vocês já sabem. Nunca mais voltou.








NEM TENTE!




a vida é pequena, a intolerância é perversa, o orgulho não te deixa olhar pra dentro, cheio de pré-conceitos de tudo, acadêmico, a vida é muito pequena, é um pedaço de uma coisa qualquer, bem maior, não tolero mais sua inveja, já tô batendo os pinos, tô fervendo, tôcemporcentosemnoção, o que mais me incomoda é sua capacidade incrível, quase impossível, de não alimentar discussões, sem coração talvez nos soaria menos clichê de sua parte, sou forasteiro, inquieto, e certo daquilo que me deixa feliz, também sou intolerante, orgulhoso, invejoso e te confesso que coleciono meus conceitos mais escrotos, no fundo nós somos bem diferentes, como na lápide de Bukowsky, nem tente!










quinta-feira, 16 de abril de 2009

MINHAS ESQUINAS




Tenho esquinas esquisitas perto de minha casa. Chego sempre com as sombras. Jogo o farol alto pra não entrar em nenhuma roubada. Sei que o destino não nos permite o evitar. Mas faço minha parte mesmo assim. Tenho uma faca debaixo do banco de meu carro. Carrego sempre. Atento. Pronto pra uma enfiada sem volta. Não tô nem aí. Faz parte de minha natureza. Da minha não, de toda a natureza de qualquer ser humano vivo. Costumo defender-me até a última possibilidade. O faço mais com as palavras. E sou rejeitado. Curto muito isso. Estou sossegado. Não coleciono possibilidades. Eu faço acontecer. Do meu jeito. Com as pessoas que amo. E não tô nem aí pra indiferença.









NA MINHA APENAS



não levanto bandeiras de idéias pré-concebidas
não faço nada por aqueles que não querem ajuda
não sou a solução de porra nenhuma,
não sou despedida
tento,
as vezes,
sem êxito,
contribuir,
mas nada embebido de culpa.









FORMAÇÃO DE PLATÉIA

Não. Até tentamos iniciar um movimento na porta do auditório, quero dizer, teatro do SESC, pra que todos os que estavam do lado de fora pudessem assistir ao espetáculo. Cara, o rapaz veio avisar que não podia vender ingressos, pra que o público que estava ali pra prestigiar o projeto, sentasse no chão. Sabemos que em qualquer lugar do país os ingressos são vendidos, inclusive para o chão, no corredor. Lá no Villa Lobos, no Rio de Janeiro, é assim. Você não fica de fora. E é um puta de um teatro do Rio. Pera lá...que coisa mais atrasada... Precisamos discutir melhor esse processo de formação de platéia no estado... Ninguém tá a nosso favor na real, sabe? Mas também, já dava pra imaginar que seria uma tarefa pra lá de Hercúlea.








MAIS UM POUCO SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO DA CIA. DO LAVRADO

Bom, vou ter que repetir um pedaço. É, tem gente que pode não estar acompanhando. A história é a seguinte, a Cia. do Lavrado resolveu que seria interessante termos registrado o processo de criação e elaboração do texto, ensaios e tudo mais, deste nosso próximo espetáculo. Eu me ofereci pra isso. Não que não existam outros integrantes aptos pra realizarem este relato, mas é que eu fiquei com um puta tesão nesse troço. Gosto muito de escrever. Até demais, às vezes penso assim. Então comecei a registrar tanto no meu blog, este que você lê, no blog dentro do site da Cia. do Lavrado e também em um arquivo de word, mais detalhado. Que puta vivência. Este detalhado registro poderá contribuir para o processo de desenvolvimento de grupos que venham a surgir a partir de agora na cena teatral Roraimense. Não gente, nós não temos a pretensão de ensinar como se deve fazer, longe disso. Faço teatro desde 1990 e até hoje conto poucos livros, artigos e outras coisas, que falem sobre o processo de criação em teatro. Existe muita coisa sobre exercícios. A mesma repetição de sempre. Percebe-se a transformação. A rasgada apropriação. Por isso é que acho de extrema importância este processo. Principalmente para a Cia. do Lavrado. Isso tá na cara, não é?








MONTE INVERTIDO



Invadiu a casa do escritor.
Tinha um copo de cerveja e um cigarro aceso na mão.
Burlou a sua intimidade.
Avançou.
Percorreu por todos os cantos desertos da casa.
Percebeu a sua determinação.
Desfilaram teorias.
Ouviram, em lamentos tortuosos, o processo da escrita dramática.
Trocaram informações.
Nada confidenciais.
Até sorriram.
Saiu da casa do escrivinhador direto pra construção do roteiro de seu novo espetáculo.
Foi preciso uma pausa Monte Invertido.









quarta-feira, 15 de abril de 2009

ENGOLINDO, PRODUZINDO...

Vejam bem, eu não sou nenhum criador de caso porra nenhuma como dizem por aí. Mostro minha goela quando acho que tão querendo me enrolar. Não é nada pessoal com aqueles que estão à frente do poder público e privado, ligados a cultura no estado de Roraima. E os grupos de teatro também não escapam. Falo porque acredito que as coisas podem sempre melhorar. E pra todos. Quero muito que a Cia. do Lavrado cresça e se dê muito bem, mas jamais poderia deixar de pensar no coletivo que também rala pra caraio nesse injusto processo de formação de platéia aqui no estado. Mas não deixo de dizer o que penso. Acabei de entrar no site do SESC pra saber o horário do espetáculo do Palco Giratório, que não estava lá, e dei de cara com uma manchete bem escrota, me desculpe o meu amigo que escreveu, mas essa você deu mole:
Vai começar o grande giro pelo teatro de Roraima.
Porra nenhuma! A Federação de Teatro de Roraima - FETEARR, que não fazemos mais parte, já deu esse pontapé como a sua II Mostra de Esquetes realizada no mês passado. Quando eu digo que os caras não nos valorizam, neguinho não acredita. Não tenho nada contra ao cara que está à frente da cultura lá no SESC. Nem o conheço pessoalmente. Nunca tomamos uma cerveja ou algo parecido. Sei lá, um café, um leite... Não posso dizer que não é um cara bacana. Simplesmente não o conheço. O que é uma pena. Reclamo sim, das propostas que o SESC encabeça pro teatro de Roraima. São coisas absurdas como por exemplo, cobrar 30% dos espetáculos do valor total arrecadado em cada bilheteria, em cada dia. Porra, o auditório com cara de teatro? Quero dizer, no teatro que eles acabaram de construir por aqui? Isso é muito injusto. Contradiz completamente o discurso de incentivo à formação de platéia e apoio aos grupos locais. Mas vamos lá, cara, a FETEARR realizou a sua mostra. Nem sei dizer se foi bacana ou não. Não assisti. Tava com o café aberto nos dois dias. E o CAFÉ COM IDÉIAS funciona dentro do local onde teve a mostra. Ouvi comentários bons, outros ruins e até cheguei a assistir a um pedaço de uma fuleiragem, mas isso não vem ao caso. Estamos falando de teatro. E aquilo que vi não devemos levar em conta. Isso é fato. O que me deixa puto é que o SESC foi um dos apoiadores dessa mostra. E agora me vem com essa chamada imensa no site deles? Olha, não devo nada a ninguém. Não vivo na porta dos outros implorando por viagens, resultados em editais, e essas coisas humilhantes. Não sou santo também, mas não sei enfiar a faca nas costas dos outros. Sei lá, acho que é índole, ou criação da minha família louca e completamente desregrada, mas feliz. O povo de teatro daqui não sabe o poder que tem. Cansei de falar isso nas reuniões da FETEARR. É um absurdo uma federação, que tinha apenas seis grupos, deixar um, indepedente de qual, sair fora. O movimento de teatro em todo o Brasil cresce e com muitas farpas. Muitas divergências, mas meu amigo, se existem inimigos, com certeza não somos nós da Cia. do Lavrado. Acho até esse discurso de inimigo baixo-astral de mais. Hoje, tá a maior dificuldade do SESC nos convidar pra algo. Nos excluíram do processo. Até estranhei quando nos convidaram, um dia antes pra participarmos da oficina do palco Giratório. O SEBRAE, que chegou também todo bem intencionado, depois de anos excluindo a cultura, também nos excluiu. Simplesmente porque não fazemos mais parte da FETEARR. Agora, o que é mais importante, fortalecer a FETEARR ou os grupos de teatro como um todo dentro do estado? Nada disso, o mais importante são os relatórios... Existe um puta grupo de Teatro em São João da Baliza, o REVERBEL, no interior do estado de Roraima, que também foi excluído desse processo. Se o SEBRAE tivesse o interesse mesmo de agregar, capacitar e contribuir de fato com o teatro em Roraima, bem que poderiam ter criado um mecanismo pra trazer os moleques pras oficinas. É, porque dinheiro rola, e todo mundo sabe disso. E quem tá lá articulando, quero dizer, puxando, vai até ministrar oficina. Bom, é isso. Estamos fora da FETEARR, mas os caras deram o primeiro passo este ano. Isso eu não posso negar. O que falta pra valorizarem de fato os grupos que fazem teatro no estado de Roraima? Vamos em frente. Engolindo, produzindo, engolindo, produzindo....






QUEM SABE EM UMA OUTRA OPORTUNIDADE...

Acordou às dez da manhã. Desistiu de levantar da cama por um momento. Olhou pro teto do quarto e toda a sua dimensão entupida com teias de aranha. Pensou em faxinar. Ligou o som. Ouviu Autum in New York. A voz calma da Billie não o ajudou em nada no processo de levantar e cair na vida. Coçou as malditas picadas dos monstros que o banqueteiam todas as noites. Mesmo com ar condicionado e ventilador, os desgraçados o detonavam sem nenhuma piedade. Pegou a lixa no criado-mudo e deu um jeito nas pontas dos dedos amarelados. Lembrou de um amigo que tem um sol em cada dedo indicador e polegar de suas mãos. Não gostava desta aparência bandeirosa. Sentou-se na cama. Pensou em tomar um café. Mas precisava prepará-lo primeiro. Então, desistiu. Dobrou o lençol ainda deitado, com toda meticulosidade de um dorminhoco profissa. A casa estava um silêncio. Não ouvia os cachorros, os morcegos do forro, e nem mesmo a mulher com suas novidades sem vírgulas. Acendeu um cigarro. Sem culpa, pois não costumava comer nada pela manhã. Fumou com André Cristóvão. Puta bluseiro. Aventurou-se com Bukowsky. Não sabia o por que, mas não conseguia terminar o tal do Hollywood. E mais uma vez não foi em frente. No máximo duas páginas. Olhou novamente a construção lenta das aranhas. Encontrou semelhança com sua existência. Não encontrou nenhum motivo pra se levantar. Deitou novamente. Desligou o som. E dormiu (Quem sabe em uma outra oportunidade...).






TUDO MAIS

Tô cada vez mais enrolado na Universidade Federal de Roraima. E todo semestre é sempre a mesma coisa. Um monte de coisas pra fazer. A maioria sem um horário certo, sabem, é de manhã, de tarde, de noite e de madrugada. Meu tempo é todo tomado. Sem falar nas viagens. Só esse semestre já fui pra três municípios de Roraima, pra ministrar oficinas de teatro de bonecos na prevenção às DST/Aids, pra Bahia no encontro do ex-tinto REDEMOINHO e semana que vem vou para o Rio de Janeiro participar do V Encontro de Articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua - RBTR. Eu confesso que até tento fazer melhor, mas não tem jeito, o desgraçado do acaso me pega legal. Já reprovei três vezes em Literatura Brasileira II por conta disso. Tô quase jubilado. Essa semana tô cheio de trabalho pra entregar. Na segunda já comecei não entregando o primeiro. Faltei a aula anterior pra trabalhar no roteiro do novo espetáculo da Cia. do Lavrado. Não dá pra me reunir em apenas duas horas, e aí acabamos trabalhando durante quatro horas sem parar. Não peguei o trabalho, não liguei pra ninguém. Dei mole mesmo. Na terça era pra apresentar um trabalho de pesquisa. A professora de Literatura Portuguesa pediu dez linhas de cada filósofo, pensador que ela indicou. Eram seis. Porra, não dava mesmo pra eu ir na biblioteca pesquisar. Eu pesquisei tudo na internet. Tô sabendo da vida dos caras, mas o fato é que não entendi nada quanto a execução do trabalho, se podia pegar na internet, por que então ela pediu que escrevêssemos dez linhas para cada filósofo? Com a caneta? Não fez sentido pra mim. Mas o conhecimento tá adquirido. Acabei entrando no MSN nesse dia e conversando com meus pais, e lá se foi mais uma disciplina sem trabalho. Hoje eu até consegui concluir todo o trabalho de Prática de Ensino em Língua Portuguesa, mas o maldito do cartucho colorido acabou a tinta. Isso depois de eu ter ido comprar o preto, lógico, tava funcionando o de cor. Na hora que coloquei o colorido, infelizmente não funcionou mais. Bom, meu óculos quebrou e precisei consertá-lo. Decidi fazer isso bem na hora da aula, compreensível, pois não enxergo nada sem ele. Aproveitei e fui soldar o óculos escuro. É, tava quebrado também. Eu uso muito o óculos escuro. Já me mandaram até procurar um psicólogo por causa disso. Já falei disso aqui. Tem gente que se incomoda com meu óculos escuro, acreditam? Pronto, como faltavam apenas uma hora e meia, avaliei que não iria dar tempo de ir à aula. Mais bomba. Pelo visto vou fazer esta faculdade em 6 anos. Quer saber, pra quem entrou na Universidade com mais de 37 anos, não dá nem pra esperar muito, certo? - Pressa pra quê, Marcelo? Disse isso uma amigo, que é músico e que também tá terminando o mesmo curso e entrou também com mais de 35 anos na federal. Pra alguns, devagar também é pressa. Não dá pra tumultuar minha cabeça desse jeito. Tenho uma pá de coisas pra fazer, é texto pra escrever, é texto que tô escrevendo, é espetáculo que ainda não tem nem a primeira cena e nem o texto. A estréia vai ser em Julho. Tenho blog pra atualizar, site da Cia. do Lavrado, o café pra tomar conta pela manhã, e que já começa a aumentar a sua frequência. Sem falar nas obrigações do casamento, que estão incluídas a casa e os cachorros. E toda a sorte e azar que eles carregam. Não o casamento, pera lá. Resolvi voltar pra casa e matar o tempo lavando roupas, a louça, os carros, os cachorros. É isso. Lavei geral mesmo. Logo mais devo ir ao teatro. Palco Giratório, um grupo, acho que de Santa Catarina. Vamos torcer que eu consiga lavar minha alma mais tarde durante o espetáculo, sim, porque molhada ela já tá mesmo. Tin-tin!









terça-feira, 14 de abril de 2009

SENTIDOS



Ligou o som do carro.
Fechou as janelas.
Cantou.
Desligou-se por um instante.
Abriu a porta e flutuou.
Seu corpo já não era o mesmo.
Tentou achar o chão.
Impossível ato naquela situação.
Cavou no ar.
Mergulhou.
Deu de cara numa nuvem.
Tragou.
Estabacou-se.
Viajou.
Acordou...






segunda-feira, 13 de abril de 2009

MUNDO VIRTUAL

Esse negócio de site e blog dá um puta de um trabalho. Mas como diz o meu amigo Ivan Andrade, que criou o site da Cia. do Lavrado, as pessoas só acessam sites e blogs atualizados. Então, fazer o quê? Tô desde a hora do almoço e sem almoço atualizando o site da Cia. do Lavrado. Ele tá chegando lá... Já coloquei quase todos os nossos trabalhos realizados. Faltam ainda os currículos e algumas fotos e essa pedrada vai ficar com o Ivan. Se você entrar no site agora, vai ter muitas novidades. Esss dias um amigo lá do Rio de Janeiro, que é palhaço, me convidou pra entrar na REDE CULTURA, que é uma rede virtual que discute, principalmente, a cultura que rola lá no Rio. Entrei. Não resisito a esse mundo virtual. Lá vou eu abrir mais uma página quando acessar a internet. E é sempre assim, ligo o computador e acesso. Aí vem Yahoo (pessoal e o da Cia. do Lavrado), Gmail, Orkut, Sextas Crônicas, Cia. do Lavrado, MSN, sites ligados ao teatro e a cultura, blogs e sites de pessoas que curto a escrita, e por aí vai...não consigo entrar na internet e sair logo. Se eu não tiver tempo, nem entro. Então, como eu disse antes, nem almocei ainda. Vou atrás de uma paçoca lá do nosso café. A essa hora não rola comer pra caraio, certo?







sábado, 11 de abril de 2009

ENSAIOS NA PRAIA GRANDE

Todos os espetáculos de rua da Cia. do Lavrado sempre teve luz. Luz branca, básica. Nós temos um estrutura pequena com pelo menos 14 refletores, duas torres e algumas gelatinas. Sempre foi a maior função carregar isso tudo pras ruas, se bem que nas ruas a gente sempre usou apenas 4 refletores. Na nova produção da Cia. do Lavrado resolvemos abolir os refletores. Isso mesmo, vamos levar as torres e colocar tochas. Não é porque dá trabalho levar pras ruas esta estrutura, é escolha mesma. Apesar da nossa história não se passar na Grécia, e sim em um país fictício, que poderia muito bem ser a própria Grécia, resolvemos fazer diferente de todos os nossos outros processo. A luz da rua já ilumina bastante e acreditamos que as tochas vão dar um clima bem interessante pra trama. No projeto do Pathelin, de 2006, construímos um palco. Era foda levá-lo pras ruas, mas quando armado ficava bem legal. Arrumamos problemas pra resolvermos. Todos os nossos trabalhos sempre arrumamos muitos problemas. No espetáculo O Pastelão e a Torta tinha uma estrutura de PVC que era foda de montar, mas quando a casa armada, ficava bonita pra caraio. É isso, vamos ver no que vai dar. Ontem, no luau tivemos a idéia de ensaiarmos o espetáculo, pelo menos uns dois dias, na Praia Grande. Só com as tochas. Na beira do Rio. Vai ficar muito massa. Vamos buscar esse clima do espetáculo. Tudo escuro, apenas as tochas a iluminar a cena, o rio, a areia...muita coisa legal poderá surgir neste processo. Vamos ver. Depois coloco aqui o resultado desta experiência.








LUAU DEZ


O luau foi bom demais! Que lua maravilhosa, muito vento pra espantar os mosquitos, peixe, amigos e uma fogueira que ficou acesa até às 8 da manhã. Organizamos tudo na maior correria, mas deu tudo certo. O outro lado do Rio Branco é lindo. Não faltou nada e nem ninguém. As pessoas que eram pra estar lá, estavam. E todos se divertiram muito. Agora, vamos cair na real e continuar os ensaios. E hoje tem ensaio. Então vamos lá.














sexta-feira, 10 de abril de 2009

CARTA DA RBTR


Essa foi a carta tirada no IV Encontro de Articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua, que aconteceu em São Paulo, no fim de 2008 e que a Cia. do Lavrado participou. Não me lembro de ter postado aqui, mas vamos lá.

A Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA, é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela podem e devem ser seus articuladores para, assim, ampliar e capilarizar, cada vez mais, suas ações e pensamentos.O intercâmbio da Rede Brasileira de Teatro de Rua ocorre de forma virtual, entretanto toda e qualquer deliberação é feita nos encontros presenciais, sendo que seus membros farão, ao menos, dois encontros anuais. Os coletivos devem se organizar para enviarem articuladores para os encontros presenciais. O papel de cada integrante é ampliar a rede através da criação de movimentos regionais de teatro de rua, bem como da manutenção dos já existentes.A missão da Rede Brasileira de Teatro de Rua é lutar por políticas públicas de cultura com investimento direto do Estado em todas as instâncias: Municípios, Estados e União. E para garantir o acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasileiros a Rede Brasileira de Teatro de Rua tem por objetivo promover também a produção, difusão, formação, registro, circulação e manutenção de grupos de teatro de rua e de seus fazedores, construindo assim um país mais justo. Os articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua dos estados AC, AM, CE, BA, ES, GO, MA, MG, PA, PE, PR, RJ, RR, RN, RO, RS, SC e SP reunidos nos dias 14, 15 e 16 de novembro de 2008, em São Paulo, no 4º Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua, vêm através deste documento, afirmar ações e propostas, exigindo assim:· A representação do teatro de rua, no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC);· A representação do teatro de rua, no Colegiado Setorial;· A aprovação e regulamentação imediata da PEC 150/03, que vincula para a cultura, o mínimo de 2% no orçamento da União, 1,5% no orçamento dos estados e Distrito Federal e 1% no orçamento dos municípios;· O direito de indicação de representantes de teatro de rua nas comissões dos editais públicos;· A extinção da Lei Rouanet e de qualquer mecanismo de financiamento que utilize a renúncia fiscal, por compreendermos que a utilização da verba pública deve se dar através do financiamento direto do estado, por meio de programas e editais em forma de prêmios elaborados pelos segmentos organizados da sociedade; · A criação de um programa específico que contemple: produção, circulação, formação, registro, documentação, manutenção e pesquisa para o teatro de rua;· A criação imediata de um edital para a circulação de espetáculos de teatro de rua, constituindo-se assim um circuito nacional de teatro de rua;· Que os espaços públicos (ruas, praças e parques, entre outros), sejam considerados equipamentos culturais e assim contemplados na elaboração de editais de políticas públicas e no Plano Nacional de Cultura;· A extinção de toda e qualquer cobrança de taxas, bem como a desburocratização para as apresentações de teatro de rua garantindo assim o direito de ir e vir e a livre expressão artística conforme nos garante a Constituição Federal Brasileira no artigo 5º;· A criação de um programa nacional de ocupação de imóveis públicos ociosos, para sediar o trabalho e a pesquisa dos grupos de teatro.O teatro de rua é um símbolo de resistência artística, comunicador e gerador de sentido, além de ser propositor de novas razões no uso dos espaços públicos abertos. Assim, conclamamos a todos os artistas-trabalhadores e a população brasileira para a mobilização nacional da Rede Brasileira de Teatro de Rua, no dia 27 de março de 2009, no intuito de construir políticas públicas para esta arte.
São Paulo, 16 de novembro de 2008.

Rede Brasileira de Teatro de Rua










LUAU NA PRAIA GRANDE

E hoje a boa é o luau que vamos realizar lá do outro lado do Rio Branco, na Praia Grande. Como o rio tá bem cheio, talvez o luau aconteça lá pra dentro, nas ilhas escondidas que formam com a maré alta. Como foi resolvido em cima da hora só deu pra divulgar agora. Bom, só pra registrar mesmo, mas quem estiver conectado, iremos atravessar às 19:30, lá pelo Restaurante Marina Meu Caso. Não é festa, então leve sua birita. Vai ter peixe assado na fogueira e outras coisitas. A princípio terá umas 15 pessoas. Pra atravessar custa R$ 4,00, até 7 da matina. E vai ter violão até de manhã...









REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA




A Cia. do Lavrado estará presente neste encontro. Viajo como articulador da Rede Brasileira de Teatro de Rua. Vamos lá contribuir e trazer muita informação pro estado. Participamos da última reunião do extinto REDEMOINHO e confesso que muito me assusta esta possibilidade, mas como nada dura pra sempre, vamos fazer o impossível pra colaborarmos para a vida longa desta Rede. Na volta faço o relatório por aqui, como sempre a Cia. do Lavrado tem feito.










terça-feira, 7 de abril de 2009

ROSAS VERMELHAS AO CHÃO


eu vejo um corpo
enforcado no armário
e rosas vermelhas
jogadas ao chão
eu vejo uma fila
na porta do quarto
pessoas com corpos
faltando pedaços
arrastam correntes
me pedem oração
eu surto um bocado
com esta aparição
meu Deus o que faço
essa é de matar
me arranca esta corda
alguém quer me enforcar








sábado, 4 de abril de 2009

ENSAIOS DO PRÓXIMO PROJETO

Então, como disse no post anterior, estamos vivenciando um puta processo de elaboração do nosso próximo texto. A meta é finalizarmos os ensaios em Maio, mas pelo visto, acredito que vamos atrasar um pouco, quer dizer, vamos estar prontos em Maio, mas o espetáculo deverá continuar em longo processo de mudança. Me comprometi em registrar todo este processo, que é ímpar dentro da Cia. do Lavrado. Resolvemos pegar um texto da antiguidade clássica e adaptarmos à nossa realidade. O fato é que o processo de trabalho acabou por nos pegar de um jeito muito esquisito. Já era pra estarmos montando as cenas, mas como resolvemos mudar tudo, estamos até um pouco atrasados. Na verdade, nem temos o texto ainda. Loucura não é? Estamos fazendo aulas de expressão corporal, vocal e musical e discutindo muito. A história tá amadurecendo em cada ensaio. E será montada através da improvisação dos atores. Acredito que vai ficar um trabalho bem legal, mas ainda não posso dar pistas, pois nem eu que sou um dos diretores sei bem ao certo que faremos. Tá confuso. Mas tá bom demais. A idéia é dar uma cara de quadrinhos dentro do universo do Aristófanes, manter o conflito principal de Lisístrata e direcionar as ações para nossa realidade. Tá foda! Quem disse que fazer teatro é moleza? Vai se fuder cara! É pauleira de verdade, mas o prazer em compensação é inexplicável... Penso nas pessoas que passaram por este processo e não concordaram em ficar. Acredito que ficaram horrorizadas com a possibilidade de discutirmos a greve de sexo em pleono estado provinciano. Se fuderam, perderam legal!








FREE

Esse meu hábito de escrever as vezes me surpreeende. Na década de 80, lá no Rio de Janeiro, eu andei com uma turma de pichadores, hoje são chamados de artistas do Xarpi. Na verdade eu não tinha uma marca. Saía com todo mundo, mas era mais na maluquice, sebe como é, enchiamos a cara e rabiscávamos os muros da Cidade Maravilhosa. Cada vez eu botava um nome diferente. Gostava mesmo é da adrenalina... Não tô aqui pra julgar esse ato, lógico que hoje eu detestaria encontrar o muro da minha casa pichado, mas era divertido pra caralho, mesmo levando tiro de seguranças de fábricas, correndo da joaninha da polícia, sim, era assim que era chamado o carro da lei. O fato é que muitos anos depois resolvi escrever uma crônica sobre aquela época. Lembrei-me de uma menina que pichava FREE, ela era muito famosa. A menina mandava mesmo em qualquer lugar. Na cidade toda não tinha um canto sem o xarpi dela. Bom, quando resolvi escrever sobre pichadores, não pude evitar de usar aquela época como fonte. O legal é que além da crônica, a FREE também entrou na minha última peça, Apenas um Blues e uma Perede Pichada, no qual dei o nome de uma das personagens de FREE. Outro dia eu recebo uma mensagem no meu blog de uma mulher que disse receber a minha crônica através de um amigo, que achou a história da personagem muito parecida com a dela. Engraçado é que eu nem conheci a FREE. Dei o nome e coloquei situações que na verdade eu mesmo vivi. A mulher se identificou e se comunicou comigo. Louco não é? Essa época que eu retrato é mais ou menos 1986/89, sei lá, algo assim. Ela se comunicou comigo novamente e deixou o telefone, mas como hoje eu moro no estado de Roraima, fica difícil ligar pra celular do Rio. Mas quer saber, essa situação é tão doida que é bem provável de eu ligar pra ela. Quero ouvir a voz da inspiração de minhas personagens. Engraçado, quando eu morava no Rio não tive a oportunidade de conhecê-la, e agora depois de mais de 20 anos, talvez a conheça. Esse barato de literatura cada vez me pega mais. É isso. Ei, FREE, me manda o teu e-mail, certo? Quero muito trocar uma idéia contigo.









quinta-feira, 2 de abril de 2009

ABSURDÓPOLIS

Já faz tempo que deixei de lado a paranóia de ficar percebendo o comportamento manipulador dentro da sociedade, em seus diversos segmentos. Todo mundo manipula. Não dá pra negar diante de um argumento tão forte como esse. Somos manipuladores e ponto final. O fato é que tem neguinho que manipula na maior cara dura. Tem outros, mais discretos, usam e abusam do seu poder de manipulação pelas costas. Olha, meu irmão, tem uma gente mais foda, que manipula todo um coletivo em pleno público. Passa na cara o atestado de servidão pros bonecos. Vivemos em um estado que poderia muito bem se chamar Absurdópolis, como diz uma amiga.