segunda-feira, 29 de junho de 2009

1987

Tem dias que escrever é dolorido. Não que eu escreva algo que me faça sentir dor e muito menos aos outros, não é nada disso. Tem dias em que eu não quero escrever, mas não consigo me livrar da tela do computador. Isso tudo é porque eu não tenho disciplina nenhuma. Nem sei ao certo se quero disciplinar algo na minha vida. Já são tantas regras pra seguir. Em 1987 eu quebrei a minha perna. Foi feio mesmo. Fratura exposta na tíbia e fratura leve no perônio. Tava com muita cachaça na cabeça e atravessei uma rua do nada. Foi uma porrada das boas, quer dizer, me falaram, pois não me lembro de nada. Fiquei um ano com a perna direita engessada. Só aquela janelinha, saca? Um ano sem trabalhar e sem estudar. No começo, eu ficava em casa. E era o maior saco. Passei a trocar o dia pela noite. Eu já fazia um pouco disso, mas nessa época eu fiquei viciado com o silêncio da madrugada. Todos na cama. Passei por algumas fases nesse período de internação doméstica. A maioria das vezes, somente a minha respiração e um programa de rádio com os melhores flashbacks. Depois eu passei pra fase dos Titãs. Não largava mais a fita do Titãs, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, eles lançaram neste mesmo ano de 87. Tinha Comida, Diversão e Corações e Mentes. Essa última não é nenhum clássico dos Titãs, mas tinha um pedaço que me interessava muito, todos são tão diferentes, e eu me identificava direto com aquela quase ingênua frase. Eu morava em um prédio de quatro andares e com 18 apartamentos em cada. Era muita gente naquele troço. A minha idéia de muita gente era a quantidade dos moradores do meu prédio. Mesmo assim, na madruga reinava o silêncio quase mortal. Eu estava acordado. Comecei a escrever algumas coisas nesse ano. Não mostrava pra ninguém. Um puta de um segredo juvenil. É a minha única memória de interesse pela escrita. No sentido da criação, claro, bem distante da elaboração. Escrevi dois cadernos inteiros. Muito frases rimadas. Coisa bem doce...muita paixão, mas muita visualização da paixão. Nada de leitura do que eu sentia de verdade, apenas repetição. Depois que tirei o gesso, comecei a escrever textos. Na verdade, eu escrevia um monte de pequenos pedaços e ficava procurando um jeito de encaixá-los. Nem sabia o que era dramaturgia. Ficava desesperado pra ver uma história finalizada. E era foda de difícil. Esse material eu tenho até hoje. Não virou texto, mas muita coisa que os personagens falavam, eu consegui registrar como pensamentos, poesias, simples pedaços de literatura. Meu primeiro texto pensado pra teatro foi O Aprendiz de Feiticeiro e a Princesa Feliz, que escrevi junto com minha amiga Daniela... sei falar o nome dela, mas nem me atrevo a tentar escrevê-lo. O texto é bem pequeno. Penso até em desenvolver mais esta história. Depois comecei a arriscar mais. E daí, pra pegar o gosto não demorou muito. As vezes me acho muito indisciplinado e outras vezes reconheço que não tenho muita paciência com o meu processo de aprendizagem deste ofício. Que agora é pra vida. Bom, eu tava lendo o arquivo dos meus textos e pensei que escrever o nome deles poderia me salvar o post dessa madrugada, apesar de minhas pernas estarem intactas e passados 22 anos, continuo pelas madrugadas acertando os teclados do meu computador. As vezes, briga. Outras vezes, pura diversão. Que outra maneira eu poderia ser mais feliz? Nada é definido. Estou sempre apanhando com as mudanças.


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