
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
FELIZ ANO NOVO!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
HELENA

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
LENDA URBANA
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- dá um jeito nessa antena, mané, falei pra não comprar essa merda de segunda mão...
- já fiz de tudo e essa bosta só fica no chuvisco...
- que porra é essa!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011
JESUS SE FUDEU NESSA HISTÓRIA
- mas é bem mais que todo o dinheiro que eu já ganhei na vida multiplicado por seis!
- e tudo isso por apenas essa módica importância mensal, que o cidadão não vai nem mesmo sentir sair de seu bolso. Um verdadeiro investimento digno de alguém que se preocupa realmente com os seus familiares. Lembre-se que Tudo é possível àquele que crê! Assim desenrolou o vendedor e ainda com o gosto do veneno na boca e a manha dos gestos, empurrou a apólice goela abaixo de sua vítima. O pedreiro a escondeu embaixo do estrado da cama. Um segredo de estado descoberto por sua segunda mulher numa faxina geral de quinta. Uma verdadeira vigarista, uma puta de beira de estrada que Jesus acolheu em seu lar. Deu casa, comida, roupa lavada e a desalmada, depois do primeiro ano, só comparecia para a procriação. Ela tinha 51 e apesar do corpo revelar algumas marcas de uma vida exausta e cruel, disfarçava muito bem com os produtos Avon e Natura que comprava em 12 vezes de uma colega de muro. Com a apólice em suas mãos, a mulher começou a ter sonhos de riquezas. Não tirava mais o valor da bolada de sua cabeça. Passou a ver seu marido apenas como um prazo de validade. Um pequeno detalhe para a sua virada total. Rapidamente imaginou um incrível plano. Acreditava que se o marido começasse a viver como nunca, rapidamente empacotaria diante do novo ritmo alucinante de vida. Ele estranhou a mudança de comportamento da patroa. Sua mulher estava mais amável. Defendia a ausência dos remédios que ele tanto detestava. E depois que ela passou a misturar as balinhas azuis no meio de sua refeição, o coroa recuperou o vigor sexual desaparecido com as preocupações excessivas da vida. Era só esbarrar na mulher que o bicho pegava geral. Mas o plano da esposa foi por água abaixo. O aposentado ficou esperto demais. Não dava mais sossego para sua companheira, que era surpreendida, também nas madrugadas, com as cutucadas nervosas do marido robusto por debaixo do lençol. A coitada não conseguia mais sonhar. Aos poucos foi se sentindo enfraquecida e por um momento percebeu que talvez empacotasse primeiro que ele se continuasse naquele ritmo. Levantou-se em uma manhã determinada a por um fim em sua tragédia. Fez um café delicioso para o marido. Torradas com manteiga, frutas, bolo de fubá e até ovos mexidos. Tudo regado com bastante estricnina. O revigorado cavalheiro não tinha mais boca para tantos sorrisos. Sentou-se à mesa, olhou bem nos olhos da mulher e arrotando tesão, disse:
- me aguarde, sua cachorra!
Em seguida, comeu tudo o que tinha direito e após terminar sua primeira xícara de café, estrebuchou para o lado com as mãos na barriga, fechando-se no chão como uma taturana indefesa. A mais nova ricaça do pedaço comprou uma rede de Postos de Gasolina, internou os menores em um colégio na Europa e foi gozar a vida com dois rapazes de 20 em uma praia do Caribe.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
CAMINHADA ESPIRITUAL
- Talvez um caminho pro céu, pensou.
- templo Hare Krishna. Repetiu em voz alta. Assim estava na placa colorida. Já havia ouvido falar nos alienados carecas, tão sinistros ou mais radicais que os idiotas amigos de Hitler, assim diziam as más línguas. A culinária natureba era famosa, servida antes do culto principal. Um verdadeiro anzol espiritual. Como não tinha um puto na carteira e a fome avançava a passos largos, não pensou duas vezes. Subiu a ladeira. Já havia ouvido um monte de histórias, mas nada que o convencesse de fato a encarar o evento. Mas da comida ele se lembrava. E isso bastava para motivá-lo a encarar a subida. Chegou à porta e viu uma imensa fila. Ficou surpreso. Vasculhou a multidão e percebeu gente de todas as classes. Não se intimidou, pelo contrário, sentiu-se muito a vontade. Chegou de mansinho, como se já fosse local. Puxou assunto com um, respondeu às dúvidas de outro, mesmo sem saber bulhufas da situação, enturmou-se em dois tempos e só na maciota já estava colocado na frente da fila. Percebeu de leve o ritual. As pessoas entravam e deixavam os seus calçados ao canto da porta. Ninguém tomava conta.
– Incrível! Pensou, abismado com tal confiança. Encostavam seus calçados e pegavam um horroroso chinelo. Confortável sim, mas extremamente de mau gosto. O local era muito tranqüilo e perfumado. Sentiu uma verdadeira paz. Um ambiente com pessoas aparentemente felizes, algumas espalhadas pelo jardim, sorrindo e com o semblante de muitos amigos. Aproximou-se dele uma mulher com a cabeça raspada e uma bandeja de comida nas mãos.
- Hare! Falou a pequena.
- Hare tu também. Respondeu o sem noção. Os peitos da gostosa apontavam na direção da estrela mais alta do céu. Um verdadeiro manjar dos deuses. Ela oferecia uns bolinhos esquisitos. Ele alcançou um petisco sem mesmo olhar o que pegava. Era tudo completamente diferente do que ele estava habituado. Comeu bastante. Encheu a pança legal. Alimentou a larica zilhões de vezes. Ninguém o recriminou.
- encontrei o paraíso!
Assim pensava com um enorme sorriso estampado na lata. De repente, ecoou por todo o espaço um barulho confortável de um sino. Uma única batida, mas com uma propagação quase infinita. As pessoas começaram a entrar no salão, como que enfeitiçadas. Ele estava cabreiro, apenas observou atento a toda movimentação. Deixou a coisa tomar jeito. Foi um dos últimos a entrar. Não tinha outra escolha. Não gostava de lugares fechados, com muita gente, mas depois de chegar até ali, depois de imaginar cenas picantes com a deliciosa careca, sabia que não tinha mais volta. Precisava encarar a experiência mística que a subida lhe havia reservado. De repente, começou uma cantoria por todo o salão arejado. Ritmos orientais. A gang dos sem cabelos caminhava pelo espaço, entoando mantras monossilábicos. As pessoas, em seguida, começaram a imitação. Em pouco tempo, estava uma correria danada dentro do amplo salão. E ele parado. Incrivelmente congelado. Tentou perceber a dinâmica, sem muito êxito. Mexia apenas a cabeça, como que buscando um ritmo em um baile. Percebeu vários olhares indesejáveis, afinal de contas ele era o patinho feio da hora. Começou então a sua caminhada sem tirar os olhos das outras pessoas. Desconfiou geral. Os demais aceleraram o ritmo da caminhada. Começou uma louca correria dentro do salão. Ele se descontrolou. Com os olhos saltados, não perdeu tempo e saiu correndo, esbarrando murros para todos os lados. Tinha a plena certeza que queriam pegá-lo de qualquer jeito. Encontrou uma oportunidade e se mandou pela janela do recinto. Na portaria, pegou o primeiro calçado pela frente e desceu a ladeira desesperado. Sua caminhada espiritual havia chegado ao fim. Por hora, não sentiu nenhuma espiritualidade, mas manteve os pés secos durante todo o temporal que o surpreendeu na saída. Talvez o espiritual estivesse ali. Coitado de quem pegou o seu sapato furado. O inferno decididamente estava ali. Hare Krishna!

O DOMADOR DE VENTOS QUE VENDIA PAÇOCA
- cuidado pra não esbarrar nas formigas, baixinho!
- vai tomar no seu cú, seu filho da puta! Assim ele resmungava e mesmo de baixo astral, sabia que não podia deixar que o vento espalhasse o seu ganha pão. De repente, a noite fechou em silêncio. Estava por conta própria, distante dos olhos mais conhecidos, bem perto do olho de um furacão bem faminto. Toda a cidade desistira da batalha. Uns escaparam pelo rio, deixando tudo para trás, outros partiram pela estrada, não deixaram convites e nem mapas. Era um deserto prestes a desaparecer em meio à fúria do vento rodopiado. Ainda estatelado, sem dó nem piedade, encarou o vento forte e centrífugo. Agarrou-se com todas as suas forças ao rabo da besta-fera. Jogou o corpo para um lado, em resistência, todo sem jeito, desesperado. Desviou dos trovões de um Zeus enfurecido, evitou a queda com forças arrancadas nem se sabe até hoje de onde. Estava decidido a ganhar, mas foi chupado sem a menor chance de luta. Em poucos instantes seus pés ficaram suspensos no ar. A terra vista do alto até que dava agonia. Misturou-se a um monte de coisas distintas. Tropeçou em pensamentos esquisitos. Por uns segundos, ansiou a derrota definitiva. Mas ao primeiro descuido do ar revoltoso, que soprava a vitória aos quatro cantos da terra, arregaçou uma boca imensa, maior que o mundo e engoliu o vento com toda a sua fúria em apenas uma única sugada.

ISSO É TUDO
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
PÉ DE VALSA ENGOMADINHO
- me dá uma água, cidadão!
Fez seu pedido alto e bom som, só para impressionar os olhares atentos, mas no vacilo geral, sacou uma garrafinha de vodka entocada no bolso do paletó e transbordou o copo de sua ingênua bebida. Entornou a metade e em seguida largou um tremendo elogio no ar.
- melhor do que água, só saliva de beijo molhado.
Um grupo de senhoras safadas, atentas aos movimentos do enxuto coroa se contorceram em risadas. Ele levantou o copo, mandou um beijinho e deu uma piscadela, cumprimento simpático aos olhos dos mais inocentes. Era a primeira tacada comemorada. Naquele exato momento se sentiu dentro da situação. Caminhou ao redor das mesas que enfeitavam a frente do bar do salão, sempre com aquele sorriso maldito na boca. Ele era o cara. Aproximou-se de um gordinho fumão e filou um careta. Não acendeu de imediato. Na verdade ele nem fumava. Detestava o cheiro de cigarros, mas fazia parte da trama que prenunciava o golpe fatal. Desfilou uma volta por todo o salão. Completou o copo com mais uma dose, na encolha, por detrás da pilastra que escorava o palco central. Embromou mais um pouco, escorou o cigarro nos lábios e parou de frente de sua primeira vítima.
- será que Princesa poderia me ajudar?
Mostrou sorridente o cigarro e aguardou a resposta, que veio completamente sem graça, da boca vermelho exagerado de uma senhora de uns 65 anos.
- eu não fumo.
- então quer dizer que a princesa tá planejando incendiar o salão com esse fogo todo?
O cigarro voou com a bofetada na cara. A coroa levantou-se falando um monte. Nem todos os velhos presentes estavam no ritmo das balinhas azuis, que abriam a porta do paraíso perdido. Ele olhou para os lados, na esperança de não ter sido notado, resgatou o cigarro e partiu para a próxima empreitada. A noite acabara de começar e ele estava determinado a não voltar para casa sozinho. Resolveu investir em uma gata mais jovem. Percebeu uma quarentona agitada, que equilibrava um copo de cerveja e um cigarro e sustentava a garrafa na outra mão. Ensaiou os passos, deslizou levemente e entrou na pista da toda prosa.
- só você pode me ajudar...
Com uma cara de menino levado, mostrou novamente o cigarro. Mas essa era de outro naipe. Logo esticou a mão que amparava o copo e o cigarro, e meio sem graça com a confusão, aos tropeços diante da situação, sorriu.
- isso ainda vai te matar vovô...
Ele nem se abalou. Rafael malandrinho era cobra criada, macaco velho dos bailes da periferia. Imediatamente segurou firme a mãozinha da dama, acendeu a bagaça, deu uma tragada de pressão, armou o biquinho e lançou bolas de fumaça que formavam corações pelo ar.
- morto eu já tô só de te ver, tesão...
Não preciso nem dizer que a loba ficou encantada com o entusiasmo do velho e a cena só poderia terminar no meio da pista de dança, com as bocas grudadas num delicioso bolero. Enquanto o sol cutucava a moleira dos boêmios sem par, eles continuaram dançando, devassos, sem hora certa para terminar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011
TUDO NA CAÇAPA
- uma dose, faz favor!
O público silenciou. Ficaram paralisados diante de tal solicitação. Ele brindou em um único gole. O Sarjeta perdia completamente a noção. Mirou sem muita certeza nos olhos da única que poderia ser a sua salvação. Rasgou o forro da mesa, zunindo a bola para o lado de fora do estabelecimento. Mais uma vez derrotado. Agarrou a garrafa de conhaque e se mandou por debaixo das mesas. Sentou-se no beco, ao lado do ginásio e fixou residência. Havia investiu muito naquela partida. Mas viu a vida desmoronar na caçapa.

MOLECAGEM
– perdeu, seu filho da puta! Perdeu! Seu algoz, excitado, lhe metia a porrada e gritava sem parar. Era o fim. Caiu para o lado e quebrou-se todo no chão.
- Manhêeee! O Paulinho quebrou o enfeite da mesa, disse o irmão invejoso.
E a mãe, com seu discurso de mãe, disparou os olhos na direção do garoto.
- desgraçado! Foi presente da sua avó. Vem cá que eu vou arrancar sua orelha!
O garoto saiu correndo para o quintal, subiu na mangueira e ficou por lá até a hora do seu pai chegar. A mãe, enlouquecida, ainda berrou:
- Que brincadeira de mau gosto...uma molecagem!

REBORDOSA
- mais uma dose? O garçom pergunta.
- é claro, é claro que eu to afim.

O DESGASTE DO TEMPO NOS DENTES
- E agora?
Acabara de encerrar o espetáculo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011
O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO CRESCER?
- você quer ser professor?
Respondi meio sem jeito, impotente perante os fatos, perante a vida e a minha cabeça vazia, apesar de tanto pensar:
- é... vou passar por isso sim...não sei o que vai ser, mas com certeza vou passar por isso.
Foi mais ou menos assim. Completamente sem saber de pôrra alguma. Eu não sei o que vai ser quando me formar. Falta apenas um semestre. Sei que no próximo ano o estado realizará um concurso público. Por enquanto, não vejo outra possibilidade. Não tô com a menor vontade de fazer teatro aqui em Boa Vista. Hoje. Preciso de um bom tempo distante do trabalho coletivo do teatro. Não que não goste do coletivo, mas o que rola por aqui não chega nem perto do conceito de coletividade que aprendi. Por outro lado, me assusta a possibilidade de ser professor de Português e Literatura. Não planejei isso em momento algum de minha vida, aliás, planejar nunca foi mesmo o meu forte. O fato é que aconteceu. E agora, José? Dorme com um barulho desse. A vida é muito maluca. Ou eu não me enquadro nessa ordem que ela propõe. Tem vezes que me dá a sensação de estar dentro de uma caixa com vários buracos ou como um suculento pedaço de queijo. E a cada tentativa de fuga, um buraco se fecha. E não existem muitos. Essa é uma sensação que me acompanha faz anos. Preciso escrever mais sobre isso. Vou jantar fora hoje.

MÁQUINA DO TEMPO
- esse cara é café com leite...
O fato é que me empolguei com o evento de domingo e desde ontem decidi não enrolar mais. Hoje fiz toda a minha série. Nadei 1.200 metros. Podem até não achar muito, mas pra quem tá sem fumar desde a quinta passada... não é mole não. Parar de fumar é tarefa enlouquecedora. Sim, é de enlouquecer. Ainda mais quando eu não tô nem um pouco com vontade de parar. Mas a saúde não tá lá grandes coisas, taxas disso e daquilo bem altas, 42 anos, enfim, no mínimo preciso dar uma boa aliviada no intuito de passar a perna na tragédia. Ou pelo menos ficar melhor na fita. O garoto que faz parte da organização da competição me explicou tudo. E só faltou me chamar de tio.
- olha, vai ter um grupo assim como o senhor... o senhor vai competir com outros (nesse momento ele procurou palavras, juro que procurou!), com outros assim... pode deixar que o senhor não vai nadar com os moleques de 15 anos.
Aí eu pensei:
- Pôrra! Era tudo o que eu queria! Os moleques de 15 anos! Seria a minha melhor justificativa no caso de derrota.
Bom, quem não perde pros moleques de 15 anos? Até mesmo os outros moleques de 15 anos...
Hoje, quando voltava da natação, me lembrei de quando era mais jovem e nadava. Quando tinha meus 14 ou 15. Adorava apostar corrida na piscina com os outros moleques. E ninguém me vencia. Eu parecia não precisar de ar. Mergulhava na água e disparava para o outro lado como um míssel endiabrado. Era divertido. Acho que fiquei tão animado com a competição após essa lembrança. Talvez pense que no exato momento em que mergulhar naquela piscina pra competir, ela possa se transformar em uma máquina do tempo, e que durante os 50 metros necessários, eu possa estar bem distante daqui.

MAIS DISTANTE
- ainda tô vivo... E quando essa maldita afirmação me vem a mente, nessas horas penso em vidaemmorteempassadopresentefuturo, penso em tudo aquilo que poderia estar ocupando a minha mente nesse exato instante e aí...
- fudeu tudo! A calmaria desaparece em um p scar de ol os e a vida passa a não valer nem mesmo um mísero trocado, pois é breve demais, é cruel demais, é exigente demais! E eu me sinto cada dia mais distante de mim.

terça-feira, 25 de outubro de 2011
É SÓ A PARADINHA DO CAFÉ

ESTÁGIO

quinta-feira, 6 de outubro de 2011
PROSTITUTA
GENTE

DISTRAÍDO
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
NÃO TEM MOLEZA!
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
BARRADO NO BAILE
IGNORANTES
W.O.
E AÌ?
LIMITES
terça-feira, 13 de setembro de 2011
FODA-SE
E O PROCESSO CONTINUA...
FOTO: ORIB ZIEDSON

PRONTO
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
IN... OUT....

terça-feira, 30 de agosto de 2011
MEUS CACHORROS FUGIRAM!

É JÁ!

O QUE FOI QUE VOCÊ AINDA NÃO ENTENDEU?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011
LET'S GO!
- Uma vez, cheguei da escola e vi um quadro meu na lata de lixo da rua. Já tava todo manchado de cerveja. Só podia ser um recado, sabe, - aí, segue a tua obra. Apelou, Black. Fui no esconderijo das latas de tinta. Peguei dois sprays. Vermelho Sangue e Amarelo Van Gogh. Tava sozinha. (Free picha toda a 4ª parede) Pichei tudo dentro de casa. Tudo! (ela olha orgulhosa de sua obra) Meu pai quase bateu o pino quando descobriu a identidade do pichador. Agora você entende porque eu não posso voltar mais pra lá? (faz referência aos desenhos) Tá vendo aqui? Eles acham que isso é maluquice! Quem são eles pra arriscarem definições de maluquice? Louco é aquele que faz o que o outro é louco pra fazer e não faz? Então eu sou muito louca, sim! (bate com as duas latas de spray).
Eu sempre achei que faltava alguma coisa nessa cena, já até tinha imaginado uma música, mas agora, relendo o texto, vendo o vídeo, a música impôs a sua presença na parada. É Ramones. Lógico, é uma banda referência dela na peça. É isso. Let's Go!

É TUDO TÃO CONTRADITÓRIO, NÃO ACHA?
A temporada do espetáculo APENAS UM BLUES E UMA PAREDE PICHADA tem me surpreendido bastante. Esse é o terceiro projeto teatral de palco que a Cia. do Lavrado apresenta em seus seis anos de existência. Fizemos nossa estreia com O Pastelão e a Torta, em 2005 e Homens, Santos e Desertores, em 2008.
Ano passado, fomos convidados pelo Grupo Malandro é o Gato para a produção de Se Meu Ponto G Falasse, no qual fiz a Direção e a Trilha Sonora, a Graziela Camilo e o Renato Barbosa, ambos da Cia. do Lavrado, trabalharam como Atriz e Desenho de Luz, respectivamente.
Esse ano, decidimos encarar um drama. Colocamos em cena conflitos atuais quer dizer, ainda atuais, e percebemos de cara a resistência da sociedade em discutir certos conflitos.
Bom, o fio condutor dramático do espetáculo é o suicídio entre jovens. É a partir deste assunto que abordamos outras questões e que na verdade, são as que mais aparecem no nosso trabalho, como: gravidez não planejada, dificuldade na relação familiar, bullying, uso abusivo de álcool, cigarro e outras drogas, sexualidade e os rótulos sociais, enfim, é uma peça realista.
Percebemos até agora, que o público de Boa Vista não tá muito interessado em discutir essas questões e essa avaliação não é negativa, muito pelo contrário. É uma resposta imediata e significativa para o que estamos nos propondo. Embora o sucesso nos pareça sempre maior quando a casa está lotada. O que não é fato. Nem tudo que enche é de boa qualidade e nem tudo que tá vazio é uma merda. Digo isso pelo exemplo do teatro, dos shows de música regional, dos espetáculos de dança (que praticamente não existem no estado, a não ser em encerramento de curso), das exposições, dos cinemas gratuitos, enfim, podemos discutir muito mais sobre isso.
Em 2008, quando colocamos em cartaz o espetáculo Homens, Santos e Desertores tivemos uma média baixíssima de público. Era outro espetáculo realista, com conflitos existenciais e urbanos. Quem compareceu, curtiu e muito, até mesmo porque o texto de Mário Bortolotto é porrada na cara. É lindo.
Como sempre fazemos e assim acreditamos ser o nosso papel, colocamos novamente um drama em cartaz, mexemos na ferida de muita gente, na verdade de todos nós, pois todos temos feridas expostas. Tratamos daquilo que as pessoas evitam discutir dentro de sua própria casa. E é dessa forma que as relações interpessoais se desgastam. A falta do diálogo.
Cobramos um ingresso que acreditamos ser justo, R$ 14,00 e R$ 7,00, pois se nós não nos valorizarmos, então... mas aqui em Boa Vista o assistencialismo ainda impera, é cultural e vai demorar para modificarmos esse quadro. As pessoas ainda querem consumir arte só se for de graça ou bem baratinho. Bom, muitos artistas ainda seguem esse padrão, não contribuem em nada para que tal mudança aconteça. Não acreditam no que fazem. Pedem ajuda ao invés de firmarem parcerias. Acreditamos em uma temporada com 12 apresentações, que nos desse a oportunidade de vermos nosso trabalho nascer de verdade, pois a maioria dos espetáculos aqui de Boa Vista nem chegam a nascer. E falo da gente também, pois quando ensaiamos três meses e fazemos apenas 6 apresentações, como foi o caso de ABSURDÓPOLIS, QUE NOS PERDOE ARISTÓFANES, em 2009, que montamos com recursos próprios, sem dúvida alguma que matamos nosso trabalho antes mesmo dele nascer. É o preço que pagamos por depender demais dos editais e quando não conseguimos aprovar nenhum projeto, morremos na praia. No momento, estamos fazendo a nossa parte. Falando daquilo que acreditamos ser necessário. E com dramaturgia própria!
A formação de público em qualquer lugar do país é algo extremamente complexo. As pessoas não tem o hábito de consumir arte como algo necessário para a sua existência, a maior parte da população pensa apenas no entretenimento. Quem faz parte da Cia. do Lavrado ou já fez já conhece o nosso discurso por aqui, quem quer fazer teatro precisa ir ao teatro, aos shows, exposições, a todas as formas possíveis de arte que existem no nosso estado. Precisa ler mais o mundo a sua volta.
Com tudo isso, chegamos na metade da temporada. No último fim de semana foi um outro espetáculo. E na próxima semana será outro. Novos pontos de vistas para discutirmos e assim o teatro segue, cada vez mais vivo e provocativo. E lendo Denise Stoklos na semana passada, continuo com a questão: Pra que um cenário belíssimo, um figurino novíssimo, cheios de coloridos, a conta bancária gorda dos editais, se quando eu faço teatro, veja bem, quando(?) eu faço, o que faço não diz nada? Morro de medo de me tornar um medíocre. E será que não sou um? Como diz a personagem FREE, em Apenas um Blues... - É TUDO TÃO CONTRADITÓRIO, NÃO ACHA?