domingo, 10 de janeiro de 2010

O DESGASTE DO TEMPO NOS DENTES


Foi avisado pelo dente caído. O tempo acabara de determinar sua passagem. Encostou-se na cama, sem sono. Varou a madrugada contando os buracos do teto e todos os insetos. Não assumiu nenhuma culpa. Percebeu-se. Distanciou-se. O cansaço o invadiu na ideia do desgaste físico acelerado. Acabara de completar 35 anos. Era um cara antiquado para alguns. Não vivia em função da moda, e adorava seu velho jeans e suas camisas pretas surradas. Não tinha a certeza de nada e isso o deixava furioso. Pensava que aos 35, já deveria ter algumas respostas na manga. Não escolheu nenhuma das profissões-sonhos de seus pais. Não conseguia imaginar nenhuma condizente com a vida que levava. Não seguiu a tradição familiar. Era avesso aos cumprimentos nas datas de aniversário. Escolheu ficar ausente de todos. E de tudo. Mas não escondia o prazer da certeza de fazer parte. Mesmo sem desejar demais. Foi ao banheiro e escovou seus dentes com uma calma jamais alcançada. Ajeitou o travesseiro tranquilamente e dormiu um sono sossegado. Sabia que o tempo não determinaria outra passagem tão cedo. Pensou no dentista e na sua máquina irritante de obturação. Relaxou. Nada poderia ser mais grave do que toda a sua indignação com o TUDO.





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