sábado, 28 de abril de 2012

A MATADORA DA LIXEIRA DO 3º ANDAR


Paty Fat era uma menina extremamente engraçada. E se não fosse isso, seria mais uma gordinha sacaneada por todos do bairro. Na verdade, acontecia o contrário. No primeiro vacilo, ela entrava de sola, curtia com a cara na maior cara dura. E mesmo distante de ser uma gostosa na primeira encarada, despertava um tesão maluco nos meninos e a ira nervosa nas meninas mais descoladas. Não se conformavam com as armas utilizadas pela Paty para atrair a atenção dos rapazes. Usava e abusava dos peitões estufados no decote em bandeja. Provocava geral com um forte vermelho em sua boca Angelina Jolie, combinando com as unhas imensas que arranhavam o pulso em um simples aperto de mão. Sem falar da minúscula saia, que valorizava a dupla bundapernão, aguçando a imaginação até dos mais velhos, dos que não tinham mais idade para tal investida dentro da legalidade. Paty Fat não alimentava paixões platônicas e nem perdia seu tempo com perfumarias. Sabia das frágeis oportunidades e por isso se exibia ao limite. Sempre esperava atenta pela grande chance, que geralmente acontecia após cinco minutos de conversa com o rapaz desejado. Não perdia tempo, mergulhava boca adentro de suas vítimas, de tal modo que não houvesse chance de respiração. Uma verdadeira matadora. Mesmo sem a aprovação das amigas frustradas e a não propaganda dos machos rendidos, ela era o máximo. Até aqui tudo tranquilo, uma menina fora dos padrões, dando a volta por cima e arrancando da vida todo o possível. Tudo seriam flores se não houvesse um tal Piranha para atravancar o enredo. Piranha era um pegador veterano, cara bonito, um magro elegante que deslizava o verbo em veneno no ouvido das meninas do bairro. Um tarado de carteirinha. Vivia espalhando pela rua que jamais sairia com uma gordinha como a Paty e mesmo diante de toda a antipatia aparente, evitava ficar perto para não dar asas à sua curiosidade. Apesar dos comentários sórdidos na boca miúda, preferia manter a fama de nunca ter sido pego pela temível matadora. Isso amaciava o seu ego e o mantinha na linha de frente como o cara mais sagaz do bairro. Em uma tarde dessas, em que a turma toda estava reunida nos fundos do único prédio da cidade, ponto de encontro dos jovens aos sábados para assistirem ao jogo de vôlei dos mais velhos, Paty Fat apareceu decidida a mudar o placar do seu game contra o safado do Piranha. Ela surgiu poderosa entre os carros estacionados na calçada. Iluminada pelo foco do refletor entortado da padaria de esquina. Bem no caminho de um sopro de vento que valorizava os longos cabelos oxigenados. Espalhou o cheiro da maldade por todos os lados. Até o tempo parou encantado. Em seguida, foi um zunzunzum, um falatório desordenado, um suspense apontando o Piranha, que estatelou os olhos arregalados, engoliu seco e se agarrou com toda a força em sua medalhinha de São Jorge. A engraçada gordinha distribuiu sorrisos e cumprimentos. Foi passando e deixando sua marca inconfundível, uma simpatia irresistível, uma alegria contagiante, mas sem perder o foco em sua próxima vítima, a mais difícil, a mais ensaboada. E foi nessa intenção que ela estancou ao lado do sujeito. As pernas do moço bambearam. O olhar só fingia direção, dava para sentir o descompasso frenético no coração do rapaz. O que vem a seguir, o Piranha jura que planejou cada detalhe, até mesmo o aparente descontrole. Já Paty Fat diz que foi como tirar doce da boca de criança. Mas vamos aos fatos. Paty sabia de algumas manias do rapaz e uma delas era o cigarro. Ele não tinha o hábito de comprar, mas sempre dava um jeito de filar de alguém. E nesse dia, bastante agitado com a situação, ele caminhou por entre os amigos em busca de um e por azar do menino ou como ele mesmo disse - foram apenas peças encaixadas -, ninguém tinha para lhe dar. Ele, então, parou ao lado da Paty Fat, ainda nervoso e percebendo o revés em que se metia. E ela, disposta a agarrar sua presa, nem que fosse pelo pulmão, mandou a letra pegando fogo para o rapaz.

- eu tenho um maço fechado...
- me dá logo um! Disse todo grosseiro, mantendo a pose de bad boy.
- deixei escondido na lixeira do 3º andar... bora lá?

Foi a espetada fatal no touro cansado. Ou a simulação perfeita nas costas da matadora. Subiram na encolha, sem serem vistos. O prédio não tinha elevador e assim, propositalmente ela subiu as escadas na frente, quase golpeando a cara do oponente a cada passo rebolado. Parou na porta da lixeira. Ele estacou no último degrau da escada, ficou na espreita, não queria ser visto naquela situação. Ela entrou na lixeira sozinha, arriou a calcinha e em seguida colocou apenas a ponta do rosto para fora.

- vem... o cigarro tá queimando aqui dentro.

Ele entrou ligeiro na sequência. E o que aconteceu lá dentro, eu não tenho a menor ideia. Mas ele disse que fumou um cigarro e a Paty tentou agarrá-lo e ele deu uma volta nela, e ela tentou por um beijo e ele disse que não e ela partiu para cima e ele saiu batido da lixeira com o maço de cigarros cheinho, sem nem precisar dar um beijo no rosto da gordinha, que ainda na versão dele, levou um empurrão e se espatifou no monte de lixo espalhado pelo chão. Já a Paty Fat, contou orgulhosa que ele fumou um cigarro e tentou agarrá-la e ela deu uma volta nele, e ele tentou por um beijo e ela disse que não e ele partiu para cima e ela disse que só ficaria com ele se ele confessasse que era louco por ela e que a amava de paixão. E depois de ouvir as declarações do rapaz, ela fez o que quis e até o que ele não quis. Deixou - o derrotado, sentado no monte de lixo espalhado pelo chão, sem nem entender direito o que acabara de acontecer. Foi o que ela disse. O que eu posso garantir foi que ela desceu primeiro, apesar de eu ter dado uma saída no intervalo do jogo, mas com certeza eu a vi primeiro lá na rua. Tem gente que diz que o Piranha desceu na frente, todo marrento e arrotando satisfação. Mas vai saber o que aconteceu. Eu só sei que a Paty Fat tá louquinha por mim. Tá me dando um mole desgraçado. Mas eu não quero agora. Tô sossegado. Os imbecis lá da rua ficam me sacaneando, dizem que eu tô viajando, Forrest Gump, que a Paty nunca que iria sair comigo, um moleque dessa idade. Mas vai saber se já não saiu... E isso, só se eu te contar.





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segunda-feira, 16 de abril de 2012

RECEITA NO VERSO








No dia 11/04 começou a circular na UFRR o fanzine literário RECEITA NO VERSO. Essa é uma das possibilidades de intervenção dentro do campus que estava engavetada faz tempo e que agora no último semestre do meu curso de Letras/Literatura eu consegui colocar ação. Escrever nunca foi uma tarefa simples e muito menos entender como se dá esse processo em minha vida e essa é uma das razões que me faz continuar.
Nesse semestre pretendo lançar meu primeiro livro de contos. Isso seria uma tarefa fácil, acredito, se escrever não estivesse ligado ao meu processo de crescimento como indivíduo, se escrever fosse algo que eu pudesse explicar apenas com a palavra inspiração, se escrever não tivesse essa faca no pescoço me lembrando a todo momento que eu posso fracassar, e não digo na escrita e sim na vida. O processo de escrever é tão esquisito que volta e meia eu me percebo tentando boicotar a escrita, tento fugir como o diabo foge da cruz. É assim que escrevo, muitas vezes para não fracassar.
Enfim, Fanzine é uma publicação independente, de baixo custo, xerocada, normalmente editada por alguém que curte muito um determinado assunto e deseja dividir as suas ideias. Entendo o Fanzine como um instrumento de comunicação muito poderoso. Por ser uma publicação de bolso, trazer uma linguagem diversificada, com textos curtos e digrátis ele possibilita um contato direto entre escritor e leitor. O livro proporciona isso, mas nem todo mundo compra, aliás, nem todo mundo lê. A internet proporciona isso, mas nem todo mundo acessa blogs e sites de literatura, ainda mais depois da febre FACEBOOK e TWITTER, no qual as pessoas investem um tempo enorme e não reservam espaço para outras leituras. Não sou contra essas ferramentas, apesar de ter me afastado delas por acreditar que o conceito de Rede Social não funcionava na minha vida, pois quando eu deixo de fazer um comentário com quem tá do meu lado, fisicamente, para inserir esse comentário em uma rede virtual, eu acabo por me isolar, o contato não acontece. É um tiro no pé.
Escrever em um Fanzine até me pareceu uma ideia nostálgica, diante dessas tecnologias todas, Internet, Ipad, Iphone, mas ainda acredito na sensação indescritível do livro nas mãos, e no caso dessa publicação independente, o leitor com um mínimo de curiosidade não vai ter muito trabalho. É só abrir e ler. E aí, quando isso acontecer, a comunicação foi realizada. E o que isso pode gerar? Eu não tenho a menor ideia. Mas continuo escrevendo. 





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