sábado, 9 de agosto de 2008

PELAS RUAS


Afastou o papelão de seu corpo. Levantou a cabeça bem devagar. O sol o surpreendeu com um raio forte no olhar. Puxou o papelão. Escondeu a cara. Colocou os olhos para fora, cabreiro. Encarou o astro rei. Levantou-se de sua cama. Uma caixa de geladeira encostada na parede de um beco do bairro. Pegou seu barbeador estragado e tentou arrancar alguns fiapos do rosto. Lavou a cara com a água recolhida da chuva da madrugada e caminhou até o meio da multidão. Precisava descolar o café. Entrou na fila do abrigo comunitário e esperou. Era pão com goiabada e café. O seu cardápio predileto. Fez a primeira refeição com muita calma, saboreou, sabia que podia ser a única do dia. Saiu do abrigo e ganhou a rua. Observou os carros em todas as direções. As pessoas e suas urgências desnecessárias estampadas na cara. Assobiou Blues da Piedade e seguiu seu caminho incerto. Sem olhar para trás.







Nenhum comentário: