quinta-feira, 22 de maio de 2008

80

Década de 80. Eu e mais dois parceiros, irmãos mesmo, fomos pra uma boite da moda. Alto da Boa Vista. Como sempre, antes de entrarmos dentro do fusca do Marcos calibramos bastante no SóKana. Barzinho que vendia altas batidas. Era o melhor point de batidas do Rio de Janeiro. Antes de emplacarem nas noitadas, o povo todo passava por ali. Paramos e compramos um litro de limão. Era o de sempre. Depois de estarmos mais alterados é que começávamos a pedir outros sabores. E assim foi o início da noite. Até meia noite. Já havíamos derrubado uns três litros. Era o suficiente pra quem iria subir o Alto da Boa Vista dentro de um fusquete enfumaçado. Sempre ao som de Soutains of Swing. Esse era o hit da época. Principalmente a versão ao vivo. Resolvemos dar um break dentro da Floresta da Tijuca. Acendemos outro charrão. Ficamos divagando sobre a natureza e os seres minúsculos que nela existiam. Pura doidera. Completamente chapados resolvemos invadir a boite. Marcos acelerou a fusquete e fomos contudo até o final da descida do Alto. Paramos na porta e logo avistamos o movimento da turma do bairro de Bonsucesso. Ladrões de toca-fitas. Fizeram a limpa. Sabíamos que tudo aquilo iria se transformar em pó. Rapaziada maneira. Vizinhos. Mas estavam em outra velocidade. Nós éramos bem devagar perto deles. Curtíamos mesmo fumar baseado e encher a cara. Entramos e enchemos a cara mais ainda. Gastamos o que tínhamos e o que conseguíamos arrancar dos playboys. Os riquinhos da Zona Sul. Lá pelas três da madruga saímos. Como sempre, marcamos um tempo do lado de fora. Loucos. Não dava pra sair assim de carro. Se aproximou de nós um gringo. Puxou papo. Tava todo interessado. Nos fez várias perguntas sobre a boite, sobre o Rio e em seguida nos apresentou uma bola gigantesca de cocaína. Eu nunca tinha visto aquilo de perto. Só na TV. Era incrivelmente enorme. Sei que o bastante pra cheirar e nunca acabar. E deixar a gente durante muito tempo na cadeia. Nos disse que era chegado de uma boite de stripe lá de Copacabana. Nos convidou. Depois de tantas carreiras, fomos ao inferno. O gringo era mesmo considerado. A mulherada colou no pescoço dele. E como estávamos juntos, sobrou uma rebarba pra nós também. Isso foi até, sei lá, umas quatro da matina. Marcos e Hélio resolveram pular fora. Eu, que tava enturmado com uma coroa resolvi ficar. Eles se foram. O gringo nos convidou pra irmos à um hotel. Chegamos lá e ele foi logo pra mesinha de centro do quarto e despejou uma quantidade doente de cocaína.
– Agora a festa é de vocês, disse e saiu com duas putas. Começamos a cheirar. Ficamos mais loucos ainda. Quando vi, a puta tava em cima de mim. Me agarrava de tudo quanto é jeito. Caiu de boca no meu pau. Mas pra minha infelicidade, nada. Ela me mamou por uns quinze minutos. E nada. A pica não levantava de jeito nenhum. Fomos pra banheira pra ver se com a mudança do ambiente a coisa rolava. E nada. Ela foi à sala e trouxe mais diabo ralado. Cheiramos. O sol já arrebentava a cortina. Vi logo que não iria conseguir uma ereção. E ela até que era gostosinha. Coroa com tudo em cima. Me toquei que já era a hora de ir pra casa.
– Vai, fica mais um pouco, deixa eu te mamar mais, disse a puta. Caralho! A vadia adorava assoprar bola murcha. Me dirigi pra sala. Peguei uma quantidade legal de pó e me mandei. Depois de quase uma hora e meia cheguei no bairro. Sono nem passava perto. Entrei em casa. Todo mundo já havia saído pra trabalhar. Capotei na cama. Dei uns cochilos de umas três horas com o fone no ouvido. Tomei um banho. Matei o resto do pó e fui direto pro futebol de sábado. Chegando lá o povo todo já sabia da história. Vieram me cumprimentar. Me senti um herói. E cara, não comi ninguém, tava completamente chapadão, ainda, e o que eu fiz de melhor foi abrir uma garrafa de cerveja e comemorar a vitória do time adversário. Não dei muita trela pra rapaziada. Acendi um baseado e fiquei vendo os carros passarem na estrada. Não me saía da cabeça a sensação de, por uns instantes, ser o manda-chuva da boite. A noite chegou e começou tudo de novo. Invadimos um morro da cidade e ficamos plantados lá até umas duas da manhã. Cerveja e pó. E muita mulher fazendo de tudo pra conseguir mais uma dose. Essa noite eu me dei bem. Uma gata de uns 18 anos, desesperada, e não foi nem trabalhoso de convencê-la, aliás, ela que avançou em mim. Eu só precisei dar uma pouco do meu bagulho e a noite foi suave. Tranquila. Curtimos juntos por mais duas semanas. Às vezes até conseguimos encontrar alguém legal nessas noites de piração. É isso.




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