terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MOLECAGEM

Abriu a porta da sala lentamente. Arma em punho. Bum! Foi alvejado no peito aberto. Descuido imperdoável na profissão. Teto preto geral. Presa fácil demais. Depois de um instante sem vida, estirado no chão, distante da porta, ainda ouvia seu coração reclamar. Então, abriu os olhos, ainda atordoado com o balaço que levara, sacudiu a cabeça, levantou a pistola com muita dificuldade e percebeu o perímetro com calma. Levou um bicão certeiro na mão. O trabuco foi longe. E sem chance de recuperação. Viu o seu algoz bem de perto, caminhando sorridente em sua direção. Arrastou-se em vão. O rastro de sangue demarcava o seu fim. Ficou de quatro, cambaleou atordoado. A essa altura, nem sabia direito o que lhe acontecia. E nem imagina o que estava prestes a lhe acontecer. Dor, facas, alicates imundos. Fios, sacos plásticos e enredos absurdos. Se já não bastasse a situação, ainda era vítima de sua mente derrotada, que fabricava torturas. Ele sabia que não agüentaria por muito mais tempo. Confessaria tudo aquilo que nem mesmo sabia. Qualquer aumentativo de dor era pinto perto do que sentia. Tava na cara que não seria resgatado com vida.
perdeu, seu filho da puta! Perdeu! Seu algoz, excitado, lhe metia a porrada e gritava sem parar. Era o fim. Caiu para o lado e quebrou-se todo no chão.
- Manhêeee! O Paulinho quebrou o enfeite da mesa, disse o irmão invejoso.
E a mãe, com seu discurso de mãe, disparou os olhos na direção do garoto.
- desgraçado! Foi presente da sua avó. Vem cá que eu vou arrancar sua orelha!
O garoto saiu correndo para o quintal, subiu na mangueira e ficou por lá até a hora do seu pai chegar. A mãe, enlouquecida, ainda berrou:
- Que brincadeira de mau gosto...uma molecagem!



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