quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A MAIOR CAGADA

entrou na loja de discos. costumava fazer isso na hora do almoço. foi direto aos instrumentos musicais. passou invisível pela vendedora. era sempre assim. suas havaianas, sua bermuda jeans surrada e camiseta preta do Led Zeppelin não contribuíam muito para a sua credibilidade no comércio local. fixou o olhar em um baixo preto. adorava o som daquele instrumento. segurou-o. ensaiou alguns acordes imaginários. e deixou a peça de lado. a vendedora, uma negra com cabelos Rastafari, percebeu o Itálicoseu interesse pelo objeto. ela deu uma olhada nos seus pés e nas suas roupas, mas resolveu arriscar.
- interessado?
- sim...mas não sei...
- olha, esse aqui chegou ontem. é igualzinho ao baixo do John Paul Jones, do Led Zeppelin...
- sério?
ele respondeu como se estivesse empolgadísso.
- sim, essa é uma cópia fiel...
- puxa!
- isso mesmo, você vai arrancar um som dos diabos!
- não sei, tô muito cabaço...
- que nada, faz um plano. você pode pagar em até 10 vezes!
ele percebeu o interesse da vendedora. presa fácil. sabia que não tinha um puto no bolso e muito menos crédito em seu cartão. mas essa era a chance. a loja estava vazia. poucos clientes matando a hora do almoço. apenas uma menina no caixa e a tal vendedora gostosa.
- olha, gostei demais desse baixo. tô afim de levar!
- ótimo! eu vou mandar embrulhar e vou te dar de quebra uma partitura do Led, de 67. Uma raridade...
- deve ser mesmo...legal!
ele sorriu e continuou a alimentar a motivação da Rasta, mesmo sabendo que a tal banda surgiu apenas em 68. depois dessa curva sinistra, resolveu tentar uma azaração no estilo drogas, sexo e rock’n roll.
- você sai que horas?
- já tá quase na hora do turno da tarde...pra que você quer saber?
- nada. pensei que a gente podia tomar alguma coisa.
- tipo o quê?
- uma cachaça bem queimosa...
-
(toda metida) olha, meu amigo, se você me convidasse pra uma dose de uísque, tudo bem, você não é daqueles de se jogar fora... eu até que arriscaria, mas cachaça?
- faz o seguinte. vamos lá pra casa. dispenso a cachaça, mas acho que se você for, até que rola um 12 anos escondido dentro do armário.
- não sei...isso tá me cheirando a conversa fiada...
- isso mesmo, vamos lá. vamos fechar o negócio lá em casa. tenho surpresas pra esse narizinho também...
- hummm... faz o seguinte: paga a máquina. depois a gente conversa.
ele fez cara de desinteressado. só charme. ela sorriu. só charme. e deu as costas para ele. ele babou no gingado do rabo delicioso da negra. precisava, de qualquer jeito, grudar-se ali. ele foi ao caixa. percebeu a calmaria na loja. apenas dois clientes com fone no ouvido curtindo um som qualquer. mostrou sua 7.65 para a menina que contava dinheiro. uma gordinha, baixinha, que chupava um pirulito. a garota arregalou os olhos. deu um sorriso bem alto. desesperadíssimo. Ele ficou nervoso com o riso escandaloso da baixinha. olhou para o fundo da loja e em seguida lhe passou um bilhete que anunciava o assalto. e ainda a alertou:
- olha, se der galho, você vai ser a primeira da minha mira!
a gordinha engoliu o pirulito e cagou na calcinha. ele enfiou o braço para dentro do caixa e pegou as notas que ela havia colocado ali. saiu depressa. fugiu do fedor desgraçado. catou o baixo que estava no canto e o colocou embaixo do braço. a vendedora, que retocava o batom, nem percebeu a movimentação.
- então, vamos? falou para a vendedora.
- comprou mesmo, hein...sabia que esse era o único? deu a maior cagada...
- com certeza, minha linda, foi a maior cagada...






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