sexta-feira, 9 de maio de 2008

BOM DIA, POR QUÊ?

Outro dia, recebi uma ligação de um amigo do Rio de Janeiro. À princípio, fiquei muito contente por se tratar de um conterrâneo, estou longe e a saudade é enorme, mas conforme o figura foi se manifestando, percebi que havia algo de errado com ele. Sem dúvida alguma estava em uma fase ruim de sua vida, pois já me atendeu o telefone questionando o por que das pessoas ficarem desejando bom dia! para as outras. Não entendi o questionamento. Fazer o quê?
Em Boa Vista, é muito difícil você sair na rua e não cumprimentar alguém. Sem dúvida alguma, meu amigo carioca, aqui, ficaria maluco. Já até escrevi uma crônica sobre isso, mas nunca calculei a quantidade de Bom dia! , que eu recebo em um dia.
Ontem mesmo, só na parte da manhã, na minha ida à padaria eu cumprimentei 13 pessoas. Às vezes chego a concordar com meu amigo carioca, que provavelmente morando aqui trataria esta questão desse jeito:
- Bom Dia!
- Bom dia, por quê?!
Sério... a coisa aqui é muito séria!
Saí de casa ontem para ir à padaria e logo ao fechar minha porta avistei dois vizinhos:
- Bom dia!
- Bom dia!

Do portão da minha casa, pra rua, cumprimentei meu senhorio:
- Bom dia!
Senhorio não têm como não cumprimentar. Mais adiante, ao atravessar a rua, cumprimentei a atendente da sorveteria ao lado. Política de boa vizinhança...
- Bom dia!
Atravessei. Entrei na padaria e lá se foram mais dois cumprimentos, afinal de contas o casal de donos da padaria são pessoas simpáticas.
- Bom dia!
- Bom dia!
Aliás, essa padaria é bacana, têm ar condicionado, mesas e cadeiras para você desfrutar o seu café ali mesmo, jornais e revistas atuais, isso mesmo, tudo para manter o cliente atualizado e o melhor, bem no Centro de Boa Vista e do lado da minha casa. E em um ambiente assim, não poderia faltar pessoas conhecidas, dispostas a aproveitar esta mordomia. Com isso, mais três cumprimentos:
- Bom dia!
- Bom dia!
- Bom dia!
Um colega de trabalho, um camelô que vende capas de celular bem ao lado da padaria e um cantor famoso da terra. Já disse em crônica anterior, que por aqui nós nos esbarramos em pessoas famosas a todo momento. Desde políticos e artistas, até foragidos da Cadeia Pública ou Penitenciária Agrícola, que foram manchete um dia antes no noticiário “Mete Bronca”, programa sensacionalista daqui, quer dizer, o programa todo não, mas os repórteres sim. Eles não sabem o que significa o conceito de imparcialidade.
Imagino que já devem ter perdido a conta, mas vou dar uma ajuda. Até agora, já se foram nove Bom dia! Isso só na minha ida à padaria.
Já cansado de tanto distribuir cumprimentos, saí desesperado da padaria e na saída, quem vem chegando? Renatão!
- Bom dia!
Meu Deus, já são dez... dez cumprimentos.
Do lado de fora da padaria, dá até para avistar a entrada da minha casa. Resolvo sair correndo, uma carreira só, talvez assim eu consiga chegar a salvo, pois o meu estoque de Bom dia! já está chegando ao fim. Não quero passar por mal educado, metido, arrogante ou coisa parecida, por não devolver o cumprimento alheio.
Logo ao atravessar a rua, um carro que estava vindo em minha direção, mas não colocava minha vida em risco e por isso eu a atravessei, passou logo em seguida e um grito veio com ele:
- Fala, Marcelão! Bom dia!
Pessoal, inacreditável. Um casal de amigos, gritando em plena manhã, o pior de tudo, em uníssono. Eu não merecia aquilo.
- Não!
Saí gritando pela rua. As pessoas que passavam ali, não entenderam nada. Eu realmente estava me sentindo mal. Eram apenas nove horas da manhã e eu já havia cumprimentado 12 pessoas, isso deveria ir para o Guiness Book.
Fui na direção de casa. Já estava bem próximo ao portão. Olhei para os lados, como um maratonista na reta final da São Silvestre. Ninguém me ameaçava. Me aproximei do portão. Peguei as chaves com pressa e acabei deixando cair o chaveiro no chão. Estava angustiado com tudo isso. Acertei a chave. Respirei fundo, pois estava próximo de entrar em casa. Logo em seguida, começo a ouvir uns passos, uns passos se arrastando. Evito olhar. Já estou até com a mandíbula tremendo na forma da expressão Bom dia! Resisto, resisto, mas a curiosidade fala mais alto e um impulso involuntário, projeta meu corpo pra trás. Dou de cara com um velhinho, um velhinho desconhecido.
- Ufa!
Sinto um enorme alívio, o coração volta a pulsar normalmente, enxugo o suor da testa, enfim, poderei entrar em casa em paz. Mais uma vez olho para o velhinho, que com um sorriso simpático me diz:
- Bom dia!
- ???????
E eu que já havia me esquecido, que em cidade pequena, quando duas pessoas se olham por mais de cinco segundos, sempre acabam se cumprimentando, mesmo sem se conhecer.
Que cidade simpatiquinha!






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