- Mãnhêeee! O Paulinho quebrou o enfeite da mesa.
- Desgraçado! Foi presente da sua avó. Vem cá que eu vou arrancar sua orelha!
O garoto saiu correndo para o quintal, subiu na mangueira e ficou por lá até a hora do seu pai chegar.
UM BLOG DE MARCELO PEREZ

Ontem rolou o grupo de estudos da FETEARR. Compareceram por lá os grupos, CIA. DO LAVRADO, GRUPO CRIART, CIA. ARTEATRO E CIA. LOCOMBIA. E assim cumprimos com mais uma etapa desta ação importantíssima da FETEARR. Seria muito legal se todos os grupos participassem e se todos os integrantes de cada grupo comparecessem. Mas infelizmente não podemos conseguir tudo, não é mesmo? O legal foi ver uma moçada nova discutindo um teórico importantíssimo para o teatro e empolgados com o seu método. É bom observar que STANISLAVSKY não foi e não será o único teórico teatral. E que seus livros não são receita de bolo e sim literatura. Literatura de ficção. Existem sim, valiosos ensinamentos e exemplos bem interessantes a serem seguidos, mas de nada adiantará se o ator ou atriz não pesquisar por conta própria. O nosso estudo é apenas uma ação motivadora. Em cada trabalho, cada espetáculo, é necessário experimentar o que foi estudado. Mais uma vez digo, não como sendo a solução ou como sendo o único exemplo a seguir e sim um ingrediente importantíssimo para que o ator ou atriz busque o seu próprio método de interpretação, independente de diretor ou qualquer outro teórico. É isso.
Gabi e a anfitriã Rose
Tatiana Sodré dentro da obra de arte. É verdade, a casa toda é uma obra de arte. Nas paredes, os trabalhos de Isaias Miliano.
Foto: Marcelo Perez
Tatiana Sodré e o grande artista, Isaias Miliano.
Foto: Marcelo Perez
O bar estava super aconchegante.
Foto: Marcelo Perez
E Neuber Uchôa arrebentou por lá.
Foto: Marcelo Perez

Completou com uísque seu último gole de café requentado e já frio. Bebeu de uma só vez. Nem fez cara feia. Até porque não tinha uma outra. Pegou as chaves de casa, a capa de chuva e colocou Helena nos braços. Bateu a porta. Dirigiu-se ao elevador e esperou. Demorou. Acendeu um canceroso. Demorou. Acariciou Helena. Resolveu descer as escadas. Oito andares. Isso não seria um problema se não estivesse acompanhado. Era pesada demais. Quando estavam atracados, parados, a coisa rolava que era uma beleza. Helena gemia barulhos infernais. Deixava qualquer um enlouquecido. Era tudo que precisava na vida. Não podia viver sem ela. Depois de muito sufoco e cuidado para não machucá-la, ganhou a rua. Acenou para um táxi. Nada. E outro. E nada. As horas não brincavam. Eles não podiam perder aquele trabalho. E não perderam. A casa lotada. Gente caindo pelo ladrão. O ambiente tomado pela fumaça dos cigarros. Parecia que todos os fumantes resolveram ir ao mesmo local aquela noite. Ele e Helena dirigiram-se ao palco. A banda já estava por lá. Ele despiu Helena. Apoiou-a em suas pernas, que ficaram aquecidas. E meteu a vara ali mesmo. Ela gemeu sem reclamar e levou a platéia ao êxtase total. Chegou em casa pela manhã. Bebaço. Jogou seu violoncelo, a Helena, na cama. Empurrou alguns comprimidos goela abaixo e caiu pregado no chão. Quase apagou como a linda Monroe.

Levantou a cabeça irritado com toda aquela demora. Observou que os outros ainda mantinham as suas abaixadas. Respeito. E medo, pois ninguém queria ser repreendido e passar o resto do dia com fome. Mas ele já não aguentava. Sempre o mesmo ritual. Abaixar a cabeça e esperar. Não. Estava decidido a tomar uma atitude para mudar aquele fato. Chamou o seu superior como se ele fosse o seu subalterno. Exigiu uma providência. Inflamou todo o refeitório com palavras de incitação. Mas as cabeças continuaram abaixadas. Os pratos foram servidos. Menos o dele. Durante a refeição ninguém teve a coragem de olhar na sua cara. Todos já sabiam do seu triste fim. Levantaram-se e em fila se recolheram aos seus aposentos. Ele ficou lá. Somente com os guardas. Passou a noite no alto de um morro pregado em uma cruz. Virou lenda.
Foi a penúltima apresentação. A Orla tava super vazia devido ao Arraial. Não dá pra disputar com este evento em Boa Vista. Mas tivemos público. E eles curtiram bastante a apresentação. O elenco tava super animado e com o maior gás. É um grupo muito especial. Semana que vem, 21/06, estaremos encerrando a temporada na capital. Praça das Águas, às 20h. Depois vamos para o interior do estado, Rorainópoilis, São João da Baliza e Iracema. Como amadurecemos e nos fortalecemos com esse processo de trabalho. É isso, vamos produzir mais. Cuidar muito bem de nossas vidas. Até lá.




Já não aguentava mais as madrugadas invadidas. Não conseguia parar de teclar sua velha máquina. O som de folhas arrancadas e os ruídos do seu arremesso o torturavam demais. Necessitava encontrar depressa o gancho certo. Não queria voltar ao mesmo ponto novamente. Nunca fazia isso. Sempre em frente. Abriu o garrafão de vinho, completou a caneca e tomou numa golada só. Arrotou. Olhou para a máquina desafiadoramente. Bebeu outra caneca completamente transbordada. Partiu para dentro. E tecla. E tecla. E tecla. E branco. E branco. E branco. E agonia. E solidão. E um grito doloroso em silêncio. Afastou-se sem forças. Sacolejou o garrafão e o entornou goela abaixo. Era vinho por todo o corpo. Caiu no chão de cansaço. Apagou. Só mesmo uma santa para arrancá-lo do fundo de seus pensamentos confusos. Ressuscitou com um best sellers sobre culinária congelada.

Chegou no horário combinado. Olhou por detrás das árvores e não viu ninguém. Foi surpreendida pelas costas com um abraço bem apertado. Reconheceu a pressão do seu amante. Virou-se. Sorriu. Beijaram-se. Momento difícil que não podia ser desperdiçado. Acariciou o membro de seu amante com altas doses de saudade. A aspereza das mãos do parceiro eriçaram até o último fio de pêlo do seu corpo. Estava completamente entregue. Agaixou-se entre as folhagens em busca do manjar dos Deuses. Seu amante vigiou. Concordou alegremente. Ela segurou-o. Abriu a boca com imensa satisfação. A tranquilidade estuprada por ruídos vindos de uma árvore ao lado. Sua irmã, que era uma cobra de uma invejosa, queria participar daquela sacanagem. Foi excluída pelo amante. Berrou ameaças que poderiam fazer com que os dois fossem expulsos para sempre do vilarejo. O amante convenceu sua amada de que eles não tinham outra saída. Ela permitiu. Mas queria ser a primeira. Caiu com a boca sedenta e com os olhos fechados levou uma pedrada no meio da cabeça. Trincou os dentes. O amante gritou. Conseguiu tirar o seu membro danificado. Estendeu a mão. Recebeu um saco de moedas da irmã da defunta. E saiu sem olhar para trás.



Entrou no refeitório agitado. Entrou na fila. Pegou sua bandeja e apenas esperou. Avistou o seu opressor com a concha de feijão nas mãos. Observou cada movimento dele. O grandão também tinha seu foco de atenção. Não queria ser surpreendido. Os guardas estavam atentos. Essa era a pior hora. Dentro das celas muita gente morria, mas era controlável. O controle do refeitório é que não podia ser perdido. Aquele era um território cobiçado. E mesmo sabendo que os presos nunca haviam obtido vitória por ali, em todos os tempos, todo mundo precisava ficar ligado. Mas aquela não foi uma data qualquer. A rotina foi violentada com uma luta de facas entre o cara da fila e o da concha de feijão. O tumulto logo se estabeleceu. O cozinheiro caiu de cara na bacia imunda de feijão. Duas estocadas sem risco de vida. Seu amante tentou se vingar e foi agarrado por três guardas barrigudos e odiosos com a vida. Do outro lado, a torcida já se preparava para invadir o campo adversário. A tropa de choque invadiu o ambiente. Porrada para todos os lados. Os encarcerados sabiam a hora de parar. O espetáculo havia chegado ao fim. Sem aplausos. Somente a cela úmida repleta de solidão.