sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CARNE HUMANA NA VITRINE



Outro dia comprei uma discussão casca grossa demais. Um amigo do mais alto naipe, super conectado com as novas tecnologias de comunicação e um tarado na rotina Facebook, puxou uma conversa esquisita sobre o Big Brother Brasil. Meteu o pau legal. Não deixou de fora nem mesmo o Bial – e nesse caso, quem deixaria, não é?
Estranhei o diálogo iniciado, pois o parceiro em questão é um tremendo nerd nas discussões. O verdadeiro dono da verdade – assim ele pensa. Mandou o verbo na lata, sem nenhuma provocação. Disparou sua metralhadora para todos os lados e nem se importou com a fisionomia dos que estavam presentes. Olha, quando conversamos é sempre interessante percebermos a feição dos que nos ouvem. Elas podem ser bastante reveladoras.
Não existe uma regra e coisa e tal, mas quando estou em uma roda de conversa com amigos, no mínimo tento perceber se o meu assunto segue em boa direção. Linguagem corporal entende? Depois que exploraram esse quesito preconceituoso nas entrevistas de emprego, menosprezando a possível capacidade do candidato, é preciso ficar atento. Já vi muita gente dançar. Com um simples balanço de cabeça para o lado, na tentativa de espantar um mosquito, o conceito do indivíduo pode ir por água abaixo. Fico imaginando o entrevistador, caladão, com cara de Freud. E o mosquitinho desgraçado zunindo na orelha do entrevistado.
- Hum... balançou a cabeça pra esquerda. Por que não pra direita? Tá reprovado! Esse com certeza é problema...
Depois do meu amigo tanto investir na depreciação do maldito Reality Show, a moçada da roda continuou em silêncio, assim, como se estivesse acabado de passar um anjo. Saquei a cara do povo, tudo fingimento. A impressão que dava era que nem tinham ouvido o colega. Alguns, pela falsa aparência, navegavam em Marte ou Júpiter. Mas ninguém me tira da cabeça que eles estavam de olho na Terra, doidos por uma fofoca virtual daquelas. De qualquer forma, eu não sosseguei e o questionei.
- Ei, fulano – não vou entregar o santo pra não queimar o filme da criatura - não me ligo nessa programação, na verdade, na minha casa não pega esse canal, mas olha só, você falou e eu fiquei pensando aqui, qual a diferença do Big Brother para o Facebook, que tanto você ama?
 O silêncio continuou. Nossos amigos disfarçavam na maior cara dura, como se estivessem voando pela Via Láctea. Eu já tinha sacado que por nada desse mundo entrariam naquele debate. De repente, o falador saltou da cadeira como um cometa.
- Facebook? Mas eu não falei disso. Facebook é Facebook! Uma ferramenta extremamente necessária para qualquer ser humano que deseje estar conectado hoje em dia.
Então eu disse.
- Olha, parceiro, o Big Brother, assim como o Facebook, propõe uma exposição descarada. É carne humana na vitrine. No fundo, tem muita gente disposta a pendurar a sua carne, expor o quanto a sua vida pode ser bacana. Mesmo sabendo que isso é história pra boi dormir.
- E daí? Cada um faz com o seu tempo o que bem entender.
- Concordo. No caso da Rede Social, a gente conecta lá, como quem não quer nada e de repente já era. Estamos mordendo os lábios de raiva diante de tanta declaração otimista, uma publicidade exagerada do quanto que a vida pode ser bela. E como te disse, a vida não é tudo isso...
- E daí? Cada um na sua, não é?
- É o que eu tô dizendo, cidadão. Cada um na sua e todo mundo ligado na vida dos outros. Então, igualzinho ao Big Brother. O Carlinhos mesmo, ontem no Facebook, disse que o pai havia falecido. Logo em seguida, tinha um monte de gente curtindo a situação. Tá legal, Big Brother é careta, mas Facebook é massa?
O parceiro fulano ficou doido, quicou de um lado para o outro, foi um verdadeiro Big Bang. Eu nem sabia o que fazer diante daquela convulsão. Ele gaguejou, ensaiou algumas palavras, mas não conseguiu esboçar nenhum argumento que me convencesse de que eu estava errado. Passou uns segundos e ele se mandou.
Meus amigos se omitiram da discussão, quer dizer, bem no ápice do diálogo fervoroso eles estavam lá, apertando freneticamente seus celulares. Provavelmente estavam colocando a nossa carne na vitrine. Parecia até que nos comandavam pelos seus aparelhos, como num game.
Depois de um tempo, eu me vi sozinho no ponto de ônibus. Somente uma chuva rala me acompanhava. Não passava uma alma pela rua. Saquei meu celular, conectei–me no Facebook e então, sinceramente, dei meus pêsames para o Carlinhos. E imediatamente um bando de gente curtiu aquilo. É ou não é carne humana na vitrine?


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