quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

OS ANTIDIABÉTICUS





gostava de distribuir doces.
era o preço que pagava para se sentir pertencente.
não ligava por ser tão igual.
mesmo sabendo que por dentro
era tudo religiosamente diferente.
tinha horas em que se sentia normal.
o 27 significava o perdão.
o reconhecimento dos fatos.
a oportunidade de esquecer
sem nenhuma ponta de dúvida.
era claro.
ficava limpo para os outros anos.
reunia uma fila imensa de crianças
que se amontoavam na porta de sua casa.
sua imagem cansada com sobras de pontas brancas
para fora do chapéu
não o intimidavam,
naquela quinta depois de tantos outros dias,
de tantos outros anos da Santa comemoração,
ele abriu mão. Não apareceu no portão.
a molecada não estava sensata,
uns invadiam o quintal de sua casa,
do alto do muro um menor disparado e encrenqueiro gritava:
- cadê a pôrra do doce, véio! vamo tomá essa merda de assalto! Cabeção! quebra a janela de trás! Meleca! corta a energia do coroa!
e ele caiu pela sala com o terço na mão
sem nem ter percebido o que aconteceu.
foi Cosme e Damião.







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