domingo, 10 de janeiro de 2010

TUDO NA CAÇAPA

Só restou o vazio da mesa e o silêncio assustador pelo ar. Ele nunca havia perdido um campeonato. Enfiou o taco nas costas e deu meia-volta. Cabisbaixo. O foco preciso no chão. Debruçou-se no balcão e pediu um conhaque. Nem sentiu o gosto. Pediu outro. Mais transbordado. Não costumava passar da segunda, mas seu orgulho se encarregou de não parar a contagem. Ficou bebaço. Léo era um cara metido e ele sabia disso. Fazia questão de não deixar para depois. Ganhava a vida como ambulante na Central do Brasil, mas dizia para todos os desconhecidos que era policial. No fundo, não aceitava a sua realidade tão simples e sem nenhuma emoção pela frente. Pediu mais um trago. Chorou baixinho para dentro do copo a noite toda. Trocou poucos olhares mudos. Era um apaixonado que havia perdido sua amante dos braços. Jurou que nunca mais iria jogar. Passou o resto dos seus dias enfiando o pé na jaca em um bar. Só. Um dia, em uma festa de sua cidade, surgiu um novo campeonato. Em pouco tempo já estava de novo com aquela penca de amigos, puxa-sacos desgraçados em seu encalço. Ficou limpo. Comprou roupa nova e tudo. Fez sua inscrição e aguardou sua vez. Dirigiu-se à mesa. Agitado. Suava frio demais. As pernas estavam super bambas. Mirou as bolas com toda a convicção. Meteu a porrada nelas. Acertou umas quatro, que foram diretinhas para as suas caçapas. Gritou de felicidade. Ficou valente para a próxima tacada. Com todo o seu charme, arrochou no seu giz. Mirou com toda certeza e... rasgou o forro da mesa, zunindo a bola do outro lado do salão de bilhar. Estava eliminado na primeira rodada. Foi demais para ele. Agarrou uma garrafa de conhaque e se mandou do salão por debaixo das mesas. Sentou-se no beco ao lado e fixou residência por ali. Nada mais era importante, nem mesmo todo o seu orgulho.









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