sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

FIM DE SEMANA NA REGIÃO DOS LAGOS

a pousada não era nenhuma beldade de sonhos inesquecíveis. estacionaram. em frente da recepção. os donos os receberam. fizeram o trato. caro demais para o casal duro que acompanhava o coroa. Ele era muito amigo do dono, e pai da dama do casal. mesmo assim, resolveram ficar. apesar de temporada, a pousada parecia só abrigar familiares do proprietário. guardaram as malas e desceram. Não fizeram nenhum acordo. pediram cerveja. a mulher não tava muito afim de beber. os dois homens, marido e sogro, entornaram a noite toda. tentaram se aproximar dos outros hóspedes. tudo em vão. na sinuca, tudo em vão, ninguém desejava interagir com eles. tudo muito estranho. as pessoas, sem saberem de seus valores pra lá de descarregados privada abaixo, nem imaginavam o fundo de seus poços. no fundo, sabiam que não tinham a menor chance, mas carregavam as máscaras de seres superiores. quanto peso! e naquela noite foi assim. papos sem nenhuma relevância incômoda. sem interferências. Marta, que não era muito de beber, tinha 33 anos. uma mulher tranquila, não era adepta dos modismos e até se vestia de forma relaxada para a sua idade. mas gostava muito de jogar. apostar era a sua fraqueza. jogava e apostava em tudo que lhe pudesse render algum trocado. uma vez, apostou no número da cova em que sua avó seria enterrada. acertou em cheio. 666. amanheceu repentinamente. e eles desceram pro café. Marta colocou o biquini. queria sol e praia. desejava mudar de cor. os dois homens colocaram suas sungas. queriam muito mais a praia, somente a praia e todas as outras distrações que ela poderia lhes oferecer. mas também não eliminavam a possibilidade de beberem uma cerveja no café da manhã. afinal de contas, já passava das 10. e beberam pelos anjos diurnos. estavam de férias e sem regras. foram à praia. comeram camarão como nunca haviam comido antes. barato. encheram o pote. nervosamente. voltaram para a pousada na hora do almoço. o refeitório estava lotado. familiares do dono e apenas alguns hóspedes. a indiferença permanecia no ar. comeram bastante, sem se preocuparem com os guardanapos. e beberam demais. passaram a tarde toda emborcando latinhas de cervejas bem geladas. menos Marta. Dantas era um coroa inteiro. pai de Marta. estava aposentado e viúvo. recebia duas aposentadorias robustas, o que lhe garantia certa tranquilidade para o resto de sua vida. adorava a farra. já passava dos 60, mas tinha o espírito e a carcaça dos 50. numa manhã, em uma cena de café esquisito daqueles, puxou papo com uma senhora e sua filha. ela também viúva. a filha acabara de se formar em química. conversaram sobre amenidades. tudo normal. quando ele perguntou sobre os interesses da filha, lógico, ele estava na terceira idade, mas nunca que iria se interessar pela mãe idosa, aí a coisa complicou. a mãe percebeu o interesse. a conversa tomou outro rumo. falaram de futuro e a viúva detonou a pérola, - minha filha acabou de se formar. é química. e ela tá se preparando para vários concursos. ele até inicou algumas perguntas para a filha, mas todas interrompidas pela mãe. decorada mamãe. a pobre garota só iniciava as frases. a mãe as finalizava. Tuill era um cara apaixonado, mas não perdia a oportunidade de interagir, mesmo que sexualmente. já havia até comido uns gays. mas nada que o fizesse mudar seu desejo sexual. nunca traía a mulher. colocava - se sempre ao passo de fazê-lo. isso lhe aumentava o tesão. esquentava a relação com Marta. entrou na conversa e questionou as escolhas da aparente suposta virgem. a menina não conseguia responder nunca. a mãe sempre aterrisava no papo e detonava com suas respostas prontas, - é que ela vai fazer uma prova pro BNDS... e o que tem de química aí, disparou Tuill. quando a menina ia responder, a mãe mandou de lá. a menina ficou só na respiração, - ela tá com o nível superior. vai fazer o concurso pra ganhar mais. você sabe, química não tem muito mercado e ela tem que tentar todas as possibilidades. você acredita que se ela passar vai ganhar um salário de oito mil, mais os benefícios? ela não pode bobear, né meu filho? ele balançou a cabeça, indignado com tamanha repressão. mas já tinha tomado algumas e então mandou, - quer dizer que você estudou pra caralho a porra da química e vai passar o resto de sua vida no BNDS, fazendo o quê? vai ser uma técnica preenchedora de papéis? a menina respirou fundo e quando já ia responder a mãe mandou ligeira, - sim, não dá pra bobear meu filho, ela tem que garantir a sua vida. depois, com calma, ela tenta realizar o seu sonho. não é minha filha? a garota, sem graça, não encontrou muitas saídas a não ser concordar com sua mãe, sem falas, só com a cabeça. mas a raiva rondava seu semblante indignado. Dantas já estava irritado com todas as interferências da mãe e então perguntou, - minha filha, você quer casar comigo? olha, eu não vou te dar oito mil por mês, mas te garanto que você nunca irá se preocupar com dinheiro, contas e concursos, olha, vamos fuder demais. até ficarmos em carne viva. o que acha? se você quiser eu mando apagar a tua mãe. o que acha? a menina muito confusa, olhou para a mãe, que tentou esboçar uma reação, mas foi logo repreendida por Tuill, que pegou uma faca da cintura, e a amedrontou. ficou calada na situação. a menina olhou para Dantas, que olhou para Tuill. que sentiu um cheiro de aprovação no ar. em seguida, enfiou a faca bem no peito da velha enjoada. pediram outra cerveja e o final de semana chegou ao seu fim. todos em paz. felizes com suas suposições. com suas decisões inesperadas. estavam todos resolvidos temporariamente. um novo ano acabara de começar. para todos.
Free counter and web stats

Nenhum comentário: