segunda-feira, 11 de outubro de 2010

PAI NOSSO

tomou um banho de metrosexual. passou até cotonete nas orelhas. aparou os pentelhos e cortou os cabelos enormes do nariz. não queria deixar vestígios do dia infernal. abriu uma garrafa nova de vodka, acendeu um cigarro e esperou. tinha marcado com a puta para às 10 da noite. isso já era rotina, mas nunca com uma oriental. fumou até o filtro. acendeu outro na sequência. escolheu Dire Straits para a trilha. esticou a poeira e ferveu o nariz. não estava com fome, mas abriu a geladeira e sacou um queijo prato e um provolone. enfeitou a mesinha de centro com uma garrafa de vinho. detestava a bebida, mas com queijo acreditava que contribuiria com o clima. esperou. e esperou. acendeu outro cigarro. viajou nas argolas de fumaça. e resolveu esticar as pernas na mesinha. derrubou a garrafa de vinho. não quebrou. então bebeu. sabia que estaria mais seguro na parte de dentro. o telefone tocou.
- fala! disse, assim, com um jeito descansado.
- é o Roberto Teles?
- sim, meu amor, quem me procura?
- eu sou a Takada, você me ligou hoje à tarde...
- sei...
- é que tô perdida...
- você já chegou no bairro?
- sim, tô na rua, mas não acho a sua casa...
- é que tem dois números...
- eu tô no 24...
- não, meu amor, é furada, vem pro 69.
- tá legal, já chego aí.
ele foi até a janela e deu uma espiada. não viu nem uma alma pela rua. meteu a cabeça para fora. e nada. completou mais uma dose. ajeitou o cabelo. virou o pau para o lado esquerdo. e respirou fundo. ouviu as batidas. era ela. a Takada. a oriental que ele havia solicitado. foi à porta. meteu o carão no olho mágico e viu uma baixinha, com franjinhas, poucos peitos, e toda sorridente. algo assim colado no rosto.
- e, aí, gostosa? tava difícil?
- muito. não costumo vir pra essas bandas....
- sei...
- sério, eu nunca andei pela periferia.
- legal...e por que a maluquice?
- já tava perto. minha mãe mora no outro bairro.
- e não conhece essa área?
- não! eu nunca passei do bairro de mamãe...
ele escancarou a porta e deu as costas para a oriental. foi à cozinha. pegou um copo. completou com vodka e ofereceu.
- não. obrigado. eu não bebo.
- como?
- eu não bebo.
- nada?
- nunca!
- sério. não bebe em serviço ou nunca bebeu?
- nunca bebi.
ele desconfiou da honestidade da puta. afinal de contas, bebida era o que não faltava. ainda tinha guardado um saco de pó. e se a mulher quisesse, dava até para apertar um baseado pós foda. ela apenas sorria. um sorriso oriental, com boca e olhos repuxados. ele entornou mais um copo. de uma só vez. ofereceu um lugar para a dama. sentou-se ao lado.
- você mora sozinho aqui?
- sim.
- bacana. pra periferia, até que tua casa é legal.
- pensou que fosso um muquifo?
- não. é que normalmente, quem mora na periferia mora mal.
- sei...
- o que vai ser?
- o que você faz?
- tudo. ela disse sem muitas razões.
- tudo o quê?
- ah...tudo...não me faça entrar em detalhes.
ele partiu para dentro. deu um beijo molhado, baforado, completamente bêbado. ela o beijou com resistência. ele colocou a mão em sua bunda. e sentiu um volume estranho.
- que porra é essa?
- é minha Bíblia.
- tá de sacanagem...
-não mesmo. eu não saio de casa sem ela.
- e você por acaso reza?
- a todo momento. agora mesmo, antes de bater em sua porta eu dei uma olhada em Coríntios 6:13, 18 “Mas o corpo não é para a prostituição, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo... Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.”
- ei, minha filha, tem certeza que encontrou o endereço certo?
- sim. eu tô aqui para te satisfazer.
- nossa!
- sério, olha, minha irmã é que é a Takada. eu sou apenas a Madalena. eu atendi a sua ligação pela manhã. é que eu tô no momento do meu batismo na Igreja e pra ser aceita eu preciso conquistar alguns fiéis perdidos. eu pensei que se eu chegasse aqui no lugar de minha irmã...não sei... a gente podia conversar...
- olha, meu amor, eu não tô afim de conversa. abandonei a religião faz tempo. e nem me venha com essa de que Jesus está chegando... então vamos logo antes que ele chegue! partiu para cima da religiosa.
- mas você não tá entendendo, eu não sou puta. eu só vim aqui pra te resgatar.
ele rasgou a roupa dela. deu uma porrada bem dada em sua cara. a japa caiu pelas beiradas da mesinha de centro da sala. ele pulou em cima e arrancou a sua roupa toda. a japinha estava desmaiada. ele trepou como um cão desvairado. mordeu a oriental todinha. caiu para o lado exausto. a japa dormia. ele acendeu um cigarro. bebeu sua vodka no gargalo. e a menina já dava o ar da graça.
- o que aconteceu? ainda atordoada.
- nada, minha linda, foi só um anjo que acabou de passar por aqui. você já foi batizada.
ela sorriu. enxugou a boca. virou de bruço. ele olhou para aquele espetáculo. estava cansado demais. intimidou-se. tremeu. pegou a Bíblia. e começou a rezar...







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