quarta-feira, 7 de maio de 2008

AME SEU VIZINHO, MAS CONSTRUA A SUA CERCA

Ei, comecei a escrever crônicas em Boa Vista em 2004. Tinha um blog específico pra elas. Toda hora dava problemas. Desisti. Agora vou aproveitar esse espaço pra divulgá-las, mesmo sabendo que as crônicas são datadas. Mas vale a pena postá-las aqui. Só pra registro. Então vamos lá.


Ultimamente este ditado popular tem se colocado muito presente em meus pensamentos. Venho de uma grande metrópole, onde existem muitos edifícios, a comunicação dentro deles é a mínima possível e quando ocorre, ela é feita através de interfones.
- Talvez esta visão seja um reflexo da minha criação, penso.
Não estou acostumado a esses comportamentos televisivos e interioranos, de vizinho pedir açucar emprestado ou de oferecer uma sobremesa que acabou de fazer. É tudo muito lin-di-nho.
Como diz a minha esposa, sou um sujeito desconfiado, ligeiramenteparanóico, que não abro a porta nem mesmo se pelo olho mágico avistar o meu vizinho. Tá legal, quem me garante que ele não está sendo rendido por assaltantes? Sério... e se o meu vizinho não for muito com a minha cara e resolver dizer para os bandidos que o meu " AP " é a boa?
- Ligeiramenteparanóico?
As relações com a vizinhança e a segurança, porém, não mudam só porque eu mudei de Estado. Aqui, por exemplo, eu não tenho um olho mágico, apenas um fresta da janela, isso mesmo, uma fresta mágica. Com ela, eu posso evitar abrir a porta quando desejar, apenas com um simples " deixa bater ". Vocês sabem, bateram na porta, eu olho pela fresta, avisto o meu vizinho e então eu viro para a minha esposa e digo:
- Ah! Deixa bater...
Com isso não somos perturbados com solicitações que muitas vezes irão deixar um furo na nossa dispensa doméstica. E o que é melhor, não precisaremos mentir quanto ao gosto daquela sobremesa horrível, que o vizinho jura ser o “ manjar dos Deuses “.
Lembro de uma passagem em que a filha da minha vizinha nos pediu um pouco de farinha de trigo. Tudo bem, um pouco de farinha de trigo... ela deve fazer um bolo, sei lá. Eu, que estava um pouco distraído, mas não estava morto, ouvi a criancinha dizer que era pra ela fazer massinha pra brincar.
- Massinha?!!!!
Pessoal, minha esposa já estava dando o saco da farinha na mão da criancinha, veja bem, o saco. Pera aí, ralamos o mês todo pra nossa vizinha fazer massinha com a nossa farinha da trigo?
- E minha esposa ainda me chama de pão duro!
Os problemas com a segurança no nosso País não se limitam as grandes metrópoles. Em Cidades pequenas, como Boa Vista, a violência também existe, é lógico que proporcionalmente, mas como bom carioca...
- eunãovoudarmole!
Faz tempo que eu estou me sentindo como se fosse o porteiro aqui do local onde moro. Existe uma porta que dá acesso às nossas casas e eu não sei o que passa na cabeça dos meus vizinhos de entrarem e saírem sem fecharem a “ bendita porta “.
- Pessoal, aqui também tem L-A-D-R-Ã-O!!!
Já morei em uma outra vila onde me roubaram várias roupas do varal.
- Não perdoaram nem as cuecas...
Não podemos bobear. Nossa porta fica a maior parte do tempo aberta, pelo menos de dia, devido ao calor infernal. Volta e meia entra alguém pra pedir informação e como a nossa casa é a primeira, as pessoas nem batem palmas, vão chegando como se fossem conhecidas. Será que o sujeito vai perder muito tempo da sua vida fechando uma simples porta?
Ser a pessoa que nada sempre contra a maré, às vezes, é muito cansativo. Ser taxado como ligeiramenteparanóico, às vezes, é muito compreensível. Ver os vizinhos te olhando com um certo medo, às vezes, é um pouco divertido.
E quer saber? Existe um outro ditado muito apropriado para este momento. “ Se não pode com eles, junte-se a eles “ ( acho que é isso mesmo ). E é o que eu vou fazer. Vou escancarar o portão da minha vila. Vou prender uma tabuleta lá fora, com uma seta gigantesca com os seguintes dizeres:
ENTREM TODOS.
Isso mesmo, eu posso até ganhar algum com esta história toda. Vou colocar uma barraquinha de churrasquinho numa posição estratégica, bem a favor do vento, vou vender bebidas, pois depois das 18h, vocês sabem... e não pode faltar um som. E pra esta ocasião, nada melhor do que a porcaria do calcinha preta.
- Isso me lembra alguma coisa...
Ah! Deixa pra lá.








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