quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

APIS MELLIFERA ADAMSONI


- Estamos sendo invadidos! Acordei minha mulher noite dessas com gritos desesperados. A coitada levantou-se tremendo. Parecia crise epilética. Depois de acalmá-la pude explicar a razão de tal desespero repentino. Nossa casa estava sendo invadida por abelhas africanas, ôpa, me desculpem, abelhas afro-descendentes, antes que me processem. Minha mulher não parava de me repreender, - tá vendo, eu te disse pra não matar abelha. Elas se comunicam, avisam que estão em perigo. Tentei argumentar que isso é folclore, mas de nada adiantou. De uns tempos pra cá, coincidência ou não, depois que comecei a acertar os malditos himenópteros voadores, a coisa piorou de verdade. Uma vez ou outra eu avistava uma abelha na parede do muro de minha casa. No outro dia matei uma dentro de casa. Depois lasquei detefon em duas na garagem. E no início da semana, nem sei porque, mas acordei às quatro da matina. Não consegui dormir mais. Fui à sala e iniciei a minha vistoria na casa, tenho essa mania, às vezes entro em casa e olho até debaixo da cama. Não, não tenho problemas de chifres escondidos e nem à mostra, mas o fato é que convivo com a sensação de insegurança permanente. Mesmo dentro de minha própria casa. Coisas de cidade grande. Olhei que na tela da janela havia um par de Apis mellifera adamsoni, as malditas afro-descendentes, digo isso sem nenhum preconceito. Elas pareciam me observar. Por uns instantes fiquei ali, encarando os insetos e tentando entender a razão de tal visita assustadora. Quase iniciei um diálogo, quase implorei para desaparecerem. De repente percebo um zumbido forte. Já estava ali, mas como eu havia acabado de acordar, meus sentidos ainda não me obedeciam por completo. Coloquei a cara encostada na tela e olhei a lâmpada do lado de fora. - Puta que pariu! Gritei pela casa e mais uma vez minha mulher quase bate as botas. - estamos sendo invadidos! A situação era alarmante. Tentei contar, mas as desgraçadas não paravam de voar e se misturavam com uma pressa que eu acabei embaralhando tudo, mas deviam ser mais de 10. Bom, mais de quatro já podemos qualificar como uma quadrilha, mais de 10, com certeza não tinham boas intenções. Fechei imediatamente a janela. E fui em cada cômodo para fechar suas janelas também. E em cada uma haviam pelo menos três abelhas afro. Percebi que as telas estavam furadas e na certa elas já sabiam disso. Minha mulher, que não morreu, voltou a dormir. Não sei como conseguiu, mas eu fiquei acordado. Vigiei a casa. O dia acordou e fui trabalhar feito um zumbi. No outro dia tasquei um monte de fita crepe nos buracos, pintei as fitas com spray preto, pra disfarçar a lambamça. Visitei meu vizinho, pois acredito que a colméia esteja por lá. Estou agora aguardando a observação dele e não vejo a hora de chamar o bombeiro. De qualquer forma deixo aqui registrado, se por um acaso eu e minha mulher desaparecermos, invadam a nossa casa. Venham preparados com roupas especiais e muito detefon, pois uma tragédia pode ter acontecido no nosso bairro. Enquanto não nos enfrentamos, deixo as janelas fechadas e não durmo mais com a porta do quarto aberta. E São Francisco de Assis que me perdoe, mas continuo enchendo o saco dele todos os dias antes de dormir, afinal de contas, é o cara que cuida dos animais e da natureza e com certeza deve dialogar com carinho com as perigosas afro-descendentes voadoras. Amém.












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