sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A CULPA É DO BAFÔMETRO

Saiu do igarapé bem agitado. Bebeu tudo o que podia e um pouco mais. Colocou a família no carro e tomou o caminho de volta à cidade. Estrada tranqüila, quase sem movimento. Não era feriado. Tudo parecia ir as mil maravilhas, como diziam os antigos. Ao se aproximar da cidade foi surpreendido por uma blitz. Dessas de assustar. Eram muitos carros e parecia mais que estavam atrás de gente importante. Ou perigosa, sei lá. Parou no acostamento antes da blitz. A mulher ficou preocupada, pois o marido bebera demais. Se sugerissem o bafômetro, na certa estavam bem fudidos. Aquela velha história, pontos na carteira, apreensão do veículo e de quebra uma noite na cadeia. Pelo menos para o motorista. Depois de tanto discutirem, a mulher com o tradicional discurso – eu te avisei pra não beber! Mas fazer o quê? Ele já havia bebido. E muito. A blitz não tava com cara de que iria terminar tão cedo. – E as crianças? Elas não podem passar a noite na estrada! A mulher disparava acusações. O cara ficou deprimido. Sentiu-se culpado. Resolveu caminhar um pouco pela estrada. Aproximou-se da blitz, como quem não quer nada e percebeu que os caras da lei estavam pegando pesado e com certeza se acendessem um fósforo perto dele era capaz de ir tudo pelos ares. Voltou mais preocupado. A família tensa. As crianças não sabiam direito o que estava acontecendo. Dormiam na santa paz e ingenuidade. Aproximou-se. Olhou para a mulher, que não estava com uma cara muito amigável e de súbito teve uma idéia. Pegou uma garrafa de cachaça no carro, os restos do dia no igarapé. Resolveu que todos deveriam tomar um gole. A mulher ficou invocada. – pôrra, vai agora alcoolizar seus filhos? Depois de tantas ameaças e tentativas de paz, a família bebeu um gole cada um. Ligou o carro e cruzou os dedos. As crianças, coitadas, depois de ingerirem um gole da maldita, não pararam mais de perturbar. Chegou perto da blitz. Não deu outra. Foram parados. O policial, que não é bobo nem nada, sentiu o bafo do motorista e sacou logo o seu bafômetro repressor. – Me desculpe, mas o senhor bebeu. Disse o guardinha. – bebi pôrra nenhuma, retrucou o motorista infrator. O guarda insistiu que ele havia bebido e fez as maiores ameaças possíveis. Todas cabíveis naquela situação, afinal de contas o cara estava errado mesmo. – Nada disso, este seu aparelho deve tá com defeito, retrucou o infrator. A autoridade insistiu de que não havia nada de errado com o aparelho. Depois de tanto criar caso, o motorista mandou: - olha só, quer ver só como esse seu aparelho tá com defeito? Bota na boca de toda a minha família, quero ver se esse troço não tá com defeito. O guardinha deu uma gargalhada e seguiu a sugestão do bebum. E para a surpresa de todos, o aparelho detonou geral. O guardinha sem graça, não teve como argumentar, se até as crianças não passaram no bafômetro. Afastou-se do carro, batendo com o aparelho nas pernas, e fez sinal para que eles seguissem viagem. E assim foi. Chegaram em casa tranqüilos. Mas tiveram que aturar a doidera dos filhos, que não foi nada fácil. Pelo menos não foram presos.









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