terça-feira, 1 de julho de 2008

OSSOS DO OFÍCIO

Viu seu amigo com um frasco de comprimidos nas mãos. Encontrou a saída para as suas alucinações. Mandou três para dentro junto com uma dose dupla de uísque sem gelo. Acomodou-se no sofá. Precisava de um tempo. Não sairia do palco em menos de duas horas. O baterista não parava de falar. Nariz branco e os olhos exagerados. O baixista estava mole como uma esponja, mas nada o faria desistir do copo de vinho que agarrava nas mãos. O guitarrista estava japonês. Com toda essa força contrária, imaginou que alguém ali precisava estar sóbrio. Mas ele sabia que não chegaria nem perto disso. O show de abertura terminou. A produção escancarou a porta do camarim improvisado, bem ao lado das latas de lixo da calçada. Um lençol manchado, que pouco escondia o que acontecia do outro lado. Os quatro saíram se arrastando pelos cantos, um em cada direção. O público gritava e jogava latas de cervejas no palco. O baixista ajoelhou-se devagar e sacou uma latinha. Esvaziou ali mesmo. Foi segurado pelo baterista, que já estava muito louco e caiu pelo chão. A platéia vibrou com tudo aquilo. O guitarrista estendeu suas mãos e não freiou o restante do corpo. Trombou com os dois e ficou por lá. O cara, diante de toda aquela situação, não teve outra escolha. Sentou-se no chão, ligou o microfone e levou um blues à capela. O show havia começado.



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