domingo, 31 de janeiro de 2010

LONGE DOS SANTOS




nunca conheci um santo na vida
até troquei ideias com alguns farsantes
pessoas cheias de boas intenções
mas que por trás estavam lotadas apenas das suas intenções
vou em frente
sem mágoas ou ressentimentos mesquinhos
certo de minhas razões
e ainda assim tropeço em meus próprios passos






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FAZ FRIO






faz frio
nem sei mais o que sinto
tô congelado até o pescoço
imagine só o que você fez ao meu coração...




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NINGUÉM NUNCA SENTIU




tente imaginar você soterrado por cinco dias.
tente imaginar você soterrado por dez dias.
tente imaginar você soterrado por vários dias.
por mais longe que vá a sua imaginação,
você jamais sentirá o Haiti.



ninguém nunca sentiu!




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EFEITO NOSTRADAMUS





e finalmente a chuva cai por aqui
afoga os sedentos jardins
ressuscita o que já nem tínhamos mais esperança
enquanto uns rezam pela sua ausência
outros agradecem de joelhos colados ao chão
contradições desse incontrolável mundo
nem precisamos fazer contas
é tudo de graça
até a morte de alguns
e caminhamos para o fim dos tempos



duvida disso?





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NOITE INFERNAL NO CHAMPION MOTEL


A festa no Champion Motel entrou para a história. Todos os viciados do cabeça e muitos outros das redondezas estiveram por lá. Pelo menos é o que reza a lenda. Após a reunião de condomínio, no outro dia mesmo, a moçada invadiu o Morro do Adeus com mochilas lotadas de toca-fitas. Todos os moradores do 4º andar, os lesados no roubo, sentiram na pele o gosto do veneno maldito. A bagaça estava armada. Renatinho, surfista de trem alucinado, que carregava no currículo três reprovações na sétima série, garoto de 17 anos, e que era presença marcante nas rodas dos adultos, ele é que comandava o negócio. Dizem que ninguém ficou de fora. Cabinha levou as amigas. A maioria menor de idade. O cardápio alcoólico era para todos os gostos, de garrafas de batida de mel, cerveja e muitos Jack Daniels. Afinal de contas, estavam todos montados na grana. E não faltou dinheiro para meio quilo de maconha, 350 gramas de cocaína, da nervosa e dez cartelas de Optalidon. Foi uma quinta-feira maldita. A turma chegou aos poucos no Motel. Uns de carro. Roubados dos pais. Outros com motos que só faltavam berrar igual à cabrito. Tudo na ilegalidade. Teve algumas meninas que entraram no Motel dentro do porta-malas do carro Chevete do Renatinho. As menores. A turma reservou a suíte presidencial, que tinha até pista de dança. Já deu para ver o derrame que foi aquela noite. Quem ia chegando, já recebia um copo duplo de mel e já era convidado a abrir a boca e mandar para dentro um comprimido. Assim estava a entrada da Suíte do Horror. Lá dentro, alguns garotos ficaram responsáveis de enfeitar o lugar. E para todos os lados era possível encontrarmos garrafas e copos à disposição do freguês, em todos os cantos bandejas lotadas de pó, na beira da piscina, mas protegidos da água, muitos baseados apertados esperando suas vítimas. As cartelas de comprimidos ficaram no banheiro para a hora do derrame geral. A dose seguinte depois do vômito restaurador. Ninguém ali estava para brincadeira. Só monstros. Depois de muita esbórnia, do troca-troca inevitável, dos corpos cansados de tanto trepar, dos gritos sem qualquer repressão, o interfone da suíte tocou. Mas diante daquele cenário, com Jesus e seus apóstolos barrados na entrada, não preciso nem dizer que ninguém ouviu. A turma curtia tanto, que até os hóspedes vizinhos resolveram juntar-se à eles. Pelo menos alguns. E o interfone insistiu. O funcionário padrão, cansado de suas inúteis tentativas resolveu partir para o quarto. Outros clientes, mais interessados na trepada de seus quartos, reclamavam sem parar. Era um barulho infernal, pareciam completamente fora de si, bem longe de seus valores sociais controladores. Hércules, funcionário exemplar do Champion Motel, e que nas horas vagas vendia quentinha no bairro para pagar o restante de suas contas mensais e na hora do sufoco ainda mamava umas picas em troca de uma nota de dez pratas, deixou sua revista Sexy de lado e dirigiu-se ao antro demoníaco. Ele era um cara forte, com medidas de sobra, carne ali é que não faltava. Tarado de nascença, recordista das onze punhetas diárias. É verdade, Hércules tocava onze por dia. Orgulhava-se disso e fazia propaganda pelo bairro. Era morador do núcleo da bomba, mas a moçada do bairro não levava muita fé no indivíduo. Razão pela qual ele resolveu acabar com a farra na suíte presidencial. Chegou à porta e tocou a campainha. Nada. Bateu na porta. E nada. Então, revoltado e cheio de complexo de exclusão, meteu o pé na entrada de madeira. Só assim foi ouvido. E por todo o Motel. Cabinha abriu a porta assustada. Foi a única que ouviu. Ela estava apenas com uma calcinha fio-dental em sua pele. O porteiro gaguejou. Não esperava aquela recepção maravilhosa. Cabinha, com os dentes trincados de tanto meter a napa e os olhos arregalados, maiores do que o do Lobo Mau da Vovozinha, com os peitões na cara dele, falou qualquer coisa incompreensível. O porteiro mirou nos peitões, tentou, em vão, iniciar uma comunicação com a menina nervosa e em seguida foi puxado para dentro da suíte, sem nem saber de onde veio o puxão. Quando se deu por conta, estava no meio da cama. Era a atração principal. O prato da noite. Um monte de pequenas peladas ao seu redor, algumas já beijavam os seus pés. Os rapazes, de longe, na espreita. Ele fechou os olhos, feliz, e iniciou uma oração de agradecimento a papai do céu. No meio da reza, dividido entre a fé e os pensamentos nada religiosos e no meio daquele ambiente Calígula demais, sentiu uma porrada afiada na perna direita. Abriu os olhos desesperado, com uma dor invocada e viu a sua perna distante do corpo. O lençol pintado com um vermelho bem forte. Sua perna espirrava sangue para todos os lados, respingava em todos que estavam próximos e isso os deixava cada vez mais excitados. E todo mundo em volta gritava e de tempos em tempos foram aparecendo facões nas mãos de cada um, ele tentou levantar, e sem chance, perdeu o pescoço em uma só estocada. Não teve um que não provou do porteiro. Quando o sol anunciou a sua chegada, as bestas fugiram aflitas daquela luz mortal. Cada uma para um canto, em busca da salvação, e todas completamente saciadas após aquela noite infernal.



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sábado, 30 de janeiro de 2010

DOIS ANOS DE SEXTAS CRÔNICAS

volta e meia eu publico por aqui alguns dados estatístico deste blog. tava vendo hoje e percebi que ele completou dois anos no dia 09/01/2010. eu já escrevo o Sextas Crônicas desde 2006. no início eu mandava uma crônica todas as sextas-feiras para uma lista de e-mails. Por isso o nome do blog. bem depois é que resolvi abrir um blog. e não deu certo. problemas de conexão e até mesmo indisciplina minha. algumas pessoas que faziam parte de minha lista, poucas, mandavam meu e-mail de volta e até me xingavam. não gostavam do que eu escrevia e pedia para que eu parasse de mandar as crônicas para elas. naquela época eu pegava no pé legal. fazia muita crítica aos órgãos públicos e muitos hábitos esquisitos do povo daqui. resolvi que não deveria mais encher a caixa de e-mails dos outros com minhas crônicas semanais. e por isso resolvi vir para cá. depois de um tempo sem acessar a página problemática, resolvi abrir outro em 2008. e aqui estamos no SEXTAS CRÔNICAS. e essa página comemora dois anos nesse mês de janeiro. já são mais de 45.000 acessos de todo o mundo. tava atualizando minhas estatísticas e tive uma surpresa bacana, tem gente de todo o país e também de fora, como, Portugal, Estados Unidos, Alemanha, França, Argentina, Reino Unido, Turquia, Chile e Rumânia, que sempre acessam. É isso. Obrigado pelo acesso, mesmo que apenas uma vez, por curiosidade, mas é de olho no meu contador que eu me motivo cada vez mais a publicar novos posts por aqui. Beijão a todos. E continuem por aqui.




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PARABÉNS, CIA. DO LAVRADO!!!

A Cia. do Lavrado comemora em 2010 cinco anos de existência. É um grupo de teatro legal pra caralho. Somos resistentes. Estamos de pé sempre! Mesmo diante das maiores dificuldades já encontradas nesse pequeno período. Fazemos teatro porque gostamos. De outro jeito, já teríamos acabado faz tempo. Em nossas reuniões sempre priorizamos a diversão. Vamos trabalhar muito, mas se não for pra nos divertirmos, então, meu amigo, não serve. Não vale a pena se for de outro jeito. Confesso que tem vezes até que exageramos, mas fazer o quê? Curtimos muito o que fazemos e não temos a menor pretensão de que os outros nos aceitem. É sério. Somos assim mesmo. Ninguém depende do grupo para viver. No estado de Roraima não dá pra pensar assim. Pra você ter uma ideia, temos projeto aprovado no estado, que já saiu o Diário Oficial e tudo, e atpe agora nada. Temos uma classe completamente dividida. Muitos interessados em serem gestores e com isso abandonam a excelência artística de seus trabalhos. A Federação de Teatro de Roraima é nula. Já cansei de falar isso por aqui e não me leve a mal, mas depois que a Cia. do Lavrado saiu de lá, os caras despencaram. Não conseguem. Simplesmente não conseguem. Os Pontos de Cultura tomam muito tempo. Os que tem Ponto não realizam nada decente na área de teatro. E ainda temos que dormir com aqueles que não são Ponto de Cultura mas fazem propaganda como se fossem. É uma merda federal. Mas estamos em festa, mesmo diante dessa realidade catastrófica. E vamos comemorar muito. Todos os dias, todas as semanas e todos os meses do ano. Não temos verba sobrando, não recebemos do estado, não recebemos a suplência tão prometida pela FUNARTE, ainda, pois essa com certeza pagará, mas estamos nos programando para festejar em data específica muito em breve. Não temos delegados no grupo, até porque seria uma confusão dos diabos se elegessem alguém da Cia. do Lavrado para delegado para a próxima reunião do MINC, em Brasília, pois iríamos prender quase todo mundo aqui no estado. Não queremos mais represálias, dores de cabeça e falsos sorrisos. Acreditamos no que fazemos, tem muita gente por aí que também acredita, e então, vamos comemorar pessoal! SÃO CINCO ANOS! Parabéns pra todos vocês que nos acompanham de alguma forma, simpáticos ou curiosos para verem se já desistimos, parabéns pra todos! No fundo, cada um no seu objetivo, somos todos vencedores.




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COLOCA LOGO A PORRA DO GEL




- vamos ser sinceros, isso não tá adiantando de nada, não acha?
- não sei, se a gente não tentar mais uma vez...
- mas já foram 10 vezes!
- meu amor, nunca se deve desistir nas 10 primeiras tentativas...
- tá de sacanagem, mais de 10?
- olha, eu nunca imaginei que ficasse casado por mais de um ano...e olha que tentei isso muitas vezes...
- mas era sempre assim?
- não, nem sempre. a maioria das vezes elas não tinham essa paciência toda que você tem.
- legal, então coloca logo a porra do gel que eu não aguento mais essa pica a seco no meu cú. fazer o quê? não gosto dessas merdas melecadas, mas tá doendo pra caralho!
- tá vendo, depois da décima vez todas elas pedem o gel...
- seu filho da puta!





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ESCALA A RESERVA





- não dá mais pra mim...
- segura mais um pouco...
- sem chance...vou gozar....aaaahhhh!
- foi legal...mas bem que podia ter segurado mais um pouquinho...
- caralho, ja faz duas horas que a minha pica não abaixa...
- é...mas...
- mais nada, você bem que podia se contentar apenas com um orgasmo...
- meu filho, se eu posso ter mais de um...
- legal, meu amor, mas se não rolar em duas horas de foda, só mesmo escalando a reserva pra te satisfazer... joguei a toalha.





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OS EXTRAS DO CASAMENTO DOS SONHOS





- precisamos sair mais cedo...
- sei...
- é verdade, eu tenho que pagar contas, sacar dinheiro, sabe o que eu tenho pra pagar?
- não, meu amor, nem precisa falar agora...
- porra, que saco, fica me cortando toda hora!
- nada disso, é que na hora eu vou ver as contas, não precisa discursar.
- porra nenhuma, você tem mania de me cortar!
- e você tem mania de me alugar.
- o aluguel tá no pacote do casamento, já se esqueceu disso?
- não, e muito menos do saco extra que temos que carregar...



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COM ESSA, EU PEÇO PRA CAGAR!




e como dizem por aqui, na macuxilândia as coisas continuam as mesmas. os políticos caindo de cabeça nas comunidades indígenas e do interior, de olho nas próximas eleições. nessas horas é que os artistas oportunistas aproveitam para mostrar suas garras. é uma pouca vergonha, e o pior é que muitos outros artistas acreditam que há uma verdadeira mudança na realidade cultural infeliz deste estado. me dá licensa que eu vou dar uma cagada gostosa.






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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OS RESTOS DA HISTÓRIA QUE EU NÃO CONTEI

Essa semana comecei a escrever um outro livro. Não tenho nenhum publicado. Ainda. O meu primeiro livro chama-se O DESGASTE DO TEMPO NOS DENTES, são contos curtíssimos e alguns poemas. O de agora chama-se OS RESTOS DA HISTÓRIA QUE EU NÃO CONTEI. Não é um romance. Como diz o título, são apenas restos da história que eu não contei. A Merda do Infarto é uma delas.


A MERDA DO INFARTO

Decididamente as lâmpadas não estavam lá para isso. Elas apenas iluminavam os caminhos muitas vezes tortuosos dos moradores do cabeça. O momento certo de iluminar o prédio nunca passava das seis da tarde. E o porteiro não vacilava nunca. Mas os meninos jogavam bola pelos corredores depois de avançada essa hora. Os pais não permitiam, mas eles sempre conseguiam burlar essas regras e os vizinhos detestavam aquele tumulto todo pelos andares do edifício. O problema todo não era apenas porque eles batiam a bola com a maior estupidez pelas paredes do corredor, o que produzia um imenso barulho detestável para os outros. O pior de tudo eram os chutes no coco, que eles sempre apostavam e vencia quem acertava a cabeça do outro parceiro que estava a certa distância. E sempre após acertar a cabeça, a bola não tinha outra direção. Quebrava em cheio uma lâmpada. As reclamações continuaram sem parar. Os responsáveis pelos meninos não sabiam mais o que fazer. Nenhum esporro era capaz de endireitá-los. Mister, um moleque da pá virada, que mesmo inconsequente aos extremos, sempre conseguia ajeitar as piores situações e que havia acabado de consertar a besteira sinistra de sua amiga, que diante do maior grau alcoólico caguetou todos os segredos dos moradores na última Festa de Fim de Ano, nem ele não sabia o que fazer para espantar o mau-humor de toda a comunidade do Cabeça. Numa noite de segunda-feira do mês de janeiro a merda fedeu. O primeiro dia após a virada do ano. Todos os adultos estavam despedaçados de tanto encherem a cara, já virados há mais de três dias em comemorações de deixarem Baco morrendo de inveja, mortos de cansados e revoltados com a volta da rotina maldita. Mesmo diante de tanto cansaço, o síndico, Sr. Cabral, um pastor viúvo, de 60 anos e que costumava, na encolha, promover sessões de descarrego sexual em sua casa e somente para as menininhas mais novas de sua congregação, conseguiu reunir um grupo de pais obcecados e loucos pelo silêncio noturno. Partiram decididos para o 3º andar, onde estavam os meninos quebradores de lâmpadas. O espôrro foi geral. Sobrou até para quem abrira a porta para fofocar. Os adultos confiscaram as duas bolas dos meninos. Não teve jeito. Não dava para peitar os pais enfurecidos. O silêncio só não retornou de imediato porque o grupo de garotos começaram a discutir sem parar. Ninguém ali estava satisfeito com tamanho ato repressivo. Nem puderam dialogar. Quesada, o mais ignorante de todos, agressivo por natureza e que dedicava horas debruçado na janela matando os pombos cagões que pousavam no telhado, gostava muito da brincadeira de bola, principalmente da parte em que mirava a cabeça dos colegas. Ele se deliciava em acertar todas as suas boladas e já tinha no seu currículo o coco de todos os participantes dessa brincadeira. Ele era o tipo do cara que se não tivesse matando pombos ou acertando com a bola as cabeças dos vizinhos, na certa poderíamos encontrá-lo na garagem do prédio promovendo carniça e baixando a porrada nas costas dos outros garotos, enfim, ele era o terror do edifício. Estava decidido que aquilo não poderia acabar daquele jeito e assim começou a inflamar seus colegas. Ninguém tinha alguma ideia decente e que pudesse humilhar de vez o tal síndico, o tal que promoveu o ato repressivo contra eles. Quesada, que antes de começar o jogo havia lanchado três sandubas de pão com banana, e peidava mais do que cano de descarga de fusquinha 72, teve a brilhante ideia de surpreender o chefe do prédio com uma bandeja de papel lotada de merda. O plano era simples. Ele iria cagar numa folha de jornal e colocariam a bosta bem na porta do repressor. Tocariam a campainha e sairiam correndo. Todo mundo morreu de rir. Uns o chamaram de doido, outros correram para suas casas para beberem água, pois a gargalhada não cessava e depois que todos retornaram, Quesada perguntou, - então, é ou não é um ótimo plano? E antes mesmo que todo mundo começasse a rir novamente, ele já foi logo para o canto do corredor, local onde não passava ninguém, apenas o morador do apartamento 301 e que estava vazio fazia anos. Colocou um pedaço de jornal no chão. Pediu para os outros vigiarem e mandou um cagadão bem servido. O lanche fez tanto efeito que a bosta sobrou pelas beiradas do papel e ainda rolou pelo chão uns bons pedaços de seus restos fedidos. Quando saiu uma banana inteira, a molecada não aguentou, caíram novamente na gargalhada. Passado o momento engraçado, ele limpou-se com uma sobra do papel e perguntou, - quem é que vai levar até lá? Vai ser preciso pelo menos quatro pessoas, um em cada beirada... o silêncio tomou conta. Ninguém estava disposto a acompanhar até o 2º andar aquela belíssima obra-prima do Quesada. Tiraram no palitinho a má sorte. E os escolhidos respiraram bem fundo. Sabiam que até o andar de baixo não conseguiriam mais respirar. Pior para Moaca, que estava com o nariz entupido e só conseguia respirar pela boca. Molequinho frágil, magrelo e que em toda troca de estação do ano caía de cama com a garganta inflamada. Ele ainda se recuperava da última recaída, e quase chorando segurou a sua parte do jornal. Caminhou com os outros garotos sem reclamar e na certa, diante de sua dificuldade respiratória, deve ter respirado muita bosta pelo caminho. A turma os acompanhava à distância. O cheiro dos restos do pão com banana de Quesada infestava todo o ambiente em que eles passavam. Os dois andares ficaram fedendo até de manhã. Chegaram bem próximos da porta. Por mais que tivessem combinado o silêncio mortal, não dava para cumprirem tal tarefa sem risos e tapas escandalosos para que os outros parassem de rir. Prepararam-se com calma para aterrisar o jornal carimbado e antes que o presente fosse deixado no chão, a porta se abriu. Não preciso nem entrar em detalhes que a bomba de merda, devido ao susto dos meninos com a surpresa da abertura da porta, voou nos peitos do síndico. A correria foi geral. Sobrou merda para todo mundo, pois na pressa, a bomba respigou para todos os lados. E os garotos sujos na confusão da corrida, iam segurando nos braços dos outros e assim se multiplicava a sujeira. O homem repressor não aguentou tamanha humilhação e caiu duro no chão. Infartou. Mesmo sabendo que a morte pode não parecer uma coisa muito boa, nesse caso, foi a melhor que pode acontecer. De outro modo, se ele não tivesse morrido, com certeza teria matado, no mínimo, uns três moleques daquele prédio. Ninguém soube do acontecido. Da verdade. E até hoje ninguém compreende direito a imagem de um homem infartado, morto, com os peitos cheios de merda.
Dizem que se cagou todo ao ver a Morte bem perto.



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sábado, 23 de janeiro de 2010

QUE SEJA ASSIM...





não enxergo por completo a sua alma
acordo contigo a metade roubada
sinto o cheiro de algum pedaço desgraçado
sopro na tua cara os restos de uma madrugada qualquer


que seja...





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FIM DOS TEMPOS





o Haiti não é aqui
será?





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ALMOÇO DE DOMINGO



cambaleou até a cozinha com a visão turva de outros passados
escorou-se no fogão
abriu o gás e acendeu o isqueiro sem noção
sentiu o calor beijando sua pele
sustentou até o primeiro berro maldito
partiu pra carne e meteu a mão na cara
colocou as moscas pra correr
quer dizer pra voarem
jogou todos os temperos possíveis
mexeu daqui e dali
jogou-a pelos cantos da tigela sem nenhum perdão
apanhou a faca e apunhalou-a
sem perdão
obssessivamente mandou 32 estocadas
enfiou o alho sem jeito
na maior grosseria possível afogou-a em azeite vinagre e transbordou-a em sal
respirou
acendeu um cigarrro
deixou-o no canto da boca
levou a vasilha com a carne completamente derrotada pra dentro da geladeira
deixou para o outro dia a execução da dita cuja





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RATOS COM ASAS. MUITAS COMÉDIAS E TRAGÉDIAS...

os dias passam tranquilos. eu sigo lendo. quando não, faço aulas de direção. comprei uma moto. que merda! vamos ver no que vai dar. vendi um carro e fiz negócio com uma biz e mais uma grana. o carro tava pra lá de ruim. e eu já queria mesmo uma moto. os dias passam. vou nas beiras. tem uma leitura pra fazer. vou marcar essa noite pra próxima semana. Apenas um Blues e uma Parede Pichada, projeto que fui premiado pela FUNARTE em 2008. só agora é que sairá do papel. já fiz uma leitura do texto e várias modificações. aposto nesse projeto pro primeiro semestre de 2010. vou pegar oito disciplinas na federal. vai ser foda. mas vou ter tempo pro teatro. tem vezes que é melhor sair da evidência, até mesmo porque a evidência não tem nos feito bem. muita inveja por aqui. muta gente com espírito de porco na jogada. os dias passam. a vida segue. e os pombos continuam me irritando demais. acho que vou matar alguns na próxima semana.







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QUE BICHO VAI DAR

é o seguinte, tem gente que me interpreta muito errado por aí. fazer o quê? eu não tô afim de defender política cultural nenhuma, entende? não do jeito que alguns querem. não que eu não queria que o teatro aqui no estado melhore e que não desejo que surjam políticas melhores pra classe. nada disso. o fato é que o povo que faz teatro por aqui tá com outros interesses. ninguém tá afim de defender porra nenhuma pro teatro e muito me surpreende que eles ainda não tenham se rasgado entre eles. mas não demora muito. olha, o estado nos deve R$ 20.000,00. tá publicado no diário oficial e tudo. mas o tal do Fórum de Cultura nem toca no assunto. a Federação de Teatro é nula. e os envolvidos nem tocam no assunto. tá todo mundo comendo por lá, entende? fica difícil discutir por aqui. então, o melhor negócio é continuar produzindo, fazendo a nossa parte e ver que bicho vai dar. por enquanto, a briga é pra ver quem vai ser delegado... cara, na real? tinha é que prender todo mundo e começar tudo de novo. mas a Roda da Fortuna não sossega. vamos ver que bicho vai dar...




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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ENTROU A NOITE




o que me resta nesse entardecer esquisito
é um prato de arroz e feijão e muito tesão
com muita sacanagem de sobremesa
então, fui




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AS CIDADES E AS SERRAS

outro dia estive falando dos livros que tenho que ler para o meu curso de Letras. meti o pau. já acostumado com as pérolas que me pedem pra ler, meti o pau mesmo. bom, hoje eu terminei de ler o primeiro de Literatura Portuguesa II, A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós. O cara me surpreendeu. No início, muita descrição, como eu havia escrito por aqui. chato demais, mas no decorrer, comecei a me acostumar com aquela linguagem da época. do capítulo oito em diante, o cara, simplesmente me pegou. aliás, ele escreve pequenos capítulos, chega no oitavo e no nono ele emenda imensos textos e que acabaram por me pegar de jeito. vejam bem, não tenho a pretensão de fazer uma crítica literária, longe disso, mas o cara me pegou legal. daí por diante, é tudo belo, tudo conectado. tá legal, o cara faz uma crítica ao progresso, tudo bem, isso tá na cara, tá nas letras, mas o jeito que ele escolhe pra contar essa história é maravilhoso. um cara que é obstinado pela cidade e doente por suas consequências, um pessimista de mão cheia, como quase todos nós que vivemos em cidades, de repente vai pro mato e tudo muda. o encanto da serra, da vida rural o enfeitiça de tal modo que o indivíduo esquece completamente os encantos da cidade. engraçado que as desgraças da cidade grande evidenciam cada vez mais com o decorrer da permanência de seu personagem pelas serras. não é o discurso negativo das cidades que faz com que o leitor pense ser ruim por lá, e sim o deleite de viver entre árvores, campos e outras calmarias que me pôs em cheque quanto ao verdadeiro valor de estar por aqui, na cidade. muito bom, como diz Jacinto, personagem de Eça, - o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado. se fudeu, né, Jacinto! descobriu que não é nada disso. me surpreendi com Eça, embora ainda ache um saco o excesso de descrições em sua linguagem. mas é a época. é a linguagem do cara. fechei esse feriado com chave de ouro. o próximo será As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. espero que ele me surpreenda tanto quanto o Eça de Queirós.



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domingo, 17 de janeiro de 2010

ME XINGA QUE EU ADORO...



(Ao final da transa)
- foi bom pra você?
- pôrra, foi ruim pra caralho! (ele acende um cigarro) eu jamais pensei que pudesse ser tão detestável te comer. quer saber? vai tomar nesse cú! se manda da minha cama agora, sua vadia ordinária!
- (ela se cobre com o lençol) nossa! mas por que isso?
- calma, baby, é só pra deixar as coisas diferentes. vem cá, me dá um beijo.
- safado...
- isso, baby, me xinga que eu adoro...




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E A RODA GIRA




e mais uma semana começa
minha aula de direção começa
de moto
vou pagar algumas contas
ainda vivo nos prazos
reescrever alguns textos
ler alguns livros que não curto
me salvar em outros que adoro
vou deixar a vida acontecer devagarinho
sem muita expectativa com o destino





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AINDA ME RESTAM ALGUNS PEDAÇOS ESPALHADOS

ainda me resta uma palavra
uma ideia
uma letra fajuta e sem muito significado
somente pra mim
ainda me sobram trocados pros tragos
eu não peço
mas cato moedas pelos cantos da casa
pelo último cigarro sem maço
vou de varejo mesmo
de finitos goles sofridos
vou pelas beiras
sem nem conseguir fincar os meus pés pelo chão
ainda me restam alguns pedaços espalhados





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BEM LONGE DA ARREBENTAÇÃO





volta pro início
se tudo deu errado
e nada mais combina com você
volta pro início
se os rostos continuam os mesmos
os cheiros os toques
os gostos
e todas as falas ainda lhe parecem repetidas
volta pro início
se o dia não tem amanhecido daquele jeito
e a noite não mais te surpreende
como uma criança babando nas mãos seus presentes
volta pro início
volta pro lugar que você jamais deveria ter saído
o início
e espera a próxima sequência passar...





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CONTINUO SONHANDO COM O IMPOSSÍVEL

quem me lê falando de livros, literatura e outros aparatos próximos da intelectualidade deve até ficar impressionado. pelo menos um pouco, apesar das bobajadas que escrevo. mas te digo que comecei a ler em 1996. antes disso, apenas tiras de jornais. manchetes televisivas. essas merdas que nos empurram direto por aí. minha experiência com a literatura começou exatamente em 96. tava muito maluco, mais ou menos assim, acordava pra me drogar e não queria dormir de jeito nenhum. e resolvi que deveria entrar em recuperação. pirei legal. fiquei limpo. parei até de fumar. deixei de tomar remédios para me endoidar (até remédio pra diarréia de recém-nascido eu acreditava que me tirava a razão. o pior é que tirava mesmo, pode acreditar) e passei a me medicar para me endireitar. se é que isso seja realmente possível, me entende? ingressei em Narcóticos Anônimos, isso mesmo, fiz parte do NA e do AA por 12 anos de minha vida. e foi bom pra caralho. precisava daquele freio. de outro jeito, acredito que teria seguido o caminho de vários amigos de infância e adolescência. sete palmos pra baixo da terra. e muitos estão presos até hoje. bom, no NA eu conheci um carinha que falava direto em literatura. cismava em conversar comigo. pôrra, eu achava um saco. claro, não tinha muito o que discutir com ele. mas tava em recuperação, e então, eu ouvia. com toda a boa vontade que eu não tinha e que estavam me injetando na alma. um dia, ele me disse pra frequentar a Biblioteca Pública do bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. me disse pra eu pegar três livros bem finos e com as maiores letras possíveis. fazia parte daquele ritual e eu tava topando até ônibus errado pra Cascadura. passaram-se alguns dias e eu fui. peguei os livros e comecei a lê-los apenas dentro do metrô. e assim fui. me animei por uns dias e depois de mais quinze resolvi voltar à biblioteca. peguei novos livros. e o tempo passou. já não lia apenas no metrô, mas também nos ônibus, nas salas de espera dos consultórios, nas filas dos bancos e filas de entrega de camisinhas. pode até ser substituição, mas fiquei empolgado e passei a comprar livros. um tempo depois, ainda em 96, lá pelo fim do ano, eu comecei a escrever peças. já tinha uma experiência com palavras rimadas, frases rimadas e cenas inventadas, colecionadas em alguns cadernos, desde que fui atropelado em 1987. e de lá pra cá não parei mais. os grupos de mútua ajuda foram uma benção em minha vida, através deles eu tive contato de verdade com a literatura. consegui enxergar melhor e prestar a atenção em um monte de coisas que estavam passando debaixo do meu nariz. e hoje escrevo todos os dias. leio todos os dias. já não frequento mais os grupos e voltei à esbórnia, quer dizer, continuo sob controle, outros. não dá pra viver sem eles. tô consciente de tudo que deu errado e que jamais quero repetir. persistir nos mesmos erros é pura burrice, não acham? mas não me esqueço jamais daquelas palavras: - pegue três livros bem finos e com as maiores letras... e a vida segue... e eu vou por aí, sem muito o que planejar e sem me preocupar com a minha sanidade. continuo sonhando com o impossível, mas dessa vez o que me tira a razão são as letras. sempre.


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EÇA DE QUEIRÓS, ALMEIDA GARRET E OUTROS...

ganhei um Bukowski em dezembro. Textos Autobiográficos. presente de família. já falei disso por aqui. amo de paixão os presentes de minha família quando eles me pedem pra escolhê-los. comecei a lê-lo imediatamente. acabei por esses dias. que tristeza. que vazio. não queria mais que aquelas letras acabassem. é bom demais. adoro ler o que adoro. comprei cinco livros pra universidade. Literatura Portuguesa. comecei com Eça de Queirós. é legal ler coisas novas, mas não me motivo nem um pouco com a literatura oferecida na universidade. na verdade, é um saco! tenho pena daqueles professores. gostam mesmo daquilo. ou pelo menos nos dizem que sim. dos cinco livros comprados, não resisti e comprei mais três do Velho Safado. olha, vou ler os livros, mas de quebra alivio um pouco minhas ideias com um Bukowski, com um Voltaire, com a peça Urticária de minha amiga Verônica Diaz, enfim, é uma merda ler coisas obrigado. é uma merda ter que fazer um curso e seguir as escolhas dos professores. olha, nem sempre as escolhas deles me agradam, aliás, poucas vezes. acredito que a literatura oferecida no curso de Letras deveria ser mais livre. deveriam nos dar mais opções de escolha. até mesmo entre os mais chatos eu acredito que poderia escolher uns melhores. enfim, é tudo desabafo. vou chegar com os livros lidos e completamente embriagado pelas minhas escolhas literárias. vamos ver no que vai dar.




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NÃO QUIS ENTRAR EM DETALHES

eu nem quis entrar em detalhes. tem horas em que prefiro me calar. não faço muita questão de conhecer muita gente. de agradar os outros, então... não tenho muitos amigos. na verdade, conto nos dedos. mas tenho várias pessoas que adoro estar com elas. não são amigos, sabem? amigos mesmo, eu detesto muitas vezes a sua presença. ela me cobra uma perfeição que eu sei que jamais eu terei. não sou um cara popular em minha cidade e sei que existe uma fila de pessoas que me detestam. por razões várias, sei lá, eu abro a minha boca e falo. eu faço. ainda preservo alguns valores que outros já não se importam mais. mas não sou santo, entende? eu sou assim. e tem muita gente que não gosta nem um pouco do meu jeito. uma pena. e uma sorte pra mim. não tenho saído muito. tô em tempos de curtir minha casa. a exposição não me agrada muito hoje em dia. todo mundo pensa que é dono de sua vida. todo mundo pensa que sabe mais da sua vida do que você. e fofocam. e imaginam. e se fodem legal. por isso e por um monte de outras razões tenho ficado recolhido em minha casa. tenho lido mais. incrivelmente mais. e como é bom ler. e escrito mais. outro dia tava indignado com a ausência de ideias para um novo texto. resolvi reler os que já escrevi. tenho 9 textos teatrais. apenas um montado. e uma ideia premiada. comecei a ler e percebi um monte de mudanças que precisavam ser feitas. trabalhei em cima de um. depois de outro. e mais outro. percebi que não adianta nada eu ficar desesperado por novas ideias se as que eu já tive e já as coloquei no papel precisavam ser revisatadas. as vezes a salvação está entre os meus dedos. nos meus arquivos. tenho ficado mais esperto. não alimento mais muitas pretensões no estado de Roraima. a vida segue. ligeira. eu nem quis entrar em detalhes... bom, como eu tava dizendo, se não me perguntar eu nem me atrevo a entrar em detalhes. a vida segue, não é mesmo? e quem tiver a manha de revisitar seus escritos, seus filmes, suas peças, seus livros e seus vídeos, vão perceber que aquele produto final é apenas o início.






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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

POR ALGUNS MOMENTOS





foi até o balcão
vomitou todas as suas dores
esperou atento ao chamado do celular
cansou-se
saiu para tomar ar
encontrou-se com Arnoldo
ele lhe ofereceu um trago sem maldades
beberam horas
passaram-se as horas
foi pra casa com as mesmas dores normais
deitou-se sem escândalos e sem nenhuma reclamação habitual
acordou descontrolado e correu pro hospital






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SONHE





sonhe
muitos sonhos
qualquer nebulosa ideia
que te faça existir









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PELAS HORAS





acordou às duas da manhã.
atropelado por um terrível pesadelo.
foi à geladeira.
não quis comer o doce.
abriu o congelador e sacou uma lata.
foi ao quintal, nervoso, e bebeu ao luar.
as insônias já eram constantes em sua vida.
pegou um livro.
leu até não aguentar mais.
abriu um caderno.
sacou um lápis do armário.
escreveu de forma incompreensível.
até de manhã.
o sol não mais o incomodava.
os sonhos apenas o incitavam.
os pesadelos já eram matéria.






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ESTOU INDO PARA O FIM




tem horas em que os cachorros abaixam a guarda
as estrelas vão dormir solitárias
e o vento simplesmente desaparece
mas eu fico
tem vezes em que os pombos não mais me perturbam
desistem com as minhas mandingas perversas
os mosquitos não são mais páreos pra mim
já sabem que não vou desistir por algumas picadas no braço
o tempo me passa
me acaba
me torce
mas eu fico
ainda posso pensar algumas bobagens
ainda tento sobreviver ao naufrágio
não quero medir forças
apenas tenho consciência de meus dias perdidos
então acelero
sei que estou indo para o fim





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FIM DE SEMANA NA REGIÃO DOS LAGOS

a pousada não era nenhuma beldade de sonhos inesquecíveis. estacionaram. em frente da recepção. os donos os receberam. fizeram o trato. caro demais para o casal duro que acompanhava o coroa. Ele era muito amigo do dono, e pai da dama do casal. mesmo assim, resolveram ficar. apesar de temporada, a pousada parecia só abrigar familiares do proprietário. guardaram as malas e desceram. Não fizeram nenhum acordo. pediram cerveja. a mulher não tava muito afim de beber. os dois homens, marido e sogro, entornaram a noite toda. tentaram se aproximar dos outros hóspedes. tudo em vão. na sinuca, tudo em vão, ninguém desejava interagir com eles. tudo muito estranho. as pessoas, sem saberem de seus valores pra lá de descarregados privada abaixo, nem imaginavam o fundo de seus poços. no fundo, sabiam que não tinham a menor chance, mas carregavam as máscaras de seres superiores. quanto peso! e naquela noite foi assim. papos sem nenhuma relevância incômoda. sem interferências. Marta, que não era muito de beber, tinha 33 anos. uma mulher tranquila, não era adepta dos modismos e até se vestia de forma relaxada para a sua idade. mas gostava muito de jogar. apostar era a sua fraqueza. jogava e apostava em tudo que lhe pudesse render algum trocado. uma vez, apostou no número da cova em que sua avó seria enterrada. acertou em cheio. 666. amanheceu repentinamente. e eles desceram pro café. Marta colocou o biquini. queria sol e praia. desejava mudar de cor. os dois homens colocaram suas sungas. queriam muito mais a praia, somente a praia e todas as outras distrações que ela poderia lhes oferecer. mas também não eliminavam a possibilidade de beberem uma cerveja no café da manhã. afinal de contas, já passava das 10. e beberam pelos anjos diurnos. estavam de férias e sem regras. foram à praia. comeram camarão como nunca haviam comido antes. barato. encheram o pote. nervosamente. voltaram para a pousada na hora do almoço. o refeitório estava lotado. familiares do dono e apenas alguns hóspedes. a indiferença permanecia no ar. comeram bastante, sem se preocuparem com os guardanapos. e beberam demais. passaram a tarde toda emborcando latinhas de cervejas bem geladas. menos Marta. Dantas era um coroa inteiro. pai de Marta. estava aposentado e viúvo. recebia duas aposentadorias robustas, o que lhe garantia certa tranquilidade para o resto de sua vida. adorava a farra. já passava dos 60, mas tinha o espírito e a carcaça dos 50. numa manhã, em uma cena de café esquisito daqueles, puxou papo com uma senhora e sua filha. ela também viúva. a filha acabara de se formar em química. conversaram sobre amenidades. tudo normal. quando ele perguntou sobre os interesses da filha, lógico, ele estava na terceira idade, mas nunca que iria se interessar pela mãe idosa, aí a coisa complicou. a mãe percebeu o interesse. a conversa tomou outro rumo. falaram de futuro e a viúva detonou a pérola, - minha filha acabou de se formar. é química. e ela tá se preparando para vários concursos. ele até inicou algumas perguntas para a filha, mas todas interrompidas pela mãe. decorada mamãe. a pobre garota só iniciava as frases. a mãe as finalizava. Tuill era um cara apaixonado, mas não perdia a oportunidade de interagir, mesmo que sexualmente. já havia até comido uns gays. mas nada que o fizesse mudar seu desejo sexual. nunca traía a mulher. colocava - se sempre ao passo de fazê-lo. isso lhe aumentava o tesão. esquentava a relação com Marta. entrou na conversa e questionou as escolhas da aparente suposta virgem. a menina não conseguia responder nunca. a mãe sempre aterrisava no papo e detonava com suas respostas prontas, - é que ela vai fazer uma prova pro BNDS... e o que tem de química aí, disparou Tuill. quando a menina ia responder, a mãe mandou de lá. a menina ficou só na respiração, - ela tá com o nível superior. vai fazer o concurso pra ganhar mais. você sabe, química não tem muito mercado e ela tem que tentar todas as possibilidades. você acredita que se ela passar vai ganhar um salário de oito mil, mais os benefícios? ela não pode bobear, né meu filho? ele balançou a cabeça, indignado com tamanha repressão. mas já tinha tomado algumas e então mandou, - quer dizer que você estudou pra caralho a porra da química e vai passar o resto de sua vida no BNDS, fazendo o quê? vai ser uma técnica preenchedora de papéis? a menina respirou fundo e quando já ia responder a mãe mandou ligeira, - sim, não dá pra bobear meu filho, ela tem que garantir a sua vida. depois, com calma, ela tenta realizar o seu sonho. não é minha filha? a garota, sem graça, não encontrou muitas saídas a não ser concordar com sua mãe, sem falas, só com a cabeça. mas a raiva rondava seu semblante indignado. Dantas já estava irritado com todas as interferências da mãe e então perguntou, - minha filha, você quer casar comigo? olha, eu não vou te dar oito mil por mês, mas te garanto que você nunca irá se preocupar com dinheiro, contas e concursos, olha, vamos fuder demais. até ficarmos em carne viva. o que acha? se você quiser eu mando apagar a tua mãe. o que acha? a menina muito confusa, olhou para a mãe, que tentou esboçar uma reação, mas foi logo repreendida por Tuill, que pegou uma faca da cintura, e a amedrontou. ficou calada na situação. a menina olhou para Dantas, que olhou para Tuill. que sentiu um cheiro de aprovação no ar. em seguida, enfiou a faca bem no peito da velha enjoada. pediram outra cerveja e o final de semana chegou ao seu fim. todos em paz. felizes com suas suposições. com suas decisões inesperadas. estavam todos resolvidos temporariamente. um novo ano acabara de começar. para todos.
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ar e luz e tempo e espaço

"... você sabe, já tive uma família, um emprego, mas alguma coisa
sempre se interpôs no
caminho
mas agora
vendi minha casa. encontrei este
lugar, um enorme estúdio, você precisa ver o espaço e
a luz.
pela primeira vez na minha vida terei um lugar e tempo para
criar."

não, baby, se você vai criar
fará isso mesmo que trabalhe
16 horas por dia numa mina de carvão
ou
criará num cubículo com 3 crianças
enquanto vive
da previdência social,
criará com parte de sua mente e de seu
corpo
estourados,
criará cego
aleijado,
demente,
criará com um gato escalando por suas
costas enquanto
a cidade inteira treme em terremotos, bombardeios
alagamentos e fogo.

baby, ar e luz e tempo e espaço
não têm nada a ver com isso
e não criam nada
exceto talvez uma vida mais longa para encontrar
novas desculpas de que se
ocupar.

Textos autobiográficos
pág. 401
Charles Bukowski





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QUE VENHA 2010!


Estamos de volta. Depois de merecidas férias, a Cia. do Lavrado está de volta e felizes por comemorarmos em 2010 cinco anos de existência. E muita resistência. A nossa prioridade no momento é arrumarmos a nossa casa, revermos algumas metas para este ano, realizarmos uma oficina de corpo e uma leitura do texto Apenas um Blues e uma Parede Pichada. Vamos concentrar nossas energias com nossas capacitações, leituras e sem dúvida alguma iremos montar algum espetáculo. Vamos ficar de fora das articulações estaduais, regionais e nacionais. É muita energia que se gasta para poucos resultados favoráveis, frustrações e decepções com os que se dizem nossos pares. Voltamos a estaca zero. Fazer teatro pelo simples desejo de fazê-lo. Não queremos perder nossas referências artísticas em troca de um espaço político que não irá nos acrescentar em nada. Nosso estado não nos oferece nenhuma oportunidade de crescimento político e que possa realmente contribuir com o nosso desenvolvimento, ou seja, com o desenvolvimento do teatro em Roraima. Temos uma classe teatral desarticulada, quer dizer, alguns estão articulados por conveniência de interesses comuns, mas que na prática nem chegam próximos do coletivo e não contribuem em nada com o processo de formação de platéia nesse estado. A região já teve seus dias melhores. Na época do Fórum Permanente de Teatro, acho que em 2006, os grupos mostravam muito mais interesse em contribuir para que a região fosse mais respeitada e reconhecida como uma região produtora de teatro. Hoje a configuração mudou completamente. Tem estado, quer dizer, grupos em outros estados que defendem por trás a desregionalização nos editais, mas pela frente, em reuniões nacionais se dizem defensores da região, com discursos amazônicos recheados de hipocrisia. No fundo, valorizam muito mais o que vem de fora da Região Norte. Cada um querendo que o seu estado sobressaia mais e que se iguale aos grupos de outras regiões do país. É o antigo sonho do Norte em ser Sudeste... O Nacional também desanima demais a gente por aqui. Grupos e pessoas sustentam discursos de descentralização, mas no fundo querem excluir cada vez mais o povo do norte. Vemos isso nos resultados de editais, vemos isso nas reuniões de articulação que freqüentamos por este Brasil, vemos isso na falta de interesse com os estados que não tem nada para oferecer, como Roraima. É a mesma história dos desenvolvidos e subdesenvolvidos. Hoje a briga é para ver quem será delegado. Quem irá para Brasília fazer propaganda do seu estado, ou nem isso, na maioria das vezes do seu grupo. Estivemos na I Conferência Nacional de Cultura e naquela época já havíamos presenciado isso. É muito triste perceber as pessoas utilizando verba pública para promoção pessoal. E depois, as coisas não mudam de verdade. A classe teatral nacional continua fragilizada, pseudo-articulada e sem muito poder de discussão com o Poder Público. É isso. Com toda essa confusão, estamos completando cinco anos de existência. E vamos continuar. Vamos fazer teatro. Esse foi o desejo que nos uniu. Sem ressentimentos. Apenas estimulados com o nosso crescimento.




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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

BANDA SOMERO





LANÇAMENTO DO CLIP :
TEU SORRISO



Noite Fora do Eixo

Quem toca: Ostin/ Somero/ Tetris-AM
Onde: Antique Pub
Quando: 15/jan (nesta sexta)
Quanto: R$10
Que horas: a partir das 22h





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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

FELIZ NATAL, GUSTAVO!

outro dia conheci o Gustavo. um nerd que pensava que era normal. gostava de rock. mesmo assim se dizia eclético. desde God Save the Queen, até Evanescence em noita de lua cheia. adorava vestir camisas pólo. sua maior contradição aparente era a bebida. e as blusas pólo. o cara entornava um monte, não por falta de chá em sua casa, mas sim pela perturbação que o trazia à realidade. olhando pra ele, não dava pra imaginar que aquele carinha gostasse tanto de derrubar algumas cervejas. os ditos nerds sempre tem a aparência de santos. mas era só a aparência. tava de bobeira, como eu, num bar em Vila Isabel chamado Orf. um ponto de encontro de uma turma de motoqueiros invocados da cidade do Rio de Janeiro. mais nostálgicos do que alucinados. apenas carregavam a fama na imagem. Gustavo tava fugido de casa. não era um cara de sair muito. o pai o controlava demais. numa noite de Natal, revoltou-se e papou a sua madrasta, me contou assim, depois de muitas latinhas, sem a menor sensação de culpa no olhar. marcou a virada. o coroa, bêbaço, deitou cedo. Gustavo ficou ligado e partiu pro diálogo com sua falsa mamãe. falaram coisas sem sentido, dessas que a gente tá acostumado a falar em uma noite de Natal em família. passatempos eliminadores de remorços. amenidades com a intenção de uma falsa aproximação. tudo em nome do menino Jesus. a coroa tava em cima. morenaça de praia. beirava os 45. curtia muito o pai dele. os cifrões espocavam em seus olhos. era um amor providencial. o homem lhe pagava a academia, a conta do cartão de crédito e no mês anterior havia liquidado os seus seios. sabia que poderia se superar com tamanha explanação visual. boa de boca. não ficava atrás de nenhuma profissional da Vila Mimosa (disputado ponto de prostituição no Rio). Gustavo tinha 22. estudava física. cheirava cocaína todos os dias antes de ir pra faculdade, - eu não sou dependente, disse ele, faço isso pra decorar as fórmulas. não curtia o seu curso, mas matriculou-se por imposição de seu pai. realização do sonho do outro. era um cara com muitas vontades atropeladas pela educação rígida de uma família de classe média. se morasse no estado de Roraima seria um ótimo candidato a engrossar a lista de suicídios de jovens daquele estado. um maluco sem a menor sombra de dúvidas. o pai serviu o jantar. distribuiu os pedaços de peru do jeito que ele achava que as pessoas iriam gostar. coxa pra quem adorava peito. peito pra quem idolatrava coxa. mais uma bola fira. a oração antes da primeira abocanhada e sorrisos. somente dele. feliz com sua aparente normalidade familiar. o controle parecia estar em suas mãos.parecia. e ele aceitava as aparências da vida. ele idolatrava. a madrasta de Gustavo já tinha tomado algumas, assim como seu marido. trocaram os presentes. nem tantas alegrias assim, na verdade repetições de outros anos. cuecas pros de sempre e prendedores de cabelo sem brilho. muitas insatisfações. felicidade apenas do pai, que havia comprado a sua própria surpresa de Natal. Maria do Carmo completou o copo de vinho de seu amado, que rapidamente o emborcou. e capotou. Gustavo e Maria do Carmo se olharam. a situação era libertadora, mesmo sem a declaração de ambos. a partir daí a festa começou de verdade. sentaram-se na varanda e começaram a falar sobre suas vidas. amenidades de porta de cadeia. o pai estacionado na poltrona da sala. Gustavo disse que não aguentava mais a pressão de seu pai. que ele tinha vontades, disse que poderia até mesmo comê-la. tensão no ar. Maria do Carmo levantou-se e foi à cozinha. Gustavo não sabia o que fazer, sabia da merda que havia acabado de falar. não sabia se a acompanhava ou se ficava calado pelas próximas horas. ensaiou mil desculpas. Ela voltou com uma garrafa de vinho. sorriu para ele e disse, - olha, eu tô louca pra fuder. teu pai é muito bacana comigo, mas eu não consigo gozar com ele. nunca. você entende o meu drama? Gustavo engasgou o resto da cerveja. pegou um cigarro no maço em cima da mesinha e o acendeu. nem era fumante. e disse, - vou te confessar uma coisa. eu nunca fiz uma mulher gozar. nem sei como fazer isso. em toda a minha vida...eu só trepei três vezes. e duas delas foram com prostitutas. se eu pudesse te ajudar, seria meu melhor presente de Natal. Maria do Carmo encheu o copo de vinho. entregou-o para Gustavo. fez-se um silêncio eterno. ela empurrou o seu copo. completou - o novamente. olhou para Gustavo, que aparentemente tremia. partiu para cima do inexperiente jovem, meteu-lhe um beijão chupado sem a menor sombra de dúvidas do tesão que arrastava. fuderam tanto, a madrugada inteira, que nem se preocuparam se Papai Noel iria aparecer naquela noite. o dia amanheceu como todos os outros dias. o café foi servido na cozinha. o pai de Gustavo saiu pra trabalhar. era lua-de-mel naquela manhã cinzenta de dezembro. uma quarta-feira qualquer. sem nenhuma mudança na rotina do controlador de pessoas. telefonou ao meio dia e disse que só voltaria ao final do dia. Feliz Natal, Gustavo!


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UM DIA COMO OUTRO QUALQUER





não se preocupe com o amanhã
é balela lhe dizer que ele ainda nem chegou
tá nas sobras cortantes do relógio
tá nos goles grudados no congelador
que de modo algum irá adiantar o inevitável
o amanhã já é
não tem como evitá-lo
nem mesmo com o porre mais homérico possível
o amanhã é ressaca
é um dia como outro qualquer





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SOBRE A VIDA





vou te dizer uma coisa:
a vida não tem bilhete de vItálicoolta
sei, você vai pensar, - mas esse cara é muito clichê!
que pense!
a sua mais verdadeira verdade pode jogar na privada e dar a descarga
nem precisa se limpar de uma bosta dessa
a vida é isso mesmo um monte de ingênuas afirmações jogadas dentro da privada
é tudo água corrente
provocada
e imunda







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domingo, 10 de janeiro de 2010

PÉ DE VALSA ENGOMADINHO


Chegou ao baile todo amarrotado. O cabelo grudado na cabeça até que dava seu charme. Limpou os sapatos nas costas da calça e invadiu o salão. Deu uma geral e separou as gatas das barangas apenas com o olhar. Pediu um refrigerante. Filou um careta. Jogou bolas de fumaças pelo ar. Bolas de corações. Partiu à caça. Era uma noite de bote certeiro. Fazia sempre assim quando queria curtir a noite com mais de uma mulher. A presa fácil atraía as piranhas mais caras. Dançou um bolero. Beijou muito. Ele e sua parceira provisória arrasaram na pista de dança. Se valesse prêmio, com certeza teriam levado um. Esquivou-se de sua dançarina e arrastou as asas para um outro lado. Deu de cara com uma morenaça. Muito alta, estilo jáderrubeimuitocabocloporaí... Estacionou ao lado e puxou assunto.
- Então? Mandou ele.
- Já é! Mandou ela. Simples. Dançaram a noite toda. Haviam escolhido um ao outro. Foram os últimos do salão. Enquanto o sol já cutucava a moleira dos boêmios sem endereço certo, eles foram tropeçando aos beijos pelo caminho, trocando babas nervosíssimas, se apalpando de montão. E foi assim, durante todo o tenebroso percurso até o motel. A única coisa que lembraram de pedir, apenas com gestos, foi para que não os incomodasse jamais. Nunca mais.







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PRA QUEM VOLTA DAS FÉRIAS




nada mudou
a cesta de lixo do banheiro continua no mesmo lugar
o vizinho é o mesmo chato de sempre
e suas orelhas estão ainda maiores
pode acreditar
o bar da esquina continua com a placa de Pronto Socorro
e você não esqueceu o caminho
não
você nunca esquece o caminho da salvação instantânea
seus amigos continuam sedentos e prontos a te receber
são iguais a você
perseguem o rabo mesmo sabendo que ele nunca terá um fim
são insistentes por natureza
resistentes
são pessoas da mais alta qualidade
pode crer







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VODKA, TESÃO E IMAGINAÇÃO




decidiu beber até meia-noite
abriu a vodka russa presente de um antigo afair
batizou com coca e muito gelo
coca
pirou demais
abriu um livro e mergulhou no universo do autor pornográfico
excitou-se
masturbou-se entre as linhas obcecadas do cara
nem sentiu a falta das fotos
as palavras poderiam ser mais convincentes e completamente cheias de imagens
foi ao delírio
arrancou sangue do pau de tanto esfregar
de tanto insistir
de tanto imaginar

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TUDO NA CAÇAPA

Só restou o vazio da mesa e o silêncio assustador pelo ar. Ele nunca havia perdido um campeonato. Enfiou o taco nas costas e deu meia-volta. Cabisbaixo. O foco preciso no chão. Debruçou-se no balcão e pediu um conhaque. Nem sentiu o gosto. Pediu outro. Mais transbordado. Não costumava passar da segunda, mas seu orgulho se encarregou de não parar a contagem. Ficou bebaço. Léo era um cara metido e ele sabia disso. Fazia questão de não deixar para depois. Ganhava a vida como ambulante na Central do Brasil, mas dizia para todos os desconhecidos que era policial. No fundo, não aceitava a sua realidade tão simples e sem nenhuma emoção pela frente. Pediu mais um trago. Chorou baixinho para dentro do copo a noite toda. Trocou poucos olhares mudos. Era um apaixonado que havia perdido sua amante dos braços. Jurou que nunca mais iria jogar. Passou o resto dos seus dias enfiando o pé na jaca em um bar. Só. Um dia, em uma festa de sua cidade, surgiu um novo campeonato. Em pouco tempo já estava de novo com aquela penca de amigos, puxa-sacos desgraçados em seu encalço. Ficou limpo. Comprou roupa nova e tudo. Fez sua inscrição e aguardou sua vez. Dirigiu-se à mesa. Agitado. Suava frio demais. As pernas estavam super bambas. Mirou as bolas com toda a convicção. Meteu a porrada nelas. Acertou umas quatro, que foram diretinhas para as suas caçapas. Gritou de felicidade. Ficou valente para a próxima tacada. Com todo o seu charme, arrochou no seu giz. Mirou com toda certeza e... rasgou o forro da mesa, zunindo a bola do outro lado do salão de bilhar. Estava eliminado na primeira rodada. Foi demais para ele. Agarrou uma garrafa de conhaque e se mandou do salão por debaixo das mesas. Sentou-se no beco ao lado e fixou residência por ali. Nada mais era importante, nem mesmo todo o seu orgulho.









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MOLECAGEM



Abriu a porta lentamente com a arma em punho. Foi alvejado no peito aberto. Descuido imperdoável de profissão. Longe da porta, ainda ouviu seu coração reclamar. Teto preto. O tempo fechou geral. Era uma presa fácil. Levantou a pistola com muita dificuldade, se ajeitou e levou um bicão na mão. O trabuco foi longe. Sem chance de recuperação. Viu seu carrasco se aproximar. Foi arrastado para dentro do armazém, deixando para trás apenas seu rastro de sangue. Permaneceu por muito tempo sem saber direito o que lhe acontecia. Só dor. Facas, alicates sujos de graxa, fios e sacos plásticos. Era uma seqüência punk com os mais sádicos métodos de tortura nazista. Não conseguiu gritar. Sofreu em silêncio, sabia que não seria resgatado dali com vida. Um gato nos dentes de um pitbull raivoso. Viu sua perna esquerda sendo pendurada, aos pingos. A visão embaçou. Esticou-se até alcançar a outra, mas escorregou no seu sangue quente que jorrava. Era o seu fim. Caiu para o lado e quebrou-se todo no chão. - Mãnhêeee! O Paulinho quebrou o enfeite da mesa, disse o irmão invejoso. E a mãe, com seu discurso de mãe, disparou na direção do garoto, - desgraçado! Foi presente da sua avó. Vem cá que eu vou arrancar sua orelha! O garoto saiu correndo para o quintal, subiu na mangueira e ficou por lá até a hora do seu pai chegar.




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REBORDOSA


Acendeu um cigarro. Viu a vida passar na espessa fumaça que pairava pelo ar. O relógio na parede marcava oito horas. O sol invadia a sala pelos buracos de traça espalhados pela cortina velha. O ontem já era passado. Levantou-se aos tropeços e foi em direção à geladeira. Não era fome o que sentia, mas precisava de alguma substância com gosto diferente do gosto que permanecia em sua boca por três dias seguidos. Apenas um litro de leite estragado e um resto de queijo vencido. Entornou o leite no copo. Completou-o com o mesmo malte maltado que o acompanhou durante esses dias. Mandou pra dentro. Lembrou das manhãs esquisitas, chuvosas, em que ficava na beira da janela esperando a chuva passar, com pipas prontas a alcançar o horizonte sem fim, - Castañeda que me perdoe, mas isso é melhor que seus parágrafos, pensou, enquanto a bebida queimava todas as células restantes do seu estômago. Caiu no chão. Era como se tivesse levado um soco de dentro pra fora. Arrastou-se até a mesinha de centro. A sala girava e o jogava para todos os lados. Esticou o braço e pegou um cigarro. Acendeu. Viu a vida passar na espessa fumaça que pairava pelo ar. O relógio na parede marcava oito...





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PARA DOIS QUERIDOS AMIGOS

noites em fuga dentro de um fusca
a alma ofuscada na fumaça de um trago
lanternas vermelhas no centro da cara
três caras mergulham no meio do nada
a floresta é cúmplice de toda loucura
hospício escondido no alto da Boa Vista
inspiração pra delírios e viagens sem luxo
caminho sem volta, acidente na pista
a lei aqui é não deixar cair
as cinzas são pra terra
a natureza bela não reprova a festa
depois dos gritos ninguém mais sabe onde está
o brasão incendeia as ideias do cara
na amplificada Soutains of Swing arregaça
a fala atropela e nem deixa seu rastro
são apenas oito da noite de uma quarta qualquer





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O DESGASTE DO TEMPO NOS DENTES


Foi avisado pelo dente caído. O tempo acabara de determinar sua passagem. Encostou-se na cama, sem sono. Varou a madrugada contando os buracos do teto e todos os insetos. Não assumiu nenhuma culpa. Percebeu-se. Distanciou-se. O cansaço o invadiu na ideia do desgaste físico acelerado. Acabara de completar 35 anos. Era um cara antiquado para alguns. Não vivia em função da moda, e adorava seu velho jeans e suas camisas pretas surradas. Não tinha a certeza de nada e isso o deixava furioso. Pensava que aos 35, já deveria ter algumas respostas na manga. Não escolheu nenhuma das profissões-sonhos de seus pais. Não conseguia imaginar nenhuma condizente com a vida que levava. Não seguiu a tradição familiar. Era avesso aos cumprimentos nas datas de aniversário. Escolheu ficar ausente de todos. E de tudo. Mas não escondia o prazer da certeza de fazer parte. Mesmo sem desejar demais. Foi ao banheiro e escovou seus dentes com uma calma jamais alcançada. Ajeitou o travesseiro tranquilamente e dormiu um sono sossegado. Sabia que o tempo não determinaria outra passagem tão cedo. Pensou no dentista e na sua máquina irritante de obturação. Relaxou. Nada poderia ser mais grave do que toda a sua indignação com o TUDO.





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DOMINGO




não fez muita questão de escovar os dentes
estava com o pau ardido de tanto trepar
fez um cigarro com os restos das guimbas do ontem
mijou no quintal e agradeceu aos céus pela vida que passava
não tinha muito o que festejar
feliz e sem convicções
sem nenhuma surpresa recente
nenhuma novidade espetacular
deitou-se no chão e esperou os fiéis cães
acariciou-os
sentiu o doce beijo sincero de suas lambidas
a vida nem era tão ruim assim




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RUSSO BARATO




quando não me sinto por perto
caio em contradições sem um fim
despenco ladeira direto
são muitos de fora, dimim!





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