quinta-feira, 23 de setembro de 2010

FINADOS

Estacionou no acostamento completamente sem combustível. Desceu do carro e o empurrou. A chuva não o ajudava em nada. Sabia que este seria um 02 de novembro inesquecível. Acendeu um cigarro. Esperou. Apenas o vento falava ao seu ouvido. O rádio, mudo. Tentou dar um jeito. Enfiou a porrada no pobre coitado do aparelho estéreo. Estéril continuou. Sentou na calçada molhada e deu os últimos tragos por ali. A temperatura baixou muito rápido. Vestia apenas uma camiseta e uma bermuda. Sentiu frio. Lembrou-se da garrafa de uísque escondida embaixo do banco. Restos do passeio do fim de semana com os amigos. Mamou até a última gota. Precisava esquentar o sangue. Ferveu. Tirou a camiseta. Avistou um farol vindo na outra pista da estrada, lá embaixo e em sentido contrário. Correu até a ribanceira e escorregou todo desengonçado. Não podia deixar passar essa possibildade de fuga. Caiu sem jeito na pista ouvindo apenas uma freada brusca. O velho Gordini azulado estancou com o parachoque bem próximo de sua cara. Levantou-se aos tropeços.
- o que o sr. deseja? Perguntou a menina, uma feiosa, com um óculos fundo de garrafa. Ele não bobeou.
- Me leva embora, eu não aguento mais! Um pedido de socorro, sem meias palavras. A feiosinha abaixou o resto da janela. Chamou-o para perto. Parecia querer lhe contar um segredo. Ele imediatamente se aproximou da janela do carro. Levou uma estocada no meio do pescoço. Uma barra de ferro pontiaguda, prateada e muito reluzente cravada em sua garganta. Ele olhou arregalado para a criança, que sem a menor cerimônia puxou a tampa na ponta da barra, enfiou a boca com avidez e sugou todo o seu sangue. Depois de cinco minutos naquela sugação a menininha ingênua e aparentemente bêbada pegou o seu celular.
- mamãe, não precisa me esperar que eu já jantei. Acelerou o Gordini e desapareceu na estrada cavernosa. Ele ficou lá. Seco. Sóbrio. E sem ajuda.







Free counter and web stats

Nenhum comentário: