sexta-feira, 11 de setembro de 2009

EU NÃO QUERO SER NORMAL


Tem horas que bate um puta desânimo. Sustentar convicções ideais ao falar de teatro e cultura acarreta uma cobrança, às vezes, pesada demais. Será que seria menos desgastante se eu fosse um sujeito normal? Isso mesmo, com pensamentos e atitudes normais. Do jeito que as pessoas esperam que eu seja. Do jeito que as pessoas esperam que todos sejam. Seria muito mais fácil circular por aí... se eu aceitasse um cargo público na cultura, mesmo que isso colocasse em risco a capacidade de criação e produção da minha arte, e mesmo sabendo que vou contra meus princípios, principalmente a ética. Mas isso é normal. Seria muito mais fácil circular por aí... se eu concorresse ao edital de Ponto de Cultura no meu estado e batesse continência pra profissionais incompetentes, oportunistas, mas extremamente articulados com aqueles que desejam arrancar tudo da cultura desse estado. Mas isso é normal. Seria tão fácil...se eu me ajoelhasse pelas instituições em busca de uma migalha, de uma pauta, de um mísero cachê, mesmo sabendo que meu trabalho vale muito mais do que me oferecem por aí. Mas isso é normal. Não sei, seria muito mais fácil se eu engolisse as minhas palavras com endereço certo, que traduzem tudo o que sinto, ao invés de sair vomitando por aí tudo que penso. Se eu vivesse em total omissão e ainda assim discursasse por aí - estou na luta! Em busca de mudanças nas políticas culturais do estado! Mas isso é normal. Com certeza a minha fila de inimizades não estaria tão imensa por aqui. Seria muito mais fácil...se eu fingisse que acredito que as coisas estão mudando na cultura do estado de Roraima, e passasse a escrever por aí depoimentos sobre coisas que não aconteceram e nem estão perto de acontecer. E ao contrário do que pensam, eu acredito na mudança, torço muito por ela. Mas da forma como eu imagino, sou carta fora do baralho. Pedra no sapato de alguns. É muita hipocrisia... Seria muito mais fácil se eu acreditasse nas minhas mentiras. Penso que os adjetivos que circulam por aí, talvez, seriam outros. As pessoas não me chamariam mais de polêmico, de doido e radical. Não teriam mais o desejo de me dar corda pra eu me enforcar. Não falariam por aí que sou assim porque encho a cara. Que gosto de arrumar confusão. Que não sei dialogar de jeito nenhum. Quem sabe eu até teria direito a um número. Estaria padronizado. É verdade. Não sei, talvez, o 171, apesar de crer que este já deve ter dono, aliás, vários donos e também acredito que a numeração já passou desse pra outro bem distante. É muita gente do lado de lá. É muita gente com desejo de ser normal. Seria muito mais fácil se eu nem tivesse chegado até aqui. Pensar tudo isso me deixa extremamente cansado. Mas quer saber? Não teria prazer nenhum se fosse de outro jeito.




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