sábado, 13 de setembro de 2008

FINADOS

Estacionou no acostamento completamente sem combustível. Precisou descer do carro e empurrá-lo. A chuva não o ajudava em nada. Sabia que este seria um 02 de novembro inesquecível. Acendeu um cigarro e esperou. Apenas o vento falava ao seu ouvido. O rádio ficou mudo. De repente. Tentou dar um jeito. Enfiou a porrada no pobre coitado do aparelho estéreo. Estéril de som continuou. Sentou na calçada molhada e deu os últimos tragos por ali. A temperatura baixou muito rápido. Vestia apenas uma camiseta e uma bermuda. Sentiu frio. Lembrou-se da garrafa de uísque escondida embaixo do banco. Restos do passeio do fim de semana com os amigos. Mamou até a última gota. Precisava esquentar o seu sangue. Tirou a camiseta. Estava quente. Avistou um farol vindo na outra pista da estrada, lá embaixo e em sentido contrário. Correu até a ribanceira e escorregou todo desengonçado. Não podia deixar passar essa carona. Caiu sem jeito na pista ouvindo apenas uma freada brusca. Um velho Gordini azulado com o parachoque bem próximo de sua cara. Levantou-se aos tropeços para pedir ajuda.
- o que o sr. deseja? Perguntou a menina, uma feiosa, com um óculos fundo de garrafa. Ele não deixou por menos.
- Me leva embora, eu não aguento mais! Um pedido de socorro, sem meias palavras. A feiosinha abaixou o resto da janela. O chamou para perto. Parecia querer lhe contar um segredo. Ele imediatamente se aproximou da janela do carro e em seguida levou uma estocada no meio do pescoço. Uma barra de ferro pontiaguda, prateada e muito reluzente ficou cravada na sua garganta. Ele olhou arregalado para a criança, que sem a menor cerimônia puxou a tampa na ponta da barra, enfiou a boca com avidez e sugou todo o seu sangue. Depois de cinco minutos naquela sugação a menininha ingênua e aparentemente bêbada pegou o seu celular.
- mamãe, não precisa me esperar que eu já jantei. Acelerou o Gordini e desapareceu na estrada cavernosa. Ele ficou lá. Seco. E sem ajuda.







Nenhum comentário: