segunda-feira, 27 de junho de 2011

PARECE QUE FOI ONTEM


- Somos pessoas diferentes. Fizemos opções completamente diferentes, foi o que ele disse ao término da sessão, logo após ela o perguntar sobre o que ele achou de seu curta.

- não tenho o direito de apontar nada em seu filme, não me atrevo a pensar que posso te indicar isso ou aquilo de melhoria para o seu trabalho. Quem você pensa que eu sou? Ele continuou sem dar explicações, sem querer dar uma opinião mais crítica diante do que havia acabado de assistir. Sabia que, no fundo, ela não o ouviria. Não era daquelas que perguntam a opinião no intuito de crescimento, longe disso. Fora criada bem distante dos grandes centros e não conhecia muito entre o seu bairro e um pouco depois do aeroporto de sua cidade. E nem virtualmente aproveitava para se colocar mais próxima de tudo o que não havia por ali. Devorava revistas de fofocas sobre os artistas de novelas da televisão. E diante de tanta influência, suas referências não poderiam vir de outro lugar.

- mas você não acha que o filme ficou massa? olha, eu fiz tudo, meu nome tá em tudo...

- na boa? eu tive a impressão de ter assistido a uma longa abertura de uma quadrilha junina. se essa foi a tua intenção, bacana, acertou em cheio. mas essa é apenas a minha opinião. siga os teus objetivos. seja cada vez mais verdadeira em seus filmes. nós somos a resignificação de nossas referências. muito cuidado com aquilo que come, caga, mija e trepa.

- seu maluco! Ela deu um sorriso simpático e um gritinho. Não entendeu nada do que ele disse. Juntou-se ao elenco e foi comemorar. Completamente sem noção. Ou não. Ele saiu sem ninguém o perceber. Olhou para trás, ainda esperançoso, mas não conseguiu enxergar nada além de um Ponto sem nenhuma direção. Na rua, a chuva encharcava de tédio aquela noite completamente igual. Ele correu até a sua Máquina do Tempo e se mandou dali num piscar de olhos.



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