terça-feira, 7 de dezembro de 2010

CONTO DA NOITE




Ficou plantado na frente da televisão com um incenso aceso na mão esquerda e a sua pica na direita. Os peitos da mulher do filme de sacanagem paralisavam. Tinha a mania de escrever de noite na varanda com o rádio ligado e a TV na pornografia muda. Volta e meia circulava pela casa. Escrevia um pouco. E circulava. E fumava. Tentava acompanhar as músicas com seu violão. Mas nunca entendia direito que música tocava. Lembrava uma frase e corria para o computador. E depois circulava. E fumava. Sempre acabava por mais de duas vezes na sessão pornográfica da casa. A imagem estava lá. E mesmo sem emitir som, berrava. Já tinha passado da idade dos questionamentos imbecis. Sabia que as coisas eram desse jeito mesmo e não tinha muito do que reclamar. Era só sofrer e recolher os pedaços das esperanças de um dia melhor. Ou qualquer coisa que se encaixesse na rotina. Sempre gostou de tocar punheta. E isso era fato, sem qualquer justificativa idiota de adolescente flagrado. Já tinha entendido que a vida lhe reservara todo o prazer da face da terra. Era só viver e engolir a ordem estabelecida. Mas o seio daquela atriz era coisa parecida com capotagem de carro. O filme era sobre mulheres com imensos mamilos. Queria tocar uma. Mas o pensamento em sua mãe não lhe saía da memória. Pensou também em desenhos animados. Bandas de pagode anos 90. Videokê. A tela lotada de carne não exalava a menor sensação de excitação no jovem homem. Pegou o controle remoto e revirou os canais. Drama, Ação, Romance, mas nada com pelo menos as pernas de fora. Estacionou no canal de Televendas. Desses com gostosas oferecendo tudo que não passa pela a sua cabeça naquele momento. A ideia fixa estava na capa.
- você, que está aí sem nada pra fazer. Preste bem a atenção no que vou te mostrar...
E a japonesinha rebolava de montão. A cada frase. Ele ficou ansioso com a surpresa. No mínimo já tinha valido a pena só a expectativa. Com aqueles olhos apertados o mais velho inventou um monte de possibilidades. Tinha fetiche.
- você trabalha muito, não é... coitadinho... tá com uma carinha de cansadinho...
Sempre rebolando com o maior gingado sensual. Era de tirar o chapéu. Ela tinha ritmo na fala. E pior, era melosa. Dava até para imaginar aquela voz em seus ouvidos.
- que tesão! Dá de dez na peituda com cara de alien.
- já sei até o que você tá pensando, chuchu...
- pôrra! A maluca tá ligada na parada!
- e como nós estamos diretamente conectados com os seus desejos mais íntimos...
- caralho! Ela sacou que eu tô de pau duro!
- se você ligar agora para o número mágico que está em sua tela piscando desesperadamente, além desse magnífico garfo Ganso, de quebra nós vamos contribuir para o fim do seu jejum sexual de dois dias, com a bela e versátil boneca inflável Traveca Marilyn!
Ele não esperava tamanha decepção. Sentou-se na cama. Meio sem jeito acomodou a piroca dentro da cueca. Esperou o final da ligação e trocou de canal cabisbaixo. E gozou terrivelmente com a peituda esquisita com cara de alien.







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