segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

FELIZ NATAL, GUSTAVO!

outro dia conheci o Gustavo. um nerd que pensava que era normal. gostava de rock. mesmo assim se dizia eclético. desde God Save the Queen, até Evanescence em noita de lua cheia. adorava vestir camisas pólo. sua maior contradição aparente era a bebida. e as blusas pólo. o cara entornava um monte, não por falta de chá em sua casa, mas sim pela perturbação que o trazia à realidade. olhando pra ele, não dava pra imaginar que aquele carinha gostasse tanto de derrubar algumas cervejas. os ditos nerds sempre tem a aparência de santos. mas era só a aparência. tava de bobeira, como eu, num bar em Vila Isabel chamado Orf. um ponto de encontro de uma turma de motoqueiros invocados da cidade do Rio de Janeiro. mais nostálgicos do que alucinados. apenas carregavam a fama na imagem. Gustavo tava fugido de casa. não era um cara de sair muito. o pai o controlava demais. numa noite de Natal, revoltou-se e papou a sua madrasta, me contou assim, depois de muitas latinhas, sem a menor sensação de culpa no olhar. marcou a virada. o coroa, bêbaço, deitou cedo. Gustavo ficou ligado e partiu pro diálogo com sua falsa mamãe. falaram coisas sem sentido, dessas que a gente tá acostumado a falar em uma noite de Natal em família. passatempos eliminadores de remorços. amenidades com a intenção de uma falsa aproximação. tudo em nome do menino Jesus. a coroa tava em cima. morenaça de praia. beirava os 45. curtia muito o pai dele. os cifrões espocavam em seus olhos. era um amor providencial. o homem lhe pagava a academia, a conta do cartão de crédito e no mês anterior havia liquidado os seus seios. sabia que poderia se superar com tamanha explanação visual. boa de boca. não ficava atrás de nenhuma profissional da Vila Mimosa (disputado ponto de prostituição no Rio). Gustavo tinha 22. estudava física. cheirava cocaína todos os dias antes de ir pra faculdade, - eu não sou dependente, disse ele, faço isso pra decorar as fórmulas. não curtia o seu curso, mas matriculou-se por imposição de seu pai. realização do sonho do outro. era um cara com muitas vontades atropeladas pela educação rígida de uma família de classe média. se morasse no estado de Roraima seria um ótimo candidato a engrossar a lista de suicídios de jovens daquele estado. um maluco sem a menor sombra de dúvidas. o pai serviu o jantar. distribuiu os pedaços de peru do jeito que ele achava que as pessoas iriam gostar. coxa pra quem adorava peito. peito pra quem idolatrava coxa. mais uma bola fira. a oração antes da primeira abocanhada e sorrisos. somente dele. feliz com sua aparente normalidade familiar. o controle parecia estar em suas mãos.parecia. e ele aceitava as aparências da vida. ele idolatrava. a madrasta de Gustavo já tinha tomado algumas, assim como seu marido. trocaram os presentes. nem tantas alegrias assim, na verdade repetições de outros anos. cuecas pros de sempre e prendedores de cabelo sem brilho. muitas insatisfações. felicidade apenas do pai, que havia comprado a sua própria surpresa de Natal. Maria do Carmo completou o copo de vinho de seu amado, que rapidamente o emborcou. e capotou. Gustavo e Maria do Carmo se olharam. a situação era libertadora, mesmo sem a declaração de ambos. a partir daí a festa começou de verdade. sentaram-se na varanda e começaram a falar sobre suas vidas. amenidades de porta de cadeia. o pai estacionado na poltrona da sala. Gustavo disse que não aguentava mais a pressão de seu pai. que ele tinha vontades, disse que poderia até mesmo comê-la. tensão no ar. Maria do Carmo levantou-se e foi à cozinha. Gustavo não sabia o que fazer, sabia da merda que havia acabado de falar. não sabia se a acompanhava ou se ficava calado pelas próximas horas. ensaiou mil desculpas. Ela voltou com uma garrafa de vinho. sorriu para ele e disse, - olha, eu tô louca pra fuder. teu pai é muito bacana comigo, mas eu não consigo gozar com ele. nunca. você entende o meu drama? Gustavo engasgou o resto da cerveja. pegou um cigarro no maço em cima da mesinha e o acendeu. nem era fumante. e disse, - vou te confessar uma coisa. eu nunca fiz uma mulher gozar. nem sei como fazer isso. em toda a minha vida...eu só trepei três vezes. e duas delas foram com prostitutas. se eu pudesse te ajudar, seria meu melhor presente de Natal. Maria do Carmo encheu o copo de vinho. entregou-o para Gustavo. fez-se um silêncio eterno. ela empurrou o seu copo. completou - o novamente. olhou para Gustavo, que aparentemente tremia. partiu para cima do inexperiente jovem, meteu-lhe um beijão chupado sem a menor sombra de dúvidas do tesão que arrastava. fuderam tanto, a madrugada inteira, que nem se preocuparam se Papai Noel iria aparecer naquela noite. o dia amanheceu como todos os outros dias. o café foi servido na cozinha. o pai de Gustavo saiu pra trabalhar. era lua-de-mel naquela manhã cinzenta de dezembro. uma quarta-feira qualquer. sem nenhuma mudança na rotina do controlador de pessoas. telefonou ao meio dia e disse que só voltaria ao final do dia. Feliz Natal, Gustavo!


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