terça-feira, 28 de setembro de 2010

TEM VEZES EM QUE É PRECISO DAR UM TEMPO NA ESTANTE

Tava conversando com um professor outro dia, o cara dizia que a arte é du caralho e tudo mais, mas que não dá pra vivermos só dela. Ou melhor, ele disse que não dá pra viver dela. Eu concordei naquela hora e já faço isso há algum tempo. Não tô afim de prolongar esse papo, sabe? O fato é que hoje eu vivo do que faço. Bom, tem gente que diz assim, - olha, se você não fosse casado tava fudido... eu dou uma risada. E só isso. Não tô com meus soldados em prontidão. É melhor assim. Olha, faz tempo que percebi que de um jeito ou de outro eu não passo fome. Quem me conhece sabe que quando cheguei em Boa Vista, com apenas R$ 150,00 e montei uma oficina de teatro e que ninguém me pagava a mensalidade em dia, fui pras ruas vender artesanato. A grana dos cordões que vendia alimentou e muito a minha barriga e a do Renatão, que me acolhia naquela época em sua casa. Olha, já vendi muito sandwiche na Praia de Copacabana e conseguia dar meu jeito assim. Já parti pra porta do Maracanã em outros tempos pra vender ingresso de show de Rock, isso mesmo, fui cambista por um tempo. Sei que na hora do sufoco não vou ter ninguém pra contar. O sufoco é meu. Posso ter vários amigos, posso estar casado, mas o sufoco mesmo, somente eu vou segurar com a cabeça. Desde que cheguei em Boa Vista nunca fiz nada que não tivesse ligado ao teatro. Sempre tive um qualquer no fim do mês. Eu cheguei aqui com esse objetivo e até hoje não me distancio dele. Tem vezes em que a barra pesa, mas a corda nunca arrebentou. Tô feliz assim. Tava falando isso com meus alunos de teatro, sobre trabalho, profissões e sobre as coisas que gostamos de fazer e que quando conseguimos manter esse ritmo somo muito mais felizes. Vejo por aí um monte de gente com salários gordos. Cheios de esquemas políticos. Aparentemente são felizes. Na boa, no fundo eu sempre enxergo o recalque na cara de muitos. Perdem as suas noites de sono e vão para os seus trabalhos, que rendem a maior grana, infelizes. Percebo que tô do jeito certo. O teatro salvou a minha vida. E não largo essa ideia por nada que possam pensar me convencer. Sei lá, tô em cartaz com um espetáculo. Já ganhei minha grana para fazê-lo. Fui convidado para dirigir um outro espetáculo de amigos. Vamos ver se a estréia rola ainda esse ano. Em 2011, vou levar à cena um texto meu que curto demais. E vou ganhar também por isso. Então, tenho muito o que fazer. Meu pai foi vendedor a vida inteira. Não tinha salário certo no fim do mês. Eu nunca soube como ele conseguia sustentar a nossa família com tanta dignidade. Segui o caminho dele. Ele, sempre vendeu remédio. Eu, vendo teatro, cultura, entretenimento... mas o fato é que vendo e vivo disso. Bom, não tenho mestrado. Não tenho doutorado. E foda-se! Sobrevivo. Não é assim que tem que ser? Todos os dias acordar sem a certeza de nada e sem esperar que a vida passe a mão na minha cabeça. Nunca passou. Nunca vai passar. Ela é o jogador oposto. Sempre foi. E o pior é que mesmo ligado nesse jogo eu jamais posso me esquecer de que essa merda toda já tem vencedor. E com certeza não sou eu.




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