sábado, 5 de fevereiro de 2011

DO OUTRO LADO

Ele sempre ficava na área de sua casa. Chegava e estacionava. Bebia algo, fumava alguns e relaxava. Essa era uma rotina que insistia em tentar ser outra coisa, algo ruim. Mas não tinha jeito, era o que ele sempre desejou. O que realmente lhe dava prazer. Costumava a se exercitar pelo quintal. Levantava pesos, feitos com cabo de vassoura e garrafa PET entupida de terra. Mantinha certa regularidade e o corpo saudável e pronto, agradecia a função. O pânico total eram os barulhos do vizinho. Ele tinha a consciência de que falava como um italiano descontrolado, mas os diversos sons vindos do lado e sem movimentação nenhuma de rotina, era a razão de toda a sua paranóia. Um dia, pela manhã, subiu no muro, por trás da bananeira, malocado. Meteu o carão para o outro lado e nada viu. Nem ao menos uma alma.
- e os ruídos? não tem ninguém? Ficou invocado com a imagem. E a perturbação sonora aumentou. Manhã, tarde e noite. E também nos dias em que ele virava direto. Cabreiro, inquieto, não desistia da ideia de que era vigiado. E foi assim, até que em uma dessas manhãs, quando ele colocou a mão no muro para espiar outra vez, uma luz forte, vinda dos céus, como um foco em sua imagem, o sugou em apenas um som.
No outro dia, os visitantes do lado partiram para outra tarefa. Em outras hipóteses imagináveis. E em silêncio.







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