terça-feira, 15 de julho de 2008

O DE CADA DIA

Escolheu o canto da praça para estacionar suas bujigangas. Estendeu uma rede no chão. Suas tralhas deixou no lado direito. Esticou as pernas para o esquerdo. Deu uma longa espreguiçada. Cumprimentou pessoas ao léu. Não conhecia ninguém. Voltou para os seus bagulhos e arrancou de dentro da mochila um rolo de arame. Com um alicate velho começou a trabalhar o objeto. Ligou baixinho seu radinho de pilha. A Maldita imperava. Tudo que era submundo passou por ali. Ele ouviu de tudo. Concentrado. Um Deus em sua criação. Os curiosos deram um tempo. Ficou rodeado por olhos ávidos de um momento único e rigorosamente especial, o momento de criação. Ele fixava os olhos nas pessoas sem perder o ritmo de sua obra. Um transe coletivo. Depois de muito mexer, finalizou o trabalho. Conseguiu dez pratas de uma senhora. Foi mais rápida que as cocotinhas. Ele chamou o vendedor de cachorro quente. Comeu dois. Se sentiu pronto. Se conseguisse faturar o almoço, sabia que já não corria mais o risco de passar fome. Foi à luta com seu arame e seu velho alicate.





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