domingo, 10 de janeiro de 2010

REBORDOSA


Acendeu um cigarro. Viu a vida passar na espessa fumaça que pairava pelo ar. O relógio na parede marcava oito horas. O sol invadia a sala pelos buracos de traça espalhados pela cortina velha. O ontem já era passado. Levantou-se aos tropeços e foi em direção à geladeira. Não era fome o que sentia, mas precisava de alguma substância com gosto diferente do gosto que permanecia em sua boca por três dias seguidos. Apenas um litro de leite estragado e um resto de queijo vencido. Entornou o leite no copo. Completou-o com o mesmo malte maltado que o acompanhou durante esses dias. Mandou pra dentro. Lembrou das manhãs esquisitas, chuvosas, em que ficava na beira da janela esperando a chuva passar, com pipas prontas a alcançar o horizonte sem fim, - Castañeda que me perdoe, mas isso é melhor que seus parágrafos, pensou, enquanto a bebida queimava todas as células restantes do seu estômago. Caiu no chão. Era como se tivesse levado um soco de dentro pra fora. Arrastou-se até a mesinha de centro. A sala girava e o jogava para todos os lados. Esticou o braço e pegou um cigarro. Acendeu. Viu a vida passar na espessa fumaça que pairava pelo ar. O relógio na parede marcava oito...





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