terça-feira, 5 de outubro de 2010

SANTA BETH...

Com mais de 250 moradores em um mesmo prédio, dava para encontrarmos de tudo por ali. No 2º andar, apartamento 207, morava o Hélio, um coroa separado. Vivia só. Ou pelo menos assim ficava na maioria das horas dos dias, mas de tempos em tempos, a sua casa sempre tinha muita gente. Ele promovia jogos de cartas, sempre regados a muito uísque e meninas novinhas. Não se sabe até hoje se eram menores, mas naquela época a pedofilia não estava tão denunciada como hoje em dia e a conversa passava batida. Os moleques do cabeça adoravam o velho. Gente boa demais. Toda terça rolava a jogatina e a moçada já sabia disso. Ficavam todos próximos de sua porta fingindo conversar, mas na verdade todo mundo esperava o baralho usado na terça anterior. A parada era estilo profissional e valia muita grana. Ele nunca usava o baralho duas noites. Enquanto a turma toda morria em diversas vaquinhas para comprarem uma bola nova ou um baralho melhor, o coroa comprava um novo toda semana. Ele poderia jogar fora o baralho usado e tranquilamente jogar com um novo, mas sempre presenteava a molecada do cabeça. Fazia questão disso. Talvez uma moeda de suborno, não sei. Mas o fato é que funcionava. Era permitido falar mal de qualquer um, menos do velho do 2º andar. Numa noite de terça de 1989, os meninos aguardavam ansiosos por mais um baralho. Conversavam asneiras pelo corredor, quebravam algumas lâmpadas com o tradicional jogo de bola no côco e fumavam alguns cigarros escondidos dentro da lixeira do prédio. Um pouco antes do horário de chegada do velho, a porta do cabeça se abriu e os meninos ficaram espertos, em silêncio, tentando reconhecer os passos que se aproximavam. De repente, perceberam que se tratava de sapatos femininos. Relaxaram. O contato do salto alto no chão foi chegando mais próximo, o cheiro que vinha lá de baixo era maravilhoso. Todos os moleques ficaram apreensivos. Foi quando surgiu uma figura linda, sustentada por pernas enormes e grossas, cabelo comprido e loiro, da cor do sol e uns peitos de dar inveja a muita vaca leiteira. A moçada ficou paralisada com o decote. Os olhos caíram ao chão, todo mundo apenas acompanhava aquele sonho, enfeitiçados por aquele sorriso espontâneo e de comercial de pasta de dente. Uma figura somente vista nas páginas de revistas de mulher nua, que tanto eles usavam em suas diversas punhetas diárias. Um verdadeiro Concord. Ela tocou a campainha do 207, logo depois de mandar a bomba do boa noite para eles. A molecada ficou sem palavras. Tony Esotérico, que era o mais velho do grupo e que tinha perdido a virgindade em um puteiro no Centro da cidade, já conseguia manjar uma puta de longe. Ele era um cara estranho, e sem muitas chances de se dar bem com as meninas no dia-a-dia, e por isso não perdia tempo. Ele preferia pagar uma puta bem gostosa, ao invés de levar taca na cara. Naquela época, ele já enchia o saco com essa história de fim do mundo, e dizia que se os outros esperassem demais, iriam morrer com menos de cinco xotas nas costas. Foi o único que teve a coragem de abrir a boca.
- ele não chegou ainda...disse o mais velho.
- sério? Mas ele combinou comigo...ela respondeu.
- quem é você? É filha dele? Falou Tony Esotérico. Ela gaguejou. Olhou certeira para os meninos babões, uns com as mãos para frente do corpo, escondendo a empolgação, outros com o olhar fixo em seus peitões. Ela deu uma risada, colocou o indicador na boca e em seguida respondeu com voz de vítima.
- sim, sim, é meu papaizinho. A moçada só faltou gritar. Foi um coça daqui, se ajeita de lá. E a menina curtindo demais a situação. Naquele dia, o papaizinho dela havia cancelado o jogo semanal. Ela não sabia disso. E nem eles. O coroa havia viajado para São Paulo. Tinha negócios urgentes na Terra da Garoa. A gostosa das pernas imensas alimentou a conversa. Tony Esotérico, mais feio do que um cão chupando manga, mas que tinha uma lábia legal, inventou uma conversa qualquer para segurar a gata. Ele sabia a língua das prostitutas e aproveitou sua experiência no diálogo. E tudo indicava que a filha do velho, na verdade, era uma puta de luxo. Dessas que fazem faculdade, moram com os pais, que ainda tem noivos com data marcada para o casamento e que não dão a bunda para eles nem por um decreto, mas que vivem uma vida dupla, sem que ninguém saiba a fonte de seus rendimentos. Para todos os fins, Beth, A Puta, era promotora de uma empresa de gêneros alimentícios. E ninguém tinha dúvida de que ela vendia comida. E com certeza era muito, quer dizer, muita comida! E das boas. Depois de meia hora de conversa, e sem esperanças da chegada de seu papaizinho, ela resolveu que não iria perder a viagem. Ela não era dessas que ficavam na esquina, nada disso, Beth era alto luxo, mas também sabia o momento certo de baixar o nível, ainda mais com a imagem de suas contas vencidas na porta da geladeira. Ela olhou para os olhos arregalados daqueles meninos tarados, nas babas nervosas que escorriam pelas suas bocas e pensou que poderia sair dali com algum nas mãos. Estava decidida a não perder a viagem. Conversa vai... conversa vem... ela começou a provocar os garotos. O mais novo ali tinha 15 anos, Xandinho, um gordinho com dentes podres e a boca com cheiro de esgoto. E que adorava comer pão com banana. E ainda virgem. O mais velho, Tony Esotérico, tinha 19, mas aparentava 30 com aquela cabeça calva e cheio de cabelos pelo corpo. Beth aqueceu o papo. Puxou assunto sobre namoradas, mandou alguns falsos elogios aos meninos e assim a conversa desenrolou com a maior tranqüilidade. Os garotos, que antes estavam intimidados com a imagem daquele avião monumental, depois de um tempinho de lorotas já até acreditavam no interesse dela por eles. E a conversa ficou mais quente. Ela, já sentada no chão, e com a calcinha à mostra, sabia que poderia conseguir tudo que quisesse com os tarados do cabeça. Ela deixou a conversa chegar a tal ponto em que Xandinho, o mais novo e mais abusado levantou a hipótese dela ensinar à eles alguma tática certa para que eles pudessem conquistar uma gata como ela. A isca foi lançada e os peixes já brigavam por morder o anzol. A profissional não vacilou, fez a proposta indecente, que fez os meninos até tossirem de nervoso. Um sonho impossível estava prestes a ser realizado. Nunca eles puderam imaginar que teriam algum contato físico em suas vidas com uma dama daquele naipe. Beth era descolada e como toda puta, não tinha o menor senso de perdão. Prometeu uma mamada em cada um dos cinco meninos. Isso se eles lhe pagassem R$ 50,00 cada um. Ela estava acostumada a ganhar R$ 1.000,00 com o papaizinho, mas tinha que dormir com ele e aturar todo aquele bafo de alho que impregnava o quarto. Nesse caso, ela iria faturar ¼ e apenas com mamadas, que ela tinha a certeza de que não duraria nem 30 segundos de trabalhos forçados. Talvez o mais velho desse um pouco mais de trabalho, mas ela sabia muito bem o que fazer para acelerar o processo do gozo. Estava decidida em não perder a viagem. Foi um corre-corre para dentro de suas casas. Os moleques não tinham nenhum tostão. Alguns reviraram a carteira de seus pais, que já dormiam àquela hora. Outros trouxeram o cofre. E ela foi logo avisando, - não aceito moeda! Foi um desespero geral. Outra correria e no final das contas todo mundo roubou o dinheiro de seus pais. Ela entrou na lixeira com Xandinho, que gozou desesperadamente ao ver a Puta abaixar a calcinha. Os outros não passaram muito disso. Tony Esotérico, o mais velho, brochou, mas teve que pagar assim mesmo. Ela despediu-se dos jovens e saiu do prédio antes da meia-noite. Os meninos não voltaram para as suas casas. Passaram a noite no corredor tentando descrever o que acontecera ali. Foi um festival de vantagens. Não queriam dormir e dar fim a noite incrível e inesquecível que tiveram. Coitado do mais velho, que sofreu nas mãos dos mais novos. O caso da Santa Beth, como ficou conhecida a história no bairro, virou lenda, pois ninguém, até hoje, acredita que aquilo tenha acontecido de verdade.




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