terça-feira, 6 de maio de 2008

SEM NOVIDADES. SEM VERDADES

Coloquei as botas. Vesti o casaco surrado. Cheguei à porta, olhei pra família hipnotizada em frente à TV e fui até o bar da esquina. A chuva insistia em cair. E insistia desde anteontem. Sem tréguas. Como um embrulho no estômago em dias de ressaca maldita. Entrei no bar. Só havia uma única mesa vazia. A desgraçada de sempre. Ao lado dos banheiros. As vezes penso que aquela mesa tem vida. Me conhece. Expulsa qualquer cú bêbado que se aproxime.Sabe que vou chegar. Ela sempre está lá. E eu não a renego. Pedi uma dose de conhaque e uma cerveja gelada. Gosto da mistura. Preciso dela, principalmente naquela mesa. A segunda dose me faz esquecer completamente o cheiro de mijo ao meu lado. Acendo um cigarro. De longe avisto um ator medíocre entrando no bar. Sabe, desses que camuflam a sua personalidade. Ele pensa que isso não reflete no seu trabalho... - Stanislawsky que se foda! Penso. Não no dramaturgo e todo o seu método, mas sim para aqueles que acham que descobriram a pólvora, mas não sabem fazê-la incendiar. Observo mais um pouco e vejo um casal discutindo. Talvez a relação. Conheço a mulher. Tá com ele por interesse. - Quem não tá? Pensei. Todo mundo se relaciona com todo mundo por algum interesse. Todo mundo se prostitui. Tem os que pensam que não, mas são os primeiros a venderem suas almas perdidas pra um comentário qualquer. Pedi mais uma dose de conhaque. Resolvi sair fora. Não tava num dia bom pra encher a cara. Confesso que as vezes quando vejo algumas caras acabo até poupando de encher a minha. Lembrei da imagem da minha família hipnotizada na sala em frente à TV. Pensei em comprar uma lata de tinta e mudar aquele quadro. Mas tá plastificado. Não pega tinta. Resolvi então levar um enorme espelho. Parei em outra birosca e tomei mais uma dose de conhaque. Entrei na loja. Comprei o espelho. Acompanhei o caminhão da entrega. Resolveram puxar pela janela. Dei gorjeta pros caras. Foram legais pra caralho. Olhei pra família. Posicionei o espelho. Eles nem piscaram. Então virei pra eles. Um forte estrondo de vidro quebrado tomou conta de todo o ambiente sinistro. Olho o espelho intacto. Observo seu reflexo e vejo os cacos de minha família espalhados por toda a sala. E a Tv continua a sua programação normal. Nenhuma novidade. Nenhuma verdade. Nenhum santo remédio. Como a vida.





Um comentário:

Anônimo disse...

é vero. ninguem obrigou mas eu li. e tá do caraio...e que covardia é essa de moderar comentário?

Edgar

www.edgarb.blogspot.com