sexta-feira, 11 de setembro de 2009

GARGANTA IRADA - FIM

(Entra o entregador)

Entregador – Ca-ra-lho! Eu não falei? O cara é foda, meu.
Felipe – Porra, meu irmão, 100G é sacanagem. Cadê a grana do cara?
Sônia – Ei, moçada, o Marcão nunca me tratou assim. Fiquei com medo dele.
Felipe – Medo? O cara me ameaçou!
Entregador – Se ele souber que eu tava aqui... nossa, vocês tão fudidos.
Sônia – Não se você pagar o que deve a ele.
Felipe – É mesmo.
Entregador – Mas como?
Sônia – Sei lá, cara, se vira e olha, já tá na hora de você vazar daqui. Vai que o Marcão volta...
Felipe – (arranca o copo da mão dele) Isso mesmo, vai vazando...
Entregador – Não antes de dar um tequinho...
Felipe – Tequinho é o caralho! Se manda que não chegou minha hora de morrer.
Sônia – (abre a porta. Dá de cara com Marcão) Marcão!
Entregador – Fudeu! (tenta se esconder, mas o Marcão já o viu).
Felipe – Marcão!
Marcão – Porra, eu sabia que ia dar o flagrante... Que decepção, hein minha Rainha...
Sônia – Olha Marcão, a gente não tem culpa...
Marcão – Sei, no mínimo cheiraram tudo com esse merdinha, não foi?
Sônia – Que nada, conhecemos ele hoje...
Felipe – É mesmo...
Marcão – (com a arma na mão) Eu não quero ouvir tua voz, entendeu?
Entregador – Ei, cara, eu já ia te procurar...
Marcão – Ia mesmo? Então porque demorou tanto pra fazer isso? Deita no chão...
Entregador – Que isso cara?
Marcão – (chuta ele) Deita! Quero ver tua cara virada pro chão... e vocês...o que é que eu faço com vocês? Que decepção minha Rainha... Pensei que tu parava na minha, mina.

(Marcão vai até à mesa e mete o nariz na bandeja de pó).

Marcão – Então...
Sônia – Ô Marcão, deixa disso... você sabe que eu não ia esconder um lance desses. O carinha aí, nós o conhecemos hoje. Ele veio deixar uma pizza e pediu um pouco de uísque e sabe como é? Não dá pra negar... ele entrou e foi ficando, até que você chegou com as paradinhas e nos contou essa história. O que você queria que nós fizéssemos? Que caguetássemos o mané?
Marcão – No mínimo isso. Depois de tanto tempo... me admira ter mais consideração por esse bostinha do que por mim. Vocês agora arrumaram um pobremão.

(eles se olham e riem desesperados)

Marcão – (grita) Qual foi a piada? Que porra é essa, caralho?
Felipe – Nada, é que...
Marcão – Ei, não entendi, cadáver não fala, sacou?
Sônia – Ô Marcão, é que o Felipe escreveu uma história nova, Garganta Irada, sabe, e esse personagem come a cabeça de quem fala errado...
Marcão – E...
Sônia – É que você falou pobremão.
Marcão – E daí? Qual é o pobrema?
Entregador – Tá aí, de novo!
Felipe – Fica quieto!
Marcão – Aí, tu também é cadáver, não fala nada, e pior, já tá em estado de decomposição.
Sônia – (pega a revista) Aqui ó Marcão, esses são os desenhos.

(Ele pega e dá uma olhada. Se impressiona).

Marcão – Até que tu presta pra alguma coisa, seu merdinha. Gostei dos desenhos. Se publicar, vai faturar.
Sônia – Esse é o problema, viu Marcão, problema, as editoras não querem publicar. Acham que ninguém curte mais esses traços, entende? Os carinhas só querem saber de mangá?
Marcão – Mangá é o caralho.
Sônia – Mas é verdade.
Marcão – Sabia que eu também arrisco uns rabiscos? Eu não sou um profissa, mas me divirto. Aí, eu conheço um playboy que é filho do dono de uma editora. Cliente meu. O carinha me deve uns favores, entende? Talvez a gente consiga ganhar uma grana.
Sônia – A gente? Como assim?
Marcão – É só o mané aí do teu amigo me dá a HQ dele pra eu publicar. Eu repasso pra ele 10%. Ficamos quites. Sem retaliação. Cá pra nós Rainha, que decepção...
Felipe – Meus desenhos eu não vou dá pra ninguém. Eu não faço concessões!
Entregador – Ei, cara, deixa de ser egoísta, caralho. Se tu não fizer isso o Marcão passa a gente.
Marcão – O entregador sacou a parada (gargalha).
Sônia – Mas Marcão, o Felipe tá precisando muito publicar essa HQ. Tá precisando dessa grana. Porra, meu, 10%? Isso é uma putaria.
Marcão – O negócio é o seguinte, (engatilha a pistola e aponta pra cabeça de Felipe) é pegar ou largar. Qual vai ser mané?
Entregador – Ele pega!
Marcão – Fala!
Felipe – Pode levar.
Marcão – Beleza. Tomou a decisão certa.
Felipe – Quando é que nós vamos lá na editora? O contrato... temos que assinar o contrato.
Marcão – (arranca uma folha de um caderno e uma caneta) Assina aqui. Pode confiar que eu trago a tua grana. E olha, vou te trazer em mercadoria.
Felipe – Mercadoria?
Marcão - É isso mesmo, vai ter que vender pra mim. Depois te repasso os trocados da tua venda. Sacou?
Sônia – Mas Marcão...
Marcão – Sem mais nem menos. E você se liga, hein? Ou te boto na esquina rodando bolsinha.
Entregador – E quanto a mim, Marcão? Tô liberado? Aí, vou pedir pro patrão me demitir e te pago com a grana do fundo de garantia. O que acha?

(Marcão se aproxima. Coça a cabeça com sua pistola. Pega um pedaço de papel e um lápis).

Marcão – Faz um desenho bacana aí. Quero ver se tu tem talento.
Entregador – Mas Marcão, eu não sei nem escrever direito.
Marcão – Bora, meu irmão, desenha qualquer porra nessa caralha!

(o entregador faz um desenho muito feio)

Marcão – Puta que pariu! Depois não reclama que não teve a sua chance (dá um tiro na cabeça do entregador. Ele cai no meio da sala, próximo aos pés de Sônia).
Marcão – Qual foi? Não gostei dos traços dele. E comigo não tem concessão.

(Marcão pega a garrafa de uísque na mesa e sai. Sônia e Felipe se sentam no sofá. Ela pega um pedaço de pizza. Acendem um cigarro e ficam olhando para o corpo do entregador. Música).

FIM








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