terça-feira, 22 de abril de 2008

SEM CONCESSÕES

Sônia – (abre a porta. Dá de cara com Marcão) Marcão!
Entregador – Fudeu! (sai correndo pra dentro de casa, mas o Marcão já o viu).
Felipe – Marcão!
Marcão – Pôrra, eu sabia que ia dar o fragante... Que decepção, hein minha Rainha...
Felipe - Fragan...
Sônia – (para Felipe)Cala a boca, imbecil! Olha Marcão, a gente não tem culpa dessa pôrra...
Marcão – Sei, no mínimo cheiraram tudo com esse merdinha, não foi?
Sônia – Que nada, conhecemos ele hoje...
Felipe – É mesmo...
Marcão – (com a arma na mão) Eu não quero ouvir tua voz, entendeu?
Entregador – Ei, cara, eu já ia te procurar...
Marcão – Ia mesmo? Então porque demorou tanto pra fazer isso? Deita no chão...
Entregado – Que isso cara...
Marcão – (chuta ele) Deita! Quero ver tua cara virada pro chão... e vocês...o que é que eu faço com vocês? Que decepção minha Rainha... Pensei que tu parava na minha, mina.
(Marcão vai até à mesa e mete o nariz na bandeja de pó).
Marcão – Então...
Sônia – Ô Marcão, deixa disso... você sabe que eu não ia esconder um lance desses. O carinha aí, nós o conhecemos hoje. Ele veio deixar uma pizza e pediu um pouco de wisky e sabe como é? Não dá pra negar... ele entrou e foi ficando, até que você chegou com as paradinhas e nos contou essa história. O que você queria que nós fizéssemos? Que caguetássemos o mané?
Marcão – No mínimo isso. Depois de tanto tempo... me admira ter mais consideração por esse bostinha do que comigo. Vocês agora arrumaram um pobremão.
(eles se olham e riem desesperados)
Marcão – (grita) Qual foi a piada? Que pôrra é essa, caralho?
Felipe – Nada, é que...
Marcão – Ei, não entendi, cadáver não fala, sacou?
Sônia – Ô Marcão, é que o Felipe escreveu uma história nova, sabe, e o personagem dele come a cabeça de quem fala errado...
Marcão – E...
Sônia – É que você falou pobremão.
Marcão – E daí? Qual é o pobrema?
Entregador – Tá aí, de novo!
Felipe – Fica quieto!
Marcão – Aí, tu também é cadáver, não fala nada, e pior, já tá em estado de decomposição.
Sônia – (pega a revista) Aqui ó Marcão, esses são os desenhos.
(Ele pega e dá uma olhada. Se impressiona).
Marcão – Até que tu presta pra alguma coisa, seu merdinha. Gostei dos desenhos. Se publicar, vai faturar.
Sônia – Aí é que tá o problema, viu Marcão, problema, as editoras não querem publicar. Acham que ninguém curte mais esses traços, entende? Os carinhas só querem saber de mangá?
Marcão – Mangá é o caralho.
Sônia – Mas é verdade.
Marcão – Sabia que eu também arrisco uns rabisco? Eu não sou um profissa, mas me divirto. Aí, eu conheço um playboy que é filho do dono de uma editora. Talvez a gente consiga ganhar uma grana.
Sônia – A gente? Como assim?
Marcão – É o seguinte, o mané aí do teu amigo me dá a HQ dele pra eu publicar. Eu repasso pra ele 10%. E com isso eu esqueço o que vocês fizeram comigo, que cá pra nós Rainha, que decepção...
Felipe – Meus desenhos eu não vou dá pra ninguém. Eu não faço concessões!
Entregador – Ei, cara, deixa de ser egoísta, caralho. Se tu não fizer isso o Marcão passa a gente.
Marcão – O entregador sacou a parada (gargalha).
Sônia – Mas Marcão, o Felipe tá precisando muito publicar essa HQ. Tá precisando dessa grana. Pôrra, meu, 10%? Isso é uma putaria.
Marcão – O negócio é o seguinte (engatilha a pistola e aponta pra cabeça de Felipe ) é pegar ou largar. Qual vai ser mané?
(pausa)
Marcão – Fala!
Felipe – Pode levar.
Marcão – Beleza. Tomou a decisão certa.
Felipe – Quando é que nós vamos lá na editora? O contrato, temos que assinar o contrato.
Marcão – (arranca uma folha de um caderno, pega uma caneta e escreve um pouco) Que mané contrato. Você não vai a lugar algum. Assina aqui, ó. Pode confiar que eu trago a tua grana. E olha, vou te trazer em mercadoria.
Felipe – Mercadoria?
Marcão - É isso mesmo, vai ter que vender pra mim. Depois te passo uns trocados da tua venda. Sacou?
Sônia – Mas Marcão...
Marcão – Sem mais nem menos. E você se liga, hein? Ou vai acabar na esquina rodando bolsinha.
Entregador – E quanto a mim, Marcão? Tô liberado? Aí, vou pedir pro patrão me demitir e te pago com a grana do fundo de garantia. O que acha?
(Marcão se aproxima. Coça a cabeça com sua pistola. Pega um pedaço de papel e uma caneta).
Marcão – Faz um desenho bacana aí. Quero ver se tu tem talento.
Entregador – Mas Marcão, eu não sei nem escrever direito.
Marcão – Bora, meu irmão, desenha qualquer pôrra nessa caralha!
(o entregador faz um desenho muito ruim).
Marcão – Depois não reclama que não teve a sua chance. (dá um tiro na cabeça do entregador, que cai no meio da sala, próximo aos pés de Sônia).
Marcão – Qual foi? Não gostei dos traços dele. E comigo não tem concessões.
(Marcão pega a garrafa de whisky na mesa e sai. Sônia e Felipe se sentam no sofá. Ela pega um pedaço de pizza. Ele cheira uma carreira. Acendem um cigarro e ficam olhando para o corpo do entregador. Música).





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