domingo, 17 de janeiro de 2010

CONTINUO SONHANDO COM O IMPOSSÍVEL

quem me lê falando de livros, literatura e outros aparatos próximos da intelectualidade deve até ficar impressionado. pelo menos um pouco, apesar das bobajadas que escrevo. mas te digo que comecei a ler em 1996. antes disso, apenas tiras de jornais. manchetes televisivas. essas merdas que nos empurram direto por aí. minha experiência com a literatura começou exatamente em 96. tava muito maluco, mais ou menos assim, acordava pra me drogar e não queria dormir de jeito nenhum. e resolvi que deveria entrar em recuperação. pirei legal. fiquei limpo. parei até de fumar. deixei de tomar remédios para me endoidar (até remédio pra diarréia de recém-nascido eu acreditava que me tirava a razão. o pior é que tirava mesmo, pode acreditar) e passei a me medicar para me endireitar. se é que isso seja realmente possível, me entende? ingressei em Narcóticos Anônimos, isso mesmo, fiz parte do NA e do AA por 12 anos de minha vida. e foi bom pra caralho. precisava daquele freio. de outro jeito, acredito que teria seguido o caminho de vários amigos de infância e adolescência. sete palmos pra baixo da terra. e muitos estão presos até hoje. bom, no NA eu conheci um carinha que falava direto em literatura. cismava em conversar comigo. pôrra, eu achava um saco. claro, não tinha muito o que discutir com ele. mas tava em recuperação, e então, eu ouvia. com toda a boa vontade que eu não tinha e que estavam me injetando na alma. um dia, ele me disse pra frequentar a Biblioteca Pública do bairro da Tijuca, Rio de Janeiro. me disse pra eu pegar três livros bem finos e com as maiores letras possíveis. fazia parte daquele ritual e eu tava topando até ônibus errado pra Cascadura. passaram-se alguns dias e eu fui. peguei os livros e comecei a lê-los apenas dentro do metrô. e assim fui. me animei por uns dias e depois de mais quinze resolvi voltar à biblioteca. peguei novos livros. e o tempo passou. já não lia apenas no metrô, mas também nos ônibus, nas salas de espera dos consultórios, nas filas dos bancos e filas de entrega de camisinhas. pode até ser substituição, mas fiquei empolgado e passei a comprar livros. um tempo depois, ainda em 96, lá pelo fim do ano, eu comecei a escrever peças. já tinha uma experiência com palavras rimadas, frases rimadas e cenas inventadas, colecionadas em alguns cadernos, desde que fui atropelado em 1987. e de lá pra cá não parei mais. os grupos de mútua ajuda foram uma benção em minha vida, através deles eu tive contato de verdade com a literatura. consegui enxergar melhor e prestar a atenção em um monte de coisas que estavam passando debaixo do meu nariz. e hoje escrevo todos os dias. leio todos os dias. já não frequento mais os grupos e voltei à esbórnia, quer dizer, continuo sob controle, outros. não dá pra viver sem eles. tô consciente de tudo que deu errado e que jamais quero repetir. persistir nos mesmos erros é pura burrice, não acham? mas não me esqueço jamais daquelas palavras: - pegue três livros bem finos e com as maiores letras... e a vida segue... e eu vou por aí, sem muito o que planejar e sem me preocupar com a minha sanidade. continuo sonhando com o impossível, mas dessa vez o que me tira a razão são as letras. sempre.


Free counter and web stats

Nenhum comentário: