terça-feira, 14 de dezembro de 2010

EM ALGUM LUGAR DEVE TER OUTRA CHANCE


a mesa na garagem era a cara da desordem em sua vida. dois cinzeiros. cheios. um incenso de camomila apoiado em um deles. um cigarro aceso com uma enorme guimba de cinza. e uma taça pela metade. estava entregue. já esperava qualquer palavra. rabiscou algumas coisas sem nenhuma conclusão. pegou o caderno e o lápis sem ponta e partiu para o esconderijo das ideias que fervem. um lugar no quintal que ele resolveu iniciar a sua mania de Policarpo. era um canto na frente da casa. muitas plantas e árvores. cresceram de um jeito tão estranho, que formaram uma caverna de folhas. ele colocou um vaso grande no canto de uma das árvores. não satisfeito, virou a peça ao contrário. estacionou duas mudas do outro lado. recolheu uma mangueira velha que havia esquecido de jogar fora e a enrolou pelas árvores. no chão. a sombra era bem embaixo de um pé de tomatinhos. caíam de montão. a função da limpeza era toda hora. e também molhava. adorava esticar a mangueira e molhar na direção do mais novo espaço da casa. aproximou-se da entrada. molhou tanto os galhos mais alto, que o sol acordou o arco-íris da imagem. ficou fascinado. guardou a mangueira entre as pernas e tirou a blusa. ouvia, ao longe, The boy with the thorn in his side, do The Smiths que tocava lá na sala. percebeu uma claridade incomum vinda da cachoeira que se formou nas folhas molhadas. enfiou a mão bem devagar. foi sugado e sem nem se lembrar do fato. não era mais o cara de 40 anos, com cabelos compridos e sem certezas da vida que levava. deu a volta. começou tudo de novo em outra dimensão.







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