quarta-feira, 6 de outubro de 2010

HELENA

Completou com o velho uísque seu último gole de café requentado. Bebeu de uma só vez. Sem concessões. Nem fez cara feia. Pegou as chaves de casa, a capa de chuva e colocou Helena nos braços. Dirigiu-se ao elevador e pacientemente esperou. Demorou um bocado a resposta. Pegou uma ponta de um cigarro no cinzeiro do corredor e acendeu suas sobras. E demorou mais um pouco. Acariciou Helena por uns instantes, de um jeito assim bem explícito. Resolveu zarpar pelas escadas. Oito andares. Quase sem fim. Isso não seria um problema se não estivesse acompanhado. Ela era pesada demais. Quando estavam atracados, parados, a coisa rolava que era uma beleza. A Maldita gemia barulhos infernais. Deixava qualquer um enlouquecido. Era tudo que ele precisava na vida. Depois de muito sufoco e cuidado para não machucá-la, ganhou a rua. Acenou para um táxi. E nada. Se estivesse em New York, até teria entendido, mas... mesmo assim tentou outro. E nada. As horas brincavam com os restos de sua paciência. Eles não podiam perder aquele trabalho. E não perderam. Chegaram no topo da hora. A casa lotada. Gente saindo pelo ladrão. Fumaça por todos os cantos. Eles dirigiram-se ao palco. A banda já estava por lá. Ele despiu sua dama. Apoiou-a em suas pernas. Fazia um calor infernal. Meteu a vara sem a menor cerimônia. E o público berrou! Helena gemeu como nunca tinha gemido em toda a sua existência. E sem parar. Sem reclamar. Submissa aos extremos. Do jeito exatamente como tinha que ser. Levaram a platéia ao êxtase total. Uns tarados, bêbados e solitários. Chegaram em casa pela manhã. Aos tropeços. Ele, bebaço. Ela, amarrotada. Jogou seu violoncelo, a Helena, na cama. Empurrou alguns comprimidos goela abaixo e caiu pregado no chão. Quase apagou como a linda Monroe.


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