sexta-feira, 30 de maio de 2008

PARANÓIA CONTAGIANTE - PARTE II

Essa idéia não me saía da cabeça desde a noite retrasada. Fui pra cama como de costume, após a minha tradicional ronda e me desliguei com os olhos bem abertos na frente da TV. Depois de um tempo comecei a ouvir barulhos, mas tudo me confunde. O vento, as folhas no chão, os cachorros andando por cima das folhas. A madrugada não tem nada de silenciosa e só quem passa por ela é que tem consciência disso. A madrugada é uma caixa de som amplificada. Muitas vezes assustadora. Ela pode te enlouquecer.Resolvi fazer uma outra ronda e te digo que tem noites que passo mais tempo nas rondas do que na cama. E minha casa é pequena. Fui ao escritório e tudo estava calmo, apenas um forte vento na janela, que apesar de fresco trazia de vez em quando um forte cheiro de bosta de cão. As folhas do jambeiro não paravam de balançar. Juntas ao vento davam a impressão de estarem sendo orquestradas de verdade. Por quem? Suas folhas vermelhas caídas ao chão se perdiam em um redemoinho silencioso, que também dava a impressão de estar sendo orquestrado. Por quem? Fui até a sala. Encostei o rosto cansado na grade da janela que dá para ver um pedaço da rua e esperei. Não sei, acho que queria ver alguém passando pela rua, talvez essa imagem pudesse preencher o vazio que sentia. Escutei um barulho e me dirigi até a ante-sala e olhei para o corredor escuro do lado de fora, local onde guardamos nosso carro e por ali estava tudo calmo. Só me restava a cozinha. Entrei e comecei a percorrer todo o comungol. Parecia que tudo estava como deixei antes, até que ao fundo, no outro terreno eu avistei dois vultos. Não dava para identificar o que ou quem. Por um tempo não tirei os olhos daquela imagem, pois queria perceber algum movimento. De nada adiantou. Confesso que às três da madruga, e com um intervalo do sono muito avançado, aquilo me parecia bem excitante, mas mesmo assim resolvi me deitar. Para minha surpresa e arrependimento por ter me levantado, quando me virei e dei alguns passos em direção ao quarto, eu ouvi um grito. Longe, seco. Um grito de mulher. Corri de volta ao meu esconderijo e a cena que encontrei era completamente diferente da outra. Já conseguia identificar as imagens e claramente vi um homem de boné agarrando uma mulher pelos seus cabelos longos. Imaginei ser uma briga de amantes, sei lá, na hora imaginei tantas coisas, mas nunca alguma coisa grave. Engraçado, depois de percorrer toda a casa, duas rondas noturnas e com aquela sensação de querer encontrar algo diferente, que me tirasse da rotina e quando estou de frente para uma situação real, em nenhum momento eu imaginei algo grave. Talvez seja defesa.

CONTINUA...



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