terça-feira, 23 de novembro de 2010

A MERDA FEDEU.


seus olhos saltaram! o corpo esmirrado de fome e a cara chupada do moleque já eram celebridades em filmes trash. o pior estava para acontecer. foi traído pelos dias sem sono. o grito endoidecido das sirenes dos carros de polícia lá fora, já mandavam o recado. o zumzumzum invadia o seu barraco e vinha da sinuca da frente. o núcleo de toda a confusão.
- a birosca deve tá lotada de cana...a merda vai feder...
ele continuou a circular em torno de seu corpo e não parava de repetir.
- a merda vai feder...a merda vai feder...essa merda vai feder, escuta só o que eu tô te dizendo. tem até helicóptero, porra!
ele arrastou o sofá completamente desesperado, levantou duas ripas do chão e enfiou o bração com apetite. surgiu de volta com duas pistolas enroladas em flanelas. conferiu munição. pegou em cima da geladeira uma garrafa de vodka. encheu o copo. ouviu tiros. a favela estava estourada. bebeu direto no gargalo.
- caralho! a casa caiu...puta que o pariu! e agora, maluco, vai fazer o quê? não demora muito pro pezão vomitar tudo! tu tá fudido...os caras vão invadir essa merda...vai feder...
o avião não aguentou por mais de três sacos. e chamou raul na cara dos policiais. o barraco do carregamento estava descoberto. os civis abriram caminho com fuzil. a porta não aguentou, barraco velho demais. o moleque saiu gritando com duas pistolas apontadas. um mergulho em um mar revolto. sem fim. os 14 anos foram embora porta a fora rápidos demais.



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