sexta-feira, 1 de agosto de 2008

NO BOM CAMINHO

Terminou a última linha. Fechou a lata de tinta, guardou o pincel e caminhou de volta. Após uns 15 passos escutou um estardalhaço distante. Olhou para trás e viu no local de sua última linha, dois ônibus lotados com o bico colado. E muita gente gritando. Uma tragédia. Observou a correria desesperada da multidão, mas não conseguiu sair do lugar. A todo momento um pensamento desgraçado o torturava.
- Será que eu fiz a linha na direção certa?
Resolveu chegar mais perto, se disfarçou de curioso. Se escondeu no meio do povo e não parou de somar. Em todos os resultados a culpa caía sempre pra cima de si. Não teve mais dúvidas. Se sentiu responsável por aquela pintura Dantesca e decidiu desfazer o desengonçado ocorrido. Abriu a lata de tinta que trazia em suas mãos, e sem dó nem piedade jogou toda a tinta branca restante em cima do desastre. As imagens, aos poucos, foram se transformando. Perdendo o seu signficado inicial para desaparecerem por completo em um imenso lençol branco no asfalto. Tirou do bolso uma lata menor, com muita tinta preta. Trocou de pincel e começou a reencarnação daquela imagem através dos detalhes. Os ônibus passaram bem distantes um do outro. As pessoas passaram sorrindo demais. E o pintor deu as costas para aquela felicidade e seguiu adiante em busca da sua. Ainda mais colorida.








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