segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O ENGOLIDOR DE VENTOS

O vento pesado no tórax não permitiu que ele desse outro passo. Ficou imóvel por tempo demais. Totalmente contra a sua vontade. De tempos em tempos acumulava forças fantásticas em resistência à natureza invencível. E assim avançava mais um passo. Manteve o esforço calculado por todo o percurso. Ouviu estrondos horripilantes. Levou rajadas molhadas na face enrugada por tentar enxergar, mas nada o fazia desistir. A vida não era fácil. Nunca foi. Era um teimoso fanfarrão e com toda a prosa estampada na cara, jamais voltaria atrás em sua decisão. De repente, a noite fechou em silêncio. Ele não ouvia mais as vozes trazidas pelo vento. Estava por conta própria, distante dos olhos dos mais conhecidos, bem perto do olho de um furacão bem faminto. Partiu para dentro, sem dó, nem piedade. Encarou o vento forte rodopiado e centrífugo. Agarrou-se com todas as suas forças ao rabo da Besta-fera. Puxou para um lado, todo sem jeito, desesperado. Desviou dos trovões, evitou sua queda. Estava decidido a ganhar. Foi sugado sem a menor chance de luta. Os pés suspensos no ar. As chances jogadas aos quatro, aos infinitos ventos. A terra vista do alto. Misturou-se a um monte de coisas distintas. Tropeçou em pensamentos esquisitos. Vomitou compulsivamente. Era tudo muito rápido. Como um pesadelo acordado. Agitado. Enjoado. Resistiu uns segundos e com um único descuido do vento infinito, arregaçou a sua boca e engoliu com toda a sua fúria a tempestade de seus dias iguais.





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