quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A LENDA

Levantou a cabeça irado com toda aquela demora. Observou que os outros ainda mantinham as suas abaixadas. Respeito demais pro seu gosto. Um medo incalculável de tudo aquilo que era desnecessário. Ninguém queria ser repreendido e passar o resto do dia com fome. Essa era a ordem geral. Ele já não agüentava mais. Sempre o mesmo ritual. Abaixar a cabeça e esperar. Não. Estava decidido a tomar uma atitude para mudar aquele fato. Chamou o seu superior como se ele fosse o seu subalterno. Exigiu providências. Inflamou todo o refeitório com palavras revoltosas. Mas as cabeças continuaram apontadas para baixo. Os pratos foram servidos. Menos o dele. Durante a refeição ninguém teve a coragem de olhar na sua cara. Todos já sabiam do seu triste fim. Levantaram-se e em fila, recolheram-se. Ele ficou lá. Somente com os guardas invocados. Passou a noite no alto de um morro pregado em uma cruz. Virou uma lenda católica.



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HELENA

Completou com o velho uísque seu último gole de café requentado. Bebeu de uma só vez. Sem concessões. Nem fez cara feia. Pegou as chaves de casa, a capa de chuva e colocou Helena nos braços. Dirigiu-se ao elevador e pacientemente esperou. Demorou um bocado a resposta. Acendeu um cigarro pelas sobras do tempo não calculado. E demorou mais um pouco. Acariciou Helena por uns instantes, de um jeito assim bem explícito. Resolveu zarpar pelas escadas. Oito andares quase sem fim. Isso não seria um problema se não estivesse acompanhado. Ela era pesada demais. Quando estavam atracados, parados, a coisa rolava que era uma beleza. Helena gemia barulhos infernais. Deixava qualquer um enlouquecido. Era tudo que ele precisava na vida. Depois de muito sufoco e cuidado para não machucá-la, ganhou a rua. Acenou para um táxi. E nada. Se estivesse em Nova York, até teria entendido, mas... mesmo assim tentou outro. E nada. As horas brincavam com os restos de sua paciência. Eles não podiam perder aquele trabalho. E não perderam. Chegaram no topo da hora. A casa lotada. Gente saindo pelo ladrão. Fumaça por todos os cantos. Ele e Helena dirigiram-se ao palco. A banda já estava por lá. Ele despiu sua dama. Apoiou-a em suas pernas. Um calor infernal. Meteu a vara sem a menor cerimônia. Em público. Helena gemeu sem parar. Sem reclamar. Levaram a platéia ao êxtase total. Chegaram em casa pela manhã. Aos tropeços. Ele, bebaço. Ela, amarrotada. Jogou seu violoncelo, a Helena, na cama. Empurrou alguns comprimidos goela abaixo e caiu pregado no chão. Quase apagou como a linda Monroe.




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E OS DIAS PASSAM...

A vida é uma legal. Entendo que nem sempre, ou quase sempre não fico satisfeito com porra nenhuma. Mas a vida nos dá amigos. Amigos que nos acalmam em momentos turbulentos. Amigos que não nos culpam. É tudo muito esquisito. Sempre fico muito grilado com a calmaria. Preciso da turbulência. Sempre. Preciso me sentir a todo momento. Não quero estar certinho com nada, e nem concordar com a maioria. Corro que nem cão da carrocinha desse discurso de unanimidade. Levei pedradas e muitas doses equivocadas, mas tô de pé. Vou em frente. Tem vezes que o melhor é esperar a tempestade acalmar...tudo muda, cara, sempre. Valeu Foz do Iguaçu!





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terça-feira, 13 de outubro de 2009

PRIMEIRO LUGAR NO YAMIX

No último domingo, a Cia. do Lavrado foi à Pacaraima, município do estado de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, para participar da II Mostra de Arte Universitária - YAMIX, realizada pela UERR - Universidade Estadual de Roraima e pelo Governo do Estado de Roraima. No ano passado participamos da primeira edição com o espetáculo Homens, Santos e Desertores, de Mário Bortolotto e fomos os vencedores da categoria Teatro. Este ano apresentamos Absurdópolis, que nos perdoe Aristófanes, de Graziela Camilo e Marcelo Perez e mais uma vez vencemos.
O YAMIX é um evento extremamente importante para o nosso estado. Uma grande oportunidade para os estudantes universitários apresentarem as suas produções artísticas. Além do teatro, ainda tivemos a poesia, artes plásticas, música, dança e audiovisual. Foram três dias de evento e penso que no próximo ano deveria ser uma semana direto. Uma semana de artes com muito mais estudantes inscritos. Na noite de domingo, a Cia. do Lavrado teve o grande prazer de apresentar sua nova produção para mais de 400 pessoas. Um público diverso e sedento por cultura. Apesar das poucas inscrições na categoria Teatro, valorizamos muito a premiação, pois demos o maior duro para viajarmos juntos, investimos o que nem tínhamos para investir, encontramos um público maravilhoso e que nos recebeu muito bem e de quebra ainda passamos o feriado juntos, nas cachoeiras de Santa Helena de Uiarén, na Venezuela. Vamos torcer para que no próximo ano tenha mais YAMIX, se depender da Cia. do Lavrado, com certeza terá.




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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O PENSAMENTO BOMBA

Na última segunda ele chegou tão cedo, que ainda deu tempo de surpreender a lua. Ficou do lado de fora por mais alguns instantes. Acreditava mais na compreensão da lua, do que na sinceridade aplacada do sol. Escolheu um muro, o mais alto e sem nem perder tempo, verticalizou. Ficou lá, sossegado. Pensou nas coisas que movem a realização dos desejos. Do tudo capaz. E não gostou nenhum um pouco daquilo pensado. De repente, uma luz tão forte e seguida de um puta de um estrondo invadiu a sua tela...




...o pensamento bomba.
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

PEDAÇOS QUE VOCÊ NÃO VIU




somos pedaços de promessas mentidas
somos a vida, tem dúvidas?
sem a menor pretensão dos riscos
com todos os entraves possíveis





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SR. HONESTIDADE




fiz até o catecismo
jurei a maior fidelidade
devolvi o troco incrivelmente errado
mas não consegui ser o sr. honestidade






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ISSO




sou tantos e sem o menor sentido do tudo
sou pranto
sou risos
esquisitamente sou isso






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SOLUÇÕES SEM SENTIDO




caiu cinza na minha beer
misturei ao sexo sem nexo
sou alcóolico e sem jeito
sou pedaço quebrado de qualquer solução





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BRECHT





e Brecht já sabia das manhas
quem é perseguido sabe disso
precisamos das partes extras
somos totalmente incompreensíveis





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ATENÇÃO NOS OPOSTOS




sei de todos os machucados
sou ferido faz séculos
embriagado nos átomos do mínimo possível
sinto que não estou atento...






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BOTEI FÉ




sinto que já não sou
nunca fui ao certo
marquei pelas dez
valores incaçapáveis
tentei até me enganar
perdi com os brios detonados
a honestidade está além dos meus hábitos
não sou o certo e muito menos o errado



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ESPETÁCULO



CRIART TEATRAL


Espetáculo: Em Busca De Um Desejo
Local: Palácio da Cultura
Hora: 18 horas
Dias: 11,12,18 e 25 de Outubro.
Ingressos: 10 e 5 reais.

Não Deixe de Ir!!!!!





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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SOBRE O PRÊMIO...

Acredito em todos os contemplados da região norte, assim como acredito que no estado de Roraima existem bons projetos também. Não consigo enxergar outra razão, senão política, o que é uma pena, pois a região norte, historicamente, já é bastante excluída do resto do país e agora excluir um dos estados da região...complicado. Para a Cia. do Lavrado, que é um grupo com pouquísimos recursos, que sobrevive em um estado com poucos investimentos no teatro por parte do poder público e privado, esse prêmio era fundamental. Atualmente, seria a única oportunidade de circularmos por todos os municípios do estado de Roraima com o espetáculo A Farsa do Advogado Pathelin, o que não será mais possível. Mas tudo bem, nada melhor do que um dia após o outro e a roda gira, meu irmão...ainda estamos de pé.




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PRÊMIO MYRIAM MUNIZ DE TEATRO


A Funarte divulgou a lista de projetos contemplados pelo Prêmio de Teatro Myriam Muniz 2009. Foram selecionados, nas cinco regiões brasileiras, 86 projetos, que vão receber entre R$ 40 mil e R$ 150 mil. Em breve também será anunciada uma relação de suplentes. Eles serão beneficiados com a verba suplementar de R$ 7 milhões que o Ministério da Cultura destinará à Fundação. Esta edição do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz teve um total de 2.053 inscritos, entre companhias, grupos, empresas, associações, cooperativas e, pela primeira vez, artistas independentes.

Nove especialistas em teatro participaram da comissão julgadora: Walter Lima Torres Neto (PR), ator e diretor teatral; Lindolfo Alves do Amaral Filho (SE), mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia e professor de Licenciatura em Teatro, na Universidade Federal de Sergipe; Ruth dos Santos Almeida (RJ) , produtora cultural; Anderson Carlos de Lima (MS), ator e iluminador cênico; Jorge Luis Vermelho Moro (SP), ator e diretor artístico; Lenine Barbosa de Alencar (AC), ator, diretor teatral e produtor cultural; Michelle Nascimento Cabral (MA), atriz, diretora teatral, acrobata e mestre em História Comparada pela UFRJ; Luiz Ekke Moukarzel (SC), produtor cultural; e Guilherme Perpetuo Marques (MG), ator, diretor teatral e produtor cultural. Foram analisadas a excelência do projeto, a qualificação dos profissionais envolvidos e a viabilidade prática das ações propostas.

Todos os estados da região norte foram contemplados, com excessão do estado de Roraima. Foram 07 prêmios para o PA, 02 prêmios pro AC, 04 prêmios pro AM, 01 prêmio pro AP, 01 prêmio pra RO e 01 prêmio pra TO.
Infelizmente deixaram de fora o estado de Roraima.



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domingo, 4 de outubro de 2009

ABSURDÓPOLIS NA PRAÇA DAS ÁGUAS


Marcelo Perez (Bentinho)
Foto: Weliton Calmon


Mais de 300 pessoas. A apresentação da Cia. do Lavrado, ontem, na Praça das Águas, em Boa Vista, Roraima, foi muito bacana. Chegamos na praça de mansinho, duas horas antes e procuramos o melhor lugar para nos apresentarmos. Melhor iluminação, poucos eventos, e maior concentração de público. A Praça das Águas está muito disputada. Hip-hop, evangélicos, carros de som, tem de tudo. Encontramos um lugar super aconchegante, próximo da praça de alimentação e que nunca estivemos por ali. Um lugar pequeno, que permitiu deixar nosso público mais aconchegado, mais próximos de nós. Conseguimos formar uma pequena roda. Muita gente. Foi muito bom! O espetáculo rolou da melhor maneira possível, sabemos que precisamos trabalhar mais algumas cenas, que ficaram fora de ritmo, mas o público, na sua maioria leigo destes detalhes teatrais, adorou o espetáculo apresentado. O religioso chapéu nos rendeu R$ 50,00, dez a mais do que na estréia. E detonamos tudo em pizza. É isso, no próximo fim de semana estaremos em Pacaraima, na Mostra de Artes Universitária - YAMIX, na fronteira com a Venezuela. Estão todos convidados.






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HOMENAGEM AO SURFISTA CALHORDA

Estacionou o pequeno fusquinha amassado num mísero espaço entre duas caminhonetes. Saiu pelo teto solar. Olhou para o mar e avistou altas ondas. Poucos surfistas na água. A areia lotada. Todos com muito medo da ressaca de Janeiro. Minúsculos homens desmaiados arremessados de volta. Mar revoltoso demais. Desamarrou sua prancha rachada e se mandou do calçadão. A cada passo que andava, ouvia o povo sussurrar:
- olha, lá, é o Madeira!
- é mesmo, irmão, acho que o minhoca do Madeira vai cair!
- ele disse que era a despedida da sua rachada!
E assim foi, até que ele chegasse à beira da água. Repousou a prancha, que já tinha idade, muitos campeonatos vencidos e muitos mares alucinantes nas costas. Sentou-se. Alongou-se. O mar gigante assustava até salva-vidas. Molhar os pés era mais do que gesto arriscado. Nenhum homem havia conseguido entrar, pegar uma onda e voltar à praia. Eles nem conseguiam chegar à arrebentação, o que dirá descer em alguma nervosa daquelas. Iniciou o ritual de costume. Em sua volta o tumulto já se formava. Olhou para o mar. Olhou para as pedras. Agarrou sua prancha e caminhou até lá. Ninguém entendeu. Imaginaram uma fuga, sem êxito, mas era apenas coragem na beira da água. Estratégia jamais pensada por outros surfistas. Pulou da pedra maior. Caiu depois da arrebentação, meio sem jeito, quase sem controle da situação. Chegou ao topo da maior e atirou-se sem frescuras. Um mergulho em pé. Lado a lado com sua guerreira. Espatifaram-se na água. Não dava para ter muita orientação. Precisava afastar-se da parede de pedras ao seu redor e torcer para que nenhuma onda o arremessasse contra elas. Pulou em cima de sua prancha e remou desgastantemente até parar. Já estava no pico da seqüência e sabia que com a próxima viriam mais nove. Não podia perder a chance. O vagalhão aproximou-se. Ele remou incessantemente. Foi ao cume. Despencou sem rezas. Sem pedidos de perdão. Cem vezes mais do que jamais sonhara. Chuveirada na cara até clarear. Adrenalina. Entubada na beira do abismo. Paraíso. Na areia, o povo gritava diante do sumiço do Madeira. Levou um tempo engolido, até ser regorgitado aos pedaços. Cut back daqui, Aéreo dali, e assim chegou ao final. Saiu do mar em silêncio. Cavou um buraco e enterrou sua prancha. Ficou ali, sem trocar palavras, somente exausto e com a alma lavada. Saiu com seu fusquinha arrastado a dois carros. Não tinha forças mais forças para separar os espaços.








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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

NESTE SÁBADO

Adrya Mayara (Tereza)
Graziela Camilo (Joana)
Foto: Michele Saraiva


ABSURDÓPOLIS, QUE NOS PERDOE ARISTÓFANES
(Baseado na obra Lisístrata, de Aristófanes)

Texto: Graziela Camilo e Marcelo Perez
Argumento: Cia. do Lavrado
Direção: Graziela Camilo, Marcelo Perez e Renato Barbosa


Elenco:
Adrya Mayara
Graziela Camilo
Ivan Andrade
Marcelo Perez
Renato Barbosa
Renildo Araújo

SINOPSE:
Líderes Mutu-Hutu roubam pedaços do Manto Imantado do Monte Invertido, fonte de poder e instrumento da paz. Com isso o Kauz tomou conta de toda Absurdópolis. A ganância pelo poder dos pedaços do Manto provocou uma corrida intensa atrás de mais pedaços. Joana, uma mulher comum, resolve encabeçar uma greve de sexo com todas as mulheres do país. E decreta que a greve só acabará quando todos os pedaços roubados do Manto Imantado do Monte Invertido forem devolvidos. Com o Manto Imantado de volta ao topo do Monte Invertido, a paz será restabelecida em toda Absurdópolis.


APOIO:
CENTRO DE CIDADANIA NÓS EXISTIMOS

Local:
Praça das Águas
Horário:
20h30


http://www.ciadolavrado.com.br/





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REBORDOSA


Acendeu o cigarro pelo lado do filtro. Ignorou o ambíguo e o aviso estampado no maço. Arrancou a parte queimada e cuspiu fumo até o último trago excitado. Adiantou por mais cinco minutos o fim, enquanto o sol invadia a sala pelos buracos roídos espalhados pela cortina velha descosturada. O ontem já era passado. E fato. Levantou-se aos tropeços e foi em direção à geladeira. Carecia, no mais pretérito imperfeito possível, substituir o gosto dos três dias seguidos. Era o indicativo do tudo entornado. Sacou um litro de leite estragado e entornou o líquido grosso no liquidificador, seu carrasco, sem preocupar-se com cores e odores. Cagou pros sabores. Revirou as garrafas vazias espalhadas pela casa, sacudiu esperanças dos copos ainda molhados, e por fim, hesitantemente desesperado, misturou tudo com um vidro inteiro de alfazema. Bateu ligeiro. Cambaleou no processo. E bateu com os dentes trincados com toda a certeza do ato. Pensou um hiato. Bebeu de uma só vez, sem jeito e sem alma. Escorou-se na pia. Sem calma. Queimou as células, aumentou o buraco. Sem volta e sem contos. Somente remédio pro tédio. Os restos do estômago impedido cobraram aos gritos suas fracas convicções e ainda assim chegou ao criado-mudo. Insistentemente vitorioso esticou o braço, trêmulo há dias. Insistiu no cigarro. Acendeu-o pelo lado do filtro. Ignorou o ambíguo e o aviso estampado no maço. Arrancou a parte queimada e cuspiu fumo até o seu último trago. Morreu de câncer generalizado.





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TAGARELA DEMAIS



sabe aquele beijo que me esqueceu?
achei!
em outros lábios
longe dos seus tão falantes...



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APENAS UM BLUES E UMA PAREDE PICHADA




BLACK
– Levei uma surra de cinto quando cheguei em casa. Minha mãe é descompensada. Ela me batia e rezava o Pai Nosso ao mesmo tempo.
FREE – Culpa.
BLACK – Nada disso. Era encomenda.




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PRO DIA NASCER CADA VEZ MAIS FELIZ



amanhã não fumo
só durmo

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