sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O DOMADOR DE VENTOS QUE VENDIA PAÇOCA

O vento pesado no tórax não permitiu que ele desse outro passo. Ficou imóvel, com as bochechas coladas na orelha. Totalmente contra a sua vontade. De tempos em tempos acumulava forças fantásticas em resistência à natureza invencível e assim avançava mais um passo. Manteve o esforço calculado por todo o percurso. Ouviu estrondos horripilantes, levou rajadas molhadas na face enrugada por tentar enxergar, mas nada o fazia desistir. Rui Viana era um teimoso fanfarrão. Desempregado do Moinho Vera Cruz, fabricava paçoca no fundo do quintal de sua casa, habilidade alcançada em seus 10 anos de profissão. Em uma casa com poucos espaços, do lado de fora dependia do tempo para evoluir seus trabalhos. Tinha os braços mais fortes do Norte de tanto pilar. Um anão desacreditado. Acostumado a ouvir desaforos do povo, que mesmo comendo de seu prato, cuspiam farpas debochadas diante de sua estatura menos elevada.
- cuidado pra não esbarrar nas formigas, baixinho!
- vai tomar no seu cú, seu filho da puta! A
ssim ele resmungava e mesmo de baixo astral, sabia que não podia deixar que o vento espalhasse o seu ganha pão. De repente, a noite fechou em silêncio. Estava por conta própria, distante dos olhos mais conhecidos, bem perto do olho de um furacão bem faminto. Toda a cidade desistira da batalha. Uns escaparam pelo rio, deixando tudo para trás, outros partiram pela estrada, não deixaram convites e nem mapas. Era um deserto prestes a desaparecer em meio à fúria do vento rodopiado. Ainda estatelado, sem dó nem piedade, encarou o vento forte e centrífugo. Agarrou-se com todas as suas forças ao rabo da besta-fera. Jogou o corpo para um lado, em resistência, todo sem jeito, desesperado. Desviou dos trovões de um Zeus enfurecido, evitou a queda com forças arrancadas nem se sabe até hoje de onde. Estava decidido a ganhar, mas foi chupado sem a menor chance de luta. Em poucos instantes seus pés ficaram suspensos no ar. A terra vista do alto até que dava agonia. Misturou-se a um monte de coisas distintas. Tropeçou em pensamentos esquisitos. Por uns segundos, ansiou a derrota definitiva. Mas ao primeiro descuido do ar revoltoso, que soprava a vitória aos quatro cantos da terra, arregaçou uma boca imensa, maior que o mundo e engoliu o vento com toda a sua fúria em apenas uma única sugada.



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