Mona alugou uma casa maior no Centro da cidade. Trocou a Bike por um Fiat Palio rebaixado, com rodas de magnésio e teto solar. Perambulava pelas ruas da periferia com os longos cabelos esvoaçando ao vento e sempre com o teto solar todo aberto. Adorava sentir sua juba para fora do carro. Ganhou muita grana durante os seus cinco primeiros anos. Iniciou molequinhos indecisos e fez muita maquiagem na cara de outros marmanjos decididos em mudar completamente suas vidas. Não ficou milionária, mas acumulou o suficiente para ser respeitada na sociedade Roraimense. Passou a ser convidada para eventos sociais, inclusive os das Igrejas. Entrou de sócia para o mais importante clube da cidade, diversificou seus lucros recrutando jovens para revenderem os produtos da Natura. Nessa época, nem fazia mais programa. Adotou o filho tarado do professor de jiu-jtsu, que era um lutador, assim como o pai, e campeão regional, e que adorava imobilizar de jeito um macho no solo. Também na cama, na grama e em qualquer outro lugar.
O tempo passou e Mona contagiada pelos prazeres da sociedade dita normal, resolveu fundar uma ONG. Queria fazer o social. Na verdade, estava de olho nas verbas estrangeiras dos países que desejavam salvar o Brasil, sempre influenciada com as conversas que circulavam nas altas rodas da sociedade. As bichinhas entraram na onda dela. Manicure. Corte e costura. Maquiagem. Etiqueta. Ficaram turbinadas. O ponto do Mangueirão da periferia desabou. As travecas desapareceram. Resolveram mudar de vida e todas tinham em mente o exemplo de ascensão social de Mona, que a essa altura já era famosa, sendo reconhecida até dentro de supermercado. Os travestis, com a auto-estima elevada, passaram a circular também por toda a cidade e não somente pelas madrugadas de seus guetos. Começaram a reivindicar seus direitos e vagas em melhores postos de trabalho. Alguns até queriam regularizar suas uniões. E diante de autoridade religiosa. Mas a inveja e a falta de aceitação da sociedade, principalmente dos homens, que ficaram sem seus instantes de perversão, e tiveram que rezar a missa em casa, somente o feijão com arroz acordado em seus casamentos, foi a derrocada do Império de Mona. Em um domingo, feriado de finados, no momento em que toda a cidade velava seus entes queridos, Mona morreu queimada em sua casa. O Corpo de Bombeiros não atendeu à ocorrência. Até hoje dizem que não receberam nenhum chamado naquela tarde chuvosa do dia dois de novembro de 2009. No dia seguinte ao ocorrido, os jornais anunciavam a Marcha de Libertação das Almas, promovida pelas entidades religiosas da cidade de Boa Vista. Nenhuma nota. Nenhum comentário pelas esquinas. À noite, o ponto do Mangueirão ferveu. Carros e mais carros em busca do prazer instantâneo oferecido pelas travecas, que voltaram correndo para seus clientes. Até hoje, dizem que Mona não morreu. Ela continua viva na lembrança de alguns que ainda acreditam na mudança do ser humano. Mas como diz o Sargento Fidélis, - Ninguém muda, criatura, acorda!

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