- cuidado pra não esbarrar nas formigas, baixinho!
- vai tomar no seu cú, seu filho da puta! Assim ele resmungava e mesmo de baixo astral, sabia que não podia deixar que o vento espalhasse o seu ganha pão. De repente, a noite fechou em silêncio. Estava por conta própria, distante dos olhos mais conhecidos, bem perto do olho de um furacão bem faminto. Toda a cidade desistira da batalha. Uns escaparam pelo rio, deixando tudo para trás, outros partiram pela estrada, não deixaram convites e nem mapas. Era um deserto prestes a desaparecer em meio à fúria do vento rodopiado. Ainda estatelado, sem dó nem piedade, encarou o vento forte e centrífugo. Agarrou-se com todas as suas forças ao rabo da besta-fera. Jogou o corpo para um lado, em resistência, todo sem jeito, desesperado. Desviou dos trovões de um Zeus enfurecido, evitou a queda com forças arrancadas nem se sabe até hoje de onde. Estava decidido a ganhar, mas foi chupado sem a menor chance de luta. Em poucos instantes seus pés ficaram suspensos no ar. A terra vista do alto até que dava agonia. Misturou-se a um monte de coisas distintas. Tropeçou em pensamentos esquisitos. Por uns segundos, ansiou a derrota definitiva. Mas ao primeiro descuido do ar revoltoso, que soprava a vitória aos quatro cantos da terra, arregaçou uma boca imensa, maior que o mundo e engoliu o vento com toda a sua fúria em apenas uma única sugada.

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