domingo, 21 de setembro de 2008

REFÉNS DE CORPOS


Fred
- (Pega a garrafa de uísque e coloca uma dose dupla no copo) Não preciso fingir que estou sentindo. Eu sinto, porra!

(se dirige ao público. Pouca luz. Foco).

FredEu nunca namorei mulheres. Nem sei o gosto que elas têm. Na adolescência eu já defendia os meus melhores amigos. Sempre escolhia um pra agradar, já era a atração, mas eu não sabia. Era uma época em que tudo era muito reprimido, muitas cobranças. Dois filhos homens - Dois garanhões puro sangue! Assim que papai dizia pro seus amigos. Eu já sentia o peso da imagem me torturando. Se eu apanha-se na rua, levava dobrado em casa. Era de cinto. (Pausa. Nostálgico) Eu gostava era do banho no vestiário da escola... Aquela adrenalina me consumia. Eu ficava louco de tesão pra chegar logo em casa e me trancar dentro do banheiro. Por mais que eu tentasse pensar na vizinha, que costumava trocar de roupa com as janelas abertas pra me provocar, não adiantava. Os pensamentos que me davam prazer mesmo eram sempre os corpos nus de meus colegas no vestiário. O proibido. O desconhecido me excitava. (nervoso com a lembrança) No outro dia, eu não conseguia nem olhar no rosto deles, me sentia culpado, parecia que eles sabiam do meu segredo. Mais tarde conheci os guetos, me disfarcei por um tempo. Misturei o real à ficção. Eu andei no escuro da boemia experimentando vários gostos. Me perdi entre corpos, nem quis saber seus nomes. Em cada esquina do Centro da Cidade, eu aluguei um par. Surubei muito...(ri) Eu deitei com o mundo, imundo... Alimentei minhas urgências sexuais com muito lixo humano. Lixo... O que nós somos? Não importa, mendiguei uns beijos... Eu vivi meus riscos! Mas... Cansei disso tudo. Hoje quero viver na transparência.








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