quinta-feira, 28 de agosto de 2008

ENSAIO ABERTO

HOMENS, SANTOS E DESERTORES

TEXTO: MÁRIO BORTOLOTTO

DIREÇÃO: GRAZIELA CAMILO

ELENCO: MARCELO PEREZ E RENATO BARBOSA

CENTRO DE CIDADANIA NÓS EXISTIMOS

Rua Floriano Peixoto, 402 - B (ao lado do Colégio São José, Orla Taumanan)

SEXTA-FEIRA, 29/08, ÀS 20H.

ENTRADA FRANCA



domingo, 24 de agosto de 2008

sábado, 23 de agosto de 2008

A VIDA É AGORA

Até agora não entendi a sua maluquice, afinal de contas sempre fomos amigos. Vários anos. Tesão nunca rolou mesmo. Não dá, sabe? Com amiga é foda! Esse negócio de que mulher não pode ser amiga de homem é pura balela. Eu sempre fui seu amigo. Acredite, em nenhum momento te olhei maliciosamente. Tá certo, você era gostosa pra caralho, um puta de um bundão e... mas nunca rolou. Cara, já se esqueceu das madrugadas que passamos juntos chorando as nossas decepções amorosas? Já dividimos desgraças demais. Nos revelamos demais. E você sabe, esse não é um comportamento de um casal. Por incrível que pareça, os casais são estranhos. Os amigos não. E comigo é assim, ou é casal ou é amigo. Foda-se. Fiquei até lisonjeado com seu convite, porra, um filho? Eu adoraria ter um. Que merda! Eu devia ter aceitado. Se tivesse que escolher uma mãe pra ele, não teria pensado em outra pessoa que não fosse você. Sua louca, sempre achei diferente essa idéia de ter um filho com minha melhor amiga. É verdade, não ia rolar o trauma da separação, né? Bom pra criança. Iria ter duas casas. Pera aí, não vai me dizer que você pensou que pudéssemos morar na mesma casa? Sem sexo? Em família? Puta que me pariu, você era mais louca do que eu podia imaginar...na verdade, eu queria te dizer que eu teria adorado essa idéia. Eu, pai. Só você mesma... Tá na hora, vê se fica bem, tá? Eu volto no ano que vem. E pode deixar que te trago flores novas, mais perfumadas. Essas aqui são a sua cara. Descanse em paz, minha amiga.










quinta-feira, 21 de agosto de 2008

ATÉ QUANDO?

Desceu do ônibus pela porta da frente. Apenas deu uma olhada na cara do motorista. O piloto sentiu a urgência. Mas não enxergou o desastre que acabara de descer de seu veículo. O homem invadiu a feira agitado, era a sua primeira vez. E única. Sentiu medo. Excitação. Estava seguro de seus valores religiosos. Queria garantir o respeito eterno para a sua família. Era o que podia oferecer. Caminhou até o meio e parou ao lado de uma lata de lixo. Tirou do casaco uma caixa pequena, comum. Depositou –a dentro da lata com muito cuidado. Tirou seu boné e começou a rezar desesperadamente. Chamou a atenção da multidão aflita por preços mais baratos que a vida. Olhou em volta e sorriu. No instante seguido, desapareceu junto com a feira em uma enorme explosão. Entre legumes e frutas, pedaços expostos de corpos humanos e idéias xiitas. Uma atrocidade. Sem fim.







quarta-feira, 20 de agosto de 2008

AGENDA DA CIA. DO LAVRADO


HOMENS, SANTOS e DESERTORES, de Mário Bortolotto
.

Direção: Graziela Camilo
Elenco: Marcelo Perez e Renato Barbosa
Músicas: Gilson Larialp
Operador de Luz: Ivan Andrade

27/08 - LEITURA DO TEXTO (20h.)


Entrada Franca

29/08 - ENSAIO ABERTO (20h.)

Entrada Franca

06/09 - ESTRÉIA (20h.)
Ingressos: R$ 10,00 + 1kg. de alimento não perecível.
e R$ 5,00 + 1kg. de alimento não perecível (estudantes).

30/08 - FESTA DA CIA. DO LAVRADO (21h.)

Shows com as bandas SOMERO e HCL, exposição da artista plástica Vera Aparecida, sarau de poesias, biritas e muito mais.

Ingressos: R$ 5,00 + 1kg. de alimento não perecível.


Tudo isso no Centro de Cidadania Nós Existimos
Rua Floriano Peixoto, 402
Centro (próximo à Orla Taumanan)





quinta-feira, 14 de agosto de 2008

CONTRADIÇÕES

Entrou em casa e viu sua irmã trepando no sofá da sala com o porteiro do plantão. Passou sem ser notado. Ou talvez tenha sido ignorado. A sacanagem estava muito gostosa para ser interrompida. Trancou-se no quarto e enrolou um baseado. Deixou Bob Marley levar. Por mais doidão que ficou, não foi o suficiente para esquecer a cena na entrada de sua casa. Abriu a gaveta e pegou um álbum de fotos. Chorou ao passar os retratos. Deu o último trago no baseado, abriu o armário, arrancou uma mala da prateleira de cima e sacou uma pistola, que não era de água. Saiu do quarto desesperado e ainda chorando demais. Foi à sala. Nem foi percebido. Apontou para a cabeça e disparou. Um único tiro. Sem chance de recuperação. O porteiro tombou no chão. Sua irmã paralisou. Estava em choque. Ele não parava de repetir, - Desgraçado! Por que você me traiu assim?








BLOCO C

Em dia de visita o rigor é maior. Ninguém escapa, nem mesmo as crianças, até mesmo porque elas podem ser portadoras de objetos e informações importantes. Não pense que as comidas escapam. Tudo é revirado e olhado por guardas atentos aos mínimos detalhes. Cigarro é permitido. Álcool não. Maconha ou pasta de coca, impossível. Mas entra. Esquemas do devorador mundo capitalista. Festas acontecem. Encontros sexuais também. Uma oportunidade de sair da rotina encarcerada. Sem ciúmes. A visita é território neutro, cafécomleite. Os casais se separam todas as quintas, à tarde. No fim da noite, elas se encontram no banheiro e trocam carícias sem parar. Não olham para as outras. O banheiro é código, liberdade, permissão, omissão e muita promiscuidade. A diretora da cadeia sabe, mas faz vista grossa. De outro jeito teria rebeliões todas as semanas. Mas come também uma detenta. E isso pesa. Não dá para segurar uma mulher com vontade de trepar, o que dirá uma cadeia toda. Mesmo livres, ainda encontram tempo para se apaixonarem. E tem esperanças. As meninas do Bloco C são as mais perigosas. Obsessivas por natureza. Não frequentam esse parque de diversões sexuais. Tudo é mais vigiado. No máximo masturbação. Um solitário jeito de não enlouquecerem definitivamente. Na última visita, na quinta passada, elas se rebelaram. Pegaram duas guardas como reféns. Alcançaram, nervosamente, o telhado e tomaram todo o Bloco C de assalto. O choque invadiu. Elas não recuaram, bateram de frente. Estavam dispostas a tudo. Foi uma carnificina. Estiletes improvisados rasgaram muitas barrigas uniformizadas. Morreram todas. O Jornal Nacional chegou a falar do assunto. Muito tímido. Uma intoxicação em massa no Bloco C. Uma tragédia. Nenhuma presa sobreviveu. Desativaram o prédio. Na maior cara dura assinaram o atestado de culpa. E até hoje nenhum processo foi aberto. Nos dias de visitas é servido um bolo enorme. Exigência das detentas. Paliativo, mas extremamente político.









terça-feira, 12 de agosto de 2008

CIA. ARTEATRO ESTRÉIA


ESTRÉIA

"QUALQUER GATO VIRA - LATA TEM UMA VIDA SEXUAL MELHOR QUE A NOSSA"

ADAPTAÇÃO DO TEXTO DE JUCA DE OLIVEIRA

SESC - CENTRO
30 E 31/08, ÀS 20:30

CIA. ARTEATRO








sábado, 9 de agosto de 2008

PELAS RUAS


Afastou o papelão de seu corpo. Levantou a cabeça bem devagar. O sol o surpreendeu com um raio forte no olhar. Puxou o papelão. Escondeu a cara. Colocou os olhos para fora, cabreiro. Encarou o astro rei. Levantou-se de sua cama. Uma caixa de geladeira encostada na parede de um beco do bairro. Pegou seu barbeador estragado e tentou arrancar alguns fiapos do rosto. Lavou a cara com a água recolhida da chuva da madrugada e caminhou até o meio da multidão. Precisava descolar o café. Entrou na fila do abrigo comunitário e esperou. Era pão com goiabada e café. O seu cardápio predileto. Fez a primeira refeição com muita calma, saboreou, sabia que podia ser a única do dia. Saiu do abrigo e ganhou a rua. Observou os carros em todas as direções. As pessoas e suas urgências desnecessárias estampadas na cara. Assobiou Blues da Piedade e seguiu seu caminho incerto. Sem olhar para trás.







sexta-feira, 8 de agosto de 2008

RASCUNHOS


Filho coloca um rock. Arruma a sua cama. Ajeita as bagunças do seu quarto. Tenta deixar o ambiente agradável. Acende um incenso. Examina cada canto. Ouve batidas na porta. Abre. É a sua mãe. Deixa – a entrar.


MÃE – (invade o quarto) Não tenho muito tempo. Termina logo com esse mistério.
FILHO – (aponta a cama) Senta aqui, mãe.
MÃE – (olha ao redor) Nossa, vou pegar a filmadora pra registrar isso aqui. Nunca vi esse quarto tão arrumado e cheiroso. Realmente tá com cara de quarto.
FILHO – Eu só mexi numas coisas.
MÃE – Olha, você não sabe o quanto eu queria que você mexesse em algumas coisas de vez em quando.
FILHO – Tá legal, mas senta aqui, mãe.
MÃE – É sério, você já tá com 22 anos, devia se acostumar a manter seu quarto assim. Sabia que o jeito que cuidamos de nosso quarto demonstra a forma como encaramos a nossa vida? Já perdi as contas de quanto eu já repeti isso pra você.
FILHO – Dá um tempo, mãe, eu que te chamei pra conversar. Abandona um pouco os seus interesses e me ouve.
MÃE – Tá bom, mas vê se não demora que eu tô esperando visita.
FILHO - Papai não chega hoje?
MÃE – Não, ligou agora a pouco avisando que perdeu o vôo e vai ficar mais um dia em Manaus.
FILHO – Agora eu entendi a sua pressa...
MÃE – Vai me recriminar agora, é? Você tá careca de saber que ele não perdeu vôo nenhum. Vai é ficar com aquela vadia... (recalcada) que se diz atriz! Ela tá é arrancando o dinheiro do seu pai. Não demora muito, você vai tá atendendo a porta pra um moleque parasita, te chamando de irmão. Aí eu quero ver você me recriminar.
FILHO – Se você fosse menos exigente, talvez papai não sentisse necessidade de buscar outros corpos lá fora.
MÃE – E o que tem de errado com esse corpinho aqui? Fique sabendo que eu tô dando banho em muita garotinha por aí. E vem cá, agora eu é que sou a culpada, só me faltava essa. Vou te dizer uma coisa, o seu pai sempre foi assim, desde a época de namoro. Os homens são assim. Não convivem bem com a monogamia, sei lá, já faz parte deles, entende? Que culpa tenho eu de exigir mais atenção, mas olha, nada que seja demais, o suficiente pra eu me sentir importante e necessária ao lado dele .
FILHO – Você às vezes sufoca.
MÃE – Pera aí, que discurso é esse? Então quer dizer que você concorda com a postura do seu pai?
FILHO – Não é isso, mãe...
MÃE – Não é isso o quê? Você aprova a atitude do seu pai sim, lógico, é um homem. Você pensa igual a ele. Mesmo com toda essa aparência liberal, você no fundo é conservador. E torce por ele.
FILHO – Que conservador, mãe, não é nada disso, eu só acho que as pessoas tem o direito de serem felizes, e que todos deveriam respeitar as decisões dos outros.
MÃE – Então respeite a minha. Ele sai e eu abro a porta pra felicidade. Mereço um pouco também. Mas como você mesmo disse, eu não vim aqui pra falar de mim. Desembucha logo, que assunto importante é esse que você tá a semana inteira me preparando?
FILHO – Calma, o papo tá bom. Sabia que a senhora pouco entra aqui.
MÃE – Mas não tem nenhuma novidade aqui, eu comprei tudo, a única coisa que me surpreendeu foi a arrumação. Parece até que passou uma empregada por aqui.
FILHO – Eu já tô afim de falar com a senhora faz tempo...
MÃE – Tá, mas não me vem com esse discurso de filho carente, que eu não apareço, você sabe, nós não te educamos assim.
FILHO – Fica quieta, mãe, deixa eu falar agora. Nossa, você fala muito!
MÃE – Tá bom, calma, eu sou toda ouvidos.
FILHO – Então, eu já tô com 22 anos, como a senhora mesma disse. Já sou responsável pelas minhas escolhas e...a senhora sabe, nem tudo que a gente escolhe ser, viver, experimentar, as pessoas lá fora aceitam, não é verdade?
MÃE – Você tá dizendo...
FILHO – Mas é mesmo. Veja o seu caso, por exemplo, a senhora tem um amante. A sociedade recrimina isso, mas a senhora não tá nem aí, quer dizer, tá. É, porque senão, não ficaria às escondidas.
MÃE – Tá...continua...
FILHO – Olha, mãe, não pense que eu sou contra a sua decisão. Eu posso não demonstrar, mas eu aceito a sua opção. Tá certa, é isso mesmo, tá infeliz? Então precisa mudar. Confesso que eu queria que você e o papai se dessem bem, mas fazer o quê? A vida nos apresenta cada surpresa, não é mesmo?
MÃE – Eu não faço isso por vingança. Eu sinto falta mesmo. Não de um rosto específico, seu pai foi uma surpresa na minha vida, como poderia ter sido com qualquer um. Eu não consigo é conviver com aquela sensação de não ser desejada. Toda mulher precisa disso. Os homens não entendem, não precisa nem de amor, isso é Casablanca, é invenção, nós sentimos falta mesmo é de sermos desejadas. Todas as mulheres só querem isso. Mas vocês não entendem...
FILHO – Entendo sim, mãe, eu também sou assim. Eu preciso ser desejado, eu preciso perceber que sou importante pra alguém, sabe? Que a minha presença desestabiliza esse completamente seguro de si. E eu queria falar contigo sobre isso. Sobre o que eu sinto há anos. Sobre o que eu não compreendo porque sinto, e que eu não me preocupo nem um pouco porque eu sinto isso. Eu já fiquei muito confuso, mas agora resolvi dar um basta a toda essa confusão.
MÃE – Pra isso me chamou aqui?
FILHO – Isso mesmo, eu não agüentava mais esconder isso da senhora. Não que eu esteja buscando aprovação, não sei, vai ver até que é, mas o que mais me tá claro é que eu preciso de um aliado dentro da minha casa. Eu não queria achar importante a opinião de alguém daqui, mas porra, eu acho, que merda! Seria tão mais fácil ligar o botão do foda-se e viver a vida do jeito que eu quisesse, mas não, essa bosta dessa necessidade de falar, de obter aprovação. Eu não queria ser assim, mãe, eu juro que eu queria não me importar pra o que você pensa sobre mim.
MÃE – São os laços que nos unem, eu também nunca gostei disso. Cansei de tomar atitudes contrárias aos meus valores só pra não contrariar os valores dos meus pais.
FILHO – É isso, assim mesmo que me sinto! Nossa que alívio. Ô, mãe, que bom que a senhora entende, eu pensei que fosse mais difícil, mas a senhora é cabeça mesmo. Obrigado.
MÃE – Tá legal...e então?
FILHO – Então o quê?
MÃE – Não foi pra isso que você me chamou até aqui, foi?
FILHO – (nervoso) Não, quer dizer, mas faz parte...é tudo uma coisa só...se a sua reação foi legal com essa parte teórica, tenho certeza que na prática se eu falar pra senhora que eu adoro meninos, pôxa, a senhora vai entender numa boa, não é mesmo?
(Pausa)







RASCUNHOS (continuação e fim)



(Pausa)
FILHO – A senhora quer um cigarro?
MÃE – Parei faz uma semana...
FILHO – Ei, e isso aqui? (apanha dentro do criado-mudo uma garrafinha de uísque)
MÃE – (arranca a garrafinha das mãos dele e dá logo uma golada) Acho uma boa hora.
FILHO – Olha, mãe, não precisa falar nada agora e nem nunca...fique à vontade pra ser você.
MÃE – Se eu fizer isso você não sai vivo deste quarto.
(Pausa)
MÃE – Acho que acabamos. (levanta-se para sair do quarto).
FILHO – (segura a mãe) Pera aí, mãe, não sai assim, vamos conversar...
MÃE – De que adianta, você me parece bem decidido, mas não me venha pedir que eu aceite isso, que você sabe muito bem que eu não aceito. Um filho viado, era só o que faltava na minha vida.
FILHO – Viado, não!
MÃE – Viadinho sim! Qual é, vai tapar o sol com a peneira agora?
FILHO – Eu nunca pensei que.. você fosse ter uma reação como essa, que decepção.
MÃE – Decepção? Vai te à merda! Meu filho diz que adora um macho e você é que se dá o direito de se decepcionar? Mas não mesmo.
FILHO – Você me enganou direitinho, toda liberal, amamentando um amante dentro da nossa casa, jogando pro alto o casamento na maior, nossa, quanta contradição.
MÃE – Olha, a minha vida não está em cheque aqui. Não fui eu que te procurei pra falar das minhas obsessões. O que eu faço ou o que eu deixo de fazer não te interessa. Vai pagar umas contas aqui de casa pra depois vir me dar espôrro.
FILHO – É mesmo é? Então agora é assim, me coloca no mundo sem me consultar e depois me sufoca com um monte de cobranças? Nada disso, mãe, esse peso a senhora vai ter que carregar comigo. Não foi a senhora mesma que disse que não escolhemos família? Então, essa barra eu não vou segurar sozinho. Percebeu?
MÃE – Não quero nem saber, isso é assunto pra seu pai. Se você fosse uma menina, na certa ele iria te empurrar pra cima de mim. Vai lá procurar aquele filho da puta, e aproveita e diz pra ele que eu não tô nem um pouco com saudade.
(Pausa)
FILHO – Vocês nunca pararam nem um instante pra me ouvir. Me lembro que as poucas vezes que experimentei a atenção de vocês, senti a ausência de suas almas. Vocês estavam ali, de corpo, mas o pensamento não conseguia abandonar suas necessidades. Vocês sempre foram muito egoístas, acredita que quando eu tinha meus 17 anos, cheguei a pensar que eu era filho adotado? Mãe, vocês nem perceberam que eu cresci, que eu sou alguém com vontades. Olha, embora eu queira tanto dividir isso contigo, e que essa dependência me deixa puto, tô preparado pra não te ouvir mais. Eu sei que a gente não vai mais falar nesse assunto, e que a senhora vai fingir que nada aconteceu. Não me importo em te ver brincando de realidade pela casa. Nisso somos iguais. Nem eu e nem a senhora somos pessoas de agüentarmos a convivência com um calo desgraçado apertando o nosso pé. Fingimos que ele não existe.
(Pausa. Mãe abre a porta).
MÃE – Vou preparar o teu lanche. Liga pra Flavinha vir lanchar contigo. Ela arrasta uma asa pro teu lado.
(Filho pega o fone de ouvido, coloca no seu rádio e se deita na cama. Mãe sai).







PRECISAMOS PRODUZIR MAIS

Tô ensaiando num ritmo bem legal. A Cia. do Lavrado tem quase 1 mês pra montar o seu próximo espetáculo. Parece pouco tempo, mas é o suficiente pra aprontarmos um produto de qualidade. Uma das metas da Cia. do Lavrado pra esse ano era justamente produzir nos 2 semestres. Imaginamos também ser possível de levantar um espetáculo em pouco tempo. Fomos lá e compramos os direitos desse texto. É nosso desafio. Esse negócio de levar 1 ano ensaiando um trabalho pra depois realizar apenas umas 4 apresentações, não contribui em nada com o processo de formação de platéia em Roraima. Isso é o que eu tô percebendo há algum tempo por aqui. Já estamos carecas de saber que pra formarmos platéia é necessário produzirmos muito mais. Já falamos muito sobre isso na FETEARR - Federação de Teatro de Roraima, com os outros grupos e torcemos pra que eles produzam mais também. Esse 2º semestre parece que vai ter um monte de estréias. E aproveitando o clima de competição (insisto nisso não pra ironizar e sim pra provocar mudança mesmo), quem sai ganhando nessa história são os grupos e seus artistas, o público e o teatro em Roraima. Que seja. Tá aí um ótimo motivo pra comemoração.







É FESTA SIM!

Fiquei animado com a movimentação da produção da festa da Cia. do Lavrado. O pessoal tá motivado e com muitas idéias para a festa. Achava que eu era o único doido dali, mas percebi que é geral. Ninguém bate muito bem da cabeça. A programação tá bem legal e tem tudo pra ser uma puta festa. Amanhã confirmaremos a data, mas se preparem que será neste mês. Comentei com um amigo que na época da escola de teatro nós íamos há muitas festas. A gente trabalhava pra caramba, estudava direto, mas não perdíamos as festas. O povo tava sempre arrumando um motivo pra comemorar, na verdade, pra reunir os amigos do teatro. E eram festas das mais variadas, desde as grandes produções até mesmo as reuniões nas casas de amigos. Rolava um som, uma bebida e muitas vezes íamos até o dia amanhecer. Faz tempo que insisto na idéia de fazermos uma festa da FETEARR, mas a coisa até agora não rolou. É uma meta da FETEARR para 2008, mas ainda não deu. Sei lá, continuo achando que a tal da competitividade que existe, acaba por afastar os artistas de momentos tão legais como uma festa.
Bom, a Cia. do Lavrado vai dar uma festa. Precisamos comemorar esse momento tão legal que estamos experimentando. Vai ser o lançamento oficial do nosso site, http://www.ciadolavrado.com.br/ , vamos apresentar a nossa nova logomarca e comemorarmos a estréia da nossa nova produção, Homens, Santos e Desertores, um texto de Mário Bortolotto, com a direção de Graziela Camilo e no elenco, Marcelo Perez e Renato Barbosa. E por que não festejar também o sucesso da temporada do espetáculo A Retrete ou a Latrina?
Então é isso, vamos arregaçar as mangas e fazer acontecer. Precisamos mesmo de uma puta festa. Nós merecemos muito isso! Estamos fazendo parte de uma história muito legal aqui em Roraima, que só não está mais avançada por conta de mediocridades de bastidores. Mas cada um tem o seu tempo pra perceber que a vida tá urgente e não dá pra perder tempo com ninharias. Que negócio é esse de nos escondermos? Uma classe artística que não faz festa é porque não tem nada pra comemorar. Nós temos. É festa sim!








quinta-feira, 7 de agosto de 2008

CINCO CONTRA UM


TODO EXCESSO DE ENERGIA CRIATIVA
VAI EMBORA
NUM JATO DE UM GOZO PENIANO
EM SEGUIDA, A MENTE VOLTA AO NORMAL







segunda-feira, 4 de agosto de 2008

CULTURA QUE É BOM, NADA!


TÁ DE SACANAGEM, NÃO É?

Vale Conferir
Acontece hoje no Palácio da Cultura o 1º Encontro Nacional de Produtores Rurais e Desenvolvimento Sustentável em Áreas Fronteiriças (tirada da coluna social da Folha de Boa Vista).


CULTURA QUE É BOM MESMO OS CARAS NÃO FAZEM!








NOVO ESPETÁCULO EM AGOSTO


HOMENS, SANTOS E DESERTORES
Texto: Mário Bortolotto

Direção: Graziela Camilo
Elenco: Marcelo Perez e Renato Barbosa






BANQUETE TEATRAL

Hoje teve Banquete Teatral na Orla. O Banquete é um evento criado pela FETEARR - Federação de Teatro de Roraima e que leva às praças de Boa Vista, de dois em dois meses, cenas de pelo menos uns 15min. Já fazemos isso desde o ano passado. A FETEARR é composta por seis grupos, mas apenas quatro grupos é que mantém frequência neste evento de tamanha importância. São eles, a Cia. do Lavrado, O Grupo Criart, a Cia. Arteatro e o Grupo Locômbia. Infelizmente os grupos Malandro é o Gato e A Bruxa Tá Solta não estão conseguindo chegar conosco, pois o primeiro passa por momentos de reestruturação e o outro interiorizou as suas ações e desapareceu de Boa Vista. Sentimos a falta dos dois.
Bom, os bares da Orla estavam fechados e por um momento pensei que não ia rolar público, mas me surpreendi. O pessoal apareceu, como sempre atrasado, e pelo que percebi, foram exclusivamente para nos assistir. O Banquete Teatral começa a arrancar o público de suas casas. É o tão sonhado processo de formação de platéia em ação.
As apresentações foram bem legais. O Grupo Locombia apresentou-se com muita mímica, linguagem circense e bom humor, que já é tradicional do grupo. A Cia. do Lavrado entrou em seguida com seu trabalho de rua voltado para a prevenção às DST/HIV/Aids, com aquele forró tocado ao vivo e cantado pelos atores. A Cia. Arteatro trouxe um mix de cenas. Experimentações interessantes que também me parece ser uma proposta do grupo. O Grupo Criart não participou, pois o rádio não fez a leitura de seu CD. Fica aí o lembrete, todos que vão utilizar som de rádio devem experimentar o cd em casa e se possível levar o seu próprio aparelho. Acidentes acontecem e é muito ruim estar lá e não apresentar.
No mais, acredito que foi mais um gol da FETEARR. O próximo Banquete Teatral será em São João da Baliza, no interior do estado. E tenho certeza de que será bem legal. Até outubro.







sexta-feira, 1 de agosto de 2008

NO BOM CAMINHO

Terminou a última linha. Fechou a lata de tinta, guardou o pincel e caminhou de volta. Após uns 15 passos escutou um estardalhaço distante. Olhou para trás e viu no local de sua última linha, dois ônibus lotados com o bico colado. E muita gente gritando. Uma tragédia. Observou a correria desesperada da multidão, mas não conseguiu sair do lugar. A todo momento um pensamento desgraçado o torturava.
- Será que eu fiz a linha na direção certa?
Resolveu chegar mais perto, se disfarçou de curioso. Se escondeu no meio do povo e não parou de somar. Em todos os resultados a culpa caía sempre pra cima de si. Não teve mais dúvidas. Se sentiu responsável por aquela pintura Dantesca e decidiu desfazer o desengonçado ocorrido. Abriu a lata de tinta que trazia em suas mãos, e sem dó nem piedade jogou toda a tinta branca restante em cima do desastre. As imagens, aos poucos, foram se transformando. Perdendo o seu signficado inicial para desaparecerem por completo em um imenso lençol branco no asfalto. Tirou do bolso uma lata menor, com muita tinta preta. Trocou de pincel e começou a reencarnação daquela imagem através dos detalhes. Os ônibus passaram bem distantes um do outro. As pessoas passaram sorrindo demais. E o pintor deu as costas para aquela felicidade e seguiu adiante em busca da sua. Ainda mais colorida.








TÁ MAIS QUE NA HORA

Cara, tava pensando aqui e aproveitando o tempo do almoço, essa história de viajar pra festivais é muito legal. Até agora minha cabeça tá cheia de interrogações. Quanta coisa legal aprendi por lá, quanta coisa legal que sinto vontade de dividir aqui na cidade, mas não me sinto à vontade pra isso. Nosso coletivo (termo muito usado em Porto Velho e no Acre) de teatro não permite essa abertura. É verdade, eu tô dando um jeito de dividir, coloco alguma coisa aqui no meio de algum texto, envio e-mail para o grupo de discussão com alguma provocação e às vezes dou sorte de alguém responder e iniciar um bate-bola. Pra vocês verem como é difícil, nem os diretores dos grupos de teatro se manifestam. Não trocam informações, não respondem aos e-mails que são mandados com esses assuntos mais técnicos.
Cara, eu fico pensando, tô em Boa Vista faz nem 5 anos. Sinto uma falta fudida de me reciclar, de aprender coisas novas, de discutir outras maneiras de fazer teatro e sem dúvida alguma, discutir processos de trabalho e criação com outros atores e diretores é uma maneira saudável de reciclar. Mas ao contrário disso, me lembro que quando os outros grupos viajam pra festivais, ou pra Brasília ou outro evento de caráter teatral, seja pra apresentar ou fazer política, quando voltam, a gente não fica nem sabendo que voltaram. Tá, pode ser que eu esteja cobrando algo que talvez eu também não costumava fazer tanto, mas é uma boa hora pra mudar nossos pensamentos, não acham?
Não sei, aprendi tanto com os outros de fora, que se eu me colocar numa posição de que não posso aprender nada com quem faz teatro aqui, meu irmão, eu tô fudido legal. E eu sempre prestei atenção no trabalho dos outros daqui e sempre aprendi muito com eles. Gostando ou não, sempre respeitei todos.
O fato é que a tradição precisa ser mudada. Essa sensação de competição não é legal. Quando falamos em federação, precisamos deixar um pouco de lado nossos interesses e partir pra dentro mesmo. Não sei, antigamente eu achava que estávamos próximos do outros estado da região norte com relação à política, mas vejo hoje que estamos bem distantes. Estamos longe de sentarmos à mesa com o poder público, por exemplo, pra discutirmos melhores condições para o teatro local. Ainda nos refugiamos nos jornais, sites e blogs da vida com nossos discursos coerentes, mas que de nada adiantam se não estiverem embuídos de ação contínua.
Bom, vou postar esse texto também no grupo de discussão da FETEARR, não sei se os caras entram no meu blog, mas vamos ver se consigo iniciar essa discussão por lá.
Então, aqui não é o fim. É o começo, pelo menos aqui no meu blog. Voltarei a falar disso em outro post.







SÓ MESMO COM MUITO TRABALHO

Tava agora a pouco respondendo um e-mail e me lembrei da CAL, lá no Rio de Janeiro. Foi a escola que me formei, na verdade, um curso profissionalizante que te dava um registro profissional ao término de suas atividades. Um curso muito bom, com alunos do Brasil todo, aliás, um dos melhores cursos de teatro do Brasil.
Então, fiz essa introdução babada pra dizer que não adianta nada você estudar num lugar como a CAL, se não estiver afim de trabalhar de verdade. Foi lá que eu aprendi que essa história de talento é discurso de família, daqueles assim:
- Como esse moleque é talentoso, vai ser artista! Porra nenhuma, se o cara não trabalhar, não tem conversa. Conheci muitas pessoas talentosas. Talento de verdade mesmo, e que hoje, tenho certeza que muitos desistiram do teatro. Não é só isso. Aprendi que 98% é trabalho. Os míseros 2% de talento não são nada se o cara não fizer por onde.
Em Boa Vista, assim como em todo o Brasil, encontramos muitos jovens fazendo teatro. Alguns ainda nem sabem por que o fazem. Legal, estão no processo deles. Mas vejo uns mais interessados, que procuram material pra estudar, que se esforçam em participar de atividades coletivas, que se oferecem pra ajudar, que são pontuais em eventos coletivos, que mesmo com pouca experiência de vida e de teatro se metem em discussões na internet, que falam o que pensam, sei lá, esses eu consigo sentir a necessidade de fazer teatro. Mas minha opinião também não deve ser levada em conta, é minha opinião e não sou dono de verdade nenhuma. Aliás sempre pensei assim, mas as pessoas insistem em deturpar tudo que digo.
Mas bora lá, esses jovens atores podem até desistir em alguma etapa de suas vidas, mas vão tá sempre com o vírus bem vivo dentro deles.
Resolvi escrever sobre isso porque acredito no trabalho em teatro. Porque acredito que através do trabalho nós conseguimos ousar. É pelo trabalho e só com ele que eu mergulho num assunto que eu não domino, mas que tenho a certeza de que se eu der o pontapé inicial e insistir legal, o resultado virá. Mais cedo ou mais tarde. É ancorado no trabalho que eu sinto coragem de ser diferente. De tentar diferente. De me surpreender e surpreender aos outros no teatro.
A escola boa mesmo é essa. A experimentação na vida. E o trabalho...não tem jeito, se alguém conhece um outro, por favor, não me ensine!





CARMÉZIA EMILIANO E LÉO MALABARISTA

Carmésia Emiliano participa de exposições em Brasília e São Paulo

A artista plástica e índia macuxi Carmézia Emiliano vai expor parte de sua obra em Brasília e São Paulo a partir de setembro. A artista foi convidada pelo senador Augusto Botelho para participar da Mostra de Artes Plásticas, que acontece no Senado Federal, em Brasília, de 11 de setembro a 02 de outubro.
Apenas repassando...


Carmézia também vai expor em Piracicaba-SP, na Bienal Naïfs do Brasil, realizada pelo Sesc São Paulo, naquela cidade. A exposição acontece de 05 de setembro a 14 de dezembro deste ano.
O resultado da seleção para a Bienal foi divulgado no dia 24 de junho. Das 904 obras inscritas, foram selecionados 107 trabalhos entre artistas de todo o Brasil, representando 21 estados.
Carmézia Emiliano teve sua obra "Espremendo Caju" entre as selecionadas e recebeu o prêmio de Menção Especial.

Léo Malabarista
Quem também inicia nova fase de seu trabalho circense é Léo Malabarista, que a partir da próxima semana instala seu novo circo em Boa Vista. A lona será armada no final da Av. Ataíde Teive, próximo à usina termoelétrica.
A nova fase conta com o apoio da Secretaria Extraordinária de Promoção Humana e Desenvolvimento (SEPHD), através da secretária e primeira-dama do Estado, Shéridan de Anchieta.
Mais informações com os artistas através dos telefones 9125-0599 (Carmézia) e 8116-6863 (Léo).

Gilvan Costa
Assessor de Comunicação do Sesc Roraima
3621-3937 / 9971-8132 / 9972-9220